A mulher da chuva tem os olhos de uma criança ao admirar o céu, onde os flocos brancos e macios preenchem seu campo de visão. Ela gira em torno de si mesma, ainda mantendo o olhar preso ao céu, observando tudo ao seu redor girar em uma imensidão azul-escura com flocos brancos. Algumas das mechas grossas e onduladas de seu cabelo azul-claro que estão livres do seu chapéu estilo russo balançam no movimento giratório que faz, mas não pode dizer o mesmo do vestido por baixo de um casaco de tecido grosso e pesado que a protege do frio rigoroso.

O inverno é azul, constatou Juvia em êxtase. O céu adquirira uma coloração azul-escura, quase se assemelhando com a cor de seus olhos expressivos, que adequava-se a ausência de nuvens, tornando-o enigmático. O par de botas marrom-escuro afunda a cada movimento no chão coberto por uma grossa manta de neve, que se estendia até onde seu olhar podia acompanhar. As árvores não possuíam flores, folhas ou frutos, nem seu pigmento esverdeado brilhante, apenas galhos finos e secos, no entanto, havia certo encanto ao se olhar para os cristais translúcidos e finíssimos de gelo formados sobre a vegetação, dando-lhe um aspecto rústico e ao mesmo tempo elegante.

Mas, de certa forma, nada lhe deslumbrava mais que do que a tão sonhada neve. Diferente da chuva, a neve cai do céu lenta e graciosa. Contudo, para a maga, o espetáculo era uma espécie chuva congelada, e talvez fosse esse o motivo de tamanha alegria: o fato da neve ser tão gelo e tão água ao mesmo tempo, completando um ao outro e formando algo espetacular.

Maravilhada, estende a palma da mão para sentir um ou dois flocos entrarem em contato direto consigo, buscando usufruir de uma agradável sensação. O gelo lhe causa suaves arrepios e lhe diverte. Aquela sensação faz seus lábios se ascenderem em um sorriso tão puro e gracioso que chega a ser ingênuo.

— Gray-sam- — Juvia se interrompe abruptamente, pressionando com força as duas mãos sobre os lábios ao virar-se na direção do mesmo.

Como se uma flecha de luz atingisse seu coração, ela quase cai para trás ao ter somente para si a visão privilegiada do mago de gelo.

Gray está alguns passos à sua frente e parece desfrutar da mesma sensação de êxtase. Seus olhos fechados estão parcialmente escondidos por algumas mechas da franja do cabelo preto-azulado que se reveza entre ser espetado e bagunçado, enquanto seu rosto momentaneamente sereno é quase encoberto pelo cachecol que o mesmo usa para se proteger da ventania gélida que serpenteia no ambiente.

O mago de gelo está tão familiarizado com o local que não parece se importar com a presença feminina ali, tampouco com os olhos transformados em corações cor-de-rosa lhe observando sem pudor algum. Para ele, aquela sensação acolhedora era quase como a de estar em casa.

"Gray-sama está tão bonito agora... O coração de Juvia não estava preparado para tamanha beleza", Juvia declarava-se em pensamentos, recompondo-se da quase queda. Logo se pôs a imaginar momentos românticos debaixo da neve com seu amado.

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— Juvia, gostaria de me conceder a honra de uma dança nesse momento em que temos somente a neve como testemunha do nosso amor? — Gray diria todo galanteador, segurando a mão da azulada próxima aos lábios que exibiriam um sorriso fino e convidativo.

— Oh, sim, Gray-sama! Juvia aceita — ela afirmaria, deixando que o mesmo beijasse delicadamente as costas de sua mão, enquanto a mão livre estaria sobre seus lábios, demonstrando sua surpresa com o cavalheirismo do mago e escondendo um sorriso tímido de pura felicidade.

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Admirando o mago da Fairy Tail de forma apaixonada com as mãos dadas pressionadas contra o próprio peito, Juvia percebe que ele parece compenetrado no que faz, pois permanece de olhos bem fechados, e logo uma lâmpada se acende acima da cabeça da mulher.

Imitando os passos de um ninja, ela vai se aproximando pouco a pouco, passo a passo, do moreno, que não demonstra reagir a tal aproximação perigosa.

Sua intenção inicial era apenas se manter perto do amado por alguns segundos, antes que ele abrisse os olhos e reclamasse da aproximação repentina da maga. Só queria poder sentir tal tranquilidade visível no semblante de seu Gray-sama e fantasiar seus romances. Mas ao ficar cara a cara com ele, perde a linha de raciocínio lógico que tivera. Faz um esforço para prender a respiração ou não fazer nenhum movimento brusco que denuncie sua presença, mas não pode controlar seus batimentos cardíacos, que a esse momento martelam em seu ouvido e é o único barulho que quebra o silêncio confortável presente no momento.

O corpo esbelto e convidativo do mago de gelo está tão próximo de si, apenas mais alguns passos... É então que percebe: talvez tenha achado seu momento romântico bem aqui, onde estão.

Exasperada, coloca a mão frente ao peito. Não pode conter a agonia que quer rompê-lo. Juvia quer tocá-lo, senti-lo. Quer amá-lo. Só um pouco mais perto...

E aconteceu assim, de repente, de os lábios da mulher da chuva estarem sobre os lábios do Fullbuster em um singelo selinho. De princípio, houve o choque dos lábios rachados do mago entrando em contato com os lábios úmidos de Juvia, causando arrepios em ambos. A pressão exercida para manterem seus lábios grudados era fraca, quase inexistente, mas tão repentina que fez Gray abrir os olhos obscuros instantaneamente, logo arregalando-os.

A companheira de guilda estava muito próxima de si, com os olhos fechados e uma expressão tranquila enquanto lhe beijava nos lábios. Não pode pensar em afastá-la, pois tão repentino quando veio o beijo, assim também se foi. Restando apenas um leve formigar nos lábios dos magos.

Era muita alegria querendo romper o peito de Juvia, então ela nem se deu o luxo de perdurar no contato. Precisava desesperadamente abrir os olhos e confirmar que estava vivendo a realidade, e não mais uma de suas fantasias. Piscou descrente, encarando o chão coberto de neve. Ela havia finalmente o beijado?

— Gray-sama... — sussurra, abobalhada. O olha de maneira incrédula e apaixonada, com o coração a mil.

O mago de gelo não a encara de volta, apenas dá um suspiro cansado. Leva as mãos ao cachecol no pescoço e o afrouxa um pouco, custando ao fazer isso sem olhar para a mulher da chuva em sua frente. Ela não pode distinguir a vermelhidão presente nas bochechas dele, mas ela está lá, quase imperceptível. Ele, entretanto, se mantém frio e distante.

Juvia treme, mas não graças ao frio. Dá repetidos passos para trás, com medo das consequências de seu ato tão impensado, entretanto, tão desejado.

— Juvia — chama com cautela, tentando manter sua linha de raciocínio. — Por que isso agora? — Gray não procura rodeios, é direto e impassível. Não transmite emoções, mas Juvia idealiza certo desgosto em suas palavras.

Ela aspira o ar gelado fortemente pelo nariz, logo fungando.

— Juvia não queria... J-Juvia não... — repete tal negação como um mantra em um sussurro, se não houvesse tamanho silêncio perturbador os cercando, talvez o mago nem pudesse ouvi-la. — Por favor, Gray-sama, perdoe Juvia! — diz em súplica, não escondendo o arrependimento em tal pedido. — Juvia não — engole em seco. — J-Juvia não fez direto, é isso? Gray-sama não gostou? — questiona inclinando o rosto, com os olhos e o nariz ganhando um tom vermelho e a voz querendo se findar antes de terminar de perguntá-lo.

Gray finalmente a encara por igual, demorando a analisar os olhos azuis de Juvia, agora brilhantes, e novamente leva a mão ao cachecol ao tentar afrouxá-lo ainda mais, pois subitamente sentiu-se sufocado, completando tal gesto com uma careta de arrependimento. Apesar do vento gélido lhe batendo no rosto, sentiu-o absurdamente quente ao respondê-la:

— Tsc. Eu não disse iss- — tenta manter a voz controlada e ácida até o fim, mas logo a frase morre no ar, pois uma Juvia de olhos lacrimejantes e sorriso gigantesco pula em sua direção.

Não há mais tempo para desculpas controversas, em questão de segundos Juvia se esforça ao máximo para ficar na ponta dos pés, trazendo o corpo de seu amado para mais perto de si ao puxá-lo bruscamente pelos ombros, só querendo-o perto de si.

Ao mesmo tempo há o baque surdo dos seios de Juvia contra o peitoral másculo de Gray, mas não há dor, só uma sensação de conforto relativa àquela parte em particular do corpo da mulher. Tanto ele quanto ela parecem ter prendido suas respirações, sabendo que logo mais elas estarão igualmente descompassadas. Quando os lábios de uma Juvia afoita se juntam pela segunda vez aos de Gray, os dedos da azulada fazem uma trilha dos ombros ao pescoço do moreno, onde ambos os braços se enlaçam, abraçando-o pelo pescoço, como se dissesse que sente frio ao que os flocos de neve caem sobre si, então ele deveria se manter mais perto.

Gray quer retrucar que não foi isso que quis dizer, depois afastá-la e agir como se nada tivesse acontecido, mas aquela sensação acolhedora de familiaridade o atinge novamente. É como se estar nos braços de Juvia e finalmente corresponder ao beijo em seus lábios fosse o certo a fazer, ao menos era o desejo momentâneo de seu coração.

Apesar de ser um mago de gelo e obviamente não sentir frio estando naquelas condições, os lábios ternos de Juvia sobre os seus lhe aqueceram internamente. O coração acelerado de Juvia contra seu peito lhe trouxe uma onda de calor repentina, relaxando-o ao ponto de, inconscientemente, levar suas mãos até a cintura dela.

Juvia era tão quente...

E no meio de um inverno rigoroso, Gray finalmente aprendeu que havia dentro de si um verão invencível. Era como um sentimento caloroso e confortável que se entrelaçava com as batidas de seu coração.