Páginas de um Homicídio escrita por Tormenta, NãoHumano


Capítulo 2
Capítulo I - Beatrice


Notas iniciais do capítulo

Aqui é a tormenta (de novo sim)a história é toda escrita em 3ª pessoa mas cada cap foca em um dos personagens que vocês vão conhecendo ao longo da fic.

enjoy °3°



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Três meses, pensou Beatrice. Três meses que ela não me liga, ou me envia uma mensagem... É como se... ela tivesse simplesmente me abandonado, e deixado de lado.

Os lábios trêmulos da garota batalhavam para não serem despejados, junto com o choro que ela também segurava, seus olhos chegavam a arder pelas lágrimas contidas.

Era início de Outono, uma leve neblina sobre Juiz de Fora, e a temperatura era decadente. O edifício em que Beatrice morava ficava logo ao lado do Parque Halfeld, que já estava vazio a essa hora com esse tempo. O relógio antigo, que ficava no corredor da casa que sua mãe dividia com o tio de Beatrice, badalava suavemente 21 vezes. E logo Elisa, mãe de Beatrice, a chama para o jantar. Não demora muito para que Beatrice chegue à cozinha.

Um balcão simples de granito negro e quatro bancos azuis eram o bastante para o apertado apartamento. Henrique, tio de Beatrice e o irmão mais novo entre 5 filhos, ainda com seus 32 anos, era solteiro e antes do divórcio de Elisa e Marcos, morava sozinho.

O cheiro do estrogonofe de frango servido inundava a cozinha, e o tio que geralmente costumava ser brincalhão e animado, estava quieto. A mãe também estava mais calada do que o normal. E Beatrice piorava cada vez mais com a falta que Alicia a fazia.

– E então? Como foi seu dia? – disse Henrique, tentando puxar conversa com a sobrinha, e quebrar o notório e constrangedor silêncio que se abrigava no ambiente.

– Foi normal – Beatrice respondeu rapidamente, sem ter muito o que falar. Logo em seguida, o ritmo monótono da cozinha voltou.

Ao final do jantar, antes que Beatrice ou seu tio levantassem da mesa, Elisa finalmente pronunciou:

– Beatrice, precisamos conversar.

O estômago da garota revirou. Ela não gostava de como essa frase soava “precisamos conversar”, as três últimas vezes que ela ouvira aquilo, só fizeram a vida de Beatrice piorar. A primeira vez no divórcio de seus pais, a segunda vez quando Elisa decidiu que se mudariam, e na terceira vez, a três meses atrás, quando ela própria as pronunciara revelando para Alicia que ela e sua mãe deixariam Oasis

Beatrice que já se preparava para levantar, abaixou a cabeça. Seus olhos fixos na bancada e suas mãos, encolhidas em seu colo. Seu tio se levantou e recolheu os pratos, deixando-os na pia, atrás do balcão. Sentiu que sua mãe esperava que a filha a olhasse antes de continuar, e logo, Beatrice o fez, os olhos castanho-amendoados de Elisa a fitavam e a garota pôde ver a tristeza que eles abrigavam. A mãe piscou os olhos algumas vezes antes de prosseguir, e o ar de tristeza saiu de sua face, dando lugar agora, apenas ao neutro do dia-a-dia.

– Nós iremos voltar para Oásis, na próxima semana – Elisa disse rapidamente. Beatrice se encheu de emoção e felicidade, ela mal esperaria para ver Alicia de novo.

O motivo para que Beatrice nunca tivesse voltado para Oásis, exceto uma vez, era o o nojo que sentia do próprio pai, que traíra a mãe, com uma mulher que tinha cerca de vinte e poucos anos, esse fora o motivo do divórcio. O pai até mesmo oferecera para que ela ficasse na casa dele, mas recusou rapidamente.

– Já resolvi a matrícula no instituto privatizado de lá, aquele que você sempre quis estudar – a mãe sorriu.

– - -

Era quase uma hora da manhã quando Beatrice despertou com o bipe de seu celular, a garota havia recebido uma mensagem. Esfregou os olhos e tateou debaixo do seu travesseiro, onde geralmente deixava seu celular quando caia no sono.

Desbloqueou o celular, a luz forte a cegou instantaneamente, mas picando várias vezes, sua vista se acostumou à luminosidade. O número que havia enviado a mensagem era bloqueado. Provavelmente, só mais uma mensagem da operadora, pensou, mas ao abrir a mensagem, se deparou com um pequeno texto na tela do celular, não havia nome, e as palavras ali escritas faziam uma leve curiosidade crescer em seu peito.

" Vá agora ao Parque Halfed, há algo em um dos bancos que você vai querer."

Ela estava com medo também. Quem me enviou essa mensagem? Será que sabem onde eu moro? O que há no banco?, se perguntava.

Beatrice se levantou de maneira calma e dirigiu-se até a janela, de onde dava para ver o parque. De imediato só oque a garota viu foi o lugar deserto a essa hora da noite e as árvores que ocupavam grande parte da área do parque.

Ok. Deve ser apenas uma brincadeira de mau gosto, pensou, mas então, viu de súbito um vulto passar da rua em direção ao parque. Esforçou para tentar ver melhor, afinal, estava muito escuro e os postes da rua não davam uma iluminação suficientemente boa. Alguém que aparentava vestir um casaco sobretudo, colocava algo embaixo de um dos bancos, e em seguida, um pacote em cima do mesmo, a tal pessoa se virou diretamente para a janela do quarto de onde Beatrice assistia a cena escondida atrás da cortina cor de rosa, e a olhou. Um cachecol cobria a boca de quem quer que fosse deixando apenas os olhos a mostra, era difícil, quase impossível saber se era um homem ou uma mulher, e em seguida, correu para longe dali, foi possível ver a silhueta seguindo e dobrando a esquina.

Nesse momento de curiosidade, Beatrice nem se lembrava do medo que sentiu. Calçou um tênis, não se importou em colocar meias, pegou seu casaco em cima da poltrona e foi em direção à saída do apartamento, tentando não fazer barulho algum. Ao chegar ao corredor, fora do apartamento, sentiu como se alguém a estivesse olhando, mas não havia ninguém ali. Apertou o botão para que o elevador viesse ao seu andar e quando chegou, foi direto para o térreo.

O porteiro que estava de pernoite havia cochilado deixando suas chaves jogadas no balcão Beatrice as pegou, destrancou a porta, e foi correndo para o banco em que viu a pessoa colocar algo embaixo dele e um pacote.

Ao sair do prédio, sentiu um profundo ar gelado, e quase considerou deixar tudo de lado e voltar para sua cama. Mas estava ali, era simplesmente pegar e voltar. Estava garoando pouco, e o vento balançava as folhas das árvores.

Andou rapidamente até o banco e pegou o pacote, abaixou-se e tateou o chão até encontrar um envelope, e então o puxou. Logo depois voltou correndo para o apartamento, lembrando-se de trancar a porta do prédio, deixar a chave encima do balcão e por fim, trancar o apartamento onde morava.

Chegando ao seu quarto, deixou a luz apagada, acendeu o abajur ao lado de sua cama e então abriu o envelope primeiro. Era um livro, e um papel estava preso com um durex na capa do livro “Ainda não acabou”. O livro era um dos favoritos de Alicia, Beatrice notou. O título era Cidades de Papel, de John Green.

Será que era Alicia? Só pode ser... Isso quer dizer que..., Beatrice suspirou de felicidade, sentiu também uma lágrima quente escorrer em sua bochecha.

Começou a abrir o envelope, e notou que era uma página de uma agenda, e a letra com que as palavras haviam sido escritas na página só podiam ser de Alicia, embora um pouco diferente da última vez que a viu, mas foi interrompida com o barulho da porta do quarto de sua mãe batendo. Rapidamente, Beatrice pegou o livro e o envelope e colocou debaixo de sua cama, apagou o abajur e virou-se na cama, cobrindo parte de seu ombro que estava para fora do cobertor. Fechou os olhos e fingiu estar dormindo assim que ouviu a porta de seu quarto abrir.

– Beatrice? – a mãe sussurrou seu nome, mas Beatrice não respondeu, apenas continuou ali, deitada, embora e pouco tempo, acabou dormindo.

Em seu sonho, ela estava com Alicia, de mãos dadas uma a outra. Beatrice apoiava sua cabeça no ombro da amiga, e as duas estavam em silêncio, apenas aproveitando a presença de uma da outra.


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