A Missão escrita por StefaniPPaludo


Capítulo 21
Diário




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Alexandre está de férias e eu o estou substituindo. Nunca me senti tão bem e realizado em minha vida. É muito bom poder passar o dia fazendo alguma coisa mais interessante do que vigiando o quartel. Gosto de estar em frente a turma, ensinando o que eu sei.

O único problema é que percebo que meus alunos estão cada vez mais esgotados. Mas não era de se esperar outra coisa. Eles estão na fase mais difícil do treinamento até agora, e a cada dia que passa só vai piorar mais a situação.

É uma exigência que tenhamos que aprender a lidar com os nossos limites. Que estejamos esgotados tanto fisicamente, quanto mentalmente e mesmo assim continuemos treinando e fazendo o que tem que ser feito. Em uma guerra será assim e precisamos estar preparados.

Cresci ouvindo meu pai falar em se prepara para a guerra, e depois que entrei para o quartel continua sendo a mesma coisa, sempre a guerra... Mas eu fico me perguntando: porque temos que nos preparar para a guerra se somos os únicos sobreviventes da Terra? Não temos com quem brigar.

Certa vez questionei isso ao meu professor e ele me respondeu que nunca se sabe o dia de amanha. Pode ocorrer uma guerra entre o nosso próprio povo, uns contra os outros, ou ainda uma guerra do povo contra o governo. Na época achei impossível isso acontecer, mas hoje em dia não penso mais assim... Muito pelo contrário.

Voltando a falar sobre o treinamento dos soldados, hoje foi o dia da aula de carregamento de peso. Essa é a primeira prova difícil que eles enfrentaram e sabia que seria um pouco complicado para eles.

Tive que sufocar o meu sentimento de compaixão cada vez que deixávamos um soldado para fazer a sua prova. Era triste ter que deixá-los lá sozinhos, todos mostrando seu medo e pavor estampados no rosto.

Mantive minha expressão de sargento e tentei não me deixar abalar por isso. A pior parte foi esperar os soldados chegarem. Enquanto ficava lá, parado e solitário, começava a pensar em tudo que os soldados deviam estar passando, em como tinha sido a minha prova. Aguentei firme e tentei me lembrar que isso era comum, normal, todos que já haviam se formado tinham passado por esse treinamento, não seria diferente com os novatos.

Aliás se eu ficasse deste jeito nesse exercício, imagine como ficaria nas seguintes. Principalmente no da próxima etapa do treinamento. Esse era um dos meus defeitos como professor e talvez até como pessoa, pois eu sempre fiz isso na minha vida: me importar mais com os outros, com o seu sofrimento do que o meu.

Preferia estar eu lá, passando por aquilo de novo do que aqui esperando eles superarem os próprios obstáculos. Sofrendo.

E existiam pessoas especiais para mim em todo aquele grupo de alunos. Pessoas que eu não conseguia tirar da cabeça. O que estaria acontecendo com eles? Será que Danilo estava sendo tão forte como sempre aparentava ser? E Liss estaria conseguindo vencer a si mesma e manter-se calma?

O jeito foi esperar.

Não acreditei, quando o primeiro aluno chegou. A porta abriu e lá estava Danilo, ainda bem e forte. O caminho não parecia ter o abalado. Era incrível como ele conseguia manter o controle, mesmo com aquele seu jeito doce e simpático.

Ele largou a mochila logo que entrou e eu fui correndo em sua direção, deixando meu lado professor de lado, o abraçando e parabenizando. Meu irmão tinha sido o primeiro a chegar! Que orgulho!

Voltei a mim rapidamente e assumi minha postura superior. Mandei-o para o alojamento e fiquei refletindo em como ele era forte. Como seria um ótimo soldado. Sei que ele tem um bom coração também, então seria uma das pessoas com as características ideias para se juntar ao grupo.

Só que não sei se eu quero isso. Ele é meu irmão... devo a obrigação de protegê-lo. Se o pusesse nisso, ele correria grandes riscos e eu não poderia garantir a sua integridade física. E eu nunca me perdoaria se alguma coisa acontecesse com ele.

Mas Danilo já tem 18 anos, logo se formará como soldado e provavelmente será um dos melhores soldados. Ele é forte, habilidoso, esperto e nunca se deixa abalar. Também eu mesmo tenho visto como ele tem se saído muito bem em todas as minha aulas. Seria bom ter mais alguém que eu realmente conhecesse, confiasse e tivesse certeza do caráter. Seria bom pra ele também. Ele iria gostar e me apoiar, além de amadurecer muito.

Vou incluí-lo na lista, de qualquer forma, seria bom poder chamar mais um dos novatos e ele é a opção correta. Mas eu tomarei conta dele o máximo possível, ele não irá correr risco algum. E isso é uma promessa.

O segundo aluno a voltar do exercício foi John. Isso já era esperado, ele era um dos melhores da turma. John estava um pouco pior que Danilo. Apresentava sinais de cansaço, e estava todo sujo e suado. Ficou feliz em ser o segundo a ter chegado e rapidamente quis ir descansar.

Tive uma grande surpresa quando vi o portão ser aberto pela terceira vez e passar por ele, Liss. Ela estava toda suja, a roupa amassada, as costas meio curvadas com o peso da mochila e a respiração ofegante. Logo que nossos olhares se cruzaram e ela me enxergou, sai rapidamente em sua direção, mas me censurei pelo que havia acontecido com Danilo, quando eu deixei meu lado fraternal dominar. Peguei sua mochila como único sinal de afeto e felicidade por ela, e não pude deixar de sentir uma sensação estranha quando ela sentou se no chão, e fechou os olhos.

Ela devia estar muito cansada. Não tinha tanto tempo de preparo como os outros e em sua vida anterior não devia fazer exercício algum. Tentei mostrar que entendia como ela se sentia, e a parabenizei. Eu estava feliz por ela, tão feliz quanto estive por Danilo. Ambos tinham conseguido e já estavam sãos e salvos ali dentro do quartel.

Liss pareceu não acreditar que tinha ido tão bem. Ela tinha que se enxergar melhor, enxergar a grande guerreira dentro dela. Ela não era pior que eles, era boa, muito boa... Quando ela quis ir descansar fiz questão de lembrá-la que tinha ido bem, que com toda a sua força de vontade estava superando cada vez mais seus obstáculos e que eu me sentia, também, muito orgulhoso dela.

Logo, começou a chegar um soldado depois do outro. Todos iguais ou piores do que Liss. Tentei dar a eles o máximo de apoio e carinho que se era esperado de um professor. Passava das duas da manhã quando o último soldado chegou, eu já estava pronto para ir atrás dele quando as portas do quartel se abriram e ela entrou.

Só então senti meu corpo relaxar. Estavam todos bem. Tinha acabado. Me sentia responsável por todos eles e fiquei feliz em ver que todos tinham conseguido.

Chega de escrever por hoje. Já está tarde e eu deveria estar dormindo, pois amanha vamos para a floresta. Três dias lá.

Eu gosto da natureza, mas não sei como vai ser a experiência de estar como professor em tempo integral. Talvez seja cansativo e até fico um pouco feliz em saber que terei Thomas lá me ajudando, mesmo ele não sendo a pessoa mais indicada para isso.

Acabei de verificar a hora e nem vale mais a pena dormir, já que terei que levantar daqui a pouquinho. Vou aproveitar esse tempo para deixar algumas coisas sobre a missão em ordem antes de partir.

Aliás levarei meus diários junto, pois é mais seguros carregá-los comigo. Mas não sei se terei tempo e oportunidade de escrever.


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Notas finais do capítulo

Como o Júlio já escreveu, amanha eles vão fazer uma espécie de "acampamento" na floresta. Espero vocês no próximo capítulo.



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