Eu estava sentado no último dos seis degraus da varanda de minha casa, às sete da manhã, esperando anciosamente pelo carteiro. Ele está atrasado! Era mentira. O carteiro passava todos os dias ás sete e quinze, e naquele dia o tempo parecia estar parado só para me deixar ainda mais ancioso. Tinham que ter sido os quinze minutos mais longos da história. O pobre carteiro nem teve tempo de pôr todas as cartas na caixa de correio. Tomei-as de suas mãos, jogando por sobre os ombros aquelas que não me interessava. E lá estava o tão esperado envelope. A carta dela. Um mês sem vê-la, quanta insolência. Na carta, ela pedia que eu desaparecesse, que nunca mais lhe procurasse e para sempre lhe esquecesse. Chorei de saudades, enquanto relia a carta. O perfume dela impregnava o papel. Não havia uma forma de compreender o que ela me escrevia. Tão pouco tempo havia se passado desde que jurara seu amor por mim. Então o que foi tudo aquilo, aqueles dias tão felizes? Qual significado de tudo o que vivemos? Ela realmente me amou? Parece que foi ontem que vi um sorriso tímido brincando no canto de seus lábios corados. Eu lhe disse o quanto a amava e ela devolveu com palavras gentis, e foi embora prometendo voltar. Se eu apenas soubesse o que sei hoje. Eu quis envolvê-la em meus braços, isso teria afastado toda a dor. Não havia motivos para não perdoar os erros. Não há nada que eu não faria por ela. Não há nada que eu não faria para ouvir a sua voz de novo. Há dias em que eu quero ligar, mas sei que ela não vai gostar. Ela pediu que eu desaparecesse. Eu a buscava desesperadamente, caçando-a em minha memória, em meu inconciente, porque nos sonhos ninguém podia roubá-la de mim. Alguns dias eu me sinto destruído por dentro, e fico achando que não posso seguir em frente. Às vezes, eu apenas quero me esconder da dor, porque é insuportável o quanto sinto a sua falta. Em outros dias eu sinto que ela está me olhando da janela, e fabrico uma imagem confiante e orgulhosa por um segundo. Ela me diria se eu estivesse errado? Eu só queria que me ajudasse a compreender. Não há nada que eu não faria para ter apenas mais uma chance de olhar em seus olhos e vê-la me olhar de volta. Se eu tivesse apenas mais um dia, lhe diria o quanto sinto sua falta desde que se foi. Poderia ser perigoso para mim, já que sou eu quem está em pedaços. Poderia ser difícil demais voltar no tempo, mas agradeceria por tudo o que ela me deu. É tão difícil dizer adeus quando chega a hora. Talvez esse seja o motivo para ter escolhido a carta. Eu não a culpo por isso, e não a culpo pela dor. Eu nunca poderia lhe ferir sem ferir a mim mesmo. Eu posso desaparecer, não lhe procupar. Mas quanto a esquecer... Vai doer até o inferno se eu não puder lembrar.