A Missão escrita por StefaniPPaludo


Capítulo 74
Capítulo 50


Notas iniciais do capítulo

Esse foi o capítulo mais difícil de ser escrito de toda a história. Cheguei até a escrevê-lo todo de novo, certa vez. Espero que meu esforço tenha valido a pena e que vocês gostem bastante. Boa leitura!



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No dia marcado nos encontramos no palácio e fomos juntos até o quartel. Lá um avião já esperava por nós. Cumprimentamos o piloto e Júlio, que parecia conhecê-lo ficou conversando um pouco com ele, enquanto eu aproveitei para ir entrando no avião.

Pelo exterior, eu estava esperando um avião comercial comum, cheio de cadeira umas ao lado das outras e esse tipo de coisa. Foi uma surpresa quando entrei e dei de cara com um ambiente que mais parecia a sala de estar de uma casa chic.

Havia apenas umas poucas poltronas, todas de frente umas para as outras. A maior parte do interior da aeronave era ocupado por um enorme sofá de canto que parecia ser muito confortável, uma televisão, uma mesa de jantar e três camas.

Todo o espaço era luxuoso e muito bem decorado. Digno de um rei ou uma rainha...

– Gostou? - perguntou Júlio atrás de mim, me surpreendendo. Pude sentir sua voz soando perto do meu ouvido e a minha pele arrepiando.

Tentei não demonstrar qualquer reação e dei alguns passos para a frente, aumentando a distância entre nós, enquanto me virava:

– Muito luxo para mim. - respondi, dando de ombros.

– É o avião dos governantes, por isso é tão luxuoso. O que mais você esperava? - ele foi andando, passando por mim e sentando-se em uma das poltronas.

– Isso explica tudo. - eu disse, enquanto o seguia e sentava na poltrona ao seu lado – Mas você não poderia ter conseguido um avião mais simples?

Eu não queria reclamar daquela escolha dele. Na verdade me sentia imensamente grata por aquela grande oportunidade. Mas uma aeronave comum era o suficiente para mim.

Ele prendeu seu cinto de segurança, e me ajudou a prender o meu enquanto dizia:

– Liss, você atualmente é a governante e esse é o avião dos governantes. Qual o problema de viajar nele?

Não via problema nenhum, mas como havia dito era muito luxo para mim e eu ainda não estava acostumada.

– Ei, eu não sou a única governante aqui. Não se esqueça que você também é, senhor Júlio César. - Odiava quando me tratavam como uma pessoa diferente. Naquela situação nós éramos iguais. Ambos eramos governantes.

– Eu sei. Só disse isso porque a viagem é sua. Só estou aqui de acompanhante.

Nesse momento o piloto anunciou que ia fazer a decolagem. O avião começou a andar e em pouquíssimos segundos já estávamos no céu.

A aerodinâmica do avião era tão boa quanto seu luxo, já que mesmo estando em movimento era como se o avião estivesse totalmente parado. Não sentíamos impacto algum.

– O que quer fazer? - perguntou Júlio após alguns minutos, soltando seu cinto e levantando-se - Temos umas duas horas até Crytur, dá tempo de fazer alguma coisa.

Me soltei e levantei em um pulo ficando de frente para ele:

– O que temos para fazer?

Ele pensou por um instante:

– Podemos assistir televisão ou filme. Também podemos comer, ler, jogar alguma coisa,... Se quiser você pode ir tomar um banho na banheira de hidromassagem no banheiro ou alguma coisa do tipo. Tem aqui um computador com várias opções. É só escolher – ele apontou para uma mini tela de uns 20 centímetros, presa em uma das paredes próxima a porta de entrada.

Fui até o computadorzinho e comecei a navegar por ele, vendo as inúmeras opções de atividades. Nenhuma me agradou. Para falar a verdade o que eu queria mesmo era deitar em uma daquelas camas e não fazer nada. Estava um pouco nervosa com a expectativa de ver meus pais dentro de algumas horas e isso somado ao cansaço de toda a rotina de governante, me faziam querer apenas dormir.

Mas não achei justo deitar e dormir, deixando Júlio no tédio. Ele havia conseguido aquela viagem para mim e ele havia aceitado me acompanhar nela. Eu devia recompensá-lo de algum jeito, nem que fosse o entretendo com minha simples companhia.

– O que acha de conversar? - olhei com expectativa a ele. Era a proposta que me parecia melhor entre todas. Falar com ele sempre foi muito interessante para mim.

– Pode ser – ele foi e sentou-se naquele enorme sofá.

Sentei me perto dele. O sofá de couro, era muito macio e confortável. Exatamente como imaginei.

Comecei a pensar em alguma coisa para puxar assunto. Nada me vinha a cabeça. Olhei para ele e o vi sentado relaxado, com as pernas esticadas para a frente, a cabeça no encosto do sofá. No mesmo instante me veio as lembranças da outra viagem de avião que havíamos feito de Crytur até a capital, onde nem nos conhecíamos. Tudo era tão diferente daquela vez:

– Quem te viu, quem te vê sargento. - comecei a falar - Me lembro de nossa primeira viagem de avião juntos. Você passou o voo todo sentado sério sem se mexer, em uma postura rígida. E agora tá ai todo largadão.

Ele riu do meu comentário e pareceu se lembrar daquela cena também:

– Os tempos e as pessoas mudam, Liss. Naquela época eu não me sentia nem um pouco à vontade com você. Na verdade você me deixava bastante perturbado e desconfortável.

–E o que o fez mudar de ideia? Quer dizer, eu também não me sentia a vontade com você, e agora me sinto. Comigo foi a convivência e a oportunidade de conhecer você melhor que me deixou a vontade. Contigo foi a mesma coisa?

– Foi um pouco mais do que isso – ele me encarou, largando sua posição despreocupada e se ajeitando um pouco melhor no sofá. - Desde aquele dia que nos conhecemos eu já sentia que você era especial para mim e para a missão. E sabia que não podia demonstrar isso. Eu não podia ser o verdadeiro Júlio, tinha que agir como o sargento Anthoni, escondendo meus sentimentos. E com o tempo você foi descobrindo as coisas, me entendendo e eu pude começar a agir normalmente com você.

A fala dele desencadeou uma outra lembrança em minha memória. Ele havia dito que tinha que esconder os sentimentos e que eu sempre fui especial para ele. Me lembrei que eu queria ter tido uma conversa séria antes dele ser preso, uma conversa que envolvia os nossos sentimentos. Tanto os meus quanto os dele. Eu havia percebido que Júlio gostava de mim e queria esclarecer e resolver de uma vez por todas a situação entre nós.

– Isso me lembra outra coisa. Um assunto que eu queria conversar contigo. - eu disse, pensando em como começar aquela conversa. Ele ficou me olhando esperando que eu prosseguisse. - Antes de qualquer coisa, preciso que me responda uma pergunta com sinceridade.

– Liss, eu sempre fui o mais sincero possível com você. Mais do que com qualquer outro.

– Ãh... - engoli em seco – Você gosta de mim?

– Claro. - ele disse sem pestanejar, não entendo bem o significado da minha pergunta.

– Não. Não dessa maneira. - tentei corrigir – Aquele dia em que você e Thomas brigaram, antes de você ser preso, ele disse algumas coisas.

– Que tipo de coisas? - ele estreitou os olhos para mim.

– Umas insinuações de que você estaria apaixonado por mim. - eu soltei, sem ter coragem de olhar para ele.

Uns segundos de silêncio pairaram no ar, deixando o clima um pouco tenso. Eu apenas olhava pro chão, sentindo minhas bochechas arderem e percebendo o receio de Júlio em falar sobre aquele assunto.

– Você quer mesmo falar sobre isso? - ele perguntou por fim.

Fiz que sim com a cabeça. Não era o meu assunto preferido, mas tínhamos que resolver aquilo de uma vez.

– Ok. - ele deu de ombros. Mudando completamente de atitude. Eu sentia que ele me olhava decidido a abrir seu coração, mas eu não conseguia encará-lo – Você quer saber se eu estou realmente apaixonado por você? - ele se levantou de pé e se aproximou de onde eu estava, se ajoelhando na minha frente e erguendo meu queixo com uma das mão para que eu o olhasse - É isso?

– É – o encarei, fixando meu olhar em seus profundos olhos, que pareciam brilhar.

– Achei que já fosse óbvio – ele sorriu um pouco, seus olhos negros fitando os meus – Sim Liss, eu estou apaixonado por você. Acho que estou apaixonado desde o primeiro dia que te vi.

Por mais que eu suspeitasse, ou melhor, tivesse certeza, ouvir aquelas palavras saindo de sua boca foram chocantes. Por um momento me senti nas nuvens com sua declaração de amor e por outro me senti completamente perdida sem saber o que dizer ou o que fazer.

Júlio percebeu minha confusão e se aproximou ainda mais de mim, prendendo meu rosto em suas mãos e olhando ainda mais intensamente em meus olhos.

– Como eu já lhe disse esses dias, você me faz perder o controle. Me faz ser um homem melhor. Você é minha vida Liss. Não posso me imaginar sem você.

Ele era tão fofo. Tão romântico. E aquilo me deixava ainda mais sem palavras. Como um cara daqueles, tão maravilhoso podia estar ali na minha frente, se declarando para mim? Era um sonho. E eu só teria que ir alguns centímetros para a frente e encostar minha boca na dele.

Mas não! Uma voz soou em minha cabeça: "foco, Liss". Eu precisava terminar aquela conversa. Esclarecer tudo e conseguir uma solução.

– Eu já suspeitava. Só queria ter certeza – consegui dizer friamente, voltando à razão.

Júlio me soltou abruptamente. Seus olhos ficaram vazios:

– Certeza pra quê? Você não precisa se afastar. Podemos ser amigos. Meus sentimentos não fazem diferença alguma. Nossa amizade continua a mesma.

Foi ali que eu escorreguei. Seus olhos demonstravam todo o medo que ele sentia em me perder. Não aguentei mais e acabei contando a verdade:

– Eu sei. Os seus não fazem. Mas os meus sim... – incrivelmente minha voz saiu mais calma que o esperado – Eu gosto de você muito mais do que deveria. - sorri quando via a surpresa aumentando nele, enquanto entendia o significado daquilo – E não tenho mais certeza se quero conter esse sentimento. Talvez esteja na hora de assumirmos o que sentimos um pelo outro.

Acabei com a distância que nos separava. Aproximei meu rosto do dele e comecei a beijá-lo com intensidade, com saudade. Fazia tempo que eu esperava por aquilo. Queria sentir seus lábios tocando em mim, seu gosto... Foi um beijo selvagem, seus lábios respondiam ávidos pelos meus. Ele sentia a mesma necessidade daquilo quanto eu.

Após um longo tempo me afastei para recuperar o fôlego. Olhei para ele, que me olhava com os olhos brilhando ainda mais e sorrindo, como se não acreditasse no que havia acontecido. Aquele seu sorriso era perfeito! O sorriso mais lindo que eu já vi na minha vida toda. E eu era o motivo dele... Não me contive mais uma vez e parti pra cima dele de novo.

Foi a mesma coisa. Enquanto nos beijávamos, ele passava as mãos pelos meus cabelos, descia pelas minhas costas, e parava em minha cintura, me puxando para mais perto dele. Eu também o agarrava, segurando seus cabelos e pressionando seu rosto contra o meu.

Ele me empurrou para trás, me deitando no sofá, sem desgrudar sua boca da minha. Em seguida, começou a beijar meu pescoço e foi descendo, beijando meu colo. Traçando uma linha quente onde seus lábios me tocavam. Eu só conseguia suspirar de prazer.

Seus lábios voltaram aos meus e continuamos naquele amasso por mais um bom tempo.

Foi quando o piloto anunciou que ia pousar que conseguimos nos separar e sentamos cada um em uma poltrona.

Quando a aeronave já estava parada descemos de mãos dadas. Júlio agradeceu ao piloto e seguimos caminho. Tínhamos que tomar um pouco de cuidado com as pessoas, como havíamos aparecido na TV, elas podiam nos reconhecer como os governantes. Principalmente reconhecer Júlio que estava vestido com sua farda militar. Eu estava com uma roupa casual e achei que isso seria o suficiente para parecer diferente. Seguimos discretamente pela saída dos fundos do aeroporto e encontramos um táxi disponível.

Felizmente o taxista não nos reconheceu. Apenas dirigiu seu automóvel para o endereço que eu havia lhe dito sem fazer pergunta alguma.

Chegamos à porta da minha casa e eu comecei a ficar nervosa. Minha mão soava muito e eu tive que secá-la na roupa. Eu estava em frente à minha antiga casa, a alguns metros de meus pais!

Bati na porta, esperando que viessem abrir. Eu não tinha avisado que viria, mas eles provavelmente estariam em casa, já que hoje era o segundo dia de descanso desde que aprovamos aquela lei.

Ouvi alguns ruídos e a porta começou a se abrir. Quando abriu totalmente foi mamãe quem eu vi ali. Corri e abracei-a forte. Meus olhos se enxeram de lágrimas ao sentir sua presença ali comigo e algumas lágrimas acabaram vazando pelo meu rosto.

– Mamãe! Que saudade – eu disse a apertando mais forte e sentindo seu cheiro tão conhecido para mim.

Depois a soltei e sem pensar muito sai correndo entrando em casa procurando por papai. Esqueci de

qualquer outra coisa. Inclusive que estava acompanhada de Júlio e que deveria apresentá-lo a minha mãe.

Mas ele sabia se virar sozinho. Quando dei uma olhada para trás pude ver ele mesmo se apresentando para ela. Ele estava com uma postura de cavalheiro e tinha um enorme e lindo sorriso no rosto.

Encontrei meu pai na sala assistindo televisão. Gritei para ele chamando sua atenção e ele num susto se virou para mim, levantando rapidamente. Repeti o abraço que dei a minha mãe nele e as lágrimas novamente caíram pelo meu rosto.

Quando o soltei, mamãe e Júlio entravam na sala, andando lado a lado. Júlio se aproximou de meu pai e estendeu a mão para ele, olhando em seu olhos.

Dessa vez não repeti o mesmo erro com a minha mãe e o apresentei:

– Papai, esse é o Júlio. Ele é meu... - não achei a palavra certa. Tudo estava ainda confuso para mim. O que Júlio era meu? Amigo não descrevia mais a relação que tínhamos.

– Namorado. - foi Júlio quem falou firme, dando uma leve olhadinha para mim, para ver se eu iria protestar. Mas não me importei. Talvez ele fosse isso mesmo. Sorri com essa ideia. Júlio era meu namorado de verdade.

Papai não gostou muito daquela história. Ele deu uma encarada em Júlio quando o ouviu dizendo que era meu namorado. Mas com a educação que tinha acabou apertando sua mão. De longe me pareceu que o aperto foi forte demais. Mas Júlio não demonstrou nada, apenas apertou de volta.

– Você não me é estranho. Te conheço de algum lugar? - papai perguntou a Júlio.

– Na verdade fui eu quem acompanhou sua filha de Crytur até o quartel. - Júlio falou calmo. Quantos sogros linha dura ele já havia conhecido na vida? Se fosse eu no lugar dele estaria tremendo muito e minha voz não sairia daquele jeito.

– Isso mesmo. Foi você. - papai estreitou os olhos e encarou ainda mais Júlio.

Os dois sustentaram o olhar. Percebi que estavam a ponto de dizer alguma coisa desagradável ao outro. Principalmente papai. Júlio, eu sabia que iria permanecer calado.

– Papai, pare com isso. Venha aqui me contar como você esta - me esforcei em interromper os dois, para que aquilo não ficasse ainda mais tenso. Aproveitei também e sentei, fazendo sinal para que Júlio viesse e se sentasse ao meu lado.

Ele obedeceu e sentou-se também. Papai respondeu a mim. E logo todos na sala começamos a conversar e aquele clima estranho se esvaiu.

Passei um longo tempo contando tudo que havia acontecido desde a última vez que havia visto meus pais. Desde cada detalhe do meu treinamento, até o cargo de guarda pessoal de Margareth, e a missão. Eles ouviam tudo com atenção e ficavam cada vez mais espantados, fazendo perguntas e não acreditando que aquilo tudo fosse verdade. Júlio ficou calado, apenas escutando pacientemente tudo aquilo que já sabia, sem parecer se importar muito. Na verdade ele parecia interessado e atento também.

Depois que terminei minha longa narrativa foi a vez deles contarem todas as novidades. Não tinham nada de muito importante, apenas fatos sobre eles mesmos, sobre seus trabalhos ou sobre pessoas que eu conhecia.

Quando terminaram mamãe foi fazer o almoço. Eu estava cansada de ficar sentada e resolvi convidar Júlio para levantar também:

– Você quer ver meu quarto? - perguntei.

– Claro. - ele levantou e sorriu, pegando em minha mão.

Papai que estava ali nos olhando atentamente, pigarreou para chamar nossa atenção e disse:

– Liss, vocês não vão ficar trancados no quarto. Não sei o que vocês fazem lá no quartel, mas aqui na minha casa, eu quero respeito. - não sabia que papai era assim tão conservador. Ele nunca havia dito nada sobre esse assunto para mim. Mas eu também nunca tinha trazido um namorado para casa antes.

Enquanto eu tentava achar as palavras, foi Júlio quem disse:

– Não se preocupe senhor. Eu respeito sua filha. Inclusive no quartel. Sei que ela é uma moça de família – Júlio era ainda mais lindo naquele seu papel de cavaleiro, mas aquela cena parecia ter saído de um filme de época. Era muito bizarra.

– Papai. - eu briguei, dando uma olhada feia para Júlio também, por ter entrado naquilo - Eu só quero mostrar meu quarto ao meu namorado – a palavra parecia estranha saindo da minha boca - Algum problema? Você quer ir junto com nós?

– Não. - papai se apressou em dizer e me deu um olhar de advertência enquanto saímos da sala.

No meu quarto entrei e deixei a porta aberta para evitar problemas. Ele estava exatamente como eu o havia deixado.

Sentia falta daquele cantinho só meu, foi ali onde vivi uma grande parte da minha vida. Aquele era há alguns meses atrás o meu refúgio, meu porto-seguro. O local que eu mais adorava e me sentia bem no mundo.

Mas agora ele me parecia diferente. Quase infantil demais e como se não combinasse mais comigo e com minha personalidade. Eu havia mudado muito durante o tempo que passei no quartel.

Analisei cada mínimo detalhezinho do meu quarto. Ele era tão diferente dos que eu havia vivido no quartel e do que eu usava agora no palácio. Júlio olhou tudo atentamente também e não disse nada. Quando falou alguma coisa foi sobre outro assunto:

– Espero que não tenha problema por eu ter me apresentado como seu namorado – ele disse olhando pra mim.

Como haveria problema naquilo? Era a explicação mais lógica para eu o ter trazido junto comigo. E tê-lo como meu namorado era simplesmente perfeito.

– Não tem problema algum. Acho que é isso que somos mesmo. - me aproximei mais dele e quis beijá-lo, mas ele me empurrou delicadamente, me afastando.

– Seu pai, ele não quer isso – ele explicou o motivo de ter me afastado. Soava muito respeitador.

– Na verdade ele disse que não nos queria trancado no quarto. E como deixei a porta aberta acho que isso não seria um problema – tentei me aproximar novamente dele.

Mais uma vez ele me impediu, segurando meus braços:

– Liss! Pare. Vamos com calma. Não quero causar uma má impressão a eles.

Tinha quase certeza que ninguém ia nos ver beijando um pouquinho. Mas por via das dúvidas, resolvi garantir e me afastei suspirando.

– Você quer que faça um pedido oficial de namoro? - perguntou Júlio pra mim.

– O quê? - perguntei confusa. Ainda me recuperava da recusa dele em me beijar – Não. Não precisa. O que importa é que estamos namorando, esqueça essas formalidades – ele se preocupava com cada pequeno detalhe.

– Você quem sabe. Mas eu não me importaria em me ajoelhar aos seus pés nesse exato minuto e fazer o pedido.

Passei a mão em seu rosto sentindo sua pele macia. Por mais que aquela ideia fosse ridícula, eu sentia meu carinho por ele crescer a cada vez que ele se demonstrava assim tão louco por mim.

– Então o senhor Júlio César Anthoni é um romântico incorrigível? Além de todas as outras coisas. - brinquei, para esconder o quanto eu gostava daquilo.

– Acho que sou – ele sorriu para mim, em seguida ficou sério – Já que não quer meu pedido oficial, o mínimo é que eu peça permissão pro seu pai.

– Permissão pra quê? - perguntei sem entender.

– Para lhe namorar – ele disse com tom de aquilo era óbvio.

Ele não podia estar falando sério. Desde quando meu pai me permitia fazer uma coisa ou não? Eu já era maior de idade, morava fora de casa e ele não tinha direito nenhum sobre mim.

Talvez o jeito como meu pai o tivesse tratado tenha o assustado, era a única explicação lógica para aquela crise romântica do Júlio.

– Não. Não pense nisso. Meu pai só tá se fazendo. Ele não é assim de verdade. Acho que só tá surpreso pela filha dele voltar para casa trazendo um namorado. Só isso. Não precisa ficar entrando no joguinho dele.

– Ele tá certo Liss. Ele te ama e está preocupado com você, só isso. Entendo o lado dele.

Por um segundo ouvindo ele falar aquilo, imaginei Júlio como pai de uma menina, uma menina na minha idade. Conhecendo Júlio, sua filha ia ser muito protegida. Não iria poder dar um passo sem ele por perto. E com certeza ele seria muito ciumento. A menina iria sofrer, pensei ironicamente. E será que talvez eu fosse a mãe dessa garota?

Parei de pensar nisso quando ele tocou meus lábios com um selinho, se afastando logo em seguida.

– Temos que voltar, se não seu pai vai vir ver o que aconteceu. - falou ele, olhando para mim.

Concordei e voltamos para a sala. Papai ainda estava lá, lendo seu jornal diário. Ele não tirou os olhos do que lia enquanto nos sentávamos.

– Senhor? -chamou Júlio logo que sentou. Já me deixando preocupada com o que gostaria da falar com meu pai.

Meio a contra-gosto papai tirou os olhos do jornal e olhou para Júlio.

Sem hesitar, quando percebeu que tinha atenção do meu pai, Júlio disse:

– Eu gostaria de pedir sua permissão para namorar sua filha.

Pronto! Era só o que me faltava! Passei as mãos pelo rosto e suspirei. Aquele era um assunto que poderia ter sido evitado. Mas não, Júlio tinha que ser tão romântico a ponto de pedir autorização a meu pai para me namorar. Merda!

Meu pai segurou o queixo e ficou olhando sério para Júlio, esperando que ele prosseguisse:

– Minhas intenções com ela são as melhores. Quero uma coisa séria. Prometo ser o melhor namorado do mundo. Eu entendo suas preocupações com sua filha, eu faria o mesmo. Mas o senhor pode ter certeza que não vou magoá-la e que também me preocupo muito com ela. Eu a amo e quero fazê-la muito feliz.

Por mais que não tivesse gostado nada daquela atitude de Júlio, eu estava me sentindo lisonjeada. Não era todo dia que eu ouvia uma declaração de amor daquelas. Não consegui segurar o sorriso.

Mas meu pai conseguiu. Ele olhava sério para Júlio, analisando friamente as suas palavras e suas intenções. Depois de um tempo que pareceu uma eternidade acabou dizendo:

– Eu concordo com o namoro de vocês. Mas fique sabendo rapaz... - nunca havia visto meu pai com um ar tão ameaçador – Se você fizer minha filha sofrer ou machucá-la de qualquer maneira, eu irei acabar com você.

Tentei pensar em como papai acabaria com Júlio. Ele era um operário sedentário. Enquanto Júlio era um sargento muito bem treinado. Isso seria impossível.

– Não farei isso. - Júlio concordou – Mas se fizer o senhor tem todo o direito.

Depois disso permaneceu alguns minutos de silêncio. Eu não conseguia olhar para Júlio ou para papai. Somente fiquei olhando para o chão. Tentando esquecer aquela situação tensa.

Papai acabou gostando de Júlio depois daquela conversa e eles passaram um bom tempo dialogando. Júlio contou sobre sua família, seu pai, como tinha conseguido o cargo de sargento, entre outras coisas.

Teve um momento que percebi que estava sobrando na conversa e resolvi ir até a cozinha falar com minha mãe. Lá nos ficamos conversando também. Mamãe quis saber mais detalhes do meu namoro, e eu disse que havíamos nos conhecido e nos aproximado de verdade graças à missão. Mas eu sabia que não era bem assim, sentíamos atração pelo outro desde que nos conhecemos quase.

Mamãe elogiou bastante o Júlio, disse que ele era bonito, educado, simpático e que parecia gostar de mim de verdade. Ela nem comentou nada sobre nossa diferença de idade e fiquei feliz que ela aprovasse aquele nosso relacionamento.


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Notas finais do capítulo

Ufa! Acabou!

Agora é a hora de comentarem o que acharam. Como foi esse tão esperado beijo do nosso casal preferido? Será que vai dar certo este namoro deles ou alguém ou alguma coisa irá atrapalhar?

Podem elogiar, criticar, comentar, qualquer coisa.



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