– Qual escolha ? - sussurrei.

– Vou tirá-los de lá.

Sorri.

– E o plano ?

– Ainda não tenho um. Você vai me ajudar. - ele me deu um selinho.- Vamos treinar ?

– Está a disposição? Pensei que estivesse cansado. - ergui a sombrancelha.

– Nunca. - falou no meu ouvido.

Entrelacei minha mão na dele e fomos para a sala de treino.

Scott andou até a mesa onde tinha algumas facas e começou a brincar com elas.

– Fique no alvo. - ele disse.

– O que você bebeu hoje ?

– Não confia em mim ? - ele continuou girando o objeto afiado.

– Confio, mas ainda quero viver.

Ele riu.

Devo confessar que não gosto dessa ideia. Sim, todos temos medo de alguma coisa. Eu confio em Scott, mas se ele errar ? Scott tem pouca experiência com alvos.

Suspirei.

– Vai ou não ?

Não respondi, engoli seco. Olhei para o alvo e para ele em seguida. Me posicionei lá.

– Eu te amo. - ele disse como se quisesse falar " Adeus"

– Scott! - gritei colocando as mãos para trás. Vi em seus olhos a concentração, ele pegou a primeira e meus pelos se arrepiaram.

Ele foi rápido, quando dei por mim a faca ja estava ao lado direito perto do meu quadril. Prendi a respiração.

Ele sorriu e jogou outra. Acertando o espaço vago perto do meu pescoço. Que diabos ele está planejando? E porque eu aceitei sabendo que ele é inexperiente?

– Medrosa.

Peguei a faca perto do meu quadril e joguei nele. Ela atingiu seu ombro de raspão e rasgou a manga da jaqueta.

Ele xingou e levou a mão ao braço.

Ai meu Deus!

Corri até ele.

– Scott... Me desculpa! - pus a mão em seu braço e avaliei o ferimento.

– Calma, foi de raspão. - ele fez careta quando meu dedo tocou a borda do ferimento. - Aliás, porque fez isso?

– Desculpa, Mike me chama assim desde que cheguei aqui, eu odeio. Deixei-me levar pelo impulso.

– Você tem que fazer uma lista de avisos e me dar. Porquê sinceramente, um dia você ainda vai me matar e eu não vou saber o motivo.

Revirei os olhos.

– Sem gracinha, Roberts.

Ele riu.

– Sente-se ai, vou fazer um curativo. - falei, peguei algodão e álcool para limpar o ferimento.

Levantei o pedaço de sua manga e comecei a passar em sua ferida.

– Ai, isso arde. - ele apertou os lábios.

– Desculpa. - me senti mal naquela hora.

– Ei. - colocou sua mão no meu rosto. - Está tudo bem.

– Scott, não faça nenhuma besteira por favor.

– Eu não vou fazer. Por isso pedi sua ajuda. O futuro de Seattle está nas minhas mãos.

– E nas minhas também. Você me colocou dentro disso, e não quero que aconteça nada de errado.

– Eu sei. - sorriu. - Então, será que você pode colocar logo o curativo ?

– Claro Alteza, estou sob suas ordens. - falei.

Ele não aguentou e soltou uma gargalhada.

– Você não vai levar isso a sério, né? Não quero que você tenha formalidades comigo, não precisa.

– Sim, príncipe. - fiz uma reverência e ri.

Scott me repreendeu com o olhar.

– Está bem, não faço mais.

***

Fiquei sentada no último andar assistindo o pôr do sol, isso era umas das melhores coisas do dia. Sentia falta de fazer isso com os meus pais, mas por causa da minha saída da Caridade e o aumento de trabalho que o rei ordenou que aquele grupo trabalhasse, atrapalhou minhas visitas a eles.

Quando eu tinha dez anos, meu pai me deu um arco e flecha, a partir dai me apeguei com esse objeto. Todos os dias quando eu e meus pais iamos para a cede da Caridade, eu via e admirava os habilidosos, e o meu sonho era me ajuntar a eles.

Foi o que aconteceu, alguns anos depois tive que escolher, e meus pais apoiaram minha ida para a Habilidade, mas claro, ficavam com o coração na mão. Fui bem recebida aqui na cede, mas Ethan sempre cismou comigo e me achava incapaz. Depois de um tempo, ele percebeu que estava totalmente errado sobre mim, e com muito esforço e dedicação cheguei ao meu posto. Uma das melhores.

Não me gabo por isso, só sinto orgulho de mim mesma por ter conseguido alcançar o que sempre quis, e tenho certeza de que meus pais também estão.

Nunca imaginei que um dia eu me envolveria com o filho de um político, ou melhor, com um príncipe. Essa revelação me surpreendeu, agora precisamos lutar pelo futuro das pessoas e tirar o rei Joseph do trono, o que não será nada fácil.

Desci e segui o caminho até o corredor dos quartos, bati na porta do quarto de Scott.

A porta abriu, revelando Cam.

– O que faz nos corredores masculinos?

– Virou meu pai? - ri. - Onde está Scott?

– Ele saiu. Disse que tinha algo a resolver.

– Ele não disse o que?

– Não. Desculpe.

– Certo, tenho que ir.

Ele assentiu e fechou a porta.

Desci mais alguns níveis e cheguei a entrada da cede, Alex e Megan estavam na porta e olhavam para todos os lados, pareciam estar à procura de alguém.

Me aproximei deles.

– Estão aprontando? - parei atrás deles e cruzei os braços.

Eles se assustaram ao ouvir minha voz. Algo tem...

– Na-Natalie. - gaguejou Alex.

– O que estão fazendo?

– Nada demais.

Scott surgiu com uma faca na mão. Caminhou até nós, Alex e Megan endureceram, assim que me viu pareceu surpreso.

– Amor! - sorriu e estendeu os braços para me abraçar.

Revirei os olhos.

O que era para ser uma forma gentil de chamar alguém, no seu tom de voz não parecia isso.

– Sem teatro Scott! O que estão escondendo de mim?

Nenhum deles respondeu.

– Scott! - uma voz feminina chamou atrás de nós. - Que saudades meu amor.

Olhei e avaliei a pessoa agora a nossa frente.

Loira, olhos claros e alta, porém, mais baixa que minha pessoa. Quem é ela e porque essa intimidade com Scott? Espero que seja um animal de estimação, por que eu não sou muito passiva.

– Que isso Scott ? - coloquei as mãos na cintura. Ele olhou para trás e quando viu a menina que se aproximava, colocou as mãos para cobrir o rosto.

– Ah não!

– Não o que ? Fale logo!

– Cristal Miller. - ele falou o nome dela.

– Olá, como vão? - Cristal chegou em nós.

– Bem. - fui curta. - Quem é você exatamente?

– Meu nome é Cristal, da política. Muito prazer. - ela me ofereceu a mão para cumprimentar, mas cruzei os braços e ela ficou totalmente sem graça.

– Que ótimo. - bufei discretamente. - E o que faz aqui ?

– Esqueci de avisar, Natalie. - Ethan apareceu. - Ela é a nova integrante dos habilidosos.

Ergui a sombrancelha.

– Boa sorte. - dei as costas e voltei para cede.

Andei apertando os passos.

– Espera! - ouvi Megan me chamar. - O que foi ? - ela perguntou ofegante.

– Nada. Simplesmente não gostei do jeito daquela garota.

– Ela me pareceu um pouco esnobe. - Megan cochichou. - Está com ciúmes ?

– Eu ? - ri. - Estou.

– Tome cuidado...

– Ah, obrigada por me deixar com mais raiva, Meg. - revirei os olhos e ela riu.

Fui para o meu quarto.

*

Logo ouvi batidas na porta e fui ver quem era.

– Eric? O que faz aqui? - franzi a testa. A dias que não o via, e ele aparece do nada na porta do meu quarto?

Ele não respondeu, quando me dei conta sua boca pressionava a minha e suas mãos me mantinham presa a ele. O que esse idiota pensa que está fazendo?!

Tentei empurrá-lo, mas estava sendo inútil. Todo esse tempo sem minha supervisão ele esteve treinando? E por que ele está me beijando?

– Natalie, desculpa pela Cris... - pude ouvir a voz de Scott. Deslizei minha mão para o meu bolso de trás da calça, com um pouco de dificuldade peguei a faca e fiz um pequeno corte na mão de Eric.

Ele me soltou e eu levei um tempo para me equilibrar novamente, Scott foi para cima de Eric que xingava de dor.

Respirei fundo e estava tentando entender o que aconteceu. Fiquei com o olhar longe e só depois percebi que os dois estavam quase se matando.

– Parem! Agora! - ordenei.

– Some daqui. - Scott disse com muita raiva e Eric saiu correndo com dificuldade.- Pode me explicar isso ?

– Quem está querendo explicações sou eu. Ele chegou do nada e me... beijou. - fiz uma cara de quem não entendeu. - Scott, eu não... fiz nada.

– Acho que está sendo muito disputada para o meu gosto. Espero que ele não faça isso de novo, porque se não...

– Se não...? - me aproximei dele. - Bem, agora me explique sobre a Cristal.

– Se está pensando que ela é minha ex, você se enganou.

– E então?

– Na verdade, ela sempre deu em cima de mim. Só que eu nunca quis nada com ela.

– Sei. - franzi a testa.

– Ela é atirada, não gosto de meninas assim.

Ri. Cheguei mais perto e o beijei.

– Vem, vamos para o refeitório. - ele sussurrou.

– Vamos.

O refeitório estava cheio. Avistei Cam, Alex e Megan na mesma mesa de sempre. Tudo como um dia qualquer, a menos por uma coisa...

– Scott! Oi! - a loira sorriu abertamente chamando por ele.

Sentamos de frente para ela, Alex e Megan.

O olhar dela me irritou, não saia de Scott, e de imaginar as coisas que ela poderia estar pensando...

– Você mudou Scott, está mais... Bonito. - sorriu de canto.

Foi o máximo, não tenho que ouvir isso! Mas também não vou lhe dar o gostinho de me ver desconfortável ou sair correndo daqui. A melhor opção é mostrar quem manda.

Sinto muito Cristal.

Peguei o rosto de Scott e o beijei. Sem pressa alguma, adoro os lábios dele nos meus. Ele quebrou o beijo e sorriu, sei bem o por quê, era óbvio seu pensamento. Ele sabe exatamente o que estou fazendo.