Lupin sentia o coração bater forte no peito, o suor frio na testa e a leve tremedeira nas mãos. Fazia um bom tempo que não via Tonks - talvez nem fosse tanto assim, mas cada minuto longe dela transcorria como uma hora - e sabia que o reencontro não seria fácil. Se sentia tão estúpido! Abandoná-la no meio de uma gravidez?! Tinha certeza que, de todas suas decisões, aquela tinha sido a menos calculada. Planejara chegar na casa de Tonks às 9:00 e o relógio já marcava 10:00. Milhões de possibilidades rondavam sua cabeça e na maioria delas, ele era ignorado e expulso da casa há pontapés por Teddy. Pensou naquelas em que sua esposa o abraçava e o aceitava de volta e girou, focando no seu destino e, como de costume, sentiu seu corpo ser puxado em todas as direções. Esperou alguns segundos e aparatou em frente à casa. Pensara em aparecer logo no quarto que os dois dividiam, mas deduziu que seria no mínimo rude.

Estava virando um tipo de hábito agir como um covarde, o que o levou a ficar alguns minutos apenas observando, temendo o que estaria por vir. Eram 10:00 e tinha consciência de que a família ia dormir cedo, o que aumentou o nervosismo.Se aproximou da porta e quando estava prestes a bater, teve uma ideia que podia ser tão genial quanto desastrosa. Atravessou o jardim e parou alguns metros debaixo da janela que dava direto para o quarto de Tonks, correu os olhos pelo lugar e achou o que procurava: quatro pequenas pedrinhas perto da parede. Pegou-as com a mão direita, passou três para a esquerda e se preparou. Nunca fora bom em arremessos mas se isso podia trazer ela de volta…

Ploc!

A primeira pedrinha bateu um pouco abaixo do esperado, mas acertou o vidro. Esperou um tempo, mas ninguém apareceu. Pegou a segunda e fez o mesmo movimento, acertou bem no meio da vidraça mas, de novo,ninguém apareceu. Se agachou para procurar a terceira, que havia caído na última tentativa.

– Lupin?! - se assustou com a voz doce que vinha de cima e subiu o olhar, dando de cara com uma Tonks de cabelos bagunçados e cor-de-rosa escorada na janela, o olhando assustada.

Engoliu em seco. Tinha planejado todo um discurso para quando voltasse a vê-la, mas não conseguia se recordar de nada agora.

–Remus Jhonn Lupin, o que está fazendo jogando pedras na minha janela feito um moleque há essa hora da noite, quer acordar meus pais?

–E-eu só queria…

–Queria o quê? - apesar de falar num tom de sussurro, as palavras dela soavam, pelo menos para ele,como um grito no silêncio - Esqueceu alguma camisa aqui por acaso?

–Não, eu só…Bem, deixa pra lá.

Suspirou derrotado. Se virou,pronto pra ir embora.Era óbvio que ela não iria aceità-lo.

–Hey! O que acha que está fazendo? Me acorda no meio do sono e depois dá no pé? Nem morto! Sobe e diz o que quer.

*****

Se Lupin achava estar nervoso antes, não se comparava a agora. Estava parado, em pé, na frente de Tonks, que estava sentada na beirada da cama. O quarto parecia estar exatamente como antes. As paredes pintadas de azul claro, o chão de madeira, a cama espaçosa colocado no meio do cômodo, hoje forrada com lençóis roxos e o guarda roupa no canto direito da parede. Por um tempo os dois ficaram apenas se encarando, ele estudando cada parte do rosto dela e logo depois descendo o olhar para a barriga, que já estava perceptível através da fina camisola vermelha e ela perdida, apenas pensando o que faria a seguir.

–Então…Eu acho que te devo explicações. - Remus quebrou o silêncio e, mesmo não recebendo nenhuma resposta, tomou coragem e decidiu falar tudo que queria antes que, mais uma vez, sua coragem se esgotasse. - Me perdoa. Eu fui estúpido, irresponsável e até um pouco cruel, eu admito. Exatamente o contrário do que eu pretendia ao tomar essa decisão.

–É isso? Você veio até aqui pra pedir DESCULPAS?

–NÃO! Eu…Eu vim pedir pra voltar.

Por um momento, Tonks parecia ter visto o próprio Lord Voldemort parado, na sua frente, de tão arregalados que seus olhos estavam. Depois se levantou, encarou os olhos castanhos de Lupin e falou, com a voz doce de sempre transformada num sussurro quase inaudível.

–Eu queria dizer que não. Queria gritar, te xingar e te mandar fora a pontapés dessa casa.

Remus se controlou pra não chorar ali mesmo.

–Mas eu não posso.

Agora ela estava perto.Muito perto.Pousou as mãos nos lados do rosto do ex-professor e continuou:

–Você pode voltar. É óbvio que pode. Eu te quero aqui mas que tudo mundo. E ainda tem esse bebê…Ele precisa de um pai,e você vai ser um ótimo pai. Mas você tem que me prometer uma coisa. É simples.

E então ela o abraçou. Apertado, do jeito que ele tanto precisava.Que tanto queria.Aproximou a boca do seu ouvido e sussurrou:

–Promete que fica. Que nunca me abandona. Nunca mais.

Afastou o rosto dela. Gravou cada detalhe, cada curso das marcas e se surpreendeu ao ver o brilho das lágrimas que desciam pela bochecha. Eles continuavam abraçados. Agora era a vez dele de se aproximar, deixou sua boca a menos de três centímetros da dela.

–Eu prometo.Vou ficar com você, e com esse bebê, até o último dia de nossas vidas.

E os lábios se juntaram. Um beijo calmo, ritmado, dado por duas pessoas que sentiam ter todo o tempo do mundo. A mão dele pousada na cintura dela, acariciando as costas e a dela nos cabelos dele, acariciando e, quando o beijo se tornou mais intenso, puxando.

–Dora… - sua voz saiu rouca.

Se olharam pela primeira vez desde que o beijo havia começado. Tonks sorriu. O sorriso que Lupin tanto gostava. Aberto, deixando a mostra todos os dentes. Quase tão lindo quanto ela.

"Don't leave me here alone. Don't tell me how we grow to have loved a little while. I don't want to be alone, I want to find a home and I want share this with you"