Vollfeit - Interativa escrita por N Spar


Capítulo 17
Capítulo 16: depressão da floresta




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— CAPÍTULO 16 –

Depressão da floresta



Zane estava tão ofegante quanto Quartzo Azul, seu cavalo cinza que, às vezes num feixe de luz, parecia brilhar em tom azulado. Galopando ao lado de Varev, liderava sua equipe – no momento, não ser o verdadeiro capitão não importava - para longe das sovinnas em direção a uma cascata reclusa no bosque. Seu conhecimento lhe dizia que estavam a um quilômetro das águas, fazendo-os apertar o passo em meio aos gritos femininos. Alguns de seus soldados tentavam acertar as figuras com suas flechas de madeira, sem, no entanto, saber se realmente chegavam até o alvo. Sem olhar para trás uma única vez, fez com que o grupo chegasse a uma barreira de pedras marrons, detalhada com um traço brilhante e constante em seu meio. As águas formavam, embaixo, uma lagoa média com fundo escuro, mostrando as mesmas rochas que rodeavam seu limite.

O homem desceu de Quartzo Azul e respirou, mostrando certo alívio. Seus companheiros o olharam intrigados.

— Vejam – Zane gesticulou com a cabeça para o lado esquerdo enquanto afagava carinhosamente seu animal, pedindo desculpas pelo esforço que o mandara fazer.

Ouvindo-o, começaram a observar toda a área. As sovinnas se encontravam paradas em cada canto, cercando-os, mas sem ultrapassar uma faixa de vinte metros.            

— Por que pararam? – o curandeiro questionou em voz alta, tentando contrapor o barulho da cascata.

— Não conseguem usar seus poderes em lugares sem silêncio – Zane se deixou sorrir ligeiramente, satisfeito. – Mas agora precisamos pensar em como sairemos daqui.

— Conte-nos o que elas são, Zane – o líder também deixou seu cavalo e se aproximou.

— Bom, – suspirou, preparando-se para começar a explicação. - são seres que pretendem não morrer e, para isso, roubam vozes alheias para se purificar. Elas estão brancas assim porque, provavelmente, não encontraram gente suficiente para roubarem. Estão fracas.

— Então já temos como sair daqui – um soldado disse.

— Não exatamente – Zane balançou a cabeça. – O fraco delasse equipara ao nosso normal.

— Bem, isso deve ser uma boa notícia – respondeu com sarcasmo. – Como exatamente roubam nossas vozes?

— Se estiverem até dois metros distantes, conseguem controlá-las, fazendo-nos cantar até que todo o processo seja completo. É simples: cantaremos os versos que usam para invocar a magia – deu de ombros um tanto desconfortável. – Assim que termina, o esperado é cairmos duros e tão brancos quanto elas no chão.

— Espero que alguém aqui esteja rouco – Tora, o lutador bêbado de outrora, reclamou baixinho.

— Ok, pessoal, dividam-se entre pegarem galhos para a fogueira – Piers, o líder, começou. – e dividirem a janta de hoje. Lembrem-se: não saiam dessa área. Se não acharem galhos, ficaremos sem fogo mesmo.

Seguindo os comandos, o grupo se dividiu em dois. Enquanto parte se distribuía ao redor do lago, Zane e Varev descarregaram os arreios, contando um pedaço de queijo e pão para cada soldado.

— Você notou, não é? – Varev cochichou enquanto repousava sua quantia de alimento em um pote prateado. – Ela pode ser sido pega?

— Sim, notei... – respondeu Zane. – E duvido. Espiões não são agarrados desse jeito.

— Talvez ela seja a primeira – disse descontraidamente.

Zane o encarou brevemente antes de se virar.

— Fique atento – e saiu para levar três tigelas aos soldados perto de Piers.

(...)

O fogo no meio da pilha de galhos era pequeno como esta. Onde estavam não havia madeira suficiente para uma boa fogueira e, o que encontravam era, em sua maioria, umedecida pela lagoa. O céu, naquele ponto, já apresentava uma coloração alaranjada, e o grupo começava a se perguntar se sairiam de lá algum dia.

Zane observava as nuvens se movimentarem horizontalmente, como se estivessem apressadas para sair dali. “Talvez saibam o que acontecerá quando a escuridão invadir essa floresta”, pensou. Ou esperava que sua imaginação estivesse certa. Olhou para seu líder, sentado no outro lado da fogueira. Observava sua espada esverdeada, pousada acima de seus joelhos envoltos por uma calça grossa de algodão marrom. Seus olhos, que pareciam refletir o brilho verde da lâmina, encaravam calmamente um único ponto nela. Por ter trabalhado com ele outras vezes, sabia que estava se preparando para uma luta.

Olhou para os outros companheiros, distraídos em conversas sobre família, dinheiro e o festival que, naquele momento, deveria estar com os últimos detalhes da queima de fogos sendo realizados. Zane participou mentalmente da conversa, pensando em como gostaria de estar em Vollfeit para ver o espetáculo noturno de abertura. Ao mesmo tempo, estava satisfeito por estar no grupo escolhido para a importante missão. Isso provava seu valor, pelo menos para si mesmo e seu castelo. Rasgou algumas tiras de gramas entre seus dedos e olhou para Varev, ao seu lado, aguardando pacientemente as estrelas aparecerem.

O céu se tornou negro após horas vendo a fogueira tentando sobreviver, tendo um soldado sempre se levantando e repondo-a com galhos mínimos. A cena era repetitiva e cansativa, aumentando a ansiedade do grupo a cada minuto. Com a luz parca da lua, mal enxergavam os rostos sinistros das sovinnas estáticas. Hibbo, um dos melhores lutadores do grupo, cantarolava uma música infantil enquanto chocava, em um ritmo determinado, duas pedras pequenas. “Se pudesse escolher entre a rosa e o sol, qual seria seu melhor? É a força que vem do céu, do amor ao seu redor...”, cantava lentamente. “Eles não sabem o que fazer, vá até lá, aprender o...”, e parou antes de terminar a frase, levantando a cabeça na direção do ruído que alertou toda a equipe. À esquerda, na planície que os cercavam, o barulho de um corpo tombando na terra deu início a uma sequência de sons similares. Zane se levantou e tirou sua espada da bainha.

— É agora – disse e correu em direção ao morro.

Seguido, de perto, por Varev e Piers, escalou rapidamente a subida, segurando com firmeza sua espada com a mão direita. Chegando ao topo, deu de cara com um par de pés femininos, que tentava acertá-lo nos pulmões. Varev logo jogou a mulher ao chão enquanto o líder dos soldados corria até o outro lado, onde mais de sete mulheres vinham em sua direção. Acompanhou-o e empunhou sua arma para o ombro esquerdo da segunda sovinna, acertando-a superficialmente. Sem se deixar abalar, continuou golpeando até que o reflexo de sua inimiga falhasse. Ao mesmo tempo em que a mulher caía sem vida, o alvo de Piers mostrava o mesmo fim. Varev lutava com duas ao mesmo tempo, recebendo arranhões e mordidas após errar alguns ataques. Zane correu para ajudar o amigo e, apressado, não percebeu a inimiga escondida em cima de uma árvore próxima. Só a percebeu quando sentiu algo áspero e fino cortando a pele de sua nuca. Em seguida, ouviu um ruído abafado. Olhou para trás e viu uma adaga cravada no tórax da garota e, atrás dela, entre as árvores, uma sombra se mexendo velozmente. Acenou com a cabeça, agradecendo, e voltou sua atenção ao companheiro, que já havia eliminado uma de suas ameaças. Ajudou-o a dominar a mulher restante e correu até mais adversárias. Contara mais de dez até que sua equipe parou, ofegante e espalhada naquela depressão escura da floresta. Deixou-se suspirar aliviado e cair na grama seca. O curandeiro se aproximou e, já retirando pequenos potes de sua bolsa na cintura, pediu:

— Mostre os ferimentos.

Zane despiu metade de sua blusa, expondo cortes rasos em suas costas. Sentiu-as arder quando Ingran pressionou, provavelmente com uma pomada, seus dedos sobre elas. Continuaram doendo após o médico se levantar e examinar Varev e o resto dos soldados.

— Está machucada? – perguntou para o ar após esperar a pomada secar para poder se vestir.

— Não – uma voz feminina, diferente das sovinnas, disse de volta. Era distante e sem emoção.

Balançou a cabeça em resposta e se levantou, virando-se para Deschen.

— Obrigado.

A espiã não respondeu, limitando-se a se afastar em direção aos cavalos presos perto da lagoa. No caminho, foi convocada por Piers.

— Bom trabalho com as arqueiras, soldado.

Assentindo silenciosamente, desceu o morro e desapareceu por instantes.

— Se ela não tivesse eliminado as arqueiras, seríamos mortos pelo veneno nas flechas? – o líder questionou Zane.

— Além das mordidas e arranhões venenosos, sim.

— Entendo – pensativo, disse. – Agradeço pelo trabalho de hoje, Zane – tocou-o rapidamente no ombro antes de se retirar em direção aos outros soldados.

— Essa porcaria realmente dói – Varev caminhou até seu lado, apoiando-se em um tronco de árvore enquanto cutucava seu bíceps direito.

— Não mexa – Zane direcionou um olhar ao músculo amarelo devido à pomada de Ingran. – Seus pais não diziam para nunca mexer em feridas?

— E quando eu os ouvi? – perguntou com diversão.

Zane sorriu e se calou, exausto demais para dar continuidade a qualquer conversa que não fosse urgente. A única coisa que soava como um alarme, dentro de sua cabeça, era a imagem de Deschen o salvando naquele momento.


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