A noite chegou e eu não tinha sono. Me sentia cansada, mas tive medo de dormir e ser atacada, por ver uma lembrança similar de minha mãe. Fui até a sala de TV onde encontrei um menino vendo documentários que certamente me fariam dormir, mas mudei de ideia ao ver alguém entrando na cozinha. Scott, vi pela mente.

– Acho que não sou a única com insônia. – disse em tom calmo ao entrar na cozinha e me sentar. Ele se assustou e eu sorri.

– É.. Acho que sim. – ele falou sem graça. “O que ela quer? Ela parece ser legal, uma pena Jean não gostar dela...”

– Por que a ruiva não gosta de mim? – perguntei distraída, apoiando o queixo na mão – Ah, me desculpe... – percebi o incomodo.

– Não... Eu já... Meio que estou acostumado. – disse e deu um meio sorriso – Não sei ao certo, talvez porque não te conheça. Quer beber algo? – “Acho que a Jean vai brigar comigo por isso...”

– Não, obrigada. Eu... Ah... Vou dar uma volta pelo instituto, não sei... – me senti um tanto invasiva e me levantei para sair.

– Ah... – ele disse de repente ao pensar “Por que será que o Anjo te atacou?”, me fazendo parar de costas, olhando pra ele através do reflexo do espelho do corredor.

– Talvez porque ele não me conheça... – sorri de leve e segui andando pelo corredor escuro.

Um turbilhão de lembranças da Emma inundou minha mente. Ela passava por este mesmo corredor quando ia procurar por Charles. Era como se eu estivesse vendo um filme em minha mente: ela andando em direção à sala de seu amado, feliz; ela andando sem muita vontade na mesma direção, com raiva; ela correndo com medo...

Enfim, minha mente captou pensamentos diferentes e eu acabei prestando atenção. “Apesar dela ser filha do professor, o fato de ter sido aliada daquele bastardo desprezível não me deixa confiar...”

– Não pedi sua confiança. – disse olhando para ele, que sabia que eu estava ali.

– Ótimo, porque vai ser difícil você conseguir isso. – Anjo tinha todos os seus músculos tensos, inclusive as asas. Suspirei.

– Olha, eu não quero inimigos. – falei com mais calma e com a guarda baixa – Facilitaria nossa convivência se eu dissesse que nunca lutei ao lado do Erik? Que ele era comigo como... – parei para vasculhar meus pensamentos – Como o Charles é.

– Impossível. Já te vi com ele e... – ele começou a falar e reviu cena.

– Ele tinha acabado de salvar minha vida. – cuspi as palavras – Minha mãe tinha acabado de morrer na minha frente. – respirei fundo – Quer saber? Não estou aqui para ser julgada... – coloquei as mãos na cabeça rapidamente – Na verdade, não sei bem porque estou aqui... E... – congelei. Outra memória. Droga.

Minha mãe corria assustada pela mansão em busca de Hank e Charles. “Eles estão chegando!” era tudo que sua mente repetia. Ela começou a mandar mensagens mentais para todos se prepararem, e encontrou Charles com a pequena criança no colo.

– Ninguém fará mal a ela! Nem a você, nem a ninguém! – ele repetia para tentar acamá-la.

E então tudo foi rápido. Bombas, muita fumaça, dor, medo. Entrei em pânico por minha mãe ter sentido isso. Respirar estava ficando cada vez mais difícil. Ninguém respondia. E ela me achou. E eu tive um apagão e uma forte dor de cabeça.

Fechei os olhos com força e quando abri, Anjo estava muito assustado assim como Scott. Hank e Logan também estavam presentes. E o último estava me chamando novamente. Estava tudo confuso. Percebi que estava soluçando e senti meu rosto molhado. Um frio atingiu minha espinha e eu tremi.

– O que...? – tentei falar tentando respirar. Então vi meu reflexo no espelho. Diamante.

Anjo: “O que é isso?”
Scott: “Por que ela está assim?”
Hank: “O que aconteceu?”
Logan: “O que esse bastardo fez com ela? Eu vou acab...”

– Não. – falei alarmada, segurando o braço do Logan. “Ele não fez nada, estávamos apenas conversando. As memórias, lembra?” falei mentalmente, fazendo-o me olhar.

– Certo. – ele disse contrariado.

– Você parou do nada e... – Anjo começou a falar, organizando seus pensamentos. Pude ver a cena e foi um tanto quanto assustadora – Ficou pálida e olhava para o nada. Começou a tremer e chorar e gritou...

– Estou bem. – falei olhando para todos, e olhando para minha mão voltando ao normal – Eu só... Não controlo meus poderes como deveria. E isso acontece. - ninguém imaginava o quanto esse tipo de coisa me irritava.