Eu iria dividir o quarto com mais duas garotas de minha idade: Vampira e Kitty Pride. Elas pareciam ser legais, e tinham pensamentos legais. Me apresentei e assunto não nos faltou. Os dois que me fizeram companhia até então já tinham partido e elas começaram a me falar sobre as aulas e todo o resto do instituto.

Vampira recebera uma mensagem de seu namorado – Bobby - chamando-as para jogar algo no jardim. Fui junto para conhecer os outros e aproveitei para ver o resto do local. No meio do caminho, passamos pela enorme biblioteca e decidi ficar por lá, já que teria tempo para conhecer os outros depois.

Entrei e vi vários grupos estudando em silencio. Comecei a olhar vários títulos, minha mãe ou eu já lera boa parte deles. E então aconteceu mais uma vez: as memórias de Emma Frost se liberaram sozinhas, inundando minha mente e me paralisando.

Ela andava contente em direção a biblioteca. Cumprimentava os alunos que passavam por ela. Chegou na grande porta e a abriu. Ela respirou fundo para sentir o cheio de livros que ela tanto gostava e caminhou até uma das sessões. Procurava por “A Tempestade”, de William Shakespeare.

Ela já lera aquele livro antes, mas queria relê-lo. O pegou e viu Charles Xavier entrar no salão. Ela virou o rosto imediatamente, abrindo o livro e enfiando a cara, quase escondendo-a. Senti toda a raiva que ela sentia. Ele sonhara com um beijo entre ele e Raven, sua amiga de infância.

Voltei a sentir meu corpo, com um frio que me fez quase ficar em posição fetal. Mas algo me atrapalhou. Senti dois pontos quentes em meu rosto, e alguém chamando meu nome. A voz estava um pouco longe, e parecia consternada, mas me era familiar.

Quando finalmente pude abrir os olhos, vi Logan com a expressão mais preocupada que já vira na vida. Ele me chamava, segurando meu rosto, mas eu ainda não conseguia falar.

Estou. Bem. – falei mentalmente de maneira pausada.

– O que aconteceu? – ele tentava parecer mais calmo, sem sucesso.

Tenho... Memórias de minha mãe guardadas. Algumas delas estão trancadas, eu não tenho acesso; mas quando bem querem se mostram e eu fico... Assim. – falei mentalmente de novo, levantando a mão e segurando em seu antebraço delicadamente.

– Você vai ficar bem? – ele falou e eu fechei os olhos – Ei, Diah! – ele gritou, me fazendo dar um leve sorriso ao abrir os olhos novamente.

Agora estou melhorando, mas... Me tire daqui, por favor. – respirei fundo aguardando uma resposta. Olhei sua mente e ele estava ponderando me levar no colo ­– Apenas me tire daqui.

E ele o fez. Me pegou no colo, pensando na cena que vira. Pensou que eu estava morrendo e ficou muito preocupado. Pensava se deveria contar para o Professor e eu apenas disse “Sim” instintivamente, formando imediatamente uma careta em seu rosto.

– Fique longe de minha cabeça, garota. – a indiferença que ele tinha na voz me pareceu um tanto doce e me fez sorrir.

– Desculpe. – falei completamente rouca – É o costume... Prometo me controlar. – sorri mais uma vez quando ele pareceu rabugento.

Me deixou em meu novo quarto, perguntando se eu estava bem mesmo e se não queria que ele me levasse à enfermaria, mas disse que ficaria bem e agradeci por tanta preocupação. Ele saiu meio sem graça, o que me fez prestar ainda mais atenção nele.

–

Quando me senti bem novamente, resolvi ir até o jardim. O dia estava ensolarado com uma brisa fresca, permitindo que eu soltasse meu enorme cabelo que estava preso em coque. Não usava mais minha jaqueta, estando com um tomara que caia vermelho, calça jeans e coturno preto.

– Olha só quem resolveu aparecer. – Vampira falou sorrindo – Pensei que não vinha mais!

– Me desculpem, tive um pequeno imprevisto. – parei ao seu lado, sendo apresentada ao Bobby e revendo Kurt.

Um grupo jogava vôlei, mas não conhecia todos ali. Cada time tinha quatro pessoas, e eu conhecia apenas Peter e Kitty. Todos pareciam atletas de verdade, talvez por causa da mutação.

Ouvi muitos pensamentos e acabei ficando um pouco “in”, prestando atenção neles. Bobby pensava o quanto Vampira era bonita e na vontade de beijá-la e ela pensava em qual cor pintaria as unhas, me fazendo rir sozinha.

Kitty prestava atenção em cada movimento de Peter, e o mesmo pensava em qual seria o melhor jeito de vencer o jogo. Um pensamento me atingiu como uma flecha: “quem é essa garota? De onde ela surgiu? É tão difícil o professor Xavier aceitar pessoas assim, geralmente ele quem vai busca-las...”

Quando encontrei de onde vinham (um cara com asas de anjo), engoli a seco por meu olhar se cruzar com o dele, tentando disfarçar ao olhar para quem estava falando, que era Kurt, mas seus pensamentos me chamaram ainda mais atenção:

Ela está olhando para mim. Meu Deus. Como pode ter olhos tão lindos? Parecem duas esmeraldas. E seu cabelo... É tão comprido. Meu Deus.

Senti minhas bochechas esquentarem, provavelmente estava vermelha. E quando percebi, os que falavam estavam quietos e olhando para mim.

– Está tudo bem? – Bobby perguntou.

– Sim. – sorri sem graça – Só me perdi em meio a pensamentos... – fiz um movimento circular para insinuar o “todo”.

Então mudaram o foco do assunto. Vi a ruiva, Jean, me encarando de longe. Talvez ela quisesse ver minha mente, mas apenas ignorei.