Ele pulou no trem primeiro, mesmo com o pé não estando no seu melhor estado. Pulei logo em seguida, recebendo uma ajuda de Scott para entrar no vagão. Aceitei de bom grado. Não poderíamos entrar pela porta da frente dos habilidosos, a essa hora Mike e Tes estão vigiando a entrada. Ethan saberia na hora da nossa saída, seriamos interrogados por horas. Então o nosso caminho dentro do trem foi estendido, esperar ele dar a volta na cidade para passar por trás da cede dos habilidosos e só então pularmos. Aproveitar que Cam e Suy foram escalados para vigiar os fundos. Scott me puxou para sairmos da porta do vagão. Do jeito que eu estava no mundo da lua, era bem capaz que me distraísse e acabasse caindo. Sentamos e esperamos chegar até os habilidosos.
– Com sorte, você caía em algum terreno abandonado.
– Tranquilizador, Scott.
Ele riu e me apertou mais contra ele.
– Estou brincando.
Scott cheirou meus cabelos. O que me faz lembrar...
– Preciso cortar o cabelo.
– Não. Prenda.
Franzi a testa. Ele sorriu.
– É que... Seu cabelo é lindo. - meu pai havia dito a mesma coisa quando entrei para os habilidosos. Aqueles poucos minutos sem Ethan interrompendo, sem os problemas com o rei Joseph e Philipe. Tudo porque estava onde precisa estar, porque não o lugar que faz as pessoas felizes, é quem está com você que faz o lugar feliz. E naquele momento, eu estava com Scott, não o futuro príncipe de Seattle, mas Scott Roberts o cara que desistiu da política para proteger a cidade, proteger as pessoas. Nada mais me incomodava, Scott fazia com que tudo desaparecesse. É bom estar com ele.
– Você está bem? Está distante.
– Eu só... Estou me acostumando com tudo isso.
– O que exatamente?
– Hmm... Em especial, me acostumando a gostar de alguém. – sorri.
– Natalie Johnson está apaixonada? Quem é o sortudo?
Lhe dei um soco.
– Idiota.
Ele riu.
– Não posso ser gentil, olha o que recebo.
– É, eu sou um monstro. "Mim vai pegar você".
– Você é impossível!
– "Mim Scott, você Natalie."
– Sem graça. - falei.
Levantei e ele me puxou de volta, o trem mexeu um pouco demais. Acabei caindo no colo de Scott e ele começou a rir da situação que nos encontrávamos. Seus olhos capturaram os meus, e me vi presa novamente a ele.
– "Natalie querer beijo de Scott." - brinquei
– India má. – ele sorriu.

Assenti. Era para ser um beijo calmo se tornou urgente pelo pouco tempo que tínhamos. Estávamos saindo do território real e prestes a passar pelos fundos dos Caridosos. Não que estivesse reclamando, mas o trem podia demorar um pouco mais.As mãos de Scott foram de encontro com minha cintura. Uma das minhas mãos pairavam sobre o seu rosto, sentindo a barba mal feita de Scott, enquanto a outra repousava em seu peito.As coisas começaram a ficar um pouco rápido demais. Eu estava tão envolvida que não percebi minha mão levantando a camisa de Scott. Ele parou o beijo e segurou minha mão.
– Natalie. - sussurrou.
– Desculpa. - sorri envergonhada. Scott tinha esse efeito, me fazer esquecer coisas que não devia. Como o autocontrole.
Chegamos.
Scott puxou meu braço para decer do trem. Eu ainda estava envergonhada com o que tinha acontecido, mas essa vergonha passou e a tensão chegou quando vi Ethan de braços cruzados no corredor do primeiro andar.
Ele estava nos fuzilando com o olhar, Scott ficou um pouco mais na minha frente.
– Aonde estavam? - Ethan perguntou.
– Essa pergunta é um pouco besta, não acha? - ironizei.
– Não. Me respondam!
Vi Scott suspirar de raiva.
– Estávamos no nosso turno. - ele respondeu e começou a andar segurando a minha mão.
– Quero você na minha sala, agora Natalie. - ouvi Ethan gritar.
Eu e Scott paramos na frente do elevador. Tentei acalmá-lo. Fui na sala de Ethan logo em seguida. Ele me fez várias perguntas e mantive tudo em segredo.
Mesmo com raiva, não posso deixar escapar uma palavra se quer.
Depois de ouvir sermões de Ethan, fui para o meu quarto trocar de roupa, ou melhor dizendo... trocar o uniforme. Deitei na minha cama, e o sol ainda estava para nascer.
Nunca senti tanto medo, preciso me manter calma e fazer tudo o que planejamos.
Só que não será nada fácil e estou arriscando a minha vida e a de Scott. Mas farei o possível para manter a ordem e paz novamente.

***
Depois de descansar algumas horas e tomar café, fui treinar com Megan, Cam e Tes.
Scott havia saido mais cedo, me disse que iria dar uma volta. Deve ter ido até o palácio sem a permissão de Ethan, espero que volte a tempo.
– Cam, não atire assim. - revirei os olhos. - Nem parece que você já está aqui há meses.
Cam estava tentando atirar no alvo, e acabou quebrando a lâmpada de um abajur na mesinha que fica na sala de treinos.
Me afastei um pouco e fui na parte de lutas, e comecei a socar o boneco. Não conseguia parar até aliviar a minha tensão e desviar os meus pensamentos da onde não deveriam estar. O soquei até acabar as minhas forças e cai sentada no chão.
Apoiei minha cabeça nas minhas mãos e tive vontade de chorar.
– Nath, o que aconteceu? - Megan se agachou e perguntou.
– Só estou cansada. - menti.
– Eu sou sua melhor amiga, me conte.
– Não aqui. - sussurrei.
– Cristal não está na sala. - ela sorriu. - Mas tudo bem, e Scott? Onde ele se meteu?
– Ele foi para... - iria terminar a frase, quando vi Scott passando pela entrada da sala e indo em direção aos elevadores. Levantei e corri para segui-lo.

– Scott? Tudo bem? - perguntei.
– Não.
Tentei ignorar seu tom de voz e prossegui.
– O que houve?
– Discuti com Philipe. O que mais seria?
– Não fale comigo assim. - franzi a testa. - Não sou ele, não desconte em mim.
– Não estou!
– Está. Seu tom de voz está agressivo.
– Eu só estou irritado.
– Jura? Nem notei.
– Você pediu para não descontar em você, mas está provocando.
Franzi a testa. Que diabos aconteceu entre ele e Phil?
– Chega! Vou fingir que não me disse nada. O que aconteceu com Phil?
Ele riu.
– Preocupada com seu querido Philipe?
Tentei ver seu rosto para saber se havia algum indício de briga, mas ele virou. Por sua atitude, vejo que minhas suspeitas estão certas.
– Bateu no príncipe? - perguntei abismada que ele tenha chegado a tal ponto.
– Já deveria ter feito há muito tempo.
– Não acredito que pôs sua vida em risco por uma criancice, Scott.
– A criança aqui é você.
– Tenho dezoito, e isso não vem ao caso. Você me entendeu. Não pode atacar o príncipe!
– Claro, claro.
Bufei.
– Me escuta, Scott. Não vai ser nada bom se o único filho homem do seu pai que talvez seja digno, também seja morto. Idiota! - lhe dei um soco no ombro.
– Certo, sei que errei. Mulher agressiva. - reclamou.
– Achei que eu fosse criança.
– Oh, Nath... Não acredito que vai mesmo levar a sério.
– Hmm... Talvez. É que meu namorado está merecendo, sabe?
– É? o que ele fez? - riu.
– Me respondeu mal e chamou-me de criança.
– Ele é um imbecil! Não acredite em nenhuma palavra.
Ele estava prestas a me abraçar, mas impedi.
– Ah, sei que ele sabe se desculpar de uma forma irrecusável. - dei leves tapinhas em seu rosto, sorri e sai.
– Desculpa. - ouvi Scott dizer enquanto eu ia de volta para a sala de treinos.
Bobagem? Não! Ninguém havia falado comigo daquela forma, ou me chamado de criança. Esperei isso de Ethan, mas nunca de Scott.Sei que ele pode se virar sem mim. Sou apenas uma criança de dezoito anos não é mesmo? Não farei diferença.