Perdi a conta de quantas vezes já reli aquela carta. Ela se tornou meu refúgio, e a carrego para todos os lugares. Vou cumprir a promessa que fiz, vou juntar cada pedacinho que ela deixou para trás, vou desvendar seu passado. Decidi não voltar para Chicago, pelo menos não por enquanto. Primeiro preciso resolver algumas coisas aqui.

Matthew marcou uma "reunião" comigo, disse que queria falar sobre Tris, mas não sei ao certo o que ele quer dizer. Espero que não tente achar maneiras de me consolar, como tantos já fizeram essa semana, inutilmente.

Caminho até o laboratório, e enquanto passo pelos corredores, as pessoas já não me olham como me olhavam antes: ou com medo, ou com raiva por eu sem saber tê-los traído por causa do plano com Nita. Agora, me olham com pena.

Quando finalmente chego, vejo Matthew acenando para que eu me aproxime, e em seguida logo se adiantando:

– Imagino que você esteja confuso quanto ao meu convite.

Isso é óbvio, penso. Mas apenas balanço a cabeça afirmando.

– Sente-se. Preciso lhe mostrar uma coisa.

Sento-me na cadeira de metal ao seu lado, que é dura e desconfortável. Ele digita algumas comandas no computador e em seguida abre uma pasta denominada “Geneticamente Identificados”. Por que esse nome? , penso.

–Encontrei essa pasta neste computador, quando me pediram para retirar um vírus que o infectou. Comecei a pesquisar sobre ela e descobri que são teses e fichas elaboradas por um cientista que era daqui, mas foi para a Margem logo após a sua chegada e dos outros indivíduos de Chicago, chamado Adam Crawford. Ele pesquisou separadamente, cinco casos de Divergentes, e entre eles, está Tris. Tem a teoria de que ela, assim como os outras da lista, não podem ser denominados “geneticamente puros”, poiso nível de cura de seus genes são muito avançados, e foram além disso.

Ajeito-me na cadeira, para prestar mais atenção, e então ele continua.

–Você notou que Tris resistia ao soro da verdade e até mesmo ao soro da morte?

Resistia. Isso acaba comigo.

–Sim.

–Essa não é uma característica normal dos geneticamente puros, eles resistem apenas a soros de simulações. Adam costumava observar muito os experimentos, e um ano atrás, passou a observar pessoas em especial dentro destes experimentos, de diversas cidades. Ele começou a estudar cinco jovens, entre ele, Tris. Encontrei um outro arquivo, que parecia um projeto de slides para apresentação, ou seja, ele pode ter apresentado sua tese a David, que passou prestar mais atenção em Tris, o que pode ter desencadeado muitas coisas Tobias. O fato de o governo pensar que ela era uma exceção em seus planos, poderia tê-lo levado a rever suas teorias quanto aos genes puros, mas também poderia leva-lo a pensar que ela estava indo contra os padrões de cura e mata-la.

–Então a morte dela pode ter sido... Planejada?

–Não apenas isso. Todas as tentativas de Jeanine de estuda-la podem ter sido feitas para levar informações ao departamento de modo a analisar se deveriam mata-la ou rever se os genes do resto da população Divergente alcançaram o nível máximo de cura.

–Pode imprimir esses documentos para mim?

–Vou armazena-los em um aparelho, mas você deve tomar cuidado. Eu hackeei a pasta para abrir os arquivos, é informação confidencial controlada pelo governo. Mas sabia que precisava analisar esses documentos.

–Obrigada. –é tudo que consigo responder.

Após realizar a transferência dos arquivos, ele me entrega o aparelho, que escondo sob a blusa. Saiu da sala e caminho até o dormitório, para poder lê-los e analisá-los.

Sento-me em minha cama, e por alguns minutos, apenas observo a tela do aparelho, plano e de vidro, como o que Tris usava para ler o diário de sua mãe. Por um segundo, penso em desistir, posso apenas engolir todas as mentias e fingir que não mataram-na só para suprir seus planos. Talvez, os divergentes realmente não tivessem atingido a cura total, mas ela e os outros quatro sim. Mas o governo preferiu elimina-los, ao invés de levar séculos para corrigir os genes das demais pessoas. Começo a relembrar todas as vezes que Tris esteve acima dos limites estabelecidos a ela, as vezes que recusou-se ser controlada apenas em prol dos planos de Jeanine ou Evelyn. Todas as vezes que usufruiu de todas as boas características humanas, não apenas um ideal imposto a ela , foi corajosa, altruísta, inteligente, bondosa e honesta, características que me cobrei a vida inteira e nunca consegui de fato possuir a todas.

Decido não ler esses arquivos agora. Quero manter as lembranças por mais tempo, não quero encobrir mentiras com teorias que não posso saber se são verdadeiras ou não. Não por enquanto.

Mas vou descobrir se isso é verdade ou não. Por ela. Por mim. Por uma vingança que será feita.