Maldição Divina escrita por 15thAugust


Capítulo 1
PRIMEIRA PARTE: Faíscas


Notas iniciais do capítulo

~Primeira historia

Morpheus (variante do nome Morfeu deus do sono na mitologia grega) era um anjo ceifador destinado a ser frio e nunca ter sentimentos.
Mas até os seres divinos são amaldiçoados pelo destino.



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-Cale a boca! Você não sabe nada sobre mim!

Então eu sai correndo.

Fui para um lugar bem longe dali. O único lugar que ninguém me procuraria.

Entrei na casa abandonada no fim da rua e fui para o quintal. Sentei no banco de cimento e me encolhi.

De repente ouvi uma voz.

-Por que você está chorando?

-Eu não estou chorando! -disse levantando a cabeça para procurar quem interrompia minha paz.

Mas lá não havia ninguém.

Continuei com receio:

-Quem está aqui?

-Só você... - A voz respondeu.

Então olhei para o céu, o dia estava cinzento. Todos os meus dias pareciam assim.

-Eu estou sozinha de novo? - Falei baixinho.

-Só se você quiser.

-Eu quero que você apareça. - Gritei irritada.

-E se você tiver medo? -A voz provocou.

-Eu não tenho medo das pessoas, tenho medo do que elas são capazes de fazer.

-Bem, eu sou capaz de fazer muitas coisas ruins. - A voz agora preenchia a solidão do quintal abandonado.

-Como o que?

-Você saberá quando me ver. Ainda quer me conhecer?

-Sim. -eu disse seria.

Então um rapaz alto, moreno, com a pele castanha e cabelos ondulados apareceu na minha frente.

Ele usava uma roupa toda preta.

-Então, não está com medo da morte? - O rapaz perguntou levantando o rosto para que eu pudesse ver.

-Ela é inevitável. Não há pra que temer o inevitável. - Eu retruquei.

-De todo modo, não é a sua hora. Adeus, Kamille.

-Espere! Como você sabe meu nome? Quem é você?

-Eu sou o anjo da morte, Morpheus, trago o sono eterno as almas aflitas. É um prazer conhecê-la, mas tenho que ir.

-Só mais uma coisa, me prometa que quando você vier me buscar para o sono eterno, vai me deixar sonhando... Um sonho tão bom que me faça sorrir quando estiver morta.

-Esse é um pedido peculiar e eu não tenho nenhuma divida com você... Mas, vou conceder este pedido.

-Muito obrigada. -Eu disse estendendo a mão para um aperto.

Ele apertou minha mão e assentiu com a cabeça.

Sua mão era gelada, e ao chegar mais perto pude encarar seus olhos. Eram de várias cores: azul escuro, roxo e preto; por isso eram tão tristes. Ele era bonito de um jeito diferente...

Então ele soltou minha mão e sumiu.

~•~•~•~

Morpheus

Ser o ceifador de sonos não é o melhor trabalho do mundo. Chega a ser cansativo ver as pessoas morrerem todos os dias.

Mas naquele dia, conheci uma pessoa diferente... E ela me fez um pedido tão simples, ela encarou a morte, mas não pediu mais tempo, não quis saber o segredo da vida, nem nada do tipo... Ela só queria se sentir bem no dia da sua partida.

Desde então eu a tenho observado. Ela é diferente dos outros humanos. Ela se irrita fácil, mas também perdoa, ela é durona, mas tem um coração frágil.

Vê-la tem sido minha distração... O que é estranho. Não sei o que estou nutrindo com isso, só sei que me deixa menos triste.

~•~•~•~

Eu estava agora com meus 30 anos, era uma workholic que trabalhava na faculdade do estado.

A 4 anos descobri que tinha leucemia, a doença tinha se estabilizado, mas agora já não tinha mais muito tempo... Alguns alunos sabiam da minha doença e fizeram bilhetes e cartas. Eu li cada uma delas e não pude deixar de me emocionar. Com todos esses anos, tinha me dedicado de corpo e alma ao que amava, lecionar.

Me casei com meu trabalho, e meus alunos eram meus filhos temporários. Agora queria pensar um pouco na vida, então tirei uns dias de descanso.

Estava em casa, tomando meu chá de erva-doce quando ele apareceu.

Muitos anos atrás, encontrei com alguém diferente de tudo que vi em toda minha vida, Morpheus. Tivemos uma conversa de menos de 5 minutos, mas desde então me sentia vigiada... Sentia que alguém se importava de um jeito diferente... Era uma sensação única, então eu sabia que era ele.

Na minha frente lá estava, o garoto de olhos escuros e brilhantes com rosto de homem.

-Morpheus... -Acenei com a cabeça.

-Kamille, há quanto tempo...

-Realmente um tempo longo para mortais. Mas creio que não demorou muito para você. O tempo é relativo...

-Sim, não demorou muito... Mas sua vida terá um tempo relativamente curto até para mortais, não está preocupada?

-Não, sei que terei um sonho bom no final.

-Ainda lembra da promessa então?

-Eu nunca me esqueci de você, e alias... Obrigada por me vigiar...

Por um momento ele pareceu sem palavras... Parece que ele não sabia que eu sentia sua presença.

-Acho que sua presença era reconfortante. Não sei explicar. -falei.

-De todo modo, obrigado você também... Quando te acompanhava me sentia um pouco humano. Um luxo para anjo.

Me levantei. Eu não tinha medo da morte desde que vi o rosto de Morpheus. Eu sabia que tudo se resumia a um suspiro cálido. Os seus ouvidos deveriam sofrer ao ouvir esses sons, então toquei suas orelhas e disse:

-É triste ouvir suspiros dizendo adeus?

-Falando assim parece até poético. -Ele tocou minha mão. -Não me lembro de realmente sentir algo alguma vez. Eu nasci pra ser frio.

-Ninguém nasce com calor Morpheus. -O som de seu nome pronunciado por meus lábios o fez sorrir de lado. - Todos nós, todas as vidas, começam com pequenas brasas. Você quer se tornam uma fogueira? Quer aquecer a noite?

-Você acredita nessas palavras? Ou as diz da boca pra fora?

-Você me conhece. Eu não distorço fatos. Isso é o que eu acredito. Se eu sentia a sua presença é por que você existe!

Ele se aproximou mais e tocou meus lábios com os dedos. Estavam frios como quando nós os toquei pela primeira vez.

-Eu quero.

Nos beijamos. Ele me segurou e eu apertei seus corpo.

Era tão bom sentir sua pele. Poder tocá-lo era como um sonho. Estava começando a dormir, lutei um pouco e toquei seu peito... Em busca de batidas, senti um coração. Eu estava certa, ele aqueceu a minha noite.

Sorri comigo mesma.

~•~•~•~

Morpheus

Ela tocou meu peito enquanto nos beijávamos. E como se fosse um chamado, algo começou a bater.

Senti seus lábios formarem um leve sorriso de satisfação nos meus. Afastei meu rosto e a observei enquanto seu corpo enfraquecer. Isso me fez sentir dor, uma dor aguda no peito. Eu sabia que ela estava sonhando.

Cumpri minha promessa... E ganhei vida. Eu nunca a esqueceria.

Toquei seu rosto calmo e pálido enquanto a segurava com o outro braço. Deitei-a no chão e beijei sua testa. Seu sorriso ainda estava lá.

Guardei a alma da humana que amei em meu novo coração e segui em direção ao céu.

Uma lágrima caiu pela primeira vez, e atravessou minha face. A chuva começou a dançar fúnebre e o céu ficou nublado como todos os meus novos sentimentos.

Eu me lembrei do céu de anos atrás, tão nublado quanto este, mas nem de longe tão triste.


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