Vermes, Cemitérios e Poesia escrita por V M Gonsalez
Notas iniciais do capítulo
Métrica: Livre// Rimas: Livre// Estrutura: Quartetos // Tema: Uma pessoa em estado de praticamente inconsciência, sentado em um banco de um parque esperando a morte.
Sentado, aos ares megeros do amanhecer,
Entrego meu suspiro último, enternecido
Aos ares e ventos úmidos
Que embalam e elevam meu ser.
.
Perdido estou fugido.
Não sei para onde ou o que fiz,
Não temo, porém, destino vil,
Pois de meu espírito respiro paz.
.
Os que passam por minha casca choram
Pragas silenciosas e olhares frios.
Julgam, deuses rotos, a carne que a igual verme vil
Lhes tem o corpo.
.
Já estou cansado desta existência passageira.
Temo, porém, o evitável eterno,
Pois nos céus as incertezas são vapóreas;
Pois na terra o sofrimento é corpóreo.
.
Em lágrimas desfaço meu sofrimento
De uma vida inteira sem alegrias.
O que é a fria morte medo,
Para aquele que nunca amou na vida?
.
E os vultos passam como pedestres
Nas ruas ermas deste parque.
Sinto-lhes tocar-me os olhos;
Sinto-lhes fugir-me a alma.
.
Os fantasmas são minha platéia
No meu último espetáculo triste.
Vêm afogar-me a alma em desespero
Por aquilo que fugi no passado.
.
E o mundo continua a girar ao meu redor.
O dia frio continua a passar;
A noite densa e a lua a chorar;
Os fantasmas em vão a caminhar.
.
Em meu último suspiro eu sorrio,
Pois cansada mente está
De sofrer e sofrer pela memória que a dispensa
Sem pensar.
.
E agora sou menos que perfume
E sou mais que um ser.
Agora sou menos que um verme
E mais que um humano pode ser.
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Aqui há um duplo sentido para fantasmas. São tanto as pessoas que passam por ele no parque quanto as memórias dele do passado. Eu escrevi esse poema quase que literalmente de uma vez, depois arrumei para dar algum sentido, mesmo que vago. Tentei mostrar minhas impressões aqui sobre a perspectiva do personagem, que parece ser louco, mas que não por causa disso se vê inferior, ao contrário, dos demais.