Comente Depois de Ler escrita por Victoria


Capítulo 5
Capítulo 4 — Manoela Steenberg


Notas iniciais do capítulo

Olá sz



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/617763/chapter/5

Soul, Lydia e Alice estavam, enfim, em casa. Alice debruçada em frente à tela de seu computador, calada, com os ombros rígidos, com tensão pelo seu corpo inteiro. Lydia estava esparramada no sofá, com a TV ligada num som mínimo, com o olhar fixado num ponto aleatório, repassando diversas vezes o incidente que aconteceu na saída da escola. Soul estava na cozinha, descongelando a comida deixada por seus pais em potinhos organizados, e as colocando nos pratos. Ele era o mais calmo dos três, mas estava inquieto, Soul tinha um tique nervoso engraçado em seu olho esquerdo, ele ficava pulsando sem parar quando o menino tinha crises. E, naquele momento, o olho de Soul não parava de saltar, havia mil coisas rondando na cabeça dele, mesmo com a aparência mais tranquila, ele tinha a mente mais perturbada.

— Venham, se a comida gelar de novo, eu não vou esquentar. — Soul chamou as meninas enquanto saía da cozinha e ia até a mesa de jantar na sala, colocando seus pratos ali.

Alice e Lydia continuaram imóveis, absortas em seus pensamentos.

— Precisam deixar aquela situação pra lá. — o menino pediu, sentando-se à mesa.

Alice levantou-se devagar, cruzou os braços, semicerrou os olhos e olhou Soul com incredulidade.

— O cara nos abordou falando umas coisas extremamente insanas, ele sabia nossos nomes, onde estudávamos e basicamente nos ameaçou de morte. — ela pontuou, usando de uma voz baixa e tensa. — Você realmente acha que é o mais sensato dos três, garoto?

Lydia se ajeitou no sofá, também olhando Soul, que arfava levemente.

— Alice está certa, é loucura não termos procurado a polícia. — a voz da prima pareceu tranquila, mas seu olhar carregava um pesar assustador.

Soul esmurrou a mesa num baque surdo.

— Esqueçam isso. — ele disse entre os dentes, depois se voltou para seu prato, comendo em silêncio.

Alice e Lydia subiram para seus quartos, deixando a comida de seus pratos esfriarem, e Soul sentado á mesa, sozinho.

**

A praia não estava muito cheia, aliás, nunca estava. A Praia da Reserva, única praia no Condado de Madrin, era habitualmente vazia por ser isolada. Na tarde de uma sexta feira, os poucos quiosques estavam semivazios, o mar estava calmo e havia poucos guarda sóis na areia.

Ali, no meio da extensa praia isolada, vinha uma garota. Seus pés saltitavam na areia quente, e seus olhos pareciam menores sob o sol de meio dia. A menina de olhos escuros vinha trazendo três garrafinhas de suco de uva, e estava indo em direção a um guarda sol amarelo que estava num canto distante da praia. Sob o guarda sol, estavam Shaiane e Mayla, sacudindo os pés na água fria e estirando os joelhos, bronzeando as canelas.

— Ah, cheguei — a menina estava arfante. — Meu Deus, que sol quente.

A garota que carregava os sucos se ajeitou debaixo do guarda sol, suando bastante. Ela se sentou na toalha de praia e se abanou levemente com a mão, colocando as bebidas no colo de Mayla, a loira sentada na cadeira de praia.

— Manoela, é sério isso? Bebida diet de novo? — Mayla reclamou, arqueando as sobrancelhas, olhando o rótulo da bebida. — Você é magérrima, vai acabar sumindo. Já cansei das suas dietas loucas.

Shaiane, a negra que estava deitada tomando sol, ouviu o comentário de Mayla, e sentou-se, tirando os olhos escuros, encarando Manoela com desgosto.

— E você ainda arrasta a gente pra essa dieta maluca. — a garota reclamou, indo para debaixo do guarda sol, e pegando seu suco. — Odeio suco de uva.

Manoela não tinha necessidade de dietas realmente. Ela era muito magra, de seios pequenos, pernas quase esqueléticas e braços finos. Rosto magro, olhos fundos e escuros.

— Por isso sempre digo viva à coca-cola! — Shaiane gritou, largando o suco diet na areia quente e pegando uma latinha vermelha de refrigerante que tinha no isopor.

Mayla revirou os olhos pra Shaiane.

— E eu acabo tendo que acompanhar a Manoela nessa loucura. — ela fez cara de tédio, abrindo o suco, tomando o primeiro gole. — A gente tinha que ter trago a Vitória, e fazê-la beber essa merda, aliás, é com ela que a gente faz bullying.

Manoela se ajeitou na toalha de praia, mexendo nos cabelos molhados e depois abrindo sua latinha de suco.

— Vitória ficou estudando. — ela disse, sacudindo os cabelos molhados disse enquanto fazia uma leve careta após bebericar o suco diet. — Tem esse teste de matemática aí, mas ela já passou de ano. Essa menina é maluca.

Shaiane deu os ombros, estirando as belas e torneadas pernas negras ao sol, tomando pequenos goles de sua coca-cola, e depois voltando a olhar as amigas.

— Não gosto muito dela. — fez uma careta de nojo. — Insuportável, tagarela, uh, garota chata.

Mayla assentiu devagar, largando discretamente a latinha de suco e catando uma de refrigerante.

— Eu gosto dela, ela é boa pra quando a gente precisa de alguém pra fazer piada. Ou pra resolver nosso dever de casa.

Manoela soltou um risinho quando ouviu a amiga, e depois voltou a olhar a imensidão do mar de forma vaga, bebendo seu suco vagarosamente. Quando terminaram suas bebidas, almoçaram no quiosque mais próximo, e passado algumas horas, o sol abaixou e estava escurecendo.

— Eu preciso ir embora, está ficando tarde. — Manoela avisou, sacudindo a areia dos pés, se levantando.

Shaiane franziu o cenho.

— Pensei que fosse ficar com a gente hoje à noite. — ela disse, enquanto sacudia a toalha cheia de areia. — Achei que ia dormir na casa de praia da mãe da May.

Shaiane apontou para Mayla com a cabeça. Manoela ponderou.

— Vamos, Manu, vai ser muito legal, a casa vai ser só nossa! Vamos fazer uma festa do pijama. — Mayla cantarolou, abraçando Manoela pelas costas, a loira tinha um sorriso no rosto.

— Tem um computador? — Manoela perguntou, enquanto recolhia suas coisas espalhadas no chão.

— Bom, eu tenho um notebook. — Disse Mayla, enquanto tentava fechar o guarda sol — Por quê?

Manoela esboçou um sorriso.

— Ótimo, vou poder ver se a minha história favorita foi atualizada. Estou esperando faz quase um mês! — Disse Manoela em tom de reclamação, apoiando a bolsa de praia no ombro direito.

Shaiane e Mayla entreolharam-se rapidamente, mas ignoraram o dito pela amiga. E minutos depois, terminaram de organizaram seus pertences espalhados pela areia e subiram uma rua em direção á casa.

(...)

Mayla abriu a grande porta de madeira da casa que rangeu como se gritasse que precisava ter as juntas trocadas. Atrás dela, Shaiane e Manoela adentraram na casa, e passando por último, Shaiane trancou a porta. Entrando logo na sala, elas viram uma TV antiga, um tapete cor de vinho manchado com algo que parecia ser chocolate, dois sofás de couro, uma janela pequena branca, coberta por cortinas cinzentas, uma cozinha pequena, um banheiro e uma escada de madeira branca.

— O notebook está lá em cima, no primeiro quarto à direita. Aproveita e seja logo a primeira a tomar banho. — Mayla disse para Manoela, apontando para uma direção em frente à escada.

Manoela assentiu e foi em direção á escada de mármore, subiu de dois em dois degraus e logo estava no segundo andar da casa, adentrou no quarto indicado por Mayla, jogou suas coisas sobre a cama de solteiro que tinha ali e agarrou o notebook que estava em cima de uma escrivaninha velha ao lado da cama. Ligou-o e o conectou a internet. Logou em sua conta no seu site preferido de histórias.

**

www.darksidehome.com/Login

CONTA: 00254

NOME USUÁRIO: WitchBitch

Senha: ******-***

...Conta sendo logada...

...Aguarde...

Bem vindo a sua conta, WitchBitch!

**

Manoela começou a vagar pelo site em busca de alguma atualização de Cemitério das Cinzas, uma de suas histórias preferidas do site, e também uma das que mais ansiava por uma continuação. Mas não havia nada, nem um resquício de capítulo novo ou alguma nota postada por Anonimato explicando seu sumiço nas últimas semanas. Frustrada, Manoela simplesmente deu os ombros e abriu uma nova guia, e arqueou a sobrancelhas, sem tirar os olhos da tela.

— Uh, estranho.

A garota murmurou sozinha, ainda sem tirar os olhos da tela, teclando algumas vezes. Seus olhos corriam pelo teclado, e de vez em quando ela soltava uma risada abafada, por fim, franziu o cenho e depois deu de ombros. Desligou o computador.

— Manu, a gente tá indo comprar pizza, é um pouco longe para ir caminhando, o telefone não está funcionando, mas tentaremos não demorar! — Shaiane gritou do pé da escada.

Manoela gritou um “ok” de volta foi em direção ao chuveiro, e quando estava terminando o banho ouviu a campainha tocar. E não ouviu nenhuma movimentação. Manoela desceu as escadas de toalha, molhando o chão por onde passava por canto dos cabelos molhados. A garota abriu a porta, havia um pacote estranho no chão, destinado à WitchBitch. Manoela apanhou o pacote e deu alguns passos pra trás, entrando em casa e depois fechando a porta.

(...)

Àquela foi uma longa noite para Manoela e infelizmente não havia vizinhos por perto para ouvi-la. Os altos e alarmantes gritos que deixavam claro que a menina estava sendo torturada, não foram ouvidos por ninguém. Uma morte surda e silenciosa, que foi notada apenas por que Shaiane e Mayla voltaram para casa com uma grande caixa de pizza nas mãos, rindo enquanto debochavam da amiga Vitória que havia ficado em casa estudando. As amigas deixaram a pizza na cozinha e chamaram por Manoela no pé da escada.

Não houve resposta de onde antes existiram gritos.

Mayla subiu as escadas, crente que Manoela tinha pegado no sono ou estava usando fones de ouvido com uma música muito alta. Mas ela estava errada, quando pôs a mão na maçaneta da porta, segundos antes de girá-la, sentiu os pés molharem em algo gosmento. Quando olhou para o chão, viu que era um líquido viscoso e vermelho que escorria debaixo da porta. Mayla soltou uma exclamação que foi abafada pelo grito de Shaiane perguntando por que elas estavam demorando. Mayla abriu a porta. Provavelmente foi a cena mais aterrorizante de sua vida.

Manoela estava pendurada pelo pescoço no ventilador de teto através de uma corda de rede. Os braços estavam cortados, as pernas também, o rosto também. A menina estava cheia de riscos de faca pelo corpo inteiro, e o sangue que inundava o chão do quarto era proveniente dos cortes profundos e diversos.

Mayla ficou estátua por alguns segundos, ignorando os berros de Shaiane que já estava sem paciência com a demora das amigas. Mayla simplesmente se ajoelhou no chão, e ficou olhando, boquiaberta, para o corpo morto, para o rosto sem cor e sem vida, de Manoela. Demorou alguns minutos para Mayla assimilar tudo e quando ela entendeu aquilo, não se importou de estar ajoelhada no sangue. Simplesmente tapou o rosto e começou a berrar alto, chorando tão alto quanto. Os passos apressados de Shaiane na escada tocavam ao fundo.

A negra parou na soleira da porta, que estava entre aberta. Do ângulo que estava conseguia ver apenas Mayla no chão, chorando alto. Ela ia correr para abraçá-la e perguntar o que houve, mas quando terminou de abrir a porta e viu o quarto por completo, teve vontade de ficar na mesma posição que a amiga. Ajoelhada em frente ao corpo de Manoela, e chorar muito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar até aqui. ♥