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Capítulo 19
Capítulo 18 — Alice e Lydia Ajudam a Polícia


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥



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A sala foi tomada pelo silêncio. A única coisa que se ouvia era a respiração acelerada e forte de Alice e Lydia, ambas de mãos dadas e com as expressões quase gêmeas. Seus corações pareciam mais baquetas de bateria que um órgão que bombeia de sangue. Elas não tiravam os olhos da folha de papel nas mãos da delegada, que carregava a foto de Soul com o uniforme da Campster, escola onde os três estudavam.

Elizabeth encarou as duas garotas com incredulidade. Virou-se para Buckerman e apontou para a porta, após isso agarrou os braços magrelos e pálidos das meninas levando-as para fora do quarto, fechando a porta dele. Alice tinha os lábios trêmulos e largou a mão de Lídia com violência após estarem do lado de fora e então se aproximou — enfurecida — da delegada.

— Por que você está com uma foto do meu irmão?! — Alice indagou, tentando agarrar a foto de Soul das mãos de Elizabeth.

A mulher entregou a foto para Buckerman e cruzou os braços.

— Duas adolescentes vestidas como enfermeiras invadindo o quarto de uma clínica psiquiátrica. — Marsh pontuou. — Sou mesmo eu quem deve responder algo aqui? Quem são vocês, o que fazem aqui e quais são as suas ligações com Soul Ashter?

— É o meu irmão! — Alice exclamou. — O que você quer com ele? Eram só drogas! Ele é um adolescente, nunca fez...

A delegada fez a garota se calar apenas com o estalo de língua.

— Qual droga? — perguntou Elizabeth.

Alice sacudiu a mão em nervoso, deixando finalmente as lágrimas quentes caírem.

— Eu não me lembro. — ela fechou os olhos, balançando a cabeça, virando-se pra Lídia. — Eu não me lembro.

Lydia ergueu os olhos para a delegada.

— Era PCP. Algo como...

Buckerman caminhou até elas, parando em frente à Lydia.

Fenilciclidina. Ou pó de anjo. É uma droga alucinógena, provoca sensação de êxtase, e coisas do tipo. — interrompeu o policial.

— Ele usava essa droga? — perguntou Elizabeth.

— Nós não sabemos, nunca vimos. Só sabemos que ele tinha um pacote pequeno em seu guarda-roupa, e hoje mais cedo ele saiu com ele e com um notebook. — Alice explicou. — Nós não o vemos desde então.

— Onde ele está?! Não sabem pra onde o irmão de vocês foi e ao invés de ir a uma delegacia ou avisar aos seus pais vocês vem a um manicômio! — questionou Elizabeth quase gritando. — O que fazem aqui afinal?!

— Pare de ser rude conosco! Você não sabe de cada angústia que passamos nos últimos meses com esses acontecimentos. Tudo está nos atingindo. Recebemos bilhetes esquisitos assinados por Galeno, o tal assassino da história que líamos e que fez uma sala de bate-papo que está matando pessoas! E por acaso ele disse que estávamos fora da lista desta sala, estamos confusas. E agora Soul está usando drogas! — Lydia começou a disparar sem pausa. — E Galeno está por algum acaso nos protegendo, e não sabíamos o que fazer. Então nós decidimos vir perguntar ao criador de Galeno, ao autor daquela história, a pessoa que deveria esclarecer tudo. Mas ele é um louco! Se eu chegasse à delegacia e lhe contasse toda essa história, você acreditaria mesmo em mim?

Lydia começou a chorar. Alice a acompanhou.

Elizabeth ficou muda por alguns minutos. Apenas fitava o rosto daquelas duas meninas, ambas estavam tentando ao máximo segurar o choro e o desespero que estavam sentindo há tanto tempo.

— Talvez eu acredite agora, devido a essas circunstâncias. — a delegada massageou as têmporas. — Eu sinto dizer que o comandante dessa história, quem controlava Elton, o zelador, para matar pessoas através daquela sala de bate-papo é o irmão de vocês. É o Soul Ashter, e nós precisamos encontrá-lo e prendê-lo. Ou até mesmo interná-lo, é um psicopata.

Lydia e Alice deram as mãos imediatamente.

— É horrível que faça sentido. Soul sumia toda hora, estava esquisito, estava sempre pagando algo, provavelmente era esse tal de Elton para ajudá-lo nesse trabalho sujo. — Lydia fez uma cara de nojo e começou a soluçar. — E os bilhetes, Alice. E se ele queria mesmo nos proteger daquela sala? E se essas mortes que ele queria provocar, não nos envolvessem? E se o alvo fosse apenas aqueles outros coitados leitores que não comentavam, e não nós. Por isso recebíamos aquilo. A caligrafia, Alice. Nós sempre reconhecemos, e agora faz sentido, era a letra dele.

— Viemos aqui hoje em busca de respostas para os nossos enigmas, e no fundo sabíamos que o Soul era uma delas. É o meu irmão, o meu gêmeo, meu melhor amigo. — Alice colocou a cabeça sobre o ombro de Lídia e a abraçou forte. — Eu não consigo vê-lo como um assassino.

Elizabeth ouvia com atenção o desabafo das garotas e as revelações sobre o comportamento estranho do rapaz. E juntava cada vez mais as peças, e tinha cada vez mais certeza de que ele era o culpado.

— Eu sinto muito, garotas. Mas eu tenho uma pergunta pra vocês, apenas pra fecharmos toda essa suspeita que temos sobre Soul Ashter. — Elizabeth limpou a garganta, aproximou-se das meninas e pôs a mão sobre seus ombros. — Elton me relatou uma coisa que Soul o pagou para fazer, e eu espero que se lembrem. Ele me disse que ele foi pago para se fantasiar de Galeno Withlock, o assassino que estava em alta há uns séculos atrás e que é o protagonista daquela história que liam, para assustar vocês na porta da escola dizendo...

— Vocês estão na minha lista. — Disseram Lydia e Alice em uníssono, interrompendo a delegada.

— Então aconteceu? Soul realmente pagou esse homem para dar um susto em vocês? — Elizabeth insistiu.

— Sim, aconteceu. — Alice confirmou.

Elizabeth confirmou todas as suas dúvidas, incertezas, e solucionou finalmente seus enigmas. Era Soul com toda certeza, agora bastava pô-lo atrás das grades.

— Por favor, precisamos conversar em um lugar mais privado. Eu não posso ligar para os seus pais daqui, podemos, por favor, ir para a delegacia? — Convidou Elizabeth.

A delegada não queria nem sequer saber mais sobre as respostas de Enzo, ela já tinha tudo o que precisava. As garotas assentiram e junto a Delegada e Buckerman, eles saíram do Instituto Westin Hills e se encaminharam até a delegacia.

**

Elas nunca estiveram em um ambiente como aquele antes. Todos aquelas pessoas penduradas no telefone ou teclando sem parar no computador. Lydia estava com as mãos dentro do bolso da calça, observando aquilo com curiosidade e Alice estava se abraçando, olhando para os seus pés. E enfim ouviram um alvoroço na recepção do local, havia dois adultos nervosos na sala, quase gritando.

— Mãe! Pai! — Alice gritou indo em direção às pessoas da recepção.

Catarina Ashter e Henri Ashter, pais que estavam cansados de se desesperar, pois chegaram à sua casa, e não havia ninguém. Então ligaram pros celulares de suas crianças e nenhuma delas atendia ou dava sinal de vida.

— Alice, Lydia! Onde estavam?! — exclamou Catarina, abraçando as duas garotas. — Meu Deus, eu estive tão nervosa.

— Onde está Soul? — Henri passou a mão pelo rosto das meninas. — E por que os rostos avermelhados?

Lydia se afastou de Catarina e pôs-se a frente dos tios.

— Eu sei que não sou um exemplo de responsabilidade ou maturidade. Mas nós não podemos falar agora, ou responder nada agora. Precisamos conversar com a Sra. Marsh. — Lydia apontou para a delegada loira. — Ela precisa de nós agora, voltaremos rápido para casa e responderemos tudo, eu prometo.

— Ah, mas nem pensar. Vocês são crianças e estiveram sumidas por quase seis horas! — Catariana gritou. — E o Soul? Onde está o meu filho?!

— Senhora Ashter, eu sei que está nervosa. E nós queremos responder a sua pergunta, e também queremos achar o Soul. É por isso que estamos aqui, por isso preciso de suas meninas. — Elizabeth caminhou até a confusão, erguendo seu distintivo. — Sou a delegada Elizabeth Marsh, suas filhas estão seguras comigo e com o corpo policial.

Elizabeth quis omitir os fatos tenebrosos sobre o lado de seu filho que Catarina e Henri desconheciam. Por enquanto.

— Mãe, pai, o Soul está sumido há algumas horas, temos umas informações pra dar à Elizabeth, será muito rápido. Sei que estão nervosos, mas façam um favor, se querem ajudar, vão para casa, liguem para os parentes, procurem por ele no caminho de casa. Nós estaremos aqui fazendo o mesmo. É um adolescente sumido em Madrin, ele está por perto, o acharemos rápido. — Alice pegou as mãos de seus pais. — Eu prometo.

Henri respirou fundo e abraçou a filha.

— Nós voltaremos em algumas horas, vamos estar a todo tempo procurando. — ele sussurrou. — Você é uma ótima garota. Eu amo você, muito.

— Já, já vamos estar todos juntos, papai. — Alice afirmou e abraçou seu pai com força. — Seja lá como for.

E logo depois abraçou sua mãe.

— Alice, eu te amo tanto. — disse Catarina, sentindo o cheiro do cabelo da filha. — Sou tão orgulhosa de você, menina.

Alice sorriu e soltou sua mãe.

— Eu amo vocês. — ela disse para seus pais.

E eles se despediram de Lídia com um beijo em sua testa, e a apertando com força.

— Não esqueça que você é nossa filha também, e nós te amamos como tal. — disse Henri, enquanto Catarina acariciava o rosto de Lydia.

Lydia fez força pra não chorar.

— Eu amo vocês, e sou grata. Prometo que todos nós estaremos em casa em breve.

Henri e Catarina assentiram e com o coração pesado deixaram a delegacia. Elizabeth guiou as meninas.

— Por aqui. — apontou a delegada para uma porta.

As três adentraram na sala de Marsh. Gelada, de paredes beges e móveis de madeira escura. Grandes e altas prateleiras cheias de livros e cadernos, e um armário que guardava os arquivos em grandes gavetas ordenados por ordem alfabética.

— Você é uma excelente mentirosa. — disse a delegada, sorrindo para Alice como se fosse um elogio. — Eu sei que não posso esconder nada dos seus responsáveis, mas agora estamos sem tempo, então, sentem-se.

— Obrigada, eu acho. — murmurou Alice, sentando-se ao lado de Lydia.

Elizabeth uniu as mãos sobre sua mesa e encarou as meninas.

— Eu sei que estão surpresas, assustadas e devem estar realmente querendo falar melhor com seus pais, para explicar tudo e se desesperarem por seu irmão ser um assassino psicótico a solta. — Elizabeth falou com um tom tedioso, nada sensível. — Mas enfim, eu sei que o amam, mas eu preciso pegá-lo. Eu conheço os psicopatas e estou neste ramo há muitos anos. Eu arruinei seu plano de matança desmascarando a sala de bate-papo, o impedindo de pegar suas vítimas. Ele vai se sentir frustrado e pode – e vai— fazer loucuras com sua ira doentia. Eu preciso pegá-lo antes que isso aconteça.

Para Alice e Lydia aquilo não soava como Soul. Nem um pouco. Ira doentia, psicopatia. O garoto colecionava bonecos funko.

— Precisamos ajudá-la. — Alice sussurrou para Lydia, e voltou seus olhos para delegada. — Foram famílias destruídas. Irmãs perderam irmãos, pais perderam filhos, e eu soube de uma garotinha de seis anos que enlouqueceu! Nós vamos ajudar. Não vamos, Lydia?

Lydia demorou alguns segundos para responder, mas logo limpou a garganta e olhou para a delegada, hesitante.

— É claro. — ela respondeu, mas sua voz vacilou.

Elizabeth tinha um sorriso triunfante em seu rosto.

— A caminho daqui, eu tive uma ideia. — começou a delegada. — Vocês falaram sobre os bilhetes, dizendo que ambas o receberam e que a letra era bem parecida com a do Soul. O que esses bilhetes diziam exatamente?

— Você está fora da lista. — Respondeu Alice. — E era assassinado com o nome de Galeno.

— Galeno, além de ser ao assassino da história, é o nome do criador da sala de bate-papo. — perguntou Elizabeth, abrindo seu bloco de notas. — Alguma vez vocês já estiveram naquela sala?

— Eu nunca nem tinha ouvido falar dela até aparecer na TV, se quer estado nela. — respondeu Lydia.

— Nem eu. — concordou Alice.

— Então, aparentemente, Soul as queria em segurança. Ele estava matando leitores de sua história favorita, mas quis poupar as irmãs. — disse a delegada, anotando algo em seu bloco.

— Leitores fantasmas. — acrescentou Alice. — Leitores que não comentavam a história, que não deixavam o feedback.

— Eu não vejo motivos para ele fazer isso, afinal acaba sendo bem hipócrita já que nem ele comentava. — Lydia deu os ombros.

— Menina, os psicopatas não precisam de motivos. — a delegada afirmou, fechando seu bloco e fitando Lídia. — Leve isto para a sua vida.

— Não importa mais. — perguntou Lydia, sua expressão havia passado de dor para vazio. — O que você quer que façamos?

Elizabeth limpou a garganta, levantou-se de sua cadeira e apoiou seus braços em sua mesa de madeira rústica, fitando Alice e Lydia de cima para baixo.

— Eu as mandaria para a casa para esperar com seus pais, mas meu plano, infelizmente, envolve vocês. Se Soul quer protegê-las tanto assim, vamos colocar o nome de usuário de uma de vocês dentro da sala, procurando por Galeno, dizendo que quer ir até a sala privada. Eu estarei conversando com ele, através do cadastro de uma de vocês. Vou pedir para ele parar, se ele as ama tanto como parece, ele irá se render. Espero. — explicou Elizabeth. — Vou fazer tudo isso em um lugar isolado daqui.

— Eu conheço um galpão no centro, é abandonado, e tem sinal de rede. — disse Lydia.

— Ótimo, levarei um notebook e...

Alice a interrompeu, levantando-se.

— Nós iremos com você, não use os verbos em primeira pessoa. Nós iremos. — Alice exigiu. — Eu quero ver isso acontecer.

— Alice, não...

— Nem vem, Lydia. — Alice insistiu. — Nós vamos.

Elizabeth negou e por fim assentiu. Junto a duas viaturas e Buckerman, elas seguiram até o galpão indicado por Lydia, um pouco afastado do centro do Condado. Chegando lá, Buckerman montou uma mesa com umas latas grandes e uma tábua de madeira por cima, e Elizabeth pôs o notebook sobre e acessou a sala de bate papo, e digitou a senha: ALICIDIA.

— Alicidia. — disse Marsh, olhando para as meninas. — Alice e Lydia. Faz sentido.

Ambas franziram a testa.

— É a senha da sala, Soul deixou a marca de sua identidade em cada passo. Incrível. — a delegada quase parecia gostar. — E então, qual das duas vai ser?

Alice tomou a frente do aparelho. Digitou seu nome de usuário do site de história naquele site de bate-papo, e rapidamente logou como AlliVe. Elizabeth logo tomou a frente e solicitou a entrada na sala privada, o que não demorou muito para ser aceita, em poucos minutos ela estava lá com Galeno.

Galeno: Faz tanto tempo que eu não vejo alguém que queira se juntar a mim, ah, estava com saudades disso.

AlliVe: Pare com isso. Eu sei quem é você, não me reconhece? Não reconhece o meu nome?

Galeno: Ha! Você me conhece? Oh, quem sou então?

AlliVe: Soul. Meu irmão. Sou eu, Alice. Pare com isso, volte pra casa.

Galeno: Irmão?! Soul? Você está louca?! Pare de bancar a idiota. Vai querer o meu presente, ou não?!

AlliVe: Que presente?

Galeno: O mesmo que eu envio para todos os meus amigos que passaram por aqui e chegaram aonde queria. Você terá que usá-lo para a nossa próxima conversa funcionar.

AlliVe: Próxima conversa? O que há nessa próxima conversa? E que presente é esse?

Galeno: Você o receberá dentro de algumas horas, o use e volte aqui às 19hrs. Terá a melhor noite da sua vida. Você virá e usará o presente, não é mesmo?

Por um momento, Elizabeth tinha mudado todo o rumo de seu plano.

AlliVe: Estarei aqui. Às 19hrs, online, usando o seu presente.

Galeno: Até mais, AlliVe.

E Elizabeth fechou a janela da sala de bate-papo, desconectando-se. Fechou o notebook e encarou as garotas e Malcolm, dizendo:

— Mudança de planos.

**

E Soul já tinha seu plano.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por terem vindo até aqui sz