Vollfeit - Interativa escrita por N Spar


Capítulo 5
Capítulo 4: seu herói


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal? (:
Peço desculpas pela demora. Fiquei tentando recuperar um desenho que fiz para o capítulo de hoje (aparecia o Aris e a Neri em um momento desse episódio), mas parece que o perdi junto com os outros arquivos do PC, :c
De qualquer forma, espero que curtam e boa leitura ^v^



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– CAPÍTULO QUATRO -

Seu herói

– O Ladevou? – Battle perguntou com negativa surpresa, expressando reprovação pela escolha da garota.

– Sim, senhor – Neri respondeu enquanto observava o campo de treinamento do castelo de Ihene.

– E qual seu objetivo escolhendo ele? Temos vários espiões bons.

– Ele é um dos melhores, certo?

– Não é só por isso... – o espião-chefe encarou a garota misteriosamente, incitando-a a concluir a resposta.

– Assim como eu, costumam subestimá-lo – assistiu Aris, de longe, jogando dardos em alvos distantes. – Além disso, seu porte pequeno e a face infantil podem ser interessantes caso tenhamos que optar por uma ação urgente – disse tranquilamente.

– Veja o que vai fazer, Neri – seu tom de voz era de alguém ainda não convencido.

– Sim, senhor.

Battle se afastou e deixou que a espiã continuasse sua caminhada até o centro do campo, onde a maior parte dos trabalhadores reais costumavam treinar – e, quase sempre, com a presença de uma princesa.

– Bom dia, pessoal – Neri cumprimentou rapidamente ao passar por uma garota de cabelos negros que treinava espada com um homem esguio.

– Bom dia, senhorita Arkan – Violet respondeu sorrindo, porém sem desviar o olhar do que parecia ser um formidável aquecimento.

Continuou andando até a área ocupada somente por Aris, que agora se sentava na grama.

– Olá, senhorita Neri – disse com ternura enquanto levantava as mãos cheias de dardos.

– Bom dia – sorriu e se acomodou ao lado do espião, aceitando alguns dardos que o garoto lhe oferecera.

– Disseram algo? – Aris jogou dois dos finos objetos, que se fixaram no centro do alvo a metros de distância.

– Nada além de tentarmos localizar os misteriosos visitantes o mais rápido que pudermos.

O garoto riu sarcasticamente enquanto acertava mais três dardos.

– O que quer fazer hoje?

– Nos separarmos pela área do Kilston e usarmos o ar para tentar localizá-los ou criar algum efeito neles. Qualquer mudança na aura deles poderá servir.

– Desde que não chamemos atenção? – perguntou mesmo já sabendo a resposta.

Neri movimentou a cabeça positivamente.

– Concordo que ainda não é hora de terem o privilégio de nos conhecer – Aris sorriu.

A garota riu ligeiramente. Embora soassem como brincadeiras, as frases do garoto pareciam ocultar certo orgulho às vezes. Em sua função, Aris Ladevou era exemplar, principalmente por vir de uma antiga família de espiões – que, agora, só contava com ele e uma irmã, levantando rumores entre os espiões sobre o fim dos outros integrantes. Fitou-o por um tempo para refletir se fizera realmente a escolha correta. Enxergou seus cabelos escuros sendo bagunçados pelo vento daquela tarde. Podia-se dizer que eram irmãos se não fosse pela diferença da cor dos olhos, já que sua pele era tão pálida quanto a da garota.

Neri voltou a olhar para frente e respirou profundamente, aliviando sua dúvida. Observando o garoto de expressão calma, sentira que tudo estaria sobre controle e que as pessoas de Vollfeit estariam seguras em suas mãos.

(...)

Enquanto Aris cobria a área leste ao redor do orfanato, Neri observava a parte oposta. Em cima de um alto sobrado, a espiã via e sentia os diversos soldados e guardas se espalhando pelo resto de Diellor – a quantidade deles, comparando-se ao normal, parecia ter sido duplicada. “Agora aguardamos...”, pensou antes de abafar um bocejo.

Como na noite anterior, encontrou Sebastian abandonando a casa. Seus olhos o seguiram até que o garoto de cabelos negros desaparecesse entre outras construções e árvores. Como se estivesse ali apenas para sentir a brisa fresca da noite, ficou imaginando a cor das íris do rapaz. Deveria ser de um tom claro de azul, como o céu, ou castanho escuro, sendo um menos afortunado com a aparência.

Deixou o pensamento de lado e mirou a moradia das diversas crianças que o soldado resgatara. Conseguia enxergar parte do segundo andar através das janelas ainda abertas. A mais visível era a de um quarto amarelo, onde dois garotos encenavam uma luta. Neri sorriu internamente, já que, durante o trabalho, não tinha o privilégio de criar qualquer ruído. Sua mente voltou para sete anos atrás, em uma manhã na escola que ela e Belchior frequentavam: estava sentada com uma colega, durante o intervalo, em um dos bancos de pedra da praça da instituição quando um trio de garotos a abordou. Instigaram-na a lutar em troca de não machucarem sua companheira. Estava prestes a se levantar quando Belchior apareceu e interrompeu.

– Por que quer brigar com ela? – o garoto, na época com altura igual a de Neri, encarou o que consideravam líder do grupo.

– Todos acham que ela é forte, mas não passa de uma garota mimada – o menino alto e um tanto volumoso respondeu com deboche.

– Vamos mostrar que esse jeitinho infantil dela tem que sumir – outro integrante do trio sugeriu.

Justice – ou Jonice, nunca se lembraria – começara a avançar em direção a ela quando Belchior se colocou no meio do caminho.

– Ei, espera – disse com voz calma. – Só porque gosta dela acaba dizendo isso? E não é infantil, é apenas meigo.

Neri se lembrava perfeitamente desse momento. Sua única reação foi encarar as costas de Belchior, que esperava pacientemente que sua intervenção tivesse causado bons efeitos. Pelo contrário, os garotos maus pareciam ter ficado mais raivosos.

– Ou você sai da minha frente, ou apanha junto com ela. Até porque somos três, e vocês apenas dois – Justice falou em tom autoritário.

– Você acabou de dizer que ela é forte e, bem, todos sabemos que ela vale por, no mínimo, dois – Belchior mantinha sua postura tranquila. - Você ainda quer continuar?

Como resposta, Justice pulou sobre o futuro jardineiro. Seus dois companheiros avançaram para Neri, que saltou para longe do banco a fim de evitar que sua colega fosse atingida. Não se lembrava exatamente da luta, mas o final desta ainda era claro na mente da garota: seus adversários ficaram exaustos e se retiraram, liberando-a para voltar a Justice, que ainda trocava golpes com Belchior. Silenciosamente, aproximou-se dos garotos e derrubou o mais corpulento com uma rasteira. O impacto deve ter sido forte, considerando que o fizera chorar segundos depois e imitar seus aliados.

– Você se machucou? – perguntou após se encontrarem sozinhos.

– Não, mas... – Belchior encarou os hematomas nos braços de Neri.

– Ah, tudo bem. Se você está bem, então funcionou – sorriu.

– O que exatamente funcionou? – questionou confuso, mas logo seu rosto se iluminou. – Você...consegue domar o ar nesse nível?

– Agora sei que sim.

Apesar de, na época, não conseguir fazer mais de uma coisa com o elemento, não cogitou em usá-lo para proteger Belchior – aguentaria a briga contra os outros dois sem grandes dificuldades, além de se divertir testando seu elemento. Foi a primeira vez que usara o ar como escudo e ouvira alguém discordar sobre sua aparência pueril. E a única vez, desde então, que o amigo a elogiara.

Sorriu mais uma vez. A garota que a acompanhava nunca mais a cumprimentou – talvez por medo de entrar em outra confusão -, mas, em troca, ganhou uma derradeira amizade no mesmo dia.

Sua expressão alegre se desfez instantaneamente ao sentir uma mudança, em algum lugar perto das fronteiras, na atmosfera. Em pouco tempo, via um minúsculo redemoinho agitando-se perto de si. “Sim, eles voltaram, Aris”, pensou enquanto via a espiral de aviso do espião se desfazer. Pela oscilação no ar, Neri suspeitava que os intrusos utilizaram de seu elemento para se teletransportar, facilitando a entrada em Vollfeit. Se ela ou Aris não estivessem ali, os guardiões diellors não conseguiriam localizá-los assim.

Retornando o redemoinho, indicou a direção certa da invasão para o colega após se concentrar um pouco. Por não ser aconselhável deixarem o Kilston sozinho, concordaram antes em Aris entrar em ação quando fosse preciso, tendo Neri como seu radar praticamente infalível – a distância que a garota conseguia cercar com o ar era equivalente a quase toda a extensão de Diellor. Todavia, além das presenças evidentes que sentia, algo mais começou a incomodá-la.

Com a primeira técnica que seu avô lhe ensinara, além da sorte de Kilston não estar tão longe das fronteiras, Aris chegou aos limites do reino em menos de dez minutos. A espiral de Neri parou próxima a um campo de trigo das várias plantações presentes nas fronteiras e, após um tempo flutuando no mesmo local, voltou para o espião e envolveu inteiramente seu corpo. A sensação era parecida com a de um fino e delicado tecido, mas o garoto sabia que o escudo criado pela companheira o protegeria de muitas coisas, além de deixá-lo livre para mostrar todo o seu potencial com o elemento.

Subiu no telhado de um dos armazéns ali perto e tentou achar algo. A presença dos inimigos estava mais forte, mas ainda a sentia embaçada – não tinha a mesma facilidade de Neri. Nos cantos de seu campo de visão, soldados apareciam em pequenas duplas e se retiravam após poucos instantes, como se tivessem se enganado em relação às novas presenças. Instintivamente, olhou vinte metros à frente, pela esquerda. Encontrou três vultos andando tranquilamente que, ao saírem dos maços de trigo, desapareceram no ar. Suas presenças também se ocultaram por curtos segundos antes de retornarem fracas. “Teletransporte de novo?”. Praguejou. Ele e Neri não tinham essa habilidade. Concentrou-se, tentando conhecer a nova posição adversária, mas o que conseguia sentir agora não era suficiente. Como esperança, algo ainda o atraía para dentro do trigo. Ficou ali, encarando o cultivo como gatos olham para pássaros indefesos.

Após quinze minutos, na mesma posição, concentrando-se nas presenças longes, seus olhos brilharam de anseio. O trio estava de volta ao local. Os intrusos corriam para os campos enquanto um deles segurava algo volumoso entre os braços. A sequência do que acontecera em seguida o intrigou. Após alcançarem a metade da plantação de cereal, um choro de criança emergiu da área. Os guardas de Diellor que caminhavam por perto rapidamente se viraram na mesma direção enquanto exclamavam por reforços. Começavam a empurrar o trigo para abrir caminho quando foram acertados no rosto por duas bolas de vento. Outros soldados e guardas rapidamente apareceram e os socorreram enquanto quatro deles passavam reto e adentravam a plantação em busca dos fugitivos. Como sinal de que estes se encontraram com os guardiões, chamas altas clarearam a terra e seus combatentes ao mesmo tempo em que tufões cresciam no meio do campo.

– Vamos? Não queremos que nosso trigo vire fogueira.

Neri pulou ao lado de Aris. Sua expressão era séria e o ar que envolvia o garoto agora formigava levemente. Sem assentir, seguiu-a correndo até onde a batalha se iniciara.

– São sete deles – Neri contava no caminho. - Os três que vimos antes só servem para teletransporte e ficam cansados sempre que usam. Resta pegar os outros quatro. Toma conta dos piromaníacos? – sugeriu com diversão.

– Como quiser – Aris sorriu.

– Não dê o seu melhor – avisou e se distanciou.

Enquanto o garoto ia para a esquerda, a espiã dava a volta nos adversários mascarados pelo lado oposto, usando os guardas e soldados, que respondiam com relâmpagos e mais fogo, no centro como chamariz. Enviou metade de seu poder para os mesmos, contornando-os com ar assim como fizera com Aris. Agachada - agradeceu mentalmente por ser pequena e capaz de se ocultar facilmente no trigo alto -, alcançou um ponto atrás dos combatentes e viu o trio anterior com uma garotinha se debatendo contra os braços femininos que a prendiam. Os três adversários estavam ofegantes e distraídos com a criança. Neri suspirou. Estava perdendo uma verdadeira luta fora dali, e a cena de seus inimigos derrotados pelo próprio cansaço aumentava seu aborrecimento.

Logo a mulher e os dois homens desconhecidos estavam desmaiados e a garotinha seguia a espiã.

– Tudo bem com você? – Neri a segurava pela mão enquanto corriam em direção ao armazém.

Viu que os olhos da menina estavam inchados de tanto chorar e que seus braços apresentavam marcas de dedos largos. Com remorso, desculpou-se. Ficara analisando seus inimigos ao invés de resgatá-la assim que a vira. Esse era o lado que menos gostava em seu trabalho.

Chegando ao armazém, uma bola de fogo voou até elas. Neri agarrou sua protegida e pulou para o lado antes que o ataque passasse a centímetros do depósito de pedra.

– Por que não me ensinam a domar o fogo tão bem assim? Olha só, quase acertaram o armazém. Que mira incrível! – Aris proferiu para os domadores de fogo, ainda no campo de batalha.

Como esperado, os dois homens retribuíram a provocação com mais ataques quentes. Aris, no entanto, esquivou-se tranquilamente.

– Só agora que perceberam que o armazém não está lutando? Desculpem-me, não quis ser direto assim.

Enquanto o garoto pulava entre as labaredas, Neri olhou para a jovem ao seu lado.

– Procure um dos guardas e volte para Kilston, ok?

A menina assentiu e, antes de seguir a ordem, abraçou a espiã rapidamente. Apesar do gesto, Neri não conseguia deixar de lado a imagem dos braços machucados se misturando às memórias anteriores e à possibilidade de seu plano recém-criado ter falhado.


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