26.03.2015 Londres

– Clary, oi? Estás na terra? - Gabe estalou os dedos á minha frente e eu 'voltei'.

A minha cabeça ainda andava á roda, eu não podia acreditar que Jace era um anjo e também não podia acreditar que ele estava aqui. Eu vi ele a arder, eu vi o fogo em volta dele, a atacá-lo com os seus braços vermelhos, eu ouvi ele a gritar... mas mesmo depois de tudo aquilo, ele estava aqui, só não fazia sentido.

– Claryyyy?

– Ah, sim, eu estou, sim eu vou contigo!

– Não me digas que também estas a babar, ou és uma daquela meninas que só pensam nele, ou até que sonham com ele. - Gabe fez uma cara de nojo e abanou a cabeça.

– O que? Não! Ele é um idiota.

Acho...

– Uau, afinal não estás perdida como eu pensava.

– Hey!

Dei-lhe uma cotovelada na barriga, fazendo-o dobrar-se de dor e gritar.

– Jacyyy!

Oh por favor não...

Mellanie saiu correndo e saltou para cima de Jace, o beijando de seguida.

– Acho que vou vomitar!

Pus a mão na barriga, dobrei-me e fingi vomitar. Gabe acompanhou-me, olhamos um para o outro e começámos a rir até todos ficarem a olhar para nós.

Quando voltei a endireitar-me , os olhos dourados de Jace estavam fixos nos meus. Jace podia ser um idiota, mas não era nada feio e por um momento eu fiquei perdida nos seus olhos dourados.

– Jace? Pelo anjo, Jace és mesmo tu!

Olhei para trás e vi Izzy parada, em choque. Atrás dela estavam Alec - que ao contrario de Izzy, olhava para Jace com decepção - Gideon, Sophie e o pequeno Max.

Izzy saiu disparada até Jace, empurrou a sua prima, Mellanie - que afastou-se irritada - e saltou para cima de Jace. Ele apanhou-a no ar e abraçou-a.

Quando se separarão, Izzy limpou os olhos discretamente. Não tão discretamente, pensei.

– Eu realmente não percebi qual é o interesse nele. - Gabe disse.

Foi a vez de Alec agora e quando Jace olhou para ele, havia arrependimento nos seus olhos. Jace parou á frente dele e abraçou-o.

O menino de olhos azuis não o abraçou de volta.

– Desculpa ter ido embora sem avisar.

– Pedir desculpa não vai apagar todos os anos em que não estivesse cá, todos os anos em que eu precisei do meu Parabatai e ele não estava.

Jace inclinou-se e disse alguma coisa ao ouvido de Alec. A expressão dele mudou e eu percebi que ele tentava esconder um sorriso.

– Então, vamos almoçar? - Tessa perguntou.

Jace virou-se lentamente para todos, com um sorriso na cara e respondeu:

– Sim, mãe, vamos almoçar.

Jace passou ao meu lado e parou, não sabia se ele me reconhecia, ele não mostrou sinal disso, fiquei com esperança que ele não soubesse quem eu era. Ele seguio em frente, não sem antes mandar um olhar frio para Gabe.

– Que idiota, meu. - Disse Gabe, cerrando os punhos e também mandando-lhe um olhar frio, assim que Jace estava suficientemente longe para perceber.

Comecei a rir com a irritação de Gabe.

– Épa não tem graça.

Desta vez fui eu o alvo do seu olhar frio. Gabe saiu em direção à cozinha ainda todo irritado o que me fez rir ainda mais.

Apesar de Gabe fazer muita asneira, eu o amava como um irmão e tinha muita pena de ele ter uma irmã tao idiota e egoísta com Mellanie.

– Clary.

Olhei para trás e deparei-me com Megan, a irmã mais nova de Lucie e Jace. Megan encarou -me com os seus grandes olhos cor de mel.

– Posso sentar-me ao teu lado? - Ela pergunto-me com a sua vozinha de 5 anos.

– É claro que sim. - Abaixei-me e pus as mãos em cada lado da sua barriga.

Megan abriu um sorriso tímido.

– Eu não gosto de Mellanie. - Ela disse, olhando para as mãos.

Hmm, gosto desta menina.

– Queres saber um segredo? - Perguntei, sorrindo.

– Sim. - Ela sorriu de volta.

– Eu também não gosto dela.

***

Finalmente nos sentamos todos para almoçar, como prometido fiquei ao lado de Megan e também de Max, não me importei de ficar ao lado deles, pelo contrário. Eu amava crianças, e um dos meus maiores sonhos era ter filhos e sim parece lamechas e tipo conto de fadas mas era o que eu queria não importa o quão lamechas possa ser.

Izzy estava sentada à minha frente, ao lado de Alec - que falava com Matt - e ao lado de Jace. Ela e Mellanie, sentada do outro lado de Jace, tentavam competir pela sua atenção, ele parecia não perceber nada.

Olhei para todos naquela mesa, mas ninguém percebeu a competição de Mellanie e Izzy. Ri com isso, os pais de Mellanie assim como os de Izzy pensavam que elas as duas eram melhores amigas, quase com se fossem Parabatais, talvez por serem primas, mas que as realmente conhecia sabia que elas se odiavam, não só Izzy e eu odiávamos Mellanie mas assim como quase toda a gente na Academia.

A comida chegou e todos continuaram a falar, só que desta vez em geral, ninguém em algum momento da conversa tocou no assunto de Jace ter fugido de casa.

– Então Clary, conta-nos, tens algum namorado?

O copo que eu segurava quase caiu em cima da toalha de mesa. Olhei para o dono da pergunta. Will tentava esconder um sorriso, dei-lhe um olhar mortal ao qual ele se fez desentendido.

Todos na mesa olhavam para mim à espera de uma resposta.

Limpei a garganta e respondi.

– Não, eu não tenho namorado, e nem pretendo ter tao cedo, a minha prioridade é a escola e é isso em que eu quero me focar agora. Além disso, namorados são uma perda de tempo e dão muito trabalho.

Sorri, orgulhosa da minha resposta.

– É isso mesmo filha. - A minha mãe disse, piscando o olho.

Olhei para Will que sorria também, o meu olhar caiu sobre Mellanie que olhava para mim, ela inclinou-se e disse alguma coisa ao ouvido de Jace, que olhou para mim e começou a rir baixinho.

Desviei o olhar para Megan e sorri, queria mostrar a eles que aquilo não me afetava.

E afeta, Clary, o que Jace diz sobre ti, afeta-te?

– Não! - Gritei.

Percebi tarde de mais que tinha gritado, ele me deixava irritada, fora de mim. Também percebi que esta era a minha opurtunidade, tanto para acertar Jace, como para saber se ele realmente sabia que era eu naquela noite.

– Não caias! - Improvisei, quando todos esperavam uma resposta. - É o nome do filme que eu vi ontem á noite. Foi incrível, deviam ver.

Esperei e desejei que alguém fizesse a pergunta óbvia e a pequena e doce Megan fez.

– Era sobre o que?

– Ainda bem que perguntas, Megan. A história era sobre um rapariga que vê um anjo á noite na rua. Ele estava a arder em chamas e era dourado.

No último momento olhei para Jace, que me olhava chocado. Ele virou a cara rapidamente, disfarçando.

Apanhei-te, pensei.

Agora sim eu tinha a certeza que era Jace naquela noite.

***

– Até correu bem, hei? - Perguntou o meu pai.

Assim que pus os pés em casa, tirei os sapatos de salto e fui para o meu quarto mudar de roupa.

– Sim, até que correu bem. - Ouvi a minha mãe responder.

Abri a porta do quarto e quase saltei de susto.

– Como é que entraste e o que fazes no meu quarto? - Perguntei ainda com o coração aos saltos.

– Nós precisamos de conversar. - Respondeu Jace.