Dormi como uma pedra. Fazia tempo que não dormia assim, geralmente meu sono era carregado de sonhos sobre aquele dia. O dia que eu parti. Era incrível pensar em tudo o que havia acontecido. Quando eu estava em Nova York tinha me tornado uma pessoa totalmente diferente, fria, dura, fraca...

Entretanto, quando voltei parece que tudo voltou também, as lembranças escondidas, o meu jeito de ser... A única coisa que me incomodava era que eu não sabia se isso era bom ou ruim...

Levantei calma e disposta, tomei meu banho e coloquei uma roupa confortável, saia jeans branca, camisa cavada transparente que deixava meu sutiã preto a mostra, meus colares e uma rasteirinha nude. Depois do banho, sai do quarto e fui até o quarto do João onde a Bruninha dormia. Era estranho estar entrando de novo ali, mas não havia muita escolha.

Assustei-me ao entrar ali porque não tinha ninguém. A cama estava desarrumada, porém a Bruna não se encontrava nela. Fiquei desesperada. Sai correndo e quando cheguei na cozinha me deparei com uma cena assustadoramente linda e triste...

O João e a Bruna juntos, fazendo um café da manhã e se divertindo ao mesmo tempo. Era lindo. A cena pai e filha me chocou, mas de certa forma era triste ver que eles só haviam tido essa oportunidade agora.

Fiquei observando-os por um tempo, até que o João me viu, e perdendo o equilíbrio deixou a travessa de biscoitos caírem no chão.

– Bi... Bi... Bianquinha – disse gaguejando – Você já acordou.

– Eu já disse pra parar de me chamar assim. – falei irritada.

– Mamãe... Seu amigo é muito legal sabia?

– Ele não é meu amigo, filha – falei séria – É seu pai – despejei tudo de uma vez.

Os dois me olhavam de olhos arregalados, João por pensar que talvez eu demorasse a contar a menina e Bruna estava numa mistura de felicidade e susto por saber quem era o pai biológico.

– Bianquinha, precisamos conversar...

– Eu sei!

Nesse exato momento Dandara entrou no apartamento e percebeu a tensão que pairava entre nós.

– Bruna, querida, porque não me acompanha até a padaria? Posso te mostrar muitas coisas legais aqui no bairro.

Depois de fechar a porta e sair com a Bruna, agradeci Dandara mentalmente por tirar ela daqui e não precisar ouvir a conversa.

– Senta João. – ele obedeceu.

Ficamos quietos por um bom tempo, eu olhava fixamente para baixo. Senti-o sentar mais perto e tocar meu queixo para que eu olhasse pra ele.

– Bianquinha, me desculpa pelo o que eu vou fazer agora, mas preciso disso.

Antes que eu pudesse processar o que ele dizia, me puxou e selou nossos lábios. Beijamos-nos, com saudade, com raiva, com amor, com tristezas, com paixão, com arrependimento... O nosso beijo mais carregado de emoções contraditórias!