Lost Stars escrita por Cler Night


Capítulo 1
Capitulo 1 - Levi


Notas iniciais do capítulo

Para quem não tem o costume de ler as notas da historia:"Essa fic é inspirada em Lost Stars, música original do filme 'Se Nada Der Certo' e depois que foi cantada pelo vocalista do Maroon 5, Adam Levine.https://www.youtube.com/watch?v=cL4uhaQ58Rk" Bom, eu não tenho escrito nada ultimamente, então se isso estiver uma merda me desculpem, mas é que essa música realmente me fez querer escrever algo, espero mesmo que gostem.



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Você já sentiu que não podia escapar? Que o mundo todo estava te prendendo em uma armadilha e você não podia se soltar?

Pois eu acho que a sensação de ver alguém preso nessa armadilha e não poder fazer nada é ainda pior.

Eram poucos os dias que ele chegava em casa sóbrio. Minha mãe sempre me mandou subir para o meu quarto e jantar sozinho, e claro, não esquecer de trancar a porta, antes que ele chegasse. Era nesses momentos que eu me preocupava mais com ela, eu queria que ela se escondesse comigo, mas não adiantava dizer nada, só seria pior se ele chegasse e não encontrasse ninguém para recebê-lo.

Às vezes não acontecia nada, era nesses dias que podíamos respirar aliviados, mas havia aqueles outros dias para nos torturar.

Eu me lembro da primeira vez que ele á espancou, eu tinha oito anos quando ele entrou em casa e começou a falar várias coisas de que nem me lembro, mas lembro bem da hora em que ele ergueu o punho e socou o rosto de minha mãe, a derrubando no chão. Eu comecei a chorar na hora e ele avançou sobre mim como um leão sobre a caça, mas minha mãe foi mais rápida e o derrubou no chão junto com ela. Lembro-me dela me mandando correr, para subir para o quarto e trancar a porta, quem diria que aquilo se tornaria um habito?

Haviam dias que ele não voltava e ficava fora por muito tempo, e eu achava que tínhamos nos livrado dele, mas aquilo era apenas uma calmaria antes da tempestade. Ele voltava, sempre voltava, e continuava a nos atormentar. Minha mãe às vezes aparecia na cozinha de manhã com vários hematomas, e só pioravam, era doloroso observar aquele processo.

O pior dos ataques aconteceu em uma noite, um ano atrás, quando eu tinha quinze anos. Eu estava no meu quarto, trancado e jantando, quando comecei a ouvir gritos. Minha mãe não gritava, ela sempre suportava tudo calada, mas aqueles eram gritos de desespero. Passos, alguém estava correndo pela escada, e foi seguido. Eu não consegui ficar quieto. Me levantei e saí do quarto, e foi quando eu entendi o que estava acontecendo. Jorge, o meu pai, segurava minha mãe pelos cabelos e lhe apontava uma faca de cortar carne da cozinha. Eu corri até ela e tentei agarrar o braço dele.

– Você não vai machucar a minha mãe! – eu gritava.

Jorge me jogou no chão e me encarou. Eu tive sorte, uma luz de sanidade passou pelos olhos dele e ele se afastou de nós dois, descendo novamente as escadas e saindo de casa. Ele não voltou por mais alguns dias. Mas como eu disse, ele sempre voltava no final.

Nada tão ruim voltou a acontecer, mas os abusos e maus-tratos continuaram sem nenhuma diferença.

Durante uma manhã eu a questionei sobre tudo isso, perguntei por que simplesmente não saiamos de casa e o deixávamos para trás.

– Não temos para onde ir, ele é quem nos sustenta, e mesmo que fugíssemos, ele nos encontraria – ela respondeu enquanto fazia os ovos. Ela parecia tão natural dizendo aquilo.

Algumas pessoas descarregam a sua raiva e frustração colocando tudo para fora. Eu não, eu sempre guardei, sempre mantive tudo dentro de mim, e acho que por isso que acabei como acabei.

O rosto que eu via refletido no espelho era branco e ossudo, não comia direito há algumas semanas, meu corpo oscilava um pouco, mas eu ainda estava de pé. ‘Por pouco tempo’ pensei ‘vou poder descansar de verdade’.

Minha mãe costumava tomar remédios para dormir, sorte a dela, às vezes eu ficava acordado durante noites inteiras olhando para o teto, apenas escutando sons de choro e gritos reprimidos no quarto ao lado. Já contei que ele abusava sexualmente dela? Acho que preciso adicionar isso à lista.

Eu não precisava de água, tomei uma pílula de cada vez até acabar o potinho, não haviam muitas, talvez seis ou sete.

Acho que as pessoas glamurisam demais o suicídio. Foi como cair no sono, um sono lento e eterno. Eu não senti nada, apenas acabou, ou eu esperava que acabasse.

–/-

– Vejo que já está mais encorpado, e também que está mais corado, Levi – o doutor Howard falou enquanto me lançava um sorriso.

Apenas o encarei, não tinha o que responder sobre aquilo. Minha mãe estava praticamente enfiando comida pela minha guela abaixo, eu não tinha opção.

– Tem saído com seus amigos ultimamente?

– Eu não tenho amigos – murmurei.

– Mesmo? Você é um rapaz muito bonito, não é possível que nem mesmo tenha uma namoradinha.

– As pessoas não gostam de mim e eu não faço tanta questão de ter amigos.

Ele me observou por alguns segundos e anotou algo em seu caderno.

– E a escola? Tem tirado boas notas?

– Não – curto e grosso, era bem eu.

– E como estão as suas coisas em casa?

Aquela era uma pergunta difícil, eu não podia contar o que realmente acontecia em casa, minha mãe disse que se descobrissem eu seria tirado dela, me levariam para longe e eu a perderia.

– Está tudo normal.

– O que você considera normal?

– . . . Tudo está como sempre foi.

Howard, meu psiquiatra, era um cara inteligente, tenho certeza que ele tinha consciência que eu estava escondendo algo, mas ele não iria me forçar a falar, ele preferia me tratar e me convencer a falar por mim mesmo, mas ele não conseguiria.

– Levi, você não tem pensado em tentar suicídio novamente não é?

– Não.

–. . .Por que fez aquilo?

– Eu já disse, eu sou um peso aqui, eu não quero mais viver, não quero mais dar trabalho para as pessoas próximas a mim, eu as prendo a correntes.

– E que correntes são essas? Pode me dizer?

– Não.

Novamente, o mesmo olhar de questionamento.

– Tá bem, acho que terminamos por hoje Levi, foi bom ver você, e me ligue se quiser conversar.

Apertamos as mãos e eu sai de seu consultório sem mais perguntas.

Desde a minha tentativa de suicídio, o qual teria dado certo se minha mãe não tivesse entrado no banheiro e me levado para o hospital a tempo de me salvar, eu tenho sido forçado a comparecer a essas consultas, mais um custo para a minha mãe, eu realmente não presto pra nada, nem mesmo para me matar.

O corredor do hospital estava vazio, eu gostava assim, tudo era tão branco e quieto, me sentia em paz. Eu não queria voltar para casa tão cedo. Eram onze horas da manhã de um sábado. Muitos adolescentes de dezesseis como eu estavam se divertindo com seus amigos na rua, indo ao cinema ou fazendo compras, e eu estava em um hospital pensando na morte. Acho que dá para entender por que eu era um excluído.

Como não pretendia voltar para casa naquele instante e também não queria sair e encarar a felicidade do mundo eu segui para a cafeteria do hospital.

O consultório de Howard ficava no terceiro andar e a cafeteria no segundo, o que me permitia chegar lá pela escada, o que era perfeito para mim, eu não gostava do elevador, me desagradava ter que ficar preso a uma caixa com pessoas que nem ao menos eu conhecia, não que se eu as conhecesse fosse diminuir a sensação de sufocamento.

A cafeteria também estava vazia, o que me causou um leve sorriso. Observei o lugar rapidamente, mesmo sendo chamado de cafeteria, ele não se assemelhava em nada a aqueles lugares felizes e elegantes que as pessoas costumavam frequentar, nesse caso a denominação mais correta seria refeitório.

Fui até o balcão e pedi um café puro, o de sempre. Depois escolhi uma mesa em um canto e me sentei. Deixei o café sobre a mesa e abri minha bolsa, uma bolsa de alça transversal muito útil, a posição que ela ficava evitava que eu fosse roubado, não que eu tivesse algo de valor para ser roubado. Peguei o livro que estava lendo naquele momento, um de poesia não muito famoso, e comecei a lê-lo.

Eu não reparei na outra pessoa que estava entrando na cafeteria até ele ficar de pé ao meu lado e falar comigo.

– Que autor está lendo?

Me surpreendi com a pergunta, não por ela em si, mas por que as pessoas não costumavam se dirigir a mim.

– O que? – perguntei, ainda duvidando de que era comigo que aquela pessoa estava falando.

– Perguntei que autor está lendo, é que eu reparei que você está lendo poesia, e fiquei curioso.

Levantei meu olhar e encarei o rapaz que falava comigo. Ele parecia um pouco mais velho, mas ainda assim era um adolescente, tinha o cabelos

–. . . Edgar Allan Poe – respondi depois de hesitar um instante.

– Mesmo? Qual delas?

Era estranho alguém querer manter um dialogo comigo, por isso demorei alguns segundos para raciocinar e responder.

– Só, o nome do poema é Só.

Sem nem ao menos me pedir o garoto se sentou ao meu lado, colocando seu próprio copo de café sobre a mesa.

– Pode ler pra mim?

Não me sentia a vontade sendo o centro da atenção de alguém, mas não podia me negar.

– Tá – e comecei a ler.

“Desde a infância eu tenho sido

Diferente d'outros – tenho visto

D'outro modo – minhas paixões

Tinham uma outra fonte e

Minhas mágoas outra origem -

No mesmo tom não despertava

O meu coração para a alegria -

O que amei – eu amei só.

Então – na infância – a aurora

Da vida atormentada – estava

Em cada nicho de bem e mal

O mistério que me prendia -

Da correnteza, da fonte -

Da escarpas rubras do monte -

Do sol que me rodeava

Em pleno outono dourado -

Do relâmpago nos céus

Quando sobre mim passava -

Do trovão, da tormenta -

E a nuvem tem a forma

(Quando o resto do céu é azul)

D'um demônio aos meus olhos.”

– Muito bom – o garoto falou, tomando um gole de seu café. – Você gosta de poesia?

– Eu leio às vezes.

– Eu nunca te vi antes por aqui, está aqui no hospital por quê?

–. . .Eu tinha uma consulta com meu psiquiatra.

– Ah. . .

Notei seus olhos caindo até meus pulsos, eles ainda tinham cicatrizes, e então um brilho de clareza surgiu em seus olhos.

– Me desculpe, eu não tinha notado.

– Não tem por que se desculpar – eu disse, pegando meu livro e o colocando de volta na minha bolsa.

Me levantei e ia sair de lá, mas o garoto segurou meu braço e me parou.

– Espera, eu não quis te ofender, quero dizer. . .eu quero te ajudar.

– Eu não pedi a sua ajuda.

– Eu sei, mas eu quero ajudar, quero ser seu amigo.

Aquela cara provavelmente era algum maluco, só por que eu li uma poesia para ele e ele descobriu que sou um suicida de repente ele quer se tornar meu amigo?

– Não preciso de amigos.

– Você acha que não precisa. Meu nome é Herodes.

– Eu não ligo.

– E qual é o seu?

– Você também não liga.

– Eu ligo, me conta.

–. . . Levi.

– É um prazer te conhecer Levi.

Herodes me estendeu sua mão para eu apertar, e mesmo hesitando eu apertei, o cumprimentando.

– Você tem celular? Eu posso te ligar?

Mesmo desconfiando daquilo eu aceitei passar meu número para ele, eu não ia perder nada com isso, se ele fosse um estuprador assassino, o que eu achava improvável, eu não estaria nem ai para morrer, e se não fosse, minha mãe ficaria feliz de que eu estava me comunicando com alguém que não ela.

Depois de salvar meu número em seu celular eu disse que iria embora, então Herodes se despediu de mim e eu saí de lá depressa.

Não é todo o dia que você encontra um maluco que em menos de cinco minutos resolve que quer fazer um trabalho de caridade e diz quer se tornar seu amigo.

O que eu não sabia é que aquele maluco iria me ensinar uma lição e mudaria o meu jeito de ver as coisas para sempre.


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Notas finais do capítulo

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