Daniel bateu na porta do quarto do irmão e entrou sem esperar a resposta – as vezes ele fazia isso para irritar Cristoph ou quando estava ansioso por alguma coisa – e entrou. Cristoph estava parado em frente ao espelho, terminando de colocar a gravata no lugar.

– Papai e mamãe já estão prontos para descer, você vem conosco? – Daniel perguntou.

– Sim, só estava tentando colocar essa droga no lugar certo. – Cristoph suspirou – Alissa sempre fazia isso pra mim.

– Que tal você deixar essa gravata de lado? Quem tem que manter as aparências agora é eu.

Daniel não quis parecer insensível, mas ele nunca sabia o que falar quando Cristoph falava de Alissa. Ele sabia que era um assunto muito delicado e preferia não dizer nada a respeito, não queria piorar a situação do irmão.

– Gosto de ser organizado. – Cristoph respondeu. – Acho que assim está bom. Vamos.

Os dois irmãos seguiram juntos pelo corredor dos quartos da família real e se encontraram com o rei e a rainha no andar de baixo.

A rainha sorriu ao ver seus dois príncipes juntos. Mesmo depois de todos os problemas que Cristoph estava enfrentando por causa da morte de Alissa a única pessoa com quem ele continuou agindo normalmente era Daniel. Ela tinha a certeza que seus dois filhos seriam bom reis, não importava qual deles governasse.

– Você está linda mãe! – Disse Cristoph.

Daniel concordou com o irmão e sorriu.

– Obrigada, querido. – a rainha sorriu timidamente – Vocês também estão adoráveis.

Ela se aproximou de Cristoph e ajustou a gravata dele que estava um pouco torta.

– Agora está perfeito. – Ela disse.

Cristoph assentiu e deixou escapar um pequeno sorriso aguado.

– Todos prontos? – Julian perguntou. – Temos uma multidão de telespectadores para deixar surpresos, não queremos nos atrasar.

A rainha passou seu braço ao redor do braço do rei e caminhou juntamente a ele em direção ao estúdio de gravação do Jornal Oficial, um pouco mais atrás Cristoph e Daniel os seguiam.

***

Depois de falar um pouco sobre os protestos e incêndios o rei deixou o resto da programação nas mãos de Grivery – ele era o típico apresentador que entretia o povo com novidades sobre a família real e das celebridades mais comentadas.

– Booooa noite, Illéa! – saudou Grivery – Imagino que muita gente está se perguntando o porquê da minha presença hoje no Jornal Oficial. Bem, espero continuar com vocês durante um longo tempo. Acredito que nosso querido príncipe Daniel tenha um anuncio a fazer. Alteza?

Daniel se levantou e caminhou cautelosamente até o púlpito no meio do estúdio enquanto pensava em como daria a notícia da Seleção.

– Boa noite, queridos súditos. Sei que devem estar se perguntando o porquê de eu estar aqui, mas tenho algo a anunciar. Sei que a maioria das pessoas já ouviu falar sobre A Seleção, uma competição que há cem anos era uma tradição da família real, mas deixou de ser devido a algumas circunstancias e também por decisão do povo naquela época. Mas os tempos mudaram e decidi que quero trazer essa antiga tradição para a minha vida. Quero me unir ao meu povo e não vejo uma forma melhor de fazê-lo senão através da Seleção. – Daniel sorriu e olhou para o monitor para ver se estava deixando transparecer seu nervosismo – A partir de amanhã todas as moças entre 16 e 20 anos receberão as fichas de inscrição com prazo de entrega de duas semanas. Trinta e cinco garotas serão selecionadas e virão para o palácio para que eu possa escolher dentre elas uma noiva e futura rainha de nosso país. Os demais detalhes sobre A Seleção serão dados as selecionadas assim que o sorteio for anunciado no Jornal Oficial. Obrigado pela atenção e tenham uma boa noite.

Daniel olhou para a mãe enquanto voltava para seu assento ao lado de Cristoph e recebeu um sorriso reconfortante e um remanejar de cabeça tímido da rainha que o deu a entender que ele tinha feito tudo corretamente. Logo em seguida voltou sua atenção para Grivery que tornou a falar.

– Se por algum acaso vocês tiverem alguma dúvida podem procurar o departamento local de sua província e fazer perguntas sobre A Seleção. – Voltou-se para o rei – Majestade, gostaria de falar algo?

Rei Julian assentiu e se dirigiu ao púlpito.

– Espero que todos vejam a grande oportunidade que é A Seleção para o nosso reino. Semana que vem falaremos mais sobre A Seleção. Boa noite.

E com um pequeno gesto de mão rei cortou a transmissão dando fim ao Jornal Oficial.

Daniel e Cristoph saíram do estúdio enquanto o rei conversava com um dos conselheiros e a rainha o fazia companhia. Os dois jovens pararam ao pé da escada para esperarem por seus pais.

– Como acha que eu me saí? – Daniel perguntou ao irmão.

– Para quem deu um anuncio pela primeira vez, ao vivo, no Jornal Oficial, você foi bem. Só precisa controlar seu nervosismo.

Daniel assentiu e deu um sorriso fraco.

– Você acha que alguma jovem vai se inscrever?

– Olha, mesmo você não sendo tão bonito quanto eu – Cristoph sorriu enquanto falava – você não deixou de ser o príncipe. E acredite, muitas das garotas do reino querem conhecer você.

– Bastardo metido.

Cristoph deixou uma gargalhada escapar e bateu levemente no ombro de Daniel com seu ombro. Os dois continuaram com suas brincadeiras de irmão naquele momento de descontração e não perceberam quando seus pais se aproximaram.

– É ótimo ver meus dois príncipes rindo, principalmente você Crisph. – Disse a rainha.

Os dois olharam para os pais e se recompuseram, mas antes de ficar totalmente sério Cristoph sorriu para a mãe, que o tinha chamado pelo seu apelido de infância.

O rei pigarreou.

– Cristoph, você pode acompanhar sua mãe até a sala de jantar? Preciso conversar com Daniel.

Cristoph assentiu e estendeu o braço para a mãe, que o pegou gentilmente e seguiram pelo corredor em direção a sala de jantar.

O rei esperou que os dois se afastassem e olhou para Daniel.

– Você foi muito bem hoje no Jornal Oficial.

– Obrigado pai.

– Mas ainda está deixando sua insegurança aparecer Daniel e isso não pode acontecer. Treinei seu irmão para ser o melhor rei de Illéa.

– Mas eu não sou o Cristoph, pai. Passei minha vida inteira despreocupado, pensando que nunca precisaria me preocupar com reuniões de conselhos nem nada parecido, só preciso me acostumar.

– Vou pedir para que Cristoph lhe ajude a lidar com tudo isso e pedi-lo, principalmente, para lhe ensinar a segurar a língua na hora de falar o que pensa.

Daniel nunca viu seu pai tão rígido daquele jeito. Compreendeu que ele estivesse estressado por causa dos protestos do povo e não sabia o que tinha falado de errado para que precisasse segurar a língua, mas assentiu e abaixou a cabeça.

– Está dispensado. Vamos jantar.

***

No jantar Daniel observou seu pai durante todo o tempo, ele não tirou a pose de rei durante nenhum segundo e não escondeu seu estresse de ninguém. A rainha até tentou acalmá-lo mas não teve nenhum resultado de sucesso.

Ao final do jantar Cristoph cutucou o braço Daniel com o cotovelo chamando a atenção do irmão.

– O que aconteceu? – Perguntou Cristoph.

– Nada, por quê?

– Você e o papai voltaram estranhos depois que conversaram.

– Acho que ele ficou irritado com alguma coisa que eu disse. Não quero falar sobre isso.

– Tudo bem, não queria me meter.

***

Depois do jantar Daniel subiu para seu quarto para ler uma papelada sobre relações de infraestrutura. Estava quase dormindo em cima dos papeis quando Cristoph bateu na porta de seu quarto o despertando.

– Daniel? Posso entrar?

– Sim.

Cristoph abriu a porta e entrou.

– Mas um pouco e eu te flagrava dormindo. – foi até a mesinha e pegou os papeis – Odeio resolver questões de infraestrutura.

– Eu não entendi quase nenhuma palavra disso.

– Com o tempo você se acostuma. Mas eu não vim aqui para falar de infraestrutura, papai conversou comigo e pediu para que eu te ajudasse a se acostumar...

– Tudo bem, mas será que a gente pode falar sobre isso amanhã? Tudo que eu quero agora é dormir.