Sem Inspiração escrita por Bia


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, bem-vindos a esta one! :3 Primeiro de tudo, não levem muito a sério, é como se fosse um desabafo sobre... Hm, desinspiração... Foi uma forma que eu achei de sair deste estado, e, vejam só, funcionou! É quase uma metalinguagem, adorei HAHAHAH! Tive a imensa vontade de postar, não sei, para ver a reação de terceiros... Anyway, espero que, caso alguém leia, curta! :)



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Olhou pela décima vez para a tela em branco no computador. Depois olhou pela nona vez para a xícara não mais tão quente de café, suspirando ao ouvir o ‘tec, tec, tec’ incansável dos dedos esmagando as teclas do notebook do seu vizinho de trabalho, Michael.

Ah, como aquele ‘sonzinho’ era irritante e invejável. Queria ela estar ali, no lugar dele, a todo vapor, irritando os outros com o som chato das teclas do PC. Dali a alguns instantes seu editor-chefe iria pedir o artigo prontinho, e ela ali, encarando a tela branca.

Maldita inspiração, por que foi-se? Amam-na tanto, cretina mal-agradecida! Covarde, fugiste bem nos momentos em que mais precisavam de ti! Como uma colunista poderia lidar com a falta de inspiração?

Bebericou o café morno, balançando a cabeça tristemente, perguntando-se se havia atacado um tijolo na cabeça de Jesus para merecer uma coisa como aquela.

– Ana, me empresta seu grampeador? - A cabeça loura de Michael apareceu sobre a repartição cinza do escritório. Parecia feliz, mas é claro que ele está, o maldito exala inspiração! indignou-se, pegando com fúria o objeto pedido e esticando-o com brusquidão para ele. - Hã… Obrigado… - Michael pegou-o, uma sobrancelha erguida. Não evitou e deu uma espiadinha no conteúdo de sua coluna, e ficou surpreso ao descobrir uma recheada tela em branco. - Você sabe que o artigo é para as cinco horas, não sabe?

– Sei - respondeu, trincando os dentes.

– E… Por que não começou?

– Tô sem inspiração. - Admitiu, apoiando o queixo no punho e encarando com monotonia a tela do computador.

Michael avaliou a situação.

– Por que você não escreve sobre estar sem inspiração? - Sugeriu de bom grado.

– Porque não tenho inspiração nem para escrever sobre estar sem inspiração. - Retrucou, metódica.

– Ótimo, então escreva sobre a sensação de estar tão sem inspiração, que não consegue, ao menos, escrever sobre estar sem ela. Porque, você sabe, os problemas parecem menos insolúveis quando escrevemos sobre eles.

Ana odiou Michael naquele momento. Odiou o fato de ele estar com mais inspiração que ela. Odiou ele ter sugerido um tema para as suas colunas e esfregar em sua cara que ele estava com tão mais inspiração que ela, que até mesmo conseguia ter inspiração o suficiente para formular uma frase de efeito final.

Olhou-o de esguelha, e, se olhos pudessem lançar granadas, Michael já havia explodido no oceano Atlântico há muito tempo.

– Tá tão sem inspiração que nem ao menos consegue retrucar, Ana Alice? - Sorriu, grampeando o ar. - Esta não é a postura da eleita melhor colunista da semana passada, sua desinspirada.

– Aproveita que você ‘tá com este grampeador e grampeia sua boca, por favor? Muita gente iria agradecer. - Grunhiu, passando a mão pelo rosto. - Escuta e entenda: como eu posso escrever sobre a sensação de estar tão sem inspiração, que nem ao menos consigo escrever sobre estar sem ela, sendo que nem possuo inspiração suficiente para iniciar um parágrafo falando sobre estar sem inspiração?

– Você está entrando num círculo vicioso, AA. – Chamou-a pelo apelidinho.

Ana olhou-o, pronta para matá-lo, mas interrompeu e prorrogou a morte de Michael, já que teve uma ideia brilhante. Arregalou os olhos e se ajeitou na cadeira, levantando as mãos como se descobrisse a origem do universo.

– Já sei! - Expressou seus pensamentos - dizem que, quando você repete uma palavra várias vezes, ela acaba perdendo o significado. Ótimo, vou ficar repetindo “desinspirada”, vai que assim eu consigo me livrar dessa onda de falta de inspiração… - E, então, começou.

Repetiu dezenas de vezes ‘desinspirada’, como se estivesse obrigando o seu cérebro a se esquecer o que essa palavra significava e o que ela impelia em sua vida profissional.

– Eu acho que não adianta, Ana… - Michael tentou.

– Desinspirada, desinspirada, desinspirada, desinspirada, desinspirada, desinspirada, desinspirada…

– O nosso cérebro se esquece do sentido da palavra, e não no que ela implica. É como se, alguém ferido emocionalmente, começasse a repetir ‘amor’ centenas de milhares de vezes para se esquecer do que é para não correr o risco de amar novamente… É inútil. Você pode até se esquecer da palavra em si, mas nunca no que ela significa.

Ana parou de repetir sua cruz quando Michael terminou de falar. Ficou encarando-o, um pouco boquiaberta, talvez - o maldito era o cara mais irritante da face de Terra, e tudo isso porque era completamente viajado e, acima de tudo, inspirado.

– São em momentos como este que eu penso que sentimentos são coisas colossais demais para se encaixarem em meras letras. Talvez, sim, palavras somam uma pequena parcela de sentimentos, mas nunca conseguem encobrir ele ao todo. Não é como se pudéssemos escrever ‘ódio’ numa folhinha, ir lá e apagá-la para apagar isso de dentro de nós. E, não, Ana Alice, não estou te dizendo que palavras são insignificantes, muito pelo contrário, elas são as mais essenciais ferramentas na ligação pessoa-sentimento. Só estou te dizendo para… Não confundi-las com o seu real significado.

Correção: ele era extremamente viajado.

Ana nem abriu a boca para retrucar. Apenas ficou lá, encarando-o, sem saber o que dizer. Pelo o que entendera, o seu “desinspirada” não iria sair dela tão cedo. Suspirou, enconstando-se em sua cadeira giratória, jogando a toalha.

Sim, desistira de tentar escrever a coluna da semana. Iria dizer um ‘sinto muito, chefe, porém estou sem inspiração, pode descontar do salário’, e iria marcar urgentemente um passeio com seus colegas para desestressar e tentar recompensar na semana seguinte com uma coluna a mais.

Michael sorriu, e aquele sorriso significava um “não me sinto culpado, eu tentei”. Sumiu por detrás da repartição, e Ana conseguiu escutar quando sua cadeira vacilou com seu peso, sendo seguido pelos estralos do grampeador. Ergueu a cabeça quando ele apareceu sobre a repartição novamente, esticando a mão com o objeto pego emprestado.

– Obrigado - agradeceu novamente, esquecendo-se que já havia feito isso antes. Ana pegou o grampeador cor-de-rosa e botou-o ao lado da agora xícara fria de café. Ficou observando o objeto por um segundo, até ter a curiosidade de perguntar para o seu vizinho:

– Michael, sua coluna desta semana falou sobre o quê? - A pergunta foi feita com genuíno interesse e abnegação.

– Ela falou sobre garotas de nomes compostos com sérios problemas de inspiração e orgulhos indissolúveis. - Gracejou, erguendo um canto do lábio em puro divertimento.

Ana respirou fundo, controlando-se para não se utilizar de seus dedos para expressar um determinado sentimento… E, definitivamente, não era um coraçãozinho.

– Ha-ha, engraçadinho… - Revirou os olhos, afundando-se na cadeira, encarando seu PC, que agora estava em stand-by.

Aparentemente, sua crise de inspiração não iria passar tão rápido, mas, assim que ela passasse, com toda a certeza Ana Alice recuperaria seu tempo perdido.

Ou talvez ela apenas tentasse escrever sobre não-inspiração em sigilo, para apenas passar seu tempo…

Ligou o computador, dando de cara com a tela em branco. Selecionou o texto titular em itálico, tentando começar pelo básico.

Sem Inspiração”, mas por apenas questões profissionais.


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Notas finais do capítulo

Michael melhor pessoa JAAOJOAJOAJOA ♥