Relicário de uma vida [Hiatus] escrita por Farfalla


Capítulo 2
Onde se encontram os nossos corações?


Notas iniciais do capítulo

Oieee, pessoal :3
Fiquei super feliz de ver que já tem uma galerinha acompanhando e favoritando a história, e agradeço muito a quem comentou, mesmo só tendo o prólogo *-*
Eu sempre acho que prólogos não são de nada, então tentei escrever esse capítulo bem rapidinho kkkk mas pode ser que eu seja doida x.x
Por algum motivo, eu estava com medo de postar, mas acho que vocês ficariam mais bravos sem capítulo que com um capítulo ruim, não é? kkkkkkk enfim...
Só uma coisinha: eu não sei em que ano se passa Bleach, mas de qualquer forma vou ignorar ordens cronológicas pra fazer a história andar como eu quiser e me preocupar com detalhes mais importantes kkkkk não me matem por isso, amores T-T
Até lá embaixo!



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Orihime olhava o teto sem qualquer expressão. A guerra contra Aizen e os Arrancar havia acabado, mas então por que seu coração ainda estava tão inquieto?

Remexeu-se na cama, que estava desconfortável, apesar de sempre ter sido macia. Levantou o braço direito e o estendeu em direção ao teto, olhando para ele. Estivera tão perto de tocar, tão perto de lhe dar ao menos um pouco de conforto...

Arregalou ligeiramente os olhos, surpresa por sua mente vagar para o Espada sem que notasse. Isso vinha acontecendo desde que voltara do Hueco Mundo.

Sentia a consciência pesar por vários motivos, mas principalmente por ter feito Ichigo se transformar naquele ser animalesco e por não ter podido fazer nada pelo Arrancar. Todos fingiam já ter esquecido o que havia acontecido, mas ela sabia que estavam preocupados com o fato de seu amigo ter atingido algo parecido a uma Resurreccíon.

Para piorar, não poder contar nada daquilo para Tatsuki a deixava cada vez mais incomodada.

Fechou a mão e a puxou para si, mantendo-a contra o peito. Seu coração batia calmamente, contradizendo a sensação urgente que sentia de fazer alguma coisa, qualquer coisa. Sentia no fundo de sua alma que havia algo muito errado.

Mal notou o que fazia enquanto trocava de roupa, saía de casa, trancava o apartamento e se dirigia para a casa de Ichigo. Acreditou que, se falasse com ele, talvez conseguisse voltar ao normal.

Ele a recebeu com surpresa, guiando-a até o sofá. A garota cumprimentou rapidamente as irmãs e o pai de Ichigo — este último sendo arrastado para fora pelas meninas, enquanto falava sobre o amor da juventude.

Orihime mantinha um sorriso no rosto, mas se perguntava se conseguia mantê-lo natural o suficiente: todos pareciam perguntar constantemente se ela estava bem.

— Você está bem, Inoue? — o ruivo indagou.

A pergunta novamente. Sentiu-se culpada por preocupar a todos. Balançou a cabeça levemente e aumentou o sorriso.

— Sim, estou bem. Hum... Kurosaki-kun... — Parou, sem saber o que falar.

— Inoue? — Ele se inclinou para a frente, olhando-a nos olhos.

A garota voltou o corpo para trás no sofá. Ele estava perto demais, e aquilo a fez lembrar de quando entrara no quarto do garoto antes de ir para o Hueco Mundo. De como quase o havia beijado sem que ele se desse conta.

Abaixou a cabeça rapidamente, envergonhada pelos próprios pensamentos. Olhando-o através dos cílios, viu que ele franzia o cenho ainda mais que o normal. Ah, não, ela não tinha como explicar que não estava com medo dele e, sim, apenas constrangida. Apressou-se em preencher o silêncio.

— Ulquiorra — soltou abruptamente, fazendo-o olhar para ela, confuso. — Quero dizer... — Ela apertou as mãos e baixou o tom de voz. — Sabe, Kurosaki-kun, eu acho que ele deve ter passado realmente por muito sofrimento, e por isso acho muito triste que ele tenha... acabado daquela forma. Se eu tivesse sido mais rápida, teria segurado sua mão para mostrá-lo que não tinha nenhum tipo de raiva ou ressentimento, mas ele foi sem que eu pudesse demonstrar isso, e agora...

Ela olhou para o amigo, que fitava um ponto qualquer acima dela, pensativo. Ele engoliu em seco.

— Eu não consigo deixar de odiá-lo pelo que fez a você, Inoue, mas Ulquiorra lutava justamente, ao contrário de...

Ela sabia que Ichigo estava prestes a dizer de mim, referindo-se ao momento em que perdera a consciência; então a culpa apertou seu peito mais uma vez, fazendo-a estender a mão e segurar a dele.

Desde que haviam voltado para Karakura, Orihime não sentia mais medo ou receio de aproximar-se de Ichigo, e ele também parecia ter entendido que a garota não o via como um marginal ou encrenqueiro. De alguma forma, aquela aventura os havia deixado mais próximos — embora Ichigo tivesse a sensação de que Inoue estava cada vez mais distante.

Por um momento, ela fitou as mãos unidas, e as lágrimas surgiram quando pensou que Ulquiorra não tivera a chance de receber aquele toque, embora claramente tivesse esperado por ele. Chegara tão perto...

Ichigo a puxou em um abraço e a ruiva agarrou-se desesperadamente a ele, sentindo soluços balançarem seu corpo enquanto tomava noção de que nem mesmo o abraço firme do garoto que amava era suficiente para lhe acalmar o coração. Para dizer a verdade, parecia-lhe até que seu coração não estava mais ali, mas em um lugar distante e inalcançável, como estivera a mão de Ulquiorra segundos antes dele se transformar completamente em pó.

Ichigo permaneceu quieto até ela ficar mais calma, e então a afastou gentilmente.

— O nome dele era Ulquiorra Schiffer, Cuarto Espada. Foi um dos oponentes mais fortes que já enfrentei e digo que, se fosse em outra situação, teria sido uma honra lutar com ele... — Orihime levantou os olhos para Ichigo enquanto ele continuava a falar, confusa. Demorou a compreender que ele estava tentando confortá-la ao dizer aquelas coisas, ao dizer que Ulquiorra tinha algo do que se orgulhar, que não havia deixado apenas um espaço em branco para trás.

"O que é esse coração? Se eu rasgar seu peito, eu poderei vê-lo? Eu irei achá-lo se partir seu crânio?"

Ela, por algum motivo, sorriu ao se lembrar daquelas palavras, que apesar de soarem rudes aos ouvidos da maioria, eram para ela como um pedido desesperado por respostas, um ímpeto de curiosidade.

E de repente ela compreendeu. O olhar dele antes de desaparecer completamente indicava que, no fim, Ulquiorra havia conseguido enxergar seu coração; não com seus olhos que tudo viam, mas com todo o seu corpo, até sua mão.

Orihime estendeu o braço e tocou a bochecha de Kurosaki gentilmente, sorrindo perante a surpresa dele.

— Obrigada, Kurosaki-kun.

— Oh, desculpe atrapalhar os pombinhos.

A garota virou abruptamente, sentindo o rosto corar ao se ver de frente para Urahara, que escondia um sorriso jovial por trás de um leque.

— O que está fazendo aqui, Urahara-san? — indagou o garoto.

— Nada demais, nada demais. — Ele olhou a sala com ar de curiosidade. — Eu só preciso que você venha comigo.

— Eu já vou — apressou-se a garota. — Até mais, Kurosaki-kun, Urahara-san. — Curvou-se algumas vezes desajeitadamente e saiu.

Ichigo levantou-se e foi até a janela, seguido de perto pelo mais velho. Observaram Inoue caminhando pela rua.

— Algo errado?

— A Inoue... Ela não parece a mesma desde que voltou.

— Hmmm... — Ambos se sobressaltaram quando a garota bateu contra um poste, em seguida rindo e parecendo falar consigo mesma antes de retomar o caminho de casa.

— Está triste porque ela não está mais caindo de amores por você? — Havia um brilho divertido nos olhos Urahara.

Ichigo virou-se abruptamente, irritado com o comentário.

— Mas que merda você está falando?

— Nada, nada. — Urahara fechou o leque com um movimento rápido da mão, e então ficou estranhamente sério. — Às vezes as pessoas vêem coisas que as fazem mudar definitivamente, não espere que Orihime-chan possa voltar a ser como era depois do que passou.

O ruivo abriu a boca, mas não tinha resposta. Sentia que a culpa era dele de várias formas. Não havia impedido que a garota fosse sequestrada, demorou para conseguir resgatá-la, deixou-a nas mãos de monstros — nas mãos de Ulquiorra —, assustou-a (primeiro com a máscara e depois com seu descontrole), e perdeu a conta de quantos motivos mais. Queria poder simplesmente apagar da mente de Orihime tudo aquilo de que não pode protegê-la.

Depois disso, Ichigo não foi mais à escola. Sado e Ishida também estavam completamente alheios.

Naquele momento, Ichigo estava treinando com Urahara e os Vaizards. Eles queriam garantir que o ruivo não perderia o controle novamente — e também estudar o que havia acontecido, para descobrir se aquela hollowficação completa poderia ser utilizado de alguma forma. Mas isso é uma outra história, pois Orihime de nada sabia sobre seu amigo, apenas torcia para que estivesse seguro — o que sempre fazia, e o que a lembrava constantemente de sua fraqueza.

Orihime comia uma rosquinha enquanto rolava a página do Google sem muito ânimo.

"Ei, Ulquiorra-kun, você comeu uma rosquinha? Elas são deliciosas, e tem de vários sabores com várias coberturas diferentes, sabia? Ah, você provavelmente ficaria irritado se me ouvisse falar tanto, não é? Desculpe, talvez eu devesse ter perguntado isso antes, e teria descoberto se seria algo que te faria sorrir. Eu queria ver o seu sorriso..."

— O-ri-hi-me-chan! — Chizuru chamava, praticamente deitada sobre a mesa, no espaço entre os computadores.

— Comporte-se! — repreendeu Tatsuki, puxando-a de volta para a cadeira.

— Eu só ia perguntar no que ela estava pensando — murmurou.

— Ahn? — Orihime olhou para as amigas, ligeiramente confusa.

— Nós estamos fazendo o trabalho, lembra, Orihime?

A ruiva percebeu que estivera fazendo de novo, conversando mentalmente com alguém que já havia morrido. Primeiro com seu irmão, e agora...

Olhou para a tela diante de si, formando em sua mente uma ideia. Seus dedos digitaram antes de ter certeza do que estava fazendo. Surpreendeu-se quando viu que o Google a corrigiu: Exibindo resultados para Ulquiorra Schiffer. Uma série de links apareceram à sua frente e ela começou a procurar algo que fosse realmente importante.

A maioria dos links era de assuntos aleatórios, mas alguns eram de reportagens. Estava prestes a desistir da ideia maluca quando uma imagem de uma notícia saltou aos seus olhos.

Era a foto de um jovem de pele extremamente branca, que olhava para a câmera com olhos verdes apagados. O capuz escondia parte de seu cabelo, mas uma franja negra lhe caía entre os olhos. Inesperadamente, o coração dela disparou, e ela limpou as mãos suadas na saia do uniforme antes de clicar no link.

Herdeiro dos Schiffer é encontrado morto

Após desaparecer por dias, Ulquiorra Schiffer, 18 anos, foi encontrado morto em um apartamento de Londres. Aparentemente, o assassino perfurou seu coração com uma estaca de metal, que foi encontrada no local e está passando por exames da perícia.

Ulquiorra era o único Schiffer ainda vivo, de forma que a companhia será passada ao sócio majoritário, Graimbed Swims.

Amigos próximos da família e trabalhadores da empresa deram seus depoimentos...


O sinal da escola despertou a garota, que saltou no próprio lugar. Piscou os olhos rapidamente e observou as amigas, que a olhavam em questionamento. Limitou-se a balançar a cabeça e se forçou a fechar o site e desligar o computador.

Ulquiorra era herdeiro de uma grande empresa quando vivo. Mas por que sua aparência na foto era mais como a de um adolescente comum, ou até de um delinquente?

Orihime seguiu Tatsuki de perto, tendo apenas uma vaga noção de que buscava respostas sobre alguém que já tinha morrido — de todas as formas possíveis.

"Pode ter sido pouco, Ulquiorra-kun, mas eu encontrei algo sobre você. Não foi uma coisa boa, mas sei que se eu continuar, serei capaz de encontrar o seu coração aqui na Terra."



Ulquiorra sentiu um formigamento no rosto. Desde que pensara no rosto daquela mulher humana que vira antes de morrer, de alguma forma parecia que seu corpo estava se restaurando. Seu rosto veio primeiro, e então ele pôde sentir que estava imerso não apenas em trevas, mas em uma massa pegajosa que se agarrava como se fizesse parte dele. Agora já podia sentir partes das pernas e dos braços, e, quanto mais sentia, mais desagradável a sensação ficava.

Ele se perguntou se morrer duas vezes havia de alguma forma o sensibilizado à dor, ou se simplesmente estava estranhando o fato de voltar a sentir algo.

— ...rosquinha?

Ele se sentiu surpreso. Havia acabado de ouvir a voz da humana. Ela não estava ali, não é? Ela não podia estar ali. Tentou mexer a cabeça para os lados, sentindo sua carne ser repuxada com força, e uma dor lancinante o atingiu enquanto o fazia; mas para todos os lados enxergava apenas escuridão. De alguma forma, além de sonhar, também estava alucinando.

Mas o que era "rosquinha"?

Toda aquela agitação e a dúvida de repente se mostraram cansativas demais, e ele fechou os olhos, entrando numa espécie de sono, como fazia às vezes, desde que descobrira que isso parecia agilizar o processo de reconstituição.



Ulquiorra estava encostado contra uma parede úmida. Estava tudo escuro, e a única luz vinha da chama do cigarro que segurava entre o indicador e o dedo médio da mão esquerda. Levantou a cabeça para o céu e soprou a fumaça ao abrir levemente os lábios. Vestia um sobretudo negro e tinha um cachecol cinza ao redor do pescoço.

Um clarão e então ele ouviu alguém ofegar por alguns instantes. A pessoa deveria ter prendido a respiração em seguida, pois o silêncio voltou a dominar o local.

— Novato? — Ulquiorra indagou com a voz indiferente, fitando um ponto qualquer da parede à sua frente. O beco era estreito o suficiente para esticar a perna e tocar o outro lado.

Ouviu alguém soltar o ar, mas não houve resposta.

— O que eu deveria fazer com você? Te matar? Ou só te torturar para mandar a mensagem aos outros fotógrafos?

Então ele olhou para a esquerda quando a pessoa que tirara a foto levantou aos tropeços e saiu correndo em disparada.

— Mas que coisa... — murmurou, jogando o cigarro no chão e pisando sobre ele para apagá-lo.

Passos vieram pelo lado direito do beco, e Ulquiorra fitou o escuro automaticamente.

— Então não tem coragem mesmo de matar mais ninguém, uh? Tarde demais, irmãozinho.

Ulquiorra permaneceu quieto, esperando.

— Você é um demônio, Ulquiorra. E eu juro que vou te matar pelo que fez ao papai.

O garoto investiu contra Ulquiorra, que suspirou, deslizando para o lado e prensando seu irmão na parede com a lateral do corpo.

— Você fala demais, pirralho.

Segurou a cabeça do mais novo e bateu contra a superfície dura dos tijolos, em seguida caminhou, enquanto o deixava deslizar para o chão.

— Demônio... Ulquiorra... Demônio... — ele ainda balbuciou.

— Se você fala em demônios, então também deve acreditar em um deus. Já estou imaginando as cartas que manda ao Papai Noel.

Ulquiorra continuou andando, e antes de sair do beco espiou o corpo desmaiado de seu irmão mais novo.

"Vou te matar pelo que fez ao papai", as palavras ecoaram em sua mente.

— Pirralho idiota — murmurou. — Não fale sobre o que você não sabe.



"Ele estava mais perto da verdade do que imaginava"
, constatou Ulquiorra ao acordar novamente. Ele nunca havia visto um deus, uma pessoa com uma força maior, capaz de dominar o universo, mas conhecia Hollows e Shinigamis, que podiam ser facilmente associados às crenças humanas de demônios e deuses.

O nome de seu irmão mais novo — ou melhor, meio irmão — lhe veio à mente. Não tinha lembrança alguma de raiva ou ressentimento humanos pelo garoto — na verdade, se agarrava a ele a percepção de que tivera um forte desejo de proteção, algo incompreensível para ele naquele momento, já que acabara de sonhar com uma cena na qual tratara o mais jovem com tamanha violência. E porque, mais tarde em sua vida, aquele garoto deixaria de ser apenas seu irmão, e se tornaria também seu assassino.


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Notas finais do capítulo

Sugestões, críticas, elogios, teorias. Aceito tudo :V hsuhasuhahs agora sério, ficarei super feliz de receber bons comentários, mas também podem me xingar se algo ficar ruim. Erros de português: eu posso ter deixado passar, mas eu não sei de tudo, então posso estar escrevendo errado e vai ser uma honra aprender com vocês :)
Até os reviews ou até próximo, pessoas lindas ;*