Loving can hurt sometimes escrita por Luna Lovegood


Capítulo 1
Photograph


Notas iniciais do capítulo

Resolvi deixar de ser apenas leitora de fanfics, e escrever a minha própria história. Por favor sejam bonzinhos essa é a minha primeira fic! Espero que gostem! bjs!



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Loving can hurt

Loving can hurt sometimes

But it's the only thing that I know

And when it gets hard

You know it can get hard sometimes

It is the only thing that makes us feel alive

We keep this love in a photograph

We made these memories for ourselves

Where our eyes are never closing

Hearts were never broken

And time's forever frozen still

(Photograph - Ed Sheeran)

 

Felicity Smoak

Minha cabeça latejava.

Sendo mais específica, parecia haver uma britadeira tentando perfurar o meu crânio. Meu corpo estava tão mole quanto gelatina, eu mal conseguia me movimentar sem sentir meus músculos protestando e uma pontada de dor nas costas. A boca estava seca, eu sentia uma sede descomunal. Aquela parecia uma ressaca épica, e o engraçado é que eu nem me lembrava de ter bebido na noite anterior.

Mas eu poderia apostar que tinha o dedo do Oliver nessa história, ele provavelmente deve ter comprado aquele vinho tinto que eu amo, ele bebeu uma taça e eu pelo menos três ou a garrafa inteira e aí... Suspirei sentindo um arrepio gostoso na pele apenas em pensar no que veio depois. Não existia nada nesse mundo melhor do que ser casada com Oliver Queen.

Tateei a cama a procura do corpo rígido do meu marido, eu queria acordá-lo e pedir por um pouco de mimo, o que era obrigação dele já que tinha me deixado nesse estado, mas estranhamente não o encontrei. Decidi chamar por ele, mas a minha voz saiu rouca e áspera machucando a minha garganta. Abri os olhos com certa dificuldade, pronta para encarar as paredes cor de areia do meu quarto e implorar por uma aspirina, mas dei de cara com uma luz florescente no teto. Pisquei várias tentando me acostumar com a claridade excessiva que prejudicava a minha visão e deixava meus olhos doloridos, depois de algum tempo as imagens ao meu redor foram se focalizando e assimilei tudo com certo receio. Aquele definitivamente não era o meu quarto, onde estava o papel de parede com desenhos vitorianos? Ou o criado mundo onde eu deixava os meus óculos? Tudo ali era excessivamente branco, com toques de um azul claro enjoativo.

Só então eu compreendi, eu devo ter bebido tanto vinho na noite passada que vim parar no hospital!

— Que bom que acordou! —disse a jovem de cabelos escuros que estava sentada em uma cadeira próxima a minha cama lendo uma revista, deduzi que ela devia ser uma enfermeira por causa do seu uniforme azul e da cara de tédio que ela nem disfarçava. — Vou chamar a Dra. Snow. — completou com certa animação enquanto apertava um botão vermelho ao lado da cama, parecia aliviada por se livrar do trabalho de me monitorar.

— O que aconteceu? — perguntei erguendo o meu corpo tentando me sentar. Foi quando eu senti uma pontada aguda nas costas e imediatamente voltei a ficar deitada. Aquilo não parecia nada bom!

— Não faça muita força! É melhor ficar deitada. — aconselhou a mulher que adentrava no quarto vestindo um jaleco branco — Meu nome é Dra. Caitlin Snow, eu sou a sua médica, mais especificamente neurologista. - Havia um sorriso simpático no rosto dela quando disse isso.

Pisquei os olhos tentando assimilar tudo. Porque eu precisaria de uma neurologista? Eu só tomei um porre! Eu precisava de uma aspirina para a dor de cabeça, pomada para as costas, muita água para curar a minha ressaca e provavelmente estar de volta ao meu quarto onde poderia me enrolar no corpo de Oliver e dormir por mais uma hora ou seis. 

— Eu não entendo. — desabafei, recebendo seu olhar analisador. — Por que eu preciso de uma neurologista? Não me leve a mal, não é nada pessoal. Mas eu acho que eu apenas bebi um pouco além da conta ontem, eu só preciso ir para casa. —expliquei, recebendo da Dra. Snow um olhar confuso. — Onde está Oliver? — Perguntei por fim estranhando a ausência dele aqui. Não era do feitio dele me deixar sozinha num quarto de hospital. Me lembro de quando eu tive uma reação alérgica durante um jantar em um restaurante tailandês, Oliver ficou apavorado e não saiu do meu lado por nenhum momento.

Ele era assim, cuidadoso e extremamente preocupado.

— Você sofreu um acidente de carro na noite de sexta-feira e está em recuperação no Hospital Geral de Starling. — se aproximou vagarosamente, seu tom era calmo, porém os olhos eram aguçados. —Você fraturou duas costelas, machucou o pulso direito e bateu bem forte com a cabeça. Seu carro vinha de Central City para Starling City quando capotou na estrada.

Tentei não entrar em pânico, mas foi impossível. Quem mais estava no carro? Será que Oliver estava ferido também e era por isso que não estava aqui? Será que eu machuquei alguém?

— Oh, meu Deus! Alguém mais se feriu? Meu marido, ele... — verbalizei meu medo, mas apavorada com a possibilidade de uma resposta positiva.

— Não, não se preocupe, você estava sozinha. — Suspirei aliviada enquanto ela continuava — Infelizmente os seus pertences que estavam dentro do carro queimaram quando ele entrou em combustão. A equipe de resgate fez um excelente trabalho te tirando de lá a tempo. — ela disse com um meio sorriso, enquanto eu me dava conta do quão grave o acidente realmente tinha sido.

— Foi realmente feio.

— Sim foi, mas felizmente você está bem. — sorriu— Mas nós não temos a sua identificação então eu precisarei que você me diga seus dados e a quem eu devo avisar.

Assenti com a cabeça, parando ao notar que aquilo a fazia doer mais.

— Meu nome é Felicity Smoak Queen... — vi a médica unir as sobrancelhas quando mencionei meu último sobrenome, mas acabei ignorando, já estava acostumada a receber essa reação, afinal a família Queen era uma das mais prestigiadas e conhecidas da cidade. — Isso é muito estranho eu nem me lembro do acidente, ou de estar vindo de Central City para Starling. Tem certeza que não trocou a ficha dos pacientes? — perguntei num último fio de esperança de que aquilo fosse apenas um caso extremo de excesso de vinho.

A médica sorriu condescendente.

— Eu posso te garantir que não troquei as fichas. E não se preocupe com o lapso na memória isso é normal em acidentes de carros. — disse me lançando novamente um sorriso amigável — Nosso cérebro tende a bloquear as lembranças traumáticas do dia, um modo de se proteger.

— Faz sentido. — concordei, talvez assim fosse melhor. Não queria reviver um momento assim tão ruim

— Agora eu preciso que responda algumas perguntas enquanto eu checo você.

— Claro. — assenti com a cabeça, a dor piorando e me lembrando do porquê aquela ser uma péssima ideia.

Passei meus dados para a Dra. Snow, endereço e o número do celular de Oliver para que o hospital entrasse em contato. Ele deveria estar enlouquecendo sem notícias minhas. A médica fez mais alguns exames e me perguntou se eu sentia alguma dor, e apesar de sentir certo incomodo nas costas e do latejar constante na minha cabeça, eu neguei, só porque eu queria voltar logo para casa e hospitais sempre me passavam uma sensação ruim. Para meu azar a Dra. Snow não acreditou nenhum pouquinho em mim, e mandou a enfermeira aumentar a dosagem de alguma coisa e aos poucos eu senti meu corpo relaxar.

— Agora descanse um pouco, Felicity. — disse sorrindo enquanto se afastava e saía pela porta — já pedi para que entrem em contato com o seu marido e ele logo estará aqui. — tentei lutar contra o relaxamento do meu corpo, se Oliver estava vindo eu queria estar acordada. — Acredito que amanhã um perito da polícia de Central City virá falar com você.

— Polícia? Mas, você não disse que não houve vítimas. — questionei um pouco assustada.

— Não se preocupe é um procedimento de praxe para todos os acidentes. — explicou em um tom doce. — Apenas descanse.

Eu não queria dormir, queria estar acordada quando Oliver chegasse. Queria poder abraçá-lo e sentir o perfume dele e foi pensado nele que em poucos minutos sucumbi ao sono.

***

Quando eu abri os olhos pela segunda vez, a luz florescente no teto já não me incomodava tanto. Isso provavelmente porque eu tinha algo muito melhor para ver... Oliver estava sentado no sofá de couro marrom do outro lado do quarto, com os cotovelos sobre os joelhos e as mãos sobre a face... Eu não conseguia ver seu rosto, mas meu coração sabia que ele estava sofrendo.

— Amor... — o chamei. Queria tirá-lo daquele transe e queria também que ele chegasse mais perto. Eu precisava que ele estivesse mais perto de mim. Será que algum dia eu me curaria desse meu vício em Oliver Queen? Tinha sido assim desde o nosso primeiro encontro no departamento de T.I. na QC, bastou ele dizer o meu nome uma vez e sorrir daquele jeito que apenas ele sorria e pronto, eu já estava encantada.

Não que eu tenha facilitado para ele, uma garota precisa mostrar seu valor.

Oliver estava diferente fisicamente, com os cabelos mais curtos e a barba por fazer. Isso me assustou. A última coisa que eu me lembrava era de um Oliver sem barba e com o cabelo um pouco mais comprido. Fiz uma nota mental para perguntar há quantos dias eu estava no hospital.

Oliver pareceu tenso quando ergueu a cabeça das mãos e me fitou estranhamente, eu o chamei novamente e o ar saiu de seus pulmões de uma única vez, ele parecia incrédulo, mas ainda assim se ergueu e deu passos vacilantes até mim. eu percebi que havia no olhar dele um misto de preocupação e medo, o que era normal nessa situação, mas ver o rosto dele contorcer em tristeza ao me ver, me pegou desprevenida. Será que eu estava assim tão ruim? Droga, eu deveria ter pedido um espelho antes de deixar o meu marido me ver com a cara cheia de hematomas e o cabelo desgrenhado! Será que eu tinha alguma cicatriz horripilante no rosto?

— Ei... — ele se aproximou ainda incerto da cama, colocou uma das mãos sobre o colchão, mas não se atreveu a me tocar – Como você está? Está com dor? Precisa que eu chame uma enfermeira? — Era uma pergunta preocupada e educada, mas que parecia esconder tantas outras coisas.

Algo estava muito errado com Oliver, e não saber o que era me incomodava.

— Eu me sinto um pouco dolorida, mas melhor por ter você aqui comigo. — respondi, me sentando e ignorando a dor nas costas. Busquei a mão dele e a segurei junto a minha mão que estava sem imobilizador. Imediatamente senti aquela sensação de conforto e me esqueci de todas as minhas dores.

Oliver era o melhor remédio.

Ele  por sua vez olhou para nossas mãos unidas e deu um pequeno sorriso, era contido e seu semblante parecia confuso e ainda triste. Seus olhos voltaram para o meu rosto me analisando profundamente em busca de algo que eu não conseguia definir o que era.

Foi quando eu notei algo errado.

— Oliver cadê a minha aliança e o meu anel de noivado? — perguntei encarando as nossas mãos. A aliança dourada reluzia no dedo anelar dele, mas a minha mão estava completamente vazia.

 Eu vi um vinco imediatamente se formar entre as sobrancelhas dele, seus lábios se apertaram em uma expressão carrancuda. Oliver fechou os olhos e permaneceu assim por mais tempo do que o normal, enquanto ele respirava por lufadas como se tentasse se acalmar. Eu conhecia bem aquela face, eu o tinha visto assim poucas vezes, mas era algo que jamais esqueceria, porque contrastava com o Oliver que eu convivia diariamente. Esse era o semblante de Oliver quando ele sentia raiva de algo, e eu me perguntava o que poderia tê-lo deixado assim.

— Felicity... — ele começou, mas logo foi interrompido pela chegada de outro médico que eu ainda não conhecia juntamente com a Dra. Snow que segurava nas mãos uma pasta branca com meu nome na frente. O cenho dela estava franzido e ela não estava com um semblante muito feliz.

— Felicity, eu preciso que você me responda algumas coisas. — disse se aproximando e ficando a minha frente, e direcionando aquela lanterninha irritante para os meus olhos.

Isso não parecia bom. Ela estava com aquela cara dos médicos de Grey’s Anatomy quando precisam dar uma notícia ruim ao paciente. Inclusive ela estava acompanhada de outro médico, aposto que era para lhe dar algum apoio moral ou fazê-la parecer mais inteligente. Meu cérebro já maquinava as possibilidades. Seria um tumor? Eu tinha uma doença rara e incurável e só teria mais três meses de vida? Eles amputariam minha perna? Oh, Deus! Eles já amputaram a minha perna e não me disseram?

Movi discretamente as pernas por debaixo dos lençóis, satisfeitas por sentir as duas ali. Ok, pare de surtar, Felicity!

Ao meu lado Oliver apertou a minha mão, eu sentia a tensão dele, a raiva tinha se esvaído e dado lugar à preocupação. Mas eu imediatamente me senti melhor, porque eu sabia que ele estaria comigo independente do que fosse.

— Que dia é hoje? — aquilo era uma piada de mau gosto? Certo? Eu aqui pronta para receber a minha sentença de morte e ela me pergunta isso?

— 23 de abril, 25 talvez? Eu não sei quantos dias eu fiquei no hospital...

— De que ano? — ela questionou como quem não quer nada, fazendo uma pequena anotação em minha ficha.

— 2012! — respondi sem hesitar, revirando os olhos e rindo das perguntas tolas dela. Mas ninguém pareceu achar aquilo engraçado, principalmente Oliver.

Meu Deus, Oliver estava completamente atônito, a cor fugiu do seu rosto e seus olhos pareciam maiores e assustados, ele estava lívido e por um momento eu pensei que ele pudesse estar em choque. Os olhos dele sondavam meu rosto com incredulidade como se esperasse que a qualquer momento eu fosse me transformar em outra pessoa. Suas mãos apertaram a minha de um jeito diferente, protetivo e possessivo, como se quisesse garantir que elas jamais se soltariam. 

— Felicity, hoje é 18 de maio de 2015. — a Dra. Snow falou calmamente me deixando confusa — Eu chequei os resultados da sua ressonância e verifiquei uma lesão nos lóbulos temporais, não parecia grave, é minúscula e possivelmente vai se regenerar sozinha, mas agora... Eu sinto muito, ao que parece você esqueceu os três últimos anos.

Oliver pareceu perder o ar por alguns segundos.

— Oh Deus, isso tem tratamento? Eu vou voltar a me lembrar logo?

— Sinto muito, essa não é uma ciência exata. O ferimento não é grave, e há fatores psicológicos a serem considerados, as memórias podem voltar amanhã, como também podem nunca mais voltar. Você pode fazer algumas sessões com...

— Não acredito! Não é possível... Isso é um pesadelo! — eu estava surtando. Oliver sentou na beirada da cama e me envolveu com seus braços fortes, me ninando calmamente como se eu fosse uma criança, deixando beijos suaves no topo da minha cabeça.

Eu senti o coração dele, batendo forte, parecendo tão sobressaltado quanto o meu.

 — Ei, fique calma, vai ficar tudo bem. — ele assegurou entre os pequenos beijos — Eu estou aqui com você, meu amor. Eu sempre estarei aqui com você.

As palavras e o abraço de Oliver tiveram o poder de me acalmar um pouco, mas ainda assim aquela história de perda de memória era muito para processar. Eu pensava que esse tipo de coisa só acontecia em filmes de comédias românticas ruins e novelas mexicanas.

E havia algo me incomodando ainda mais.

— Me diga, qual é o problema, Felicity. — Oliver pediu, passando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. Eu quase sorri, ele era tão bom em ver além do que eu falava.

— Você não entende. — choraminguei — Não acredito que eu fui dormir ontem com vinte e quatro anos e acordo hoje com vinte sete!

Isso foi o suficiente para todos na sala rirem, inclusive Oliver que estava muito mais leve agora. Eu não via razão para alívio! Eu estava velha! Eu precisava de um espelho urgentemente, não para checar os meus hematomas, mas sim as minhas rugas!

Eu perdi três anos da minha vida! Três anos! Eu nem sabia quem era o presidente dos Estados Unidos mais. Ou se estávamos em paz com o Oriente Médio. Ou qual versão do Windows nós usamos em 2015. E o pior eu perdi uma temporada e meia de Doctor Who, isso não é justo!

Oliver não parecia nem um pouco preocupado com a minha amnésia. Ele simplesmente disse que faríamos novas lembranças, melhores que as anteriores. Ele disse que me faria tão feliz, que eu nem iria querer as antigas lembranças de volta! E por mais que eu acreditasse na capacidade dele de me fazer delirantemente feliz, eu sempre teria essa sensação estranha de que havia páginas faltando no livro da minha vida.

***

Eu finalmente terei a minha alta! Depois de dois dias, eu já estava farta daquela gelatina vermelha que eles diziam ser de morango, mas que eu tinha certeza que era de groselha. Oliver me prometeu que me compraria um sanduíche daqueles bem calóricos com batatas fritas salgadas e muito catchup no big belly burguer, infelizmente não poderíamos ir a lanchonete, já que eu deveria ficar em repouso absoluto! Por longas três semanas, como eu conseguiria ficar parada por tanto tempo?  E Oliver levava as ordens médicas a sério... Infelizmente.

 Ouvi batidas na porta e logo em seguida uma enfermeira entrou acompanhada de um jovem de cabelos castanhos e sorriso fácil, a moça disse que era o tal perito da polícia que viera me fazer algumas perguntas, não que eu pudesse ajudá-lo em algo, afinal eu não me lembrava de nada. A enfermeira nos deixou a sós e o rapaz se aproximou da cama com um sorriso, ele carregava uma mochila marrom e assim que se aproximou mais acabou esbarrando em um dos equipamentos médicos.

— Me desculpe, me desculpe, me desculpe. — repetiu várias vezes enquanto tentava arrumar a bagunça que fizera. Me simpatizei imediatamente com o rapaz, ele era um desastrado exatamente como eu. —Eu não desliguei nada importante, desliguei?! — questionou em tom baixo e alarmado.

— Eu ainda estou viva, então acho que não. — respondi rindo.

— Prazer sou Barry Allen. — se apresentou. — E você é Felicity Smoak Queen? Certo?

— Sim, prazer em conhecê-lo senhor Allen. — Havia algo de agradável nele, sabe aquele tipo de pessoa que é simplesmente adorável sem nem tentar? Ele era exatamente assim.

— Me chame apenas de Barry. — disse enquanto puxava uma cadeira, retirou a mochila das costas a colocando displicentemente no chão e sentando-se — Eu vou fazer algumas perguntas simples que irão me ajudar a realizar a perícia no seu carro. — falou, retirando uma agenda — Qual a velocidade a que você estava dirigindo?

— Eu não me lembro.

— Havia algo na pista que atrapalhasse a aderência do carro?

— Eu não me lembro. — repeti.

— A estrada estava bem iluminada ou...

— Eu não me lembro de nada dos últimos três anos. — O interrompi antes que ele continuasse a seguir com as perguntas para as quais eu não teria uma resposta. Barry arregalou seus olhos verdes para mim, como se analisasse um exemplar de animal extinto.

— Isso é incrível. — soltou ligeiramente animado, e não pude evitar arquear as minhas sobrancelhas com aquela declaração — Quero dizer é horrível para você. — Tentou um tom mais condescendente dessa vez — Mas você tem que concordar que é quase como aquele filme com o Adam Sandler, que sempre que a garota dorme ela se esquece o dia anterior. 

— Ei, eu consigo me lembrar de tudo o que aconteceu depois do acidente. Bem, eu acho que consigo. — forcei minha mente a lembrar de tudo desde o momento que acordei nesse hospital — Sim, eu consigo. — confirmei aliviada.

— A mente humana é um mistério. Eu posso ver a sua radiografia?

— Claro — respondi rindo da animação dele.

Barry me mostrava animado o ponto no qual ele achava que tinha ocorrido a lesão.  A essa altura ele já estava sentado bem próximo de mim, explicando coisas como: o que leva a perda de memória, que pode ser emocional ou físico. Deduzi que talvez ele quisesse ter sido médico, ou pelo menos demonstrava ser um grande aficcionado pelo assunto. A tagarelice de Barry foi interrompida por um pigarrear de garganta, ergui meus olhos e vi Oliver apoiado na porta do quarto com os braços cruzados e com a expressão fechada.

— Algum problema? — a voz de Oliver era fria.

— Não, já acabamos aqui. — Barry respondeu, imediatamente se afastando de mim.

— Ótimo. — Oliver manteve a postura dura e intimidante.

— Eu aviso assim que tiver o resultado da perícia. — Barry recolhia as suas coisas com rapidez, tentando, sem muito esforço não tropeçar nos próprios pés —- Com licença, senhor.

Tão logo Barry saiu o semblante de Oliver se suavizou e um sorriso brincalhão surgiu em seus lábios.

— Eu te deixo sozinha por apenas alguns minutos e já tenho concorrência. — sentou-se na cama ficando de frente para mim, as mãos dele imediatamente procuraram pelas minhas, como se sentissem saudades de me tocar.

— É tão engraçado que você pense que eu quero alguém além de você, senhor Oliver Queen. — falei com um sorriso, e ele sorriu de volta para mim.

— O que foi? — questionei confusa.

— Nada. Quero dizer é só o modo como você disse o meu nome, fazia tempo que não escutava você dizê-lo nesse tom. 

— Que tom? — ele desviou o olhar do meu e se levantou abruptamente.

— Eu preciso ir, ainda tem os papéis da sua alta para assinar. Eu não demoro, quero te levar logo para casa. — disse se despedindo de mim com um beijo suave na testa.

Poucos minutos depois da saída de Oliver, Sara, minha melhor amiga, passou  para me visitar. Conversamos por um bom tempo, ela disse que eu não havia esquecido de muitas coisas, desconversou sobre muitos de meus questionamentos e no fim disse que basicamente a vida continuava do mesmo jeito exceto que  ela e Nyssa haviam finalmente se casado.

— Não acredito que perdi o seu casamento! — eu lamentei realmente chateada.

— Você não perdeu, Felicity. Você foi a madrinha! Eu levarei as fotos para você ver tão logo você saía do hospital. Quem sabe isso não te ajuda a lembrar?

— Como você pretende ajudá-la a se lembrar, Sara? — Oliver falou, parecendo  um pouco aborrecido por encontrar a Sara ali. Eu podia jurar que tinha uma tensão entre eles. Como se Oliver não quisesse que a Sara estivesse aqui e ao julgar pela expressão de Sara ela não parecia nem um pouco contente com a chegada do meu marido. Pensei que estava imaginando coisas, até porque éramos todos amigos há certo tempo. 

— Ela acha que se eu olhar para algumas fotografias do tempo que esqueci isso pode me ajudar, amor.  Não parece uma boa ideia? — expliquei

— Claro. — Oliver falou parecendo distante. — Sara, podemos conversar um momento? 

Sara assentiu deixando o sofá e seguindo Oliver pela porta. Não sei o que me fez ir até eles, talvez o tom não muito amigável do meu marido ou a expressão irritadiça torcendo o nariz que Sara fez, quando ele a chamou. Fui até a porta do quarto e deixei apenas uma fresta aberta permitindo que o som entrasse com mais facilidade.

— Por favor, Sara faça isso por mim. Eu imploro. — Oliver pedia.

— Eu não farei por você, farei pelo bem estar da Felicity. — Sara respondeu com frieza — Mas eu ficarei sempre por perto, não pense que vou deixar isso ir muito longe, no momento em que eu perceber que algo está errado você estará ferrado. — advertiu antes de dar as costas e partir.

Isso me deixou meio chateada porque aparentemente minha melhor amiga e meu marido brigaram nesses três anos que eu perdi, e estavam deliberadamente fingindo que nada havia acontecido, pelo menos na minha frente.

Vi Oliver virar em direção ao quarto, imediatamente saí de perto da porta e corri em direção à cama, de jeito nenhum ele iria me pegar bisbilhotando. Comecei a mexer nas roupas que a enfermeira deixou ali, as que eu usava no dia do acidente. Não sei por que me devolveram aquilo, fedia a fumaça e sangue seco e estava bem deteriorada, não é como se eu quisesse guardar isso de lembrança a não ser que eu quisesse usá-la no Halloween.

— Já assinei toda a papelada, você está finalmente livre para ir para casa — Oliver disse assim que entrou no quarto, veio até mim e me deu um beijo na testa.

Decidi me livrar logo da dúvida que me corroía.

— Está tudo bem entre você e a Sara? Eu senti uma tensão entre vocês. — soltei como quem não quer nada, enquanto dobrava a roupa.

— O quê? Não, nós estamos bem... — mentiu — Apenas estamos preocupados com você.

Olhei dentro dos olhos dele. Porque ele mentia bem na minha cara? Suspirei frustrada voltando ao trabalho de dobrar a calça jeans. O que estava acontecendo com todos a minha volta? Foi quando do bolso da calça caiu uma fotografia, e por mais que eu estivesse chateada com a mentira dele eu não pude evitar sorrir. Era uma foto minha com o Oliver no dia do nosso casamento.

— Eu amo essa foto — comentei mostrando-a ao Oliver. — Era de se imaginar que ela estaria comigo no acidente, eu costumo levar ela a todos os lugares que eu vou. Assim eu sinto menos a sua falta.

Os olhos dele brilhavam emocionados para mim e um imenso sorriso iluminou seu rosto, havia uma emoção a mais que eu não consegui distinguir, mais que se tornava maior enquanto Oliver dava alguns passos até mim diminuindo a distância.  Eu me perdi no azul intenso dos olhos dele, naquele brilho feliz e esperançoso, Oliver por sua vez ergueu uma das mãos até meus cabelos, colocando uma das mechas cuidadosamente atrás da orelha.

— Eu amo tanto você que as vezes isso chega a doer. — confessou com a voz embargada de tantos sentimentos que fizeram o meu coração se apertar em resposta.

Eu não queria que o amor dele por mim machucasse, eu só queria fazê-lo feliz. Mas, antes que eu pudesse dizer isso ele me puxou delicadamente pela cintura com uma das mãos, enquanto com a outra ele delineava o contorno dos meus lábios. Meu corpo inteiro se arrepiou com o toque. Nossas respirações se misturavam e de repente seus lábios encontraram o caminho para os meus, sua língua tracejava lentamente o meu lábio inferior fazendo-me estremecer e entreabrir os lábios  esperando avidamente por mais. A boca dele tomou completamente a minha, saqueando-a num beijo lento e torturante, era tão bom sentir o gosto mentolado dele explodindo na minha boca, a sensação quente da língua dele deslizando sensualmente sobre a minhas, e suas mãos sobre a minha pele me fazendo querer muito mais.

Porém, cedo demais Oliver finalizou o beijo e se afastou.

Quando eu abri meus olhos novamente, eu encarei Oliver tão afobado e surpreso com a intensidade das sensações que aquele beijo despertara quanto eu. E então nós dois sorrimos um para o outro.

Sorrimos porque sabíamos que o que tínhamos era especial.

Com Oliver eu sentia uma conexão que eu nunca senti antes. Era amor, desejo, paixão, cumplicidade, amizade... Sabe aquele amor de livro que a maioria das pessoas passa a vida inteira procurando? Aquela sensação rara de pertencer a alguém? De sentir o chão debaixo dos seus pés desaparecer quando a pessoa te beija?  Aquele tal de amor verdadeiro. Eu o tinha, eu vivia isso e nem precisei procurar, ele simplesmente me encontrou.

Eu sabia que isso nunca mudaria.

Mais cedo ou mais tarde eu descobriria o que estava acontecendo com Oliver e Sara. Mas naquele momento eu tinha duas certezas: 1) Que Oliver Queen me amava. E 2) Eu amava ele também. E isso era suficiente.

Peguei a mão dele e segurei na minha, sentindo o familiar arrepio na pele quando tocava a pele dele.

— Vamos para a casa.


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Devo continuar ou escrever não é pra mim? Não me deixem surtando aqui, por favor comentem! bjssss