O Pequeno Dragão escrita por Okaasan


Capítulo 9
Amor fraternal


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal.

Capítulo focado nos irmãos Kazuma e Shizuru Kuwabara. Uma dosezinha de drama. Nos próximos capítulos, darei prosseguimento à ação e ao mistério de "O Pequeno Dragão".

Boa leitura. :-)



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Ningenkai, Shopping de Shirokane, sábado à tarde.


 

— Prontinho, Hiei-chan! Kuwabara vem nos buscar daqui a poucos minutos, certo? — disse Botan, da forma mais tatibitate possível. — Bebê kawaiiiiiii... Be-be-be-be-bê!

O youkai olhou furioso para ela, enquanto sugava ansioso uma mamadeira. Saiba que eu vou me vingar de todos vocês quando voltar ao normal, seus malditos. Acabaram com minha dignidade...

Sentados à mesa da praça de alimentação, Botan e Keiko tomavam um sundae, enquanto Yukina (que preferia suco natural) alimentava seu irmão, já devidamente vestido, com fórmula infantil. Pela naturalidade demonstrada pela koorime, poder-se-ia dizer que ali estava uma pessoa experiente em cuidados com bebês.

Hiei trajava um pagãozinho branco com colete azul-céu e gola estampada com cachorrinhos. Seus cabelos negros foram cuidadosamente penteados para o lado direito. A roupa ficou meio frouxa em seu corpo miúdo, mas o vendedor garantira que era apenas por algum tempo, já que bebês crescem e engordam depressa. Uma chupeta fora afixada à golinha da roupa, sendo solenemente ignorada pelo youkai de fogo. Em suma, nos braços de Yukina repousava um bebê japonês comum, um tanto magro para sua idade.

As três jovens aprenderam muito com as funcionárias da drogaria, Cécille e Oshiro (sobrenome da mulher, que se chamava Michelle e era americana). Daquele dia em diante, cuidar do pequeno youkai não seria mais um bicho de sete cabeças: detalhes sobre como trocar fraldas, dar banho, verificar a temperatura do corpo, vestir roupas e cortar unhas foram didaticamente explicados. E, para o total desespero de Hiei, houve a explanação prática de como limpar seu prepúcio, também.

Yukina viu que a mamadeira se esvaziara e tratou de acomodar Hiei, com muito cuidado, de pé contra seu tronco. Por que você está me segurando assim, Yukina? Eu quero ficar deitado!

— Mais um sundae, Yukina-chan? — perguntou Keiko.

— Não, obrigada. Hiei-chan tem que arrotar.

Que maldição infernal, até você me chamando desse jeito estúpido?

— O importante é que fizemos as compras, foi mais fácil do que eu esperava! Espero que goste também das roupas que escolhemos para você, Yukina! — exclamou a shinigami, empolgada.

— Ah, eu adorei. Muito obrigada mesmo, Botan-chan, aquele yukata é marav-

Um arroto espetacular interrompeu a koorime, que deu uma risada e foi acompanhada pelas companheiras. Hiei, o autor da involuntária proeza, não cabia em si de vergonha.

Patético, patético, eu estou patético, ridículo, abominável, desprezível...

Em meio às risadinhas, o celular de Botan tocou. Ao ver o nome, ela pediu licença às amigas e foi para o banheiro, que era bem menos barulhento. Keiko pôs-se a olhar um catálogo de vestidos de noiva e a koorime se distraía olhando para uma TV.

Quatro minutos depois, a shinigami voltava para a mesa, ostentando uma alegria totalmente artificial.

— Então, meninas... Vamos embora para a porta? Kuwabara-kun deve estar quase chegando aqui...

Que cara de bosta é essa?

— Pode parar por aí, mocinha. O que foi que houve? — cortou-a Keiko.

— Algo sério aconteceu, Botan-chan, o seu sorriso não é assim — afirmou Yukina, preocupada.

A shinigami deixou os ombros baixarem.

— Caramba... Eu sou tão transparente assim?

— É! — responderam os três (Hiei, apenas mentalmente, claro).

Botan, suspirou, derrotada, e pediu a eles que esperassem ela comprar suco e pagar a conta dos sundaes. Rapidamente, ela se juntou aos demais e foram caminhando a passos lentos.

— Shizuru ligou — disse ela, abatida. — Aquilo está acontecendo de novo.

— “Aquilo” o que, Botan? — inquiriu Yukina, e Hiei passou a ouvir atentamente a conversa.

— Ah, Yukina-chan... Shizuru infelizmente vem tendo uns surtos depressivos depois do torneio das trevas. Já fazia tempo que ela estava razoavelmente bem, mas... — suspirou Keiko, genuinamente triste.

Mas aquela mulher é uma verdadeira rocha, que história é essa? Pensou o youkai. Shizuru era uma das raríssimas pessoas humanas que lhe inspiravam respeito.

— Pobrezinha! — exclamou a koorime. — Mas o que a levou a ficar assim tão mal?

Botan e Keiko se entreolharam. No momento, acabavam de descer de uma escada rolante. Passavam por um playground cheio de crianças; o youkai ficou curioso e passou a tentar erguer a cabeça para ver melhor os brinquedos. Depois, se dando conta do que estava fazendo, voltou o olhar para a frente rapidamente, irritado consigo mesmo.

Botan, suspirando pesadamente, retomou a palavra.

— Shizuru sofreu um aborto espontâneo, há três anos. O bebê era filho do presidente do Black Black Club...

— ... Aquele monstro chamado Sakyo — concluiu Keiko, irada.

Yukina e Hiei arregalaram os olhos. Ok, agora até eu fiquei espantado!

— Sakyo e ela tiveram um envolvimento rápido e uma única noite juntos. Quando saímos da ilha, ela estava bem triste com a morte dele — disse a shinigami.

— Shi-chan acreditava que poderia mudar o caráter dele, entende, Yukina-chan? Com a força do amor... Ela é romântica como Kuwabara, só que sabe esconder muito bem esse lado. Aquela dureza é fachada — explicou Keiko.

Ah, mulheres humanas são tão estúpidas!

— Mas o houve com o bebê, gente? Por que morreu? — indagou a koorime, angustiada.

— Lembra de quando Hagiri e Sensui atacaram o apartamento deles, né? Shizuru se sentiu mal e, quando Yu-chan, Kurama, Hiei e Kuwabara foram para o Makai, ela veio a perder o bebê, que já tinha quase quatro meses... — disse Keiko.

— Yukina, por favor... Você não pode ch- — aparteou Botan, vendo que os olhos de Yukina marejavam. Estavam já no portão de entrada do shopping.

— Não vou chorar, Botan-chan — cortou ela, com uma expressão resoluta. — Desde que fui sequestrada por Tarukane, aprendi a controlar minhas lágrimas. Mas saber disso me machucou tanto...! Pobre Shizuru!

— Mais uma coisa importante, Yukina-chan. Kuwabara não sabe disso. Cuidado para não dizer nada... — recomendou a jovem.

— Shizuru não quer que ele sofra. Como você bem sabe, ele é extremamente sensível e ficaria deprimido também — arrematou a shinigami.

— Que dor... — murmurou Yukina. — E, vendo Hiei-chan assim pequenino, ela deve sofrer mais, não é?

— Sim, infelizmente, Yukina-chan. Ou seja, não é apenas Hiei que está enfrentando dificuldades...

A koorime ia dizer algo, quando o Subaru se aproximou e Kazuma Kuwabara descia, afoito e inocente de tudo aquilo. Todos entraram no veículo conversando agitados. Hiei, contudo, se quedou amargurado e reflexivo, dormindo logo assim que o carro começou a rodar pelas movimentadas ruas de Shirokane.


 

Casa dos Kuwabara, sábado à noite


 

O dia fora extremamente cansativo para Kuwabara, que entrava em casa louco por um banho. A noite vinha fresca e convidativa para um passeio na rua; contudo, o jovem não tinha cabeça para pensar naquilo. Estava angustiado por sua irmã, que, no momento, estava sentada na poltrona, com um cigarro preso firmemente entre os dentes, assistindo um filme de terror qualquer e ignorando sua presença. Kazuma tentou puxar conversa:

— O tempo está mais fresco agora, não acha, Shi-chan?

— Não acho não, senhor quero-conversar-fiado-e-não-tenho-assunto-relevante — disparou a loira, mordaz. O caçula suspirou, desanimado, enquanto a deixava sozinha com seu mau humor.

Triste, Kuwabara banhou-se sem pressa, jantou mesmo sem vontade e, às oito da noite, já estava pronto para dormir, apesar da falta de sono. Eikichi dormia ao pé da sua cama, todo espalhado. Entediado, Kuwabara decidiu ir para a sala zapear a televisão.

Passava pelo corredor, quando estacou perto da porta do quarto da jovem. A mesma música, os mesmos soluços contidos. Resolveu, silenciosamente, se aproximar mais da porta, mas não conteve um espirro. Se maldizia quando ouviu a voz da loira:

— Tá caçando o que na minha porta, bisbilhoteiro?

O rapaz pensou em revidar a ofensa, mas achou melhor baixar a guarda. Ele sentia que algo ali estava errado, não sabia bem o que fazer e xingá-la de volta era uma péssima ideia. Resolveu seguir sua intuição:

— Shi, eu... Eu não consigo dormir e resolvi vir ver se você está bem.

— Tô ótima, seu panaca. Agora vaza.

— Não está não, Shi-chan, sua voz está estranha. — disse ele, já com a mão na maçaneta da porta.

— Eu já disse que tô ótima, seu asno, some da minha porta! Inútil!

Aquilo não se resolveria tão facilmente. Kuwabara pensou rápido e resolveu mudar de estratégia:

— Ah é? Eu sou um asno, Shizuru? Venha aqui e diga isso na minha cara, se você é mulher! Sua loira burra! Fedorenta de saquê! Tiazona velha, en-ca-lha-da! — exclamou ele, fingindo irritação.

Passos rápidos, uma porta que se abria rapidamente, uma Shizuru Kuwabara com olhos vermelhos. O embate começou instantaneamente; ela socou-lhe o peito, mas ele foi mais hábil e lhe deu uma gravata, imobilizando-a, sem contudo feri-la. Ela conseguiu chutar a perna do caçula, fazendo com que ele momentaneamente se desequilibrasse, mas não se livrou do aperto. A loira se debateu em vão e protestou:

— Que bosta é essa, seu desgraçado?

— Vim apenas dizer que estou no quarto ao lado, Shizuka — respondeu ele, chamando-a pelo apelido de infância. — Você não precisa chorar sozinha.

— K-Kazuma...? O que... — retrucou ela, estupefata. — Não, cara, me larga. Você não faz ideia do que estou sentindo, não pode me ajudar! E eu também não vou te dizer!

— Mas eu não quero saber o que é.

— Não?!

— Não — respondeu Kazuma, soltando-a devagar. — Não preciso. Vem aqui comigo.

Shizuru se deixou levar pelo caçula, que a guiou pela mão para a área de serviço do apartamento. A lua cheia estava magnífica naquele céu sem nuvens e proporcionava uma visão estupenda a quem estivesse naquele cômodo.

— Na véspera do meu aniversário de oito anos, eu me distraí enquanto passava em frente a um pachinko e tomei um tombo, lembra? Voltei para casa berrando e todo ralado — a loira concordou com a cabeça, recordando vagamente do fato. — Lembra do que você me disse naquele dia?

— Não, Kazuma. Isso tem muitos anos...

— Disse que não queria saber como eu tinha conseguido aqueles arranhões nas pernas e que o importante era cuidar deles o mais depressa possível — respondeu ele, com um braço sobre os ombros dela.

— Certo, mas...

— O mesmo eu te digo hoje. Não me importa quem ou o que feriu seus sentimentos, o que me importa é fazer algo para cuidar dessas feridas, e já. Eu sou o homem chamado Kazuma Kuwabara! E vou cuidar de você, Shizuka-chan!

Aquilo foi demais para Shizuru, que deu um soco violento no rosto do irmão e, em seguida, se jogou contra o peito dele em um choro convulso. O rapaz sorriu, apesar da dor do murro. Seu plano de ouvir a voz do amor e armar aquela confusão para fazê-la extravasar deu muito certo.

— Kazuma-chan... Eu... Só preciso de um abraço... De um carinho! A minha dor é tanta... Me abrace...

— Não precisa nem pedir, sua boba. Foi para isso que te fiz sair daquele quarto.

Kuwabara a abraçou novamente e ela chorou por longos minutos. Depois que conseguiu se acalmar, olhou meio desconcertada para ele, que piscou um olho:

— Não vou contar para ninguém que você me pediu um abraço hoje, nee-chan.

A loira deu uma risada e o empurrou.

— Ai de você se falar algo com alguém, maninho. Ah — disse ela, encarando-o com expressão divertida — lembra que você, quando era pequeno, vivia me seguindo, pedindo para eu preparar um “peti tatu”? Aprendeu a falar “Petit Gateau” já com quase treze anos, Kazuma, que vergonha!

Kuwabara arregalou os olhos, enquanto Shizuru ria de novo:

— Epa, mas você não vai contar isso para ninguém, né?

— Claro que não, idiota... — disse ela, com carinho, apesar do termo ofensivo.

— Então eu hoje vou querer um “peti tatu” com sorvete de baunilha! — exclamou ele, com os olhos brilhantes.

A loira, ainda rindo, pegou na mão de seu irmão e o puxou de volta para a cozinha. A alma já estava bem mais leve. Talvez naquela noite ela finalmente teria um pouco de paz para dormir. Nem tudo era somente dor: o amor de Kuwabara era um grande bálsamo para seu coração. Era muito bom ter um irmão como ele.

— Você é um virjão retardado, mas eu te amo, sabia, Kazuma?

O jovem arregalou os olhos mais uma vez e ficou vermelho como um pimentão.

— C-como você sabe que eu ainda sou virgem?

— Na verdade, eu não sabia... Foi Yusuke que te chamou assim ontem, eu apenas repeti e você caiu direitinho...

Shizuru irrompeu em uma sonora gargalhada, deixando-o muito constrangido.

— Esquece, esquece! Agora se mexa e vá derreter o chocolate enquanto eu preparo a massa do nosso “peti tatu”!

Definitivamente, era bom demais ter um irmão ingênuo e amoroso como Kazuma Kuwabara.


Continua...


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Notas finais do capítulo

Gente, eu AMO o Kuwabara!



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