Crônicas de um Bebê escrita por Kuroashi Boy


Capítulo 10
Dia de WTF




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Oi, gente! Hoje eu vou dar uma de espião. Já estou cansado do fato de meus dois doces e adoráveis pais ficarem pegando no meu pé por tudo, então hoje serei eu quem irei fazê-lo. Nesse momento, ambos estão na cozinha, preparando o almoço, e eu estou no quarto deles, vendo o que dois adultos poderiam fazer em seu tempo livre.

Antes eu já havia procurado em todo canto, mas não tinha achado nada demais! Adultos são muito chatos, os brinquedos que eles guardam na gaveta são tão estranhos que até fazem questão de colocar cadeado, provavelmente com vergonha do que os outros iriam pensar caso vissem. Os meus brinquedos são muito superiores.

E eles também tem um péssimo gosto pra cuecas. Eu acabei olhando, mas são tão horríveis que eu nem fiz muita questão de ficar analisando por tempos! Por exemplo, antes eu achava que eles eram ricos, mas algumas cuecas tem um furo enorme na parte da bunda, outras tem uns desenhos estranhos. Teve uma que parecia da Disney, porque simplesmente tinha um elefante 3D com uma tromba meio estranha.

Enfim, como eu não achei nada de interessante, eu dei um jeito de escalar até a cama deles e notei que aqui em cima havia um notebook ligado, então eu fui ver o que tinha de bom lá e fiquei batendo no teclado pra ver o que surgia. Acho que eu acabei dando play em um vídeo que tinha aqui.

– Que isso?

Mas que vídeo estranho. Tinham dois caras malhados brigando e fazendo caretas estranhas, eu até achei que fosse esse tipo de luta que aparece na TV, mas por que eles estão pelados? E tem um que grita muito alto e o outro parece que tá gostando do sofrimento dele, tanto é que parou de usar as mãos e agora tá agredindo o coitado com um–

– Law, o almoço tá pront... – Meu papai gentil chegou. – O-O-O que você tá fazendo?!

– Vendo vídeo. – Respondi, mas ele não pareceu gostar muito e fechou o notebook na minha cara, nem me deixou ver até o final e me pegou no colo.

– N-Não fica mexendo nas nossas coisas, tá bom? – E ele foi me levando até a cozinha.

– Mas por quê? O que eles tavam fazendo?

– C-Conversando sobre pôneis.

– Mas eu não ouvi nada sobre pôneis...

– É que eles são russos.

– E por que estavam pelados?

– P-Por que faz calor na Rússia...

– Ah...

– Não conta pro Doffy sobre isso, tá?

– Tá bom! Mas tem pôneis na Rússia? – Perguntei, com os olhos brilhantes.

– Sim! Tem muitos pôneis lá, ouvi dizer que tem até algumas fadas.

– Sério? A gente pode ir lá?

– Não.

– P-Por quê?!

– Law, depois a gente conversa sobre a Rússia, vamos almoçar.

Fiquei imaginando o que teria nesse tal lugar, porque eu pensei que só tinham pôneis na televisão. Será que a televisão fica na Rússia então? Por que o papai não quer me levar pra lá? Certas coisas nunca saberemos, portanto é melhor continuarmos seguindo a nossa vida e esperarmos que nossas questões sejam respondidas com o tempo.

O papai bonzinho tinha entrado num psicólogo recentemente pra tratar suas quedas, por isso o demônio do Doflamingo começou a deixá-lo cuidar mais das coisas. Ele já conseguia me pegar no colo por curto segundos de duração e, assim que o almoço acabou, ele foi lavar a louça.

– O Rosinante tá ficando mais independente. – Doflamingo comentou comigo. – É a primeira vez que ele lava a louça desde que nós começamos a morar juntos.

– Pai, posso te perguntar uma coisa?

– Claro, vai em frente.

– De onde surgem os bebês?

– Huh... por que você quer saber disso agora?

– Porque eu tava vendo televisão ontem aí passou um programa sobre isso, mas eu não entendi nada aí o outro papai disse pra eu desligar e ir dormir...

– Ah, esses programas são umas bostas, eu te explico, só não sei se você vai entender. Bom, tudo acontece quando os adultos estão com tédio, aí a mulher resolve abrir a **** só que ai o **** do homem acha que usar camisinha é desnecessário aí ele **** na **** e depois aquela **** toda vai até a **** da mulher, aí....

Ele ficou explicando uma parada totalmente louca e eu não entendi nada, principalmente algumas palavras que eu nunca tinha ouvido na minha vida. Tentou explicar também usando gestos, mas era tudo tão confuso que eu só ficava observando ele falar.

– E aí, entendeu alguma coisa? – Ele finalizou.

– Ahn... a gente sai pelo buraco da mamãe?

– Tipo isso.

– Então eu saí do seu?

– Hã? Não, a gente te pegou já pronto no orfanato, depois que a sua mãe te largou lá.

– Por que a mamãe me abandonou?

– Sei lá, talvez ela não gostasse de você.

– Doffy, Law! – Antes que a gente pudesse continuar nossa conversa super interessante e um pouco deprimente, o papai bonzinho retornou. – Consegui lavar a louça!

– Quantos pratos você quebrou? – O demônio perguntou.

– Ze-Zero...

– Rosinante...

– Ok, eu quebrei um copo, mas foi só um!

– Rosinante...

– Tá bom, dois. E meio.

– Continuar a mentir só vai te trazer mais problemas.

– TÁ, EU QUEBREI TODOS. E DAÍ? Humanos erram! Pelo menos agora eu consigo pegar o Law no colo.

E assim, ele me pegou no colo e nos retiramos, indo diretamente para a sala. O papai malvado disse que ficaria um pouco no quarto trabalhando, enquanto nós ficamos vendo televisão. Era um programa muito chato então eu resolvi fazer o que todos os bebês gostam de fazer, perguntar aos pais coisas estúpidas.

– Papai, como você e o papai se conheceram?

– Ah... – Queria saber porque todo mundo fala "Ah" quando começa a pensar. – Foi há um bom tempo, seu pai me convidou pra um jantar super romântico com luz de velas.

– Sério? O papai malvado fez isso?

– Sim! Ele era bem romântico na época, foi uma noite maravilhosa.

– E quando foi que ele virou o Doflamingo?

– Não fala assim, ele ainda é romântico, só não demonstra isso, mas na verdade ele é muito ligado à família.

– Sério?

– Sim, e ele gosta muito de você também, então não fique achando que ele é malvado.

Sabe quando a gente fica falando demais em uma pessoa e ela volta a aparecer? Pois é, é o que aconteceu agora. O papai malvado nos ouviu e desceu com o notebook nas mãos, sentando-se ao nosso lado no sofá. Eu fiquei no colo do Rosinante, observando o que ele estava fazendo.

– Eu tava resolvendo umas paradas, mas é tão chato que eu decidi vir ver televisão com vocês.

– Aconteceu alguma coisa? – Rosinante perguntou, olhando para o computador.

– Nah, essa gente chata que fica mandando vírus, nada demais.

– Pai. – Puxei a camisa do Doflamingo, mas fui ignorado como sempre, então comecei a irritá-lo. – Pai, pai, pai, pai, pai, pai, pai...

– Que que foi?!

– Na escola disseram que era estranho eu não ter mãe, mas aí eu disse que você era minha mãe!

– Hã? Eu não sou a tua mãe.

– Por quê?

– Porque você não tem mãe, você tem dois pais e... por que eu seria sua mãe?!

– Porque disseram que as mães eram malvadas, aí eu achei que você era minha mãe... então eu não tenho mãe?

– É, você não tem.

– Por quê?

– Porque algumas famílias não tem mãe.

– Por quê?

– Porque você já tem dois pais, aí não tem espaço pra mais uma.

– Por quê?

– Porque porra, você não tem mãe e pronto, caralho.

– Doffy, não fala assim com o Law! – Rosinante fica furioso.

– Mas lá na escola todo mundo tem mãe, menos eu. – Continuo a argumentar.

– Bom, eu não tenho culpa disso. – Doflamingo prosseguiu. – As famílias deles tão erradas, você só teve sorte de ficar com a gente.

– Por que eles estão errados?

– Porque héteros são errados, fique longe deles.

– Doffy, não diz isso! – Rosinante volta a se enfurecer. – Não ensine nosso filho a ser intolerante com as outras pessoas!

– Hã? Eu só não quero que ele seja influenciado. – Doflamingo também volta a falar e eu só observo, já que eu não entendia mais porra nenhuma do que tava acontecendo.

– Não é questão de influência, ninguém é influenciado a nada!

– Claro que é, por isso tem tantos deles espalhados pela rua. Você já viu a quantidade de propagandas e novelas que existem deles?

– E daí? Quanto mais propagandas e novelas de casais felizes, melhor. Não fale essas coisas pra uma criança de três anos, ele vai aprender que o certo é ter preconceito contra héteros.

– Mas é o certo mesmo, eu não tenho culpa deles serem todos errados, até tenho alguns amigos tipo o Vergo, mas aí a gente aprende a conviver com os diferentes. O Law é muito novo pra isso.

– Exatamente por ele ser novo que ele precisa entender que somos todos diferentes! Não o ensine a odiar os outros.

– Tem é que ensinar mesmo, aí ele se afasta dessa gente.

– Mas e se ele for hétero?

– Ah não, aí volta pro orfanato.

Foi naquele dia em que eu aprendi que devemos odiar as pessoas com esse título, mesmo eu não sabendo o que elas são ou o que fizeram de errado. Bom, ou melhor, se o papai malvado tá dizendo que não gosta delas, então eu acho que deveria gostar, certo? Não sei.

O importante é que eu me cansei daquela conversa chata, portanto resolvi retornar à minha missão inicial. Aproveitei que eles ficaram na sala e fui até o quarto, procurar por mais coisas que adultos escondem de crianças para usar contra eles. Tinha um frigobar lá que eu não havia olhado anteriormente, então abri.

Parecia uma pequena geladeirinha que ficava no quarto, era bem útil às pessoas que tinham preguiça de descer até a cozinha. Lá tinham várias garrafas coloridas que eram muito pesadas pra mim, mas decidi olhar bem nos fundos e foi aí que meus olhos brilharam. Tinha uma caixa de chocolates que aqueles sádicos esconderam de mim, então eu peguei.

Abri o pote e estava certo! Tinha uns nove bombons de chocolate recheado que pareciam deliciosamente deliciosos, coisa que era impossível para uma criança ignorar. Como alguém pode ser tão cruel pra esconder chocolate assim? Que gente malvada e egoísta! Adultos são muito chatos.

Resolvi comer o primeiro, s-só que tinha um gosto meio estranho... quer dizer, sei lá, saiu um líquido meio estranho daquele doce, uma parada que totalmente queimou a minha garganta e que tinha um gosto horrível. Será que tava envenenado? Tenho certeza que essa droga é do Doflamingo, que colocou aqui pensando no fato de eu poder roubá-los e me dar mal. Foi tão traumatizante que eu comecei a chorar.

– O que houve, La... RGA ISSO! – Rosinante chegou e tirou aquela porra da minha mão, batendo nas minhas costas pra eu cuspir, mas sem êxito. – E-Eu já disse pra você não entrar no nosso quarto!

– O que aconteceu? – Doflamingo também olhou, mas como era sádico, riu da minha situação deplorável. – Hiahhaihaihia, ele comeu chocolate de licor!

– Doffy, não ri dele! Ele precisa vomitar isso o mais rápido possível!

– Fufufufu, acho que esse garoto vai ser alcoólatra quando crescer, hein.

Por que alguém seria tão sádico a ponto de colocar bebidas horríveis e ácidas dentro de chocolates indefesos? Eu sabia que o Doflamingo estava por trás disso, era tudo questão de tempo até suas malvadezas se voltarem contra minha pessoa. O Rosinante, que era mais bonzinho, ficou preocupado comigo e me fez vomitar no banheiro.

Mesmo assim eu fiquei meio tonto e meio deprê, não sabia direito o motivo, só sei que não conseguia andar e quando olhava para os meus pais, eles estavam girando e não dava para enxergá-los, só sabia que o Doflamingo estava rindo de mim, mas isso ele sempre faz.

Um tempo depois, meu papai gentil estava ocupado espalhando a bondade pelo mundo e eu fiquei com meu papai demoníaco, no quintal, assistindo ele regar as plantas e esperando as pobres coitadas broxarem consigo. Porém, como estava com tédio, meu cérebro era meio bosta e eu tinha Alzheimer, resolvi perguntar.

– Pai, como você e o papai se conheceram?

– Ah... – Novamente, o mesmo "Ah". – Foi em um aplicativo. Sabe o que é isso?

– Aplicativo?

– É, nesses de celular. Tem uma série de pessoas lá e vocês conversam, marcam encontros e tudo mais.

– Ahn... entendi.

– Eu usava de vez em quando pra, enfim, passar o tempo, mas aí o Vergo disse que eu deveria tomar vergonha na cara e tentar algo sério porque eu já não era mais um adolescente merdinha.

– Aí você conheceu o meu pai?

– É, o Vergo me obrigou a preparar um jantar romântico e eu coloquei velas, mas quando o Rosinante apareceu... as coisas não deram muito certo, justamente graças às velas.

– Ahn...

– Ele pegou fogo na porra do jantar, foi uma catástrofe, o pior encontro da minha vida inteira. Eu passei a noite no hospital e não foi nem de perto como eu imaginei que seria.

– Então por que vocês continuaram juntos?

– Ah, você não pode simplesmente ignorar uma pessoa que pega fogo no primeiro encontro, sabe... até porque ele não tinha dinheiro pra pagar o hospital e nós combinamos de... bom, eu te conto quando você for mais velho.

– Por quê? – Novamente, eu teria que desbloquear um novo nível pra continuar a conversa. Que chato.

– Você vai entender mais tarde! Agora vai dormir, eu vou ficar... ocupado.

(...)

Eu fui posto para dormir à força e, como ainda era bem de tardinha, eu acabei acordando à noite. Já estava tudo escuro e eu detestava acordar sem ninguém ao meu lado e também sem conseguir enxergar as coisas ao meu redor, então eu comecei a chorar, mas fui ignorado então montei um plano.

Subi primeiramente em meu berço e depois subi em uma mesa ao lado dele, me deslocando até o chão e conseguindo fugir da prisão que era esta maldita cama cheia de grades. Depois, fui realizar minha vingança de ser subitamente ignorado por meus pais e andei o corredor inteiro, indo em direção ao quarto deles e abrindo a porta, pasmem, sem nem bater antes.

– L-L-La-Law! – Rosinante levou um susto ao me ver.

– Porra, moleque desgraçado... – E Doflamingo resmungou. – Ele não tinha acabado de dormir?

– Q-Que horas são? – Aí o próprio pega um relógio ao lado da cama. – Nossa, já tá tarde!

Vi que os dois estavam com raiva de mim, então fiz a carinha mais fofa que eu conseguia fazer para seduzi-los e falei, com uma voz de choro.

– Eu... posso dormir com vocês?

– Não. – Doflamingo negou porque não tinha coração.

– Claro que sim! – Mas Rosinante bateu com um travesseiro na cara dele e o obrigou a subir na cama e deitar como uma pessoa normal faria. – Vem, Law, deita aqui do nosso lado!

Eu fiz o que o papai bonzinho mandou e fui deitar entre os dois, encostando meu rosto no peito dele, já que ele era mais gentil comigo. Eles ficaram fazendo cafune em mim pra ver se eu dormia logo, mas eu não tava afim, então os obriguei a ficar a madrugada inteira conversando comigo sobre como a Peppa Pig poderia ser tão irritante e legal ao mesmo tempo.

Fim.

Próximo capítulo: caras, vocês sabem que eu não sei?


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Notas finais do capítulo

Melhor capítulo até agora? XD

Aceito sugestões para o próximo.



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