Premonição - O Início escrita por Victor Crype


Capítulo 5
Capítulo 5 - Nunca Olhe Para Trás




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O carro de perícia teve suas portas fechadas por um homem, e em seguida saiu dali levando o corpo da Brenda. Os policiais já haviam pegado o depoimento de todos, considerando que aquilo fora um acidente. Erick estava num canto afastado sentado na beira da calçada, próximo a uma ambulância. Sâmea e Tainy haviam saído dali levando Ana embora. A garota estava em estado de choque. Ela não entendia como havia sobrevivido. Nem mesmo ele sabia. Devia ser a hora dela, não entendia como ela sobrevivera. Ele estaria errado sobre as mortes?

O garoto se levantou irritado. A morte podia matar apenas uma pessoa por vez? Não, uma voz respondeu em sua mente. Evandro e Leandro haviam morrido juntos. Então como?

Maria Júlia e Paloma se aproximaram do garoto. Maria Júlia o abraçou, ela parecia extremamente triste e confusa com os acontecimentos. Já Paloma, apesar de pálida, parecia estar determinada quando falou:

− O que fazemos agora?

Murilo balançou a cabeça:

− Eu não sei. Simplesmente estou confuso demais... Não sabia quem era a próxima, se era a Ana ou a Brenda. Quer dizer, por alguns instantes pensei que as duas fossem morrer... Mas Ana sobreviveu. Como?

Paloma levantou a sobrancelhas:

− Você não se lembra da sua visão?

Murilo negou:

− Naquele momento, no festival... Foi rápido demais.

Quando Erick falou com a voz embargada, Murilo achou que o rapaz fosse culpá-lo ou fosse acusá-lo de alguma forma, porém Erick disse:

− Quem é o próximo?

Murilo não esperava essa pergunta, apenas negou com a cabeça desesperado. Maria Júlia falou então:

− Não tem alguma forma de você se lembrar do que houve? Da visão?

Murilo havia pensado naquilo, mas não tinha certeza de que funcionaria, na verdade não sabia se queria que funcionasse. Ele falou lentamente:

− Talvez, se eu voltasse ao local do acidente, eu pudesse me lembrar da visão.

As meninas e Erick o encararam.

− Talvez? – Erick acusou irritado – Minha namorada acabou de morrer, acha mesmo que precisamos de incerteza?

− Eu posso me lembrar – Murilo afirmou mais certo – mas não sei se podemos entrar lá.

− Quem disse que precisamos de permissão? – Paloma rebateu.

Houve uma pausa enquanto todos processavam a ideia. Maria deu a ideia:

− O local do festival está abandonado desde o acidente, intocado, é perfeito! Podemos ir lá à noite.

Erick concordou:

− Precisamos saber se ir até lá vai ajudar em alguma coisa. Quando mais rápido descobrirmos, melhor.

Todos olharam para Murilo como se esperando a sua resposta. Murilo se sentiu encurralado, não sabia o que mais podiam fazer se aquilo desse errado. Apenas fez o que achou sensato:

− Tudo bem.

*

Quando Murilo parou sobre o mato crescente os faróis iluminaram o memorial aos mortos no festival. O garoto sentiu um calafrio ao ver o memorial. Não estava feliz por estar ali. Não esperava que fosse voltar para aquele lugar tão cedo. Na verdade esperava não voltar nunca mais. Erick ao seu lado pegou as lanternas no porta luvas e as distribuiu para todos.

− Não podemos ficar aqui por muito tempo, o monte de mato seco vai esconder o carro, mas se alguma viatura parar aqui vamos ter problemas, então vamos ser rápidos.

Murilo concordou pegando sua lanterna e saiu do carro sem muita pressa. Maria Júlia se colocou de um lado do garoto e Paloma do outro como guarda costas e começaram a levá-lo em direção a entrada do festival.

Pela cerca formada de losangos de arame ele podia ver de relance os restos das barracas queimadas, o chão ainda enegrecido pelo fogo e o cheiro de madeira molhada enchia o ar. A silhueta da montanha-russa parecia um fantasma. Eles passaram pelas fitas amarelas da polícia e se viram frente a frente com a catraca de entrada. Ela estava caída no chão e a casa onde eram vendidos os ingressos estava tombada tampando a entrada original. A cerca do lado jazia torta no chão, visivelmente pisoteada e empurrada.

A perícia da polícia devia ter entrado por aquela brecha também e ter poupado a casinha tombada. Quando os garotos passaram pela cerca, um cheiro metálico subiu até seus narizes, o cheiro parecia vir da grama cor de ferrugem sob seus pés. Murilo viu bem próximo da entrada uma hélice de avião fincada no chão.

− Isso é sangue seco? – Paloma perguntou tampando o nariz e a boca.

Murilo não pode responder. Ele levou a mão à cabeça quando um flash rápido de sua visão veio até sua mente. Erick perguntou:

− O que foi? Está vendo algo?

− Acho que acabei de relembrar a morte da Sâmea – o garoto disse amedrontado.

− Ela é a próxima? – Paloma perguntou com a voz abafada.

− Não – então Murilo parou – quer dizer, pode ser. Precisamos ir até onde estávamos para que eu possa me lembrar.

Eles acenderam suas lanternas e começaram a passar entre os restos das barracas e por mais manchas cor de ferrugem. Quando chegaram a um ponto entre as barracas puderam ver restos de uma lona queimada e uma grande mancha negra no chão. O cheiro de pólvora ainda no ar.

− Os fogos – Maria Júlia comentou triste.

Todos viram quando Murilo direcionou sua lanterna para o poste caído mais próximo:

− ... olhe para mim, eu estou brilhando – o rapaz disse de olhos vidrados – fogos de artifício...

Ele arfou se interrompendo então direcionou o facho de luz para a clareira que vinha logo após a mancha negra no chão, então o garoto desatou a correr naquela direção.

− Murilo, vá devagar – Maria tentou alertar.

Sem escolha os outros três correram atrás do rapaz. Murilo parou nas grades caídas que outrora formara os limites da fila. Ele passou por eles como se estivesse entrando ali para o passeio novamente. Logo à frente a cena era grotesca. Os restos de metal retorcido de dois helicópteros estavam abandonados sobre o chão. Paloma estancou e Maria resmungou:

− Não devíamos estar aqui.

Murilo direcionou a lanterna para trás, de onde haviam vindo bruscamente, fazendo todos se assustarem. Seus olhos estavam vidrados. Sua lanterna começou passar daquela direção cortando o céu até parar sobre os helicópteros.

− O fogo de artifício atingiu a hélice do helicóptero preto e a mesma matou Renan – a voz do garoto era mecânica e sem qualquer traço de emoção, então ele fez o facho girar sobre a cabeça deles – o helicóptero preto girou sem controle e sua calda atravessou a janela dianteira do outro helicóptero matando Leandro e Evandro.

Como que confirmando o que falara o garoto apontou sua luz para os restos da calda ainda dentro da outra cabine retorcida.

− Pare com isso... – Paloma começou, mas Erick a interrompeu.

Murilo começou a passar a luz da lanterna sobre as grades até parar sobre uma das poucas ainda em pé, ela estava torta apontando para o chão como se fosse uma vela derretendo. A voz de Murilo cruzou a noite:

− Quando os helicópteros atingiram o chão a explosão resultante matou Brenda... – O garoto pareceu voltar a si e colocou a mão sobre a boca falando sem ar – Estamos morrendo...

− Na ordem que deveríamos ter morrido – Erick concluiu sem emoção.

− Vamos embora – Paloma e Maria falaram juntas.

− Não – Murilo teimou – Não podemos ir embora enquanto não tivermos a ordem – o garoto seguiu a linha da grade derretida com a lanterna e parou alguns metros depois quando a luz iluminou um vagão da montanha-russa descarrilado – A explosão atirou Erick naquela direção ainda vivo – Murilo fez um arco no ar com a lanterna em direção aos trilhos partidos – mas um fogo de artifício atingiu os trilhos da montanha-russa fazendo o vagão descarrilar e o matou esmagado.

Erick engoliu em seco:

− Eu sou o próximo.

Um silêncio recaiu sobre eles. Murilo resolveu então:

− Não é mais seguro ficar aqui. Vamos embora.

Eles começaram a correr dali com pressa. O medo estava tomando conta deles, por isso enquanto passavam novamente entre as cabanas o garoto quase não notou o que sua lanterna iluminou:

− Esperem – Murilo falou fazendo-os parar e iluminou os grande parafusos de metal espetados na parede de metal – a explosão do botijão de gás da barraca de tralhas atirou os parafusos contra Nilton matando-o.

O garoto andou mais a frente apontou o facho entre as barracas em direção ao parque para que todos pudessem ver um dos cavalos do carrossel. Ele estava fincado no chão sobre as patas traseiras como se relinchasse.

− O carrossel enlouqueceu atirando um dos cavalos matando Tainy e Ana Clara – Murilo falou novamente em transe então apontou a luz para a luz próxima a entrada ao longe – A explosão do tanque de combustível de um dos helicópteros atirou a hélice maior no ar e quando ela desceu, matou Sâmea.

− Erick, Nilton – Paloma fez uma pausa ao falar o nome do seu irmão – Quem morre primeiro? Ana ou Tainy? Depois Sâmea.

− Não sei – Murilo disse exasperado.

− Nem que fosse por um milésimo uma das duas morreria primeiro – Erick tentou forçar o garoto, mas Murilo voltara a ficar em transe.

Ele andou devagar até a hélice no chão e então dobrou entre as barracas mais próximas. Ele parou em frente a uma barraca estranhamente intacta, sob os pés do garoto havia um machado, uma panela e a carcaça de um fogo de artifício:

− O machado matou Paloma, o óleo da panela a Maria Júlia e o fogo de artifício... a mim.

O silêncio caiu sobre ele pesadamente.

− Eu, Nilton, Tainy e Ana, Sâmea, Paloma, Maria Júlia e você Murilo – Erick repetiu a ordem em voz alta – É isso. A visita nos deu o que queríamos. O passeio acabou, vamos embora daqui.

Murilo abraçou as amigas e chorou:

− Me desculpem por isso – então encarou Erick que já olhava há alguns passos deles – Você é o próximo, há algo que podemos fazer?

Erick voltou alguns passos e encarou o amigo:

− Eu espero que sim.

Paloma soltou Murilo e então ergueu o dedo indicador no ar pedindo silêncio. Todos ficaram com os ouvidos atentos e puderam ouvir um chiado vindo do auto falante mais próximo.

− Isso é impossível – Erick pareceu assustado e dando um passo para trás.

A música no equipamento cresceu até ficar evidente a música:

Sim, Escute

Hey, Hey, Nunca olhe para trás

Menino burro atingido, ego intacto

Murilo olhou para trás de Erick ao mesmo tempo em que o outro se virava. A placa da barraca não havia caído ainda como na premonição do rapaz. Murilo correu ao mesmo tempo em que a placa caiu. Uma das pontas da placa atingiu o botijão de gás fazendo-o vazar e em seguida caiu no chão gerando uma faísca quando um dos pregos presos à placa riscou o botijão.

Murilo se jogou ao mesmo tempo em que o botijão explodiu. Erick e ele rolaram pelo chão, instantes após a explosão. Erick caiu no chão com algumas queimaduras nos braços, mas ainda sim, vivo. Ele olhou assustado para o amigo que acabara de salvá-lo. Murilo olhou de volta completamente intacto.


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