Vermes, Cemitérios e Poesia escrita por V M Gonsalez
Notas iniciais do capítulo
Estrutura: Livre // Métrica: Livre// Rimas: Espalhadas// Tema: Um homem com dupla personalidade que mata sua amada
Outono, como a vida, passageiro
O mórbido Sol no rio refletido
– Ah, louvou ao meu lúgubre desespero
Que minha mente escurece e me sombreia os sentidos –
.
No rio calmo como um moribundo
Frio e denso, águas de mercúrio
Vejo flutuar um crânio preso ao fundo
Memórias fúnebres de um tempo sombrio
.
Lembro daquela tarde de inverno
– Porque eu sou eu –
Quando em sangue vi desmanchar seu sorriso terno
– Mas não apenas eu –
Por que fomos para tão perto daquele rio?
– Me perdoe, querida, eu sou um monstro –
Por que eu me sentia tão frio?
– Cuidado, querida, não confie no Outro –
.
Em sombrio céu de ardor profundo
Minha sanidade cai moribunda
E se contorce em uma dança imunda
Toca-me o verme que devora o mundo
.
Naquelas margens pratas do rio
– Me entorpece sua doçura –
Terminei sua vida com um golpe vil
Sua linda fronte esmaguei contra uma rocha
Seu sangue chorou sobre as águas
– Minha Ofélia, serei sua loucura –
As águas fluídas levaram suas mágoas
Senti seu crânio se esmagar sob minhas mãos
A vida... A morte em vão
.
Minha raiva cresce como verme
Faminto de sangue, recheado de monotonia
Saquei a lâmina prata que o rio refletia
Quebrei-te os ossos, rasguei-te a epiderme
De rubro éter o rio se tingia
Separei-te do corpo a máquina das fantasias
.
No rio agora seu corpo flutua
Pele pálida e gelada como raios de lua
O rio vermelho vaga sozinho
Arrasta e leva tudo em seu caminho
Para um lugar sombrio, lar de seres medonhos
Seu corpo agora voa para a terra dos sonhos
.
Em minhas mãos tenho você, indefesa
O que resta de seu corpo sem cabeça
Seus cabelos caem em minhas mãos
Sujos e enrugados de sangue quente
Sinto beijar-me fria sua mente
Ah, suas entranhas tem um gosto doce
Sua presença lentamente esvai-se
Ah, querida, me perdoe, por favor
.
Agora sua cabeça no rio afunda
Pois de ódio e remorso está imunda
– Me perdoe, querida, por favor –
Em meu coração entristece te deixar
Assim, com mágoas a escuras no rio a chorar
– Tudo que fiz foi por amor
Amor, amor, e um pouco de dor –
.
Agora sozinho no outono
Vejo o que resta de seu crânio afogado
Fragmentos de uma vida, a muito quebrados
Remorso amargo tira-me o sono
Mas todas as noites a culpa me foge
Pois no profundo interior um sorriso surge
.
Porque eu sou eu
Mas não apenas eu
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Esse poema surgiu de um desafio feito por uma amiga, porque minha professora de literatura contou a história de Hamlet, então eu decidi escrever sobre a imagem da Ofélia morta no fundo do rio. Eu dei alguns toques pessoais ao poema, então não se assemelha tanto a imagem comum de Ofélia, morta e serena no fundo do rio. Aqui, a moça perdeu a cabeça e seu corpo foi embora com o curso do rio.