Vollfeit - Interativa escrita por N Spar


Capítulo 3
Capítulo 2: agapantos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal (:
Finalmente tenho tempo livre e, para compensar essa demora tosca em postar capítulos, me esforçarei para trazer alguns bônus, como fiz em outra fic :3
Uma personagem lindona é apresentada no episódio de hoje. Espero que curtam e boa leitura, ^*^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/618264/chapter/3

Neri não estava gostando da reunião. Em pé ao lado de Battle, ouvia atentamente, embora parecesse distraída, as palavras do rei de Diellor:

– Contamos seis casos e nenhuma testemunha. Pode parecer um número pequeno, mas sabemos que nunca tivemos esse problema... – o homem de cabelos brancos e pretos espetados contava com certa severidade.

– A partir de hoje – Jordef, o rei de Ihene, continuou. – Quero que se espalhem por áreas com orfanatos, escolas e praças onde as crianças costumam brincar.

– Oxfler, Kodir e Azan – Anorus Ranica olhou para três homens à sua esquerda. - Separem suas equipes e programe-os. Quero essas áreas vigiladas sempre.

– Norton e Battle, entrem em um acordo com esses senhores para trabalharmos juntos – Jordef ordenou enquanto lançava um olhar para os homens altos ao lado de Neri. – Estejam atentos. Qualquer coisa precisa ser relatada pelo bem de nossos pequenos e suas famílias. Estão dispensados.

O grupo com menos de quinze pessoas assentiu educadamente e se retirou. O corredor principal do castelo do Sol logo se encheu com murmúrios vindos dos principais soldados, guardas e generais.

– Battle e Norton, alguma preferência na divisão das vigias? – um homem moreno se aproximou do trio que caminhava rapidamente até a escada.

– Nenhuma. Qual sua estratégia?

Kodir, o líder da equipe de guardas, explicou sua ideia, que Neri não captara totalmente. Iluminada pelo brilho da lua que abraçava as paredes do corredor e pelas tochas que ali se fixavam, pensava no que ocorrera em seus reinos enquanto estava fora. Reclamou mentalmente por Belchior e Aldith não terem contado quando se encontraram mais cedo.

– Neri, selecione um dos nossos e observem o orfanato de Kilston, certo?

A garota olhou para Battle, despertando e percebendo que Kodir já se afastara.

– Sim, senhor – assentiu convincentemente com a cabeça para o chefe dos espiões, que saiu depressa com Norton para o salão de entrada.

Sozinha, desceu até a cozinha, onde Aldith ainda trabalhava.

– Por que está com essa cara de chata, garota? – a mulher questionou enquanto abria uma massa pálida na mesa de pedra.

– Vocês não me disseram nada... – Neri encarou, séria, a parede oposta.

– Ah, Neri! – Aldith parou o esforço e fitou-a. – Por que te jogaríamos uma notícia assim logo depois de uma missão? E também pensei que os velhotes já tivessem te contado – referia-se aos reis.

Suspirou. Após um tempo, perguntou:

– O que acha disso?

– É estranho, não é? – voltou os olhos para baixo e começou a cortar a pasta. – Por que sequestrariam nossas crianças?! E a maioria é daqui. Na Lua, só tiveram dois casos – falou, expondo um pouco de revolta.

Revolta era parte do que Neri estava sentindo. Entre outras emoções não definidas, encontrava algo ruim, como um mau pressentimento.

– Vá para casa, menina. Pelo visto, você não terá descanso... – a mulher baixa sugeriu com sarcasmo.

– Somos treinados para isso – deu de ombros e, encarando-a, sorriu com os olhos. – Será que não teria algum doce sobrando...?

– Ah, Neri-Neri! – exclamou com indignação. – Como consegue mudar de humor tão de repente? Não entendo! – reclamou e retirou um pano de algodão de cima de um volume. – Bem, tentei guardar a torta de maçã do jantar...

Aldith entregou a porcelana com um pedaço médio da sobremesa e sorriu de lado.

– Veja se consegue deixar um pouco para amanhã. Não vá achando que sou um estoque de comida que você pode usar sempre.

– Você sempre fala isso... – a garota respondeu com um brilho maléfico no olhar.

– Ok, agora vá logo! – gesticulou apressadamente com as mãos para que Neri saísse da cozinha. – Preciso descansar esses ossos, e você está atrasando meu horário de sonhos com o querido Oberon... - terminou a frase com certo fascínio estampado no rosto.

A espiã riu e se despediu com rapidez dos poucos cozinheiros que ainda estavam presentes. Pensou em Oberon, um artista que se destacava nos teatros de Diellor, mas que fazia sucesso até em Ihene. Era um homem beirando os cinquenta anos que atraía as idosas – não que ousasse chamar Aldith assim – sempre que subia nos palcos.

Divertindo-se com a paixão platônica da amiga, vagueou sem objetivo pelos corredores do castelo enquanto provava a torta. Depois da informação que pegara na reunião, não conseguiria dormir. Problemas sempre precisavam de tempo de reflexão, ou não ganhariam uma solução eficaz. “O que as crianças têm para essas pessoas? O que as tornam um alvo? Seis em uma semana... É quase uma por dia”. Suspirou e fechou o embrulho do doce.

– O que acha que está fazendo?! Meu Deus, como um ser incompetente desses passa no teste?

A voz feminina vinha de uma porta entreaberta do corredor. Neri olhou pelas janelas redondas do lugar e, pela posição das torres que via, percebeu estar na área de quartos mais importante da construção. Aproximou-se em silêncio da porta branca, que era a única diferente do corredor, e continuou ouvindo.

– Por quem quer que esteja lá em cima olhando por nós, faça-me o favor de tirar isso da minha frente logo!

– Sim, senhora! Perdão, senhora!

Uma garota alta e magra, aparentando ter menos de dezesseis anos, saiu atrapalhada do cômodo carregando uma bandeja prateada e com a comida intacta. Passou por Neri em passos rápidos e sem percebê-la. Segundos depois, uma mulher de vestido salmão saiu em linha reta e se apoiou na beira da janela aberta. A espiã, apoiada na parede, observava-a pelas costas cobertas pelo longo cabelo loiro com olhar brincalhão. Esperou-a se virar e sorriu ao ver o susto alheio.

– Boa noite, Alteza – curvou-se em respeito e voltou a sorrir.

– Ah, por Deuses! – a princesa exclamou. – O que faz aqui, espiã? – perguntou, fuzilando-a com os olhos.

– Estava de passagem e precisei descansar um pouco – respondeu naturalmente, mas o brilho sarcástico de seus olhos a denunciava. Não que se importasse.

A mulher a encarou por um tempo. Desceu os olhos grandes e azuis, que destacavam seu rosto fino e levemente amarelado, para as vestes marrons da menina e logo apresentou uma expressão de desgosto.

– É claro – sorriu ironicamente – Pois trate de ser menos mole. Sinceramente, não sei como estão aqui, no mesmo teto que eu...

– Eu moro em Ihene, Alteza – sorriu inocentemente.

– E acha que fico pesquisando a vida de servos?! Não tenho tempo para inutilidades – bufou e voltou à porta, embora soubesse da vida de todos que frequentavam o local.

– E o que uma princesa ao seu nível faz, Alteza? – Neri questionou com espontaneidade, mas ainda se podia sentir zombaria em seu tom.

Sem responder, Stella a fitou desafiadoramente.

– Diga para Belchior trazer-me agapantos. Não importa se esteja dormindo, quero agora. Ele perderá seu tempo comigo – sorriu maldosamente e entrou no quarto, abandonando Neri.

A garota esperou a porta se fechar para voltar a caminhar. Sorriu internamente. Incomodar pessoas como Stella era uma atividade divertida, principalmente por fazê-lo de modo indireto. Para a princesa, o único modo de confrontá-la era provocá-la com Belchior. Para a felicidade da mulher – mesmo sem ter ciência disso -, fazia efeito. Embora não admitisse, Neri sentia um pouco de ciúmes do amigo, que era obrigado a servir todos os pedidos da realeza se quisesse continuar tendo um bom salário.

Andou até uma das torres oestes, onde os trabalhadores moravam, e parou na porta da família Alamand. Mesmo trancada, sempre conseguia abri-la facilmente. No entanto, ficou ali, encarando-a enquanto decidia entre o sono precioso ou o emprego de Belchior. Essas situações sempre a chateavam, porém não se esforçava para dar um fim às provocações que as causavam. Destrancou a porta e logo enxergou uma sala larga com lareira, móveis claros e um extenso tapete. Aproximou-se e observou o último, sorrindo sozinha. A decoração apresentava bordas douradas e estampava um castelo de tom igual, rodeado por árvores e um fino rio. Ouviu passos e olhou para trás.

– O que foi dessa vez? – Belchior caminhava, com expressão cansada, até a amiga.

– Agapandas. Ela pediu gentilmente para não demorar – respondeu o mais baixo que conseguia.

– Agapantos – corrigiu-a. - Ela é a criatura mais gentil que conheço, então não demorarei – disse sarcasticamente antes de se sentar no tapete.

– Estou vendo que conhece o significado de “não demorar” – sorriu para o garoto quase desmaiado no chão.

– Não reclame, você que causa essas coisas... – suspirou.

– Mas é divertido provocar pessoas orgulhosas! – tentou se defender.

– É claro que é – Belchior retrucou ironicamente e se levantou em direção à porta. – Agapantos, certo?

– Aham. E se arrume, Belch – encarou o garoto descalço e de cabelos bagunçados, que fitou-a como se a tarefa fosse difícil. – Ah, venha cá.

Neri se aproximou e começou a passar as mãos nos cabelos macios do jovem jardineiro. Sentia que Belchior a encarava, embora seus olhos parecessem alheados e cansados. Ele seria um bom espião se quisesse.

– Agora calce algo e ponha um casaco – falou após terminar seu serviço.

– Sim, senhora – sorriu rapidamente e, pegando um manto e calçados de couro, saiu.

Esperou-o se afastar pelo corredor antes de fazer o mesmo. Ficou olhando para o tapete, que foi o companheiro da dupla de amigos durante a infância. Nas tardes após os estudos, costumam se sentar ali e ler livros um para o outro enquanto a senhora Bellida preparava chá de pêssego. Foi ela, a mãe de Belch, que comprara o tapete anos atrás, quando seu filho e Neri deitavam perto da lareira, direto no chão. Lembrou-se do que a mulher falara a ela e ao amigo no dia em que aparecera com o tecido: “Será uma nova fonte de inspiração para as histórias enquanto os protege do frio”. A mulher sorrira para as crianças, satisfeita com o que considerava mais um presente aos dois do que uma decoração para sua casa. Neri sorriu com certa tristeza. Se sentia falta daquela jardineira, não imaginava o quanto Belchior e o senhor Leoak sentiam.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vollfeit - Interativa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.