A noite pairava sobre a grande cidade iluminada de Nova York, as luzes do local agitavam o noite, tão forte que pouco dava para ver as estrelas. Todos ignorando o doce brilho da lua cheia no céu, que apenas a maioria olharia para aquela esfera.

Wanda observava a lua como uma forma de se perder em seus pensamentos. Era apenas isso que ela fazia depois de um longo dia de treinamento com os Vingadores. Sentia-se bem toda vez que olhava de sua janela para ela brilhando no céu.

Seu brilho...

Mesmo usando-a como forma de se distrair, sempre se lembrava de Pietro. Não importava o quê fazia: esteja em treinamento, missões, conversando, nada lhe fazia esquecer-se do irmão. Do sorriso divertido, seus cabelos claros, os olhos idênticos aos teus e a frase: Não me viu chegando?

Wanda sentia-se vazia. Seu coração foi-se junto com Pietro, no momento em que as balas atingiram seu corpo, a Feiticeira sabia que era o fim. A raiva, a tristeza pela perda era tanta que seus poderes se descontrolavam.

Ela estava descontrolada. Tanto por dentro quanto por fora. Seu quarto era seu refugio, a única maneira de se distancia do mundo e da triste realidade que lhe adorava jogar na cara. Os Vingadores podiam sentir sua perda, ainda mais Clint e Visão, mas tentavam entender seu lado, deixá-la sozinha sem ao menos ver o estado que estava.

Escondia-se através de ilusões. Muitos viam uma garota triste na ilusão, mas, na realidade, estava morta e toda destruída.

Tentava não se entregar a loucura, distraindo-se, nem que seja por uma música, livros ou fitando a lua, tão clara como os cabelos de Pietro. Nada dava certo.

As vezes, Wanda se pegava sorrindo em meio aos choros quando lembra-se do passado. De quando ela e Pietro eram felizes juntos na infância. Aquilo lhe quebrava, sabia disso sempre, mas ignorava.

O passado era tão melhor quanto o presente.

Wanda apenas queria paz. Queria Pietro ao seu lado, sorrindo e correndo para os lados. Fazendo piadas ou comentários engraçados só para vê-la sorrindo. Tirar o livro de suas mãos toda vez que queria chamá-la ou quando ela não prestava atenção no que ele dizia. Sempre uma criança, pensava Wanda, dando um pequeno, e fraco, sorriso. Pena que a pura verdade pregava peças.

A Vingadora suspirou, encostando-se na cadeira de rodinhas em frente à janela. Eram três horas da manhã e não conseguia dormir. Sempre tinha pesadelos quando pregava os olhos a noite; sonhava com o corpo falecido dele, banhado em sangue.

A raiva lhe consumiu, e os livros foram jogados contra a parede mais próxima. Pouco se importava de fazer barulho.

Fraca. Sentia-se fraca. Ela era fraca, queria ser forte. Mas não conseguia. Suas unhas foram para seu braço esquerdo e cravou suas unhas na pele. Arranhou-se, forte suficiente a ponto de sangrar pouquíssimos. Como fosse um corte de um gato.

Wanda encolheu-se abraçando suas pernas, o choro veio lhe consumiu, abafado pelo nó na garganta. Sua vontade era de gritar, a dor em seu peito era muito grande, não conseguia controlar seus poderes, que jogaram todos os objetos para longe e a lâmpada quebrou-se. O corpo tremia no ritmo dos soluços.

Paz... será que era difícil pedir um pouco disso?

Ser forte era tão complicado de ser? De querer?

Chorava baixinho, seu refugio silencioso rodeava por uma tensa sensação de tristeza e amargura. A Feiticeira não entendia porque sentia a presença dele, naquele quarto escuro, iluminado somente pela lua que compartilhava suas tristezas. A noite tornou-se chuvosa, mas ainda sentia que ele estava ali.

Sentia que Pietro estava no quarto. Observando-lhe.

Wanda levantou a cabeça ,olhando envolta do quarto, iluminado muito pouco pela lua. Silencioso, ecoando seus soluços baixos. Ela sentia ele ali, conseguia sentir o Maximoff no lugar, sussurrando...

Sussurrando seu nome... enquanto dançava encima do diabo... da morte...

— Pietro... você está aqui? — perguntou Wanda, consumida pela estranha sensação. Acreditava-se na loucura, mas o desejo dele estar ali era tão intensa que não se importava. Queria ao menos poder conversar com ele.

Levantou-se da cadeira ao escutar o vento passando rápido pelo quarto. Os olhos claros de Wanda arregalaram-se, enquanto caminhava lentamente pelo local, abraçando seu corpo.

Será que estava ficando louca? Ela não sabia. Mas gostava da doce loucura. A loucura era sua melhor amiga.

— Por favor, Pietro. Se estiver ai... Dê-me um sinal... — pediu, em um sussurro. Tão baixo quanto uma brisa de leve. Wanda derramava suas lágrimas, pequenas gotas que se quebravam ao toque do chão frio. Ao não receber nenhum sinal, Wanda entregou-se aos soluços novamente. Quando deu as costas, escutou um barulho alto... ela deu um sorriso em meio ao rio triste que corria por seu rosto, virando-se e vendo uma luz na porta — Você está aqui...

Ao caminhar em direção a porta, tão devagar e vidrada na luz rosa igual a de seu poder, nem percebeu os cacos de vidro. Seus pés pisaram fortemente neles e ela gritou, antes de cair de joelhos encima deles. A luz que acreditava em ver, sumiu, e Wanda entregou-se aos seus delírios no momento em que a porta do quarto foi aberta.

Ela caiu no chão banhada em sangue, não conseguia escutar os gritos de Steve e Sam de longe, nem perceberá quando Visão lhe pegou nos braços. Wanda sorria em meio à visão embarcada, via entre a confusão ele, Pietro lhe encarando e estendendo a mão, como se a chamasse para lhe acompanhar.

Sabia que não estava morta, mas estava se entregando ao próprio delírio; à sua própria loucura. Estava em seu delírio, e com ela se foi.

Banhada em sangue entregou-se as suas lágrimas; como uma pétala de rosa manchada. Wanda era uma pétala manchada, coberta de sangue, porém agora sabia o que era o certo ou errado.

E a lua apenas observava tudo que lhe acontecia. Como uma verdadeira amiga.

Com ela, apagou-se sendo iluminada pelo seu brilho.