O Grande Rei Pedro andava rapidamente de um lado pro outro do seu quarto a fim de tentar se acalmar. Seus nervos estavam à flor da pele e não poderia estar mais ansioso para a festa, ou melhor, para ver Astride de novo. Desde aquele “mal entendido” com a Mary, ele ainda não teve coragem para ir falar com ela ou ao menos pedir desculpas, estava muito envergonhado por ter mentido daquela maneira para a garota que amava, porque agora, ele tem certeza, se é que em algum momento teve alguma dúvida. Ele amava Astride e queria de qualquer jeito estar ao lado dela, mesmo que isso significasse magoar a Mary.

Enquanto o mais velho dos Pevensie lutava pra procurar as palavras certas para contar a verdade a Mary e Astride, o mesmo ouviu alguém bater na porta de seus aposentos. Uma ponta de esperança e felicidade tomou conta do coração de Pedro. “Será que é ela?” pensou ele poucos segundos antes de abrir a porta e vê que era só seu irmão, Edmundo.

—Ah, é só você... Quero dizer, pode entrar Ed!- disse Pedro com desapontamento estampado na face.

—Nossa irmãozinho, estou tão feio assim?- brincou Ed, como sempre tentando tirar o melhor da situação.

—Não é isso, mas afinal porque você está sempre fazendo piadas?- disse Pedro meio irritado com o forte senso de humor do irmão, mas logo que viu que o havia magoado, se sentiu totalmente envergonhado. –Me desculpe Ed, não deveria descontar o que ta acontecendo em você!-

—Você sabe exatamente o porquê que eu sou assim, aqueles dias não foram fáceis, eu não conseguia ver alegria em nada, somente tristeza... E agora que estou com vocês novamente, pensei que poderia mostrar quem realmente sou!- disse Ed num tom sério, algo que raramente acontecia.

Antes te vir para Nárnia Ed tinha certa intriga com os irmãos, principalmente com Pedro, o mais velho, que sempre queria mandar nele. Mas depois que foi enganado e capturado pela feiticeira, ele se viu sozinho, sem sua família, aquilo lhe trouxe uma tristeza imensa, lhe fez pensar que não havia mais esperanças, que nunca mais os veriam. Mas graças a Aslan, ele foi resgatado e perdoado por todos. Estava com sua família novamente, com seus irmãos amados, e aquilo lhe fez ter uma paz de espírito que poucos de sua idade conseguem ter. Ele estava feliz e queria que todos soubessem disso, e o senso de humor marcante foi o modo em que ele conseguiu demonstrar o quão estava bem e agradecido por não estar mais sozinho.

—Sério Ed, me desculpe!- disse Pedro sinceramente. Sentia-se responsável pelo irmão mais novo, e acima de tudo o amava, e quase perdê-lo duas vezes fez Pedro para de brigar e aproveitar cada segundo com Ed.

—Tudo bem cara, agora me diga, o que está se passando nessa sua cabeçinha linda?- perguntou Ed com seu sorriso sapeca de sempre.

—Ainda não sei o que falar pra elas Ed, nem sei como começar... E se elas não quiserem me ouvir, ou pior, ficarem magoadas comigo?- disse Pedro com ar desesperado.

—Calma ai garanhão, quem mandou querer logo duas, a culpa não é minha!- brincou Ed, fazendo o irmão rir. –Mas sério, na hora você vai pensa em algo pra falar, improvisa, você sempre foi bom nisso!-

—Acha que vai dar certo?- perguntou Pedro com um olhar duvidoso pro irmão.

—Claro que vai, afinal, o pior que pode acontecer é elas duas se juntarem e tramarem uma vingança maquiavélica contra você!- disse Ed sério, tentando fazer a informação parecer verídica. Imediatamente O Grande Rei ficou pálido como a neve, apenas pensar na ideia das duas juntas querendo vingança, o fazia morrer de medo.

—Calma Pedro, só to tirando uma com sua cara... Devia ter visto como ficou, todo assustado!- disse Ed agora caindo na gargalhada.

—Engraçadinho, não teve graça!- continuou Pedro ainda meio assustado com a ideia.

—Deixa isso pra lá, estamos perdendo a festa! Devem estar todos esperando pela gente!- concluiu o Rei Edmundo enquanto saia dos aposentos do irmão, sendo seguido pelo mesmo.

Enquanto isso, a festa já havia começado. Toda sala dos tronos havia sido enfeitada com tecidos vermelhos e estandartes de Nárnia. Assim como na noite da visita de Lilith, imagens do Grande Leão eram vistas por toda parte, mas agora o brasão da coroa de Nárnia estava junto do brasão da Senhora de Nárnia, sendo esse composto por um circulo perfeito, envolto por um leão do lado esquerdo e por uma onda de mar no direito, e no centro uma rosa negra e uma coroa dourada.

Uma enorme mesa foi posta no extremo leste do salão e nela o grande e delicioso banquete se encontrava. No extremo oeste uma banda instrumental tocava as mais famosas baladas de Nárnia, e ao lado dos músicos havia algumas mesas com cadeiras para os convidados, e que no caso era todos do reino. No centro, bem em frente aos quatros tronos, a pista de dança já estava cheia de narnianos, que dançavam alegremente, até que viram o Grande Rei Pedro e o Rei Edmundo se aproximarem.

—Viva o Rei Pedro, viva o Rei Edmundo... – disseram todos enquanto faziam uma reverência e no mesmo momento que o fizeram voltaram a gritar. –E viva a Rainha Lúcia!- continuaram ao ver Lúcia se aproximar dos irmãos com um sorriso no rosto.

—Lúcia, você está linda!- disse Pedro ao abraçar a irmã mais nova.

—Assim como a festa, tenho que te da os meus parabéns, você ta ficando boa nesse lance de organizar festas!- disse Ed com um sorriso brincalhão da face.

—Tive uma ajudinha do Sr. Tumnus!- disse Lúcia com um sorriso. –Você dança comigo Ed, eu adoro essa música! - continuou ela, mas nem deu a chance do irmão mais velho responder e já foi o puxando para pista de dança.

—Boa sorte Pedro!- disse Ed para o irmão com uma piscadela enquanto era puxado para dançar.

—Boa sorte? Mas como assim...?- e antes que Pedro percebesse do que ele estava falando os narnianos presentes voltaram a gritar alegremente.

—Viva a Rainha Susana... - disseram todos enquanto faziam uma mesura para a rinha gentil.

Pedro seguiu o olhar de todos e então viu ela. Estava ao lado de Susana, e mesmo que sua irmã estivesse linda, céus, Astride estava deslumbrante. O vestido que a emprestaram lhe caiu bem, muito bem na verdade, parecia uma rainha. E seu rosto, há, o seu rosto, já não parecia tão pálido, estava até com um ar bronzeado. Estava ainda mais maravilhosa do que antes. Ela era a mulher mais bela que ele já tinha visto. O coração de Pedro começou a bater mais forte a cada segundo que passava a olhar para Astride, sentia uma vontade imensa de correr até ela e a segurar em seus braços como se não houvesse mais ninguém ali. Mas infelizmente não podia fazer isso, pelo menos não no momento.

—E viva a Senhora de Nárnia!- disseram todos agora mais alegres do que antes fazendo Astride abrir um enorme sorriso, daqueles que vão de orelha a orelha.

Ela se sentia em casa, apesar de estar bem longe dela. Todo aquele amor e alegria que sentia dos narnianos fazia Astride se sentir bem e mais forte para o que estava por vir. Contudo, tudo isso sumiu num passe de mágica quando ela olhou para Pedro, que a observava com um sorriso bobo na face. Em apenas um olhar, a jovem moça conseguiu se esquecer de todos os problemas e só conseguia pensar no que sentia por seu rei. Ela sabia, e por mais que negasse para se mesma, o amava como nunca amou alguém antes. Mas as dúvidas e medos a consumiam por dentro, fazendo-a esquecer de todo esse amor e só se lembrar da mentira que lhe foi contada.

Pedro percebeu que ela estava triste, mesmo que disfarçasse bem, dava pra se ver no fundo dos olhos dela que estava magoada, e ele sabia o porquê. Tinha que se desculpar e pedir uma nova chance, e era exatamente isso que iria fazer. Enquanto respirava fundo e tentava encontrar coragem pra começar a caminhar, o mais velho dos Pevensie ouviu uma voz. Era Mary. Ela se aproximou com um sorriso no rosto.

—Ah Pedro, é tão bom ter você aqui de novo!- disse e então o puxou para um abraço.

Pedro não negou o abraço, gostava da Mary, nunca disse o contrário, mas ao abraça-la, ficou de frente para Astride e pode ver uma lágrima escorregar pelo seu rosto. Aquilo foi como uma facada no coração. Saber que ela estava infeliz por algo que ele havia feito, acabou com o Grande Rei, que agora já não se sentia tão grande assim.

—É bom está de volta!- disse Pedro quase num sussurro, deixando transparecer toda sua tristeza.