Vermes, Cemitérios e Poesia escrita por V M Gonsalez


Capítulo 8
Ofélia


Notas iniciais do capítulo

Estrutura: Livre // Métrica: Livre// Rimas: Espalhadas// Tema: Um homem com dupla personalidade que mata sua amada



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/618734/chapter/8

Outono, como a vida, passageiro

O mórbido Sol no rio refletido

– Ah, louvou ao meu lúgubre desespero

Que minha mente escurece e me sombreia os sentidos –

.

No rio calmo como um moribundo

Frio e denso, águas de mercúrio

Vejo flutuar um crânio preso ao fundo

Memórias fúnebres de um tempo sombrio

.

Lembro daquela tarde de inverno

– Porque eu sou eu –

Quando em sangue vi desmanchar seu sorriso terno

– Mas não apenas eu –

Por que fomos para tão perto daquele rio?

– Me perdoe, querida, eu sou um monstro –

Por que eu me sentia tão frio?

– Cuidado, querida, não confie no Outro –

.

Em sombrio céu de ardor profundo

Minha sanidade cai moribunda

E se contorce em uma dança imunda

Toca-me o verme que devora o mundo

.

Naquelas margens pratas do rio

– Me entorpece sua doçura –

Terminei sua vida com um golpe vil

Sua linda fronte esmaguei contra uma rocha

Seu sangue chorou sobre as águas

– Minha Ofélia, serei sua loucura –

As águas fluídas levaram suas mágoas

Senti seu crânio se esmagar sob minhas mãos

A vida... A morte em vão

.

Minha raiva cresce como verme

Faminto de sangue, recheado de monotonia

Saquei a lâmina prata que o rio refletia

Quebrei-te os ossos, rasguei-te a epiderme

De rubro éter o rio se tingia

Separei-te do corpo a máquina das fantasias

.

No rio agora seu corpo flutua

Pele pálida e gelada como raios de lua

O rio vermelho vaga sozinho

Arrasta e leva tudo em seu caminho

Para um lugar sombrio, lar de seres medonhos

Seu corpo agora voa para a terra dos sonhos

.

Em minhas mãos tenho você, indefesa

O que resta de seu corpo sem cabeça

Seus cabelos caem em minhas mãos

Sujos e enrugados de sangue quente

Sinto beijar-me fria sua mente

Ah, suas entranhas tem um gosto doce

Sua presença lentamente esvai-se

Ah, querida, me perdoe, por favor

.

Agora sua cabeça no rio afunda

Pois de ódio e remorso está imunda

– Me perdoe, querida, por favor –

Em meu coração entristece te deixar

Assim, com mágoas a escuras no rio a chorar

– Tudo que fiz foi por amor

Amor, amor, e um pouco de dor –

.

Agora sozinho no outono

Vejo o que resta de seu crânio afogado

Fragmentos de uma vida, a muito quebrados

Remorso amargo tira-me o sono

Mas todas as noites a culpa me foge

Pois no profundo interior um sorriso surge

.

Porque eu sou eu

Mas não apenas eu


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse poema surgiu de um desafio feito por uma amiga, porque minha professora de literatura contou a história de Hamlet, então eu decidi escrever sobre a imagem da Ofélia morta no fundo do rio. Eu dei alguns toques pessoais ao poema, então não se assemelha tanto a imagem comum de Ofélia, morta e serena no fundo do rio. Aqui, a moça perdeu a cabeça e seu corpo foi embora com o curso do rio.