Era para ser você escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 7
Vamos as negociações.


Notas iniciais do capítulo

Oi genteeeeeee, vamos agradecer a minha irmã divosa que me ajudou a escrever. Obrigada menina bonita, te amo ♥
Então mais um capítulo saindo do forno e indo direto para vocês ♥ Fiz um desenho da Jas - mais ou menos- queria saber se querem ver como eu imagino ela.
Boa leitura



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Leila não estava dentro ou fora da sala, da sala da presidência e distraidamente franzi a testa perguntando-me o porquê. Mabuchi estava com a mão nas minhas costas - e não sei ao certo como ela foi parar ali, mas estava, mais do que consciente dela - quando paramos em frente ao elevador ele pareceu notar isso, e deixou-a cair pesadamente ao lado da sua coxa, roçando levemente no meu quadril. Isso fez seu rosto se fechar em uma carranca infeliz. Olhei para o lado enquanto rolava os olhos, tocar em mim não era um ato tão infeliz como seu rosto demonstrava.

Fiz uma careta e dei um passo para o lado ao mesmo tempo em que o elevador chegou.  A tensão era nítida, e vergonhosa e só havia um culpado por ela.

O homem que pairava ao meu lado.

Fechei os olhos e esfreguei as pálpebras tentando assumir algum controle na loucura acontecendo.

Pense no seu emprego, e se acalme.

Certo meu emprego.

E também havia faculdade.

É por isso que eu iria sair por ai bancando a tradutora fajuta. Tinha que dar certo, porque só havia uma opção: fazer dar certo.

Oh cara, no que eu tinha me metido?

Ouvi as portas se abrirem, e abri meus olhos.

Limpei a garganta e permaneci enraizada no lugar.

— Senhor? - chamei. Eu tinha percebido a besteira grande em que tinha me enfiado, e precisava cair fora antes que transformasse a reunião em um maldito circo.

Olhei para cima, e o encontrei já me olhando. Suas sobrancelhas estavam apenas levemente levantadas, e seu lábio tinha um suave indicio de um sorriso. Ele estava esperando que eu saísse correndo, que fosse desistir. O olhar em seu rosto me disse que ele não ficaria surpreso caso eu fugisse, que na verdade era o que ele queria que eu fizesse. Apesar das palavras que estavam na ponta da minha língua, isso me irritou tremendamente e bom Deus eu não iria agradar o homem justamente nisso.

Foquei nas palavras que Meredith tinha me dito ao telefone.

Você vai dar um jeito.

Sorri e sai da gaiola prateada, obrigando-me a parecer relaxada. Para todos os efeitos eu sabia o que eu estava fazendo.

Eu daria um jeito.

Sim, eu daria.

Dei uma batidinha em seu ombro, como se fosse à coisa mais normal em uma interação com meu chefe. Seu olhar surpreso me fez querer rir.

— Você é um cretino arrogante - murmurei abrindo um sorriso alegre.

Seus olhos me fitaram em um perfeito olhar de interrogação e surpresa.

— O que disse senhorita? - Ele não parecia feliz e por um pequeno instante entrei em pânico me preocupando que ele pudesse ter entendido o que eu tinha falado em português. Até que entendi. Ele estava no escuro, e isso o irritava.

Ele gostava de controle.

Fiz uma pequena dança da vitória interiormente por tira-lo do controle mesmo que por meio segundo.

Pisquei meus olhos inocentemente e dei uma risadinha incapaz de me conter.

— Eu disse vamos às negociações, senhor.

****

A primeira coisa que notei foi seu bronzeado. Ela tinha um lindo bronzeado. A segunda foi que seu aperto de mão era menos firme do que imaginei que seria para alguém que estava tratando de negócios com Mabuchi.

Arrastei meus olhos pela mulher na minha frente, e tive a estranha sensação de conhecê-la de algum lugar. O que seria basicamente impossível.

A espanhola não era em nada como imaginei, se bem que não havia pensado muito na sua aparência. Não sabia o que encontrar talvez alguém com a personalidade arrogante e confiante como a de bastardo arrogante. Mas a pessoa sentando-se a minha frente era pequena e embora seus olhos fossem afiados eram gentis. Usava um vestido roxo quase preto que valorizava cada curva existente apesar de não ser justo, mas que curiosamente não parecia caro ou feito sobre medida, e um sapato botins com um salto grande o bastante para disfarçar sua altura.

Ela abriu a boca e fiz uma careta sem pensar.

O meu pesadelo iria começar.

— Sé que todo El mundo estaba esperando a mi padre en vez de mi pero voy a tomar La iniciativa en estas negociaciones.

Minha mente deu um pequeno nó. Repeti mentalmente o que ela disse na minha cabeça, tentando absorver o máximo de informação possível. Além de mim e a musa do bronzeado, as únicas pessoas na sala de reunião - que alias não era a mesma sala em que derrubei café em Mabuchi - eram o próprio Mabuchi e Leila - chefe do setor de criação de publicidade, ela que criava propagandas entre outras coisas. E todos sem exceção estavam olhando para mim em expectativa.

— O que ela disse? - meu chefe exigiu sem paciência, mas com a voz incrivelmente calma.

Tudo que consegui juntar foi:

— O pai dela estaria à frente dessa reunião? - perguntei rezando para fazer algum sentido. Ele assentiu, e respirei com alivio. - Ela disse que sabe que todos estavam esperando por ele, mas que vai tomar partido na reunião.

Leila balançou a cabeça. - Sim, fomos avisados que isso aconteceria apenas há uma semana.

Lancei um olhar para Bastardo arrogante que franziu o cenho, e disse:

— Diga que não gostamos de surpresas, esperávamos negociar com Sr. Hernández ao invés dela. - Ele apontou sutilmente com o queixo para a musa do bronzeado, e suspirou - Veja como ela está nervosa, é como se nem soubesse o que está fazendo.

A musa do bronzeado realmente parecia nervosa. Eu também ficaria se todos estivessem falando uma língua que eu não poderia entender, e soubesse que todos estão falando de mim. Percebi que não sabia o nome dela ainda, e se fosse me dirigir diretamente a ela não poderia chama-la de musa do bronzeado.

Franzi os olhos para o bastardo arrogante.

— Eu não posso traduzir isso, é grosseria.

Seu queixo caiu não pela primeira vez nesta manhã. Leila engasgou. Ignorei os dois e sorri para a musa do bronzeado. Agora vinha a parte mais difícil falar com ela.

Apesar do ar condicionado comecei a transpirar, encolhi meu corpo um pouco mais na cadeira. Ótimo eu não tinha tomado banho e agora estava soando como se estivesse nas brasas do inferno.

— O que... - ele começou. Eu o ignorei. Quando virei para a musa do bronzeado, ela estava olhando para mim com a testa franzida como se pensasse em algo. Tive novamente a sensação de que a conhecia de algum lugar.

Limpei a garganta.

— Olá meu nome é Jasmim Sinclair. - Apontei para Leila e Mabuchi que ainda me fitava como se eu tivesse enlouquecido e continuei. - Eu serei a tradutora. Estiquei minha mão por cima da mesa esquecendo que já tínhamos apertado as mãos anteriormente.

Deus eu estava fazendo papel de louca.

A musa do bronzeado sorriu. - Valentina Hernández. ¿Puedo preguntar por qué no está hablando al español ?

Valentina Hernández.

A musa do bronzeado tinha um nome.

Forcei minha mente a traduzir o que ela tinha dito. Lutando contra a vontade de arrancar os cabelos.

Foi quando a ficha caiu. Por que eu não estava falando em espanhol.

Empurrei os ombros para frente forçando um sorriso na superfície dos meus lábios.

— Eu não falo espanhol - confessei em uma corrida com as palavras.

Suas sobrancelhas ergueram. - ¿No?

Não me atrevi a olhar para ninguém a não ser Valentina.

Balancei a cabeça. - Infelizmente a empresa teve um imprevisto e eu era a única disponível para ajudar - de repente eu me dei conta de que ela poderia achar que a empresa era mal preparada e por isso acrescentei: - Espero que possa entender. Eu sou melhor em português brasileiro do que em espanhol, mas certamente farei o possível para obter bons resultados para todos.

Valentina assentiu lentamente como se estivesse pensando no que dizer a seguir.

— Será un esfuerzo conjunto.

Que diabo é esfuerzo? Pensei. Seja o que fosse concordei. Da mesma forma que faço até hoje quando meus professores da faculdade me perguntam algo cuja resposta eu não faço ideia.

Mabuchi limpou a garganta e olhei para ele.

— Não esqueça que como tradutora você precisa traduzir para mim.

Eu quase ri, mal acreditando como dependente de mim ele estava na situação.

— Ah sim certo. Apenas balance a cabeça em concordância.

Leila parecia prestes a ter um ataque nervoso. Gregory levantou as sobrancelhas. - Com o que? - quis saber brusco.

— Só concorde - falei e virei para Valentina com um sorriso temendo mais um olhar gelado.

Muito a contragosto ele concordou com a cabeça como eu havia pedido.

Exalei e passei as mãos nas coxas limpando o suor.

— Pergunte se eu posso começar a mostrar os planejamentos que eu preparei - Leila pediu se manifestando pela primeira vez desde que entramos na sala.

O mais devagar que eu pude eu perguntei. Soou uma mistura de espanhol e português terrível.

— ¿Estás pronta para comenzar a ver o planejamento?

Valentina sorriu como se divertisse com a minha péssima dominância no idioma e assentiu dizendo algo como: se estiverem prontos, comecem, por favor.

Não pude deixar de agradecer mentalmente por ela não ser como Gregory porque se ela fosse mesmo que meramente semelhante á ele me criticaria de alguma forma ou exigiria um novo tradutor. Muito provavelmente as duas coisas.

Leila levantou e entregou uma pasta para a espanhola e para nosso chefe.

— Tudo que está ai está escrito em sua língua nativa, não vai ser preciso traduzir essa parte.

Obrigado Deus!

Depois de dizer isso Leila desligou as luzes e eu percebi pela primeira vez que o data show estava ligado.

— Bem - ela iniciou limpando a garganta tão logo alguns gráficos foram refletidos na parede. - O RTVC pensou em uma forma de chamar atenção dos clientes de uma forma sutil. Atraí-los a compra sem que eles percebessem. Sabemos que a Química Perfecta atinge um grande publico na Espanha, porém nosso objetivo é aumenta-lo ainda mais e expandi-lo para outras regiões e lugares.

Ela olhou para mim em expectativa e esperou que eu traduzisse. Cocei a nuca procurando as palavras certas.

— Queremos atraer a los clientes de una manera sutil - traduzi esperando ter usado as palavras certas. Espanhol não era tão parecido com português como eu esperei. Valentina fez um barulho aprovativo e eu engoli continuando em português: - Fazer com que não percebam que estão gastando.

— La última parte de nuevo.

Repita a última parte de novo?

Eu não sabia como dizer aquilo em espanhol.

O suor aumento consideravelmente, e eu resisti à tentação de arrancar a pasta das mãos de Gregory e me abanar com ela.

Como iria traduzir aquilo? Enfiei um cacho solto atrás da orelha, e dei um sorriso apertado a Leila que continuava falando.

— Los clientes - murmurei pausadamente para que ela me entendesse melhor - no vão notar que están gastando.

Embolei os dois idiomas juntos.

De fato ela parecia estar divertindo com a minha tradução porque seus olhos brilharam em diversão.

— Continue.

Balancei a mão dizendo a Leila para continuar.

Leila continuou e conforme ela avançava em suas ideias e gráficos a animação em sua voz ia crescendo. No entanto bastardo arrogante não tinha dito nada.

Química Perfecta era uma marca de sorvete, descobri. Uma das mais conhecidas na Espanha.

Achei Química perfeita um nome um tanto gozado para uma marca de sorvete.

— Qual a opinião dela sobre o projeto? - Leila indagou quando suas apresentações acabaram com um sorriso esperançoso.

— Lo que piensas sobre El proyecto?

Pela primeira vez Mabuchi pareceu realmente interessado.

Valentina fazia algumas anotações na pasta que Leila deu e se levantou para me mostrar. Um gráfico em especial estava mais destacado. E disse algo como: É um belo projeto e eu posso imagina-lo indo para frente, porém eu não posso deixar de salientar que tivemos apresentações parecidas em outras agências. Por que acham que seu grupo deveria ser o escolhido para selar os nossos negócios aqui em Nova York? Qual é o diferencial que irão me mostrar?

Leila respondeu: - Nós fizemos pesquisas e nosso projeto seria muito bem aceito pelo público.

Traduzi para a musa do bronzeado que esboçou um pequeno sorriso.

— Bueno y qué más?

Bom, e o que mais?

Quase me encolhi ao traduzir para o inglês. Quando traduzi isso, o semblante de Leila murchou, e Mabuchi deu um sorriso afetado.

Valentina parecia toda negócios agora. Não parecia estar mais nervosa.

Leila começou a falar, mas foi interrompida por Gregory.

— Porque eu duvido que qualquer outra empresa com quem entrou em contato tenha uma equipe de criação tão criativa e eficiente como a nossa. Ou então que alcance tamanha resposta como nosso projeto alcançaria. - Ele parecia genuinamente ofendido apesar da voz surpreendentemente calma.

Sempre tão controlado.

Pareceu a coisa certa a se dizer por que Valentina assentiu como se tivesse gostado da resposta.

Apesar de ser realmente um projeto muito bom e criativo, não pude deixar de perceber um furo. O projeto focava na população jovem, e o gráfico que Valentina salientou falava justamente disso. O grupo Quimica perfecta queria mudar isso quando lançasse novos sabores de sorvete no mercado. E foi isso que Valentina disse no instante seguinte ao meu pensamento.

— Nuestro público principal es joven . Queremos cambiar eso. No queremos llamar La atención sólo en los adolescentes.

Cambiar eso? - significava o que em nome de Deus? Desejei tirar o celular da bolsa e usar o Google tradutor em meu auxilio.

— Há um furo no projeto, senhor. O foco está principalmente nos jovens não é o que Valentina e sua empresa querem.

Leila e Gregory começaram a falar ao mesmo tempo em que Valentina indagou:

— ¿Cuál es su opinión Jasmim?

Qual era a minha opinião?

— O que ela disse? - bastardo arrogante perguntou e parecia tremendamente infeliz por estar me usando como meio de ter uma conversa.

— Ela quer saber qual é minha opinião.

Seus olhos aumentaram um pouco de tamanho.

— Por quê? - Leila retorquiu. - Você não faz parte do projeto, é apenas a tradutora.

Ai.

— Tengo curiosidad por lo que opina de proyecto - insistiu a espanhola.

Ela estava curiosa para saber minha opinião?

Mas o que em nome da virgem Maria estava acontecendo? Quando levantei pela manhã não era o que eu esperava da minha manhã.

Esfreguei as têmporas pensando em como colocar minha opinião para fora.

Em outra língua.

Fitei minhas mãos que estavam pegajosas pelo suor nervoso.

Por algum motivo sorvete me fez lembrar Meredith. Das nossas longas conversas terapêuticas sempre regadas a sorvete com bastante calda. De como sorvete nos ajuda a sair da fossa sentimental. E ao mesmo tempo um milhão de imagens se formaram fundindo-se com meus pensamentos.

Uma garota comendo sorvete com o namorado enquanto ele roubava um beijo seu. Uma mãe de família tendo um momento sozinha com um pote de sorvete de flocos para aliviar o peso do dia a dia. Dois idosos dando sorvete um na boca do outro para comemorar o aniversário de bodas juntos. Se juntássemos tudo isso em um uma propaganda bem formada, faria sentido que as pessoas prestassem atenção porque era algo puramente corriqueiro e ainda assim original. Isso faria com que se enxergassem em uma das situações e, portanto sentissem vontade de adquirir os sorvetes Quimica Perfeita.

Primeiro disse a Valentina, e então para os outros presentes na sala.

Leila parecia inquieta, bastardo arrogante permanecia inalterado a não ser pelo leve brilho de surpresa em seus olhos, como se não esperasse que eu fosse capaz de dizer algo inteligente, ou então que não fizesse nada além de agredir pessoas em elevadores, e Valentina parecia prestes a irromper em um sorriso - e de fato seus lábios foram para cima.

— Es una muy buena opinión.

Foi minha vez de erguer as sobrancelhas.

Eu olhei para ela, esperando que dissesse que era uma pegadinha. Ao invés disso ela apenas sorriu.

— Realmente? - falei sem acreditar, e então me corrigi. - ¿En serio?

— Muy serio. El contrato es la empresa.

Bastardo arrogante coçou a garganta, chamando minha atenção para si.

Eu olhei para ele sem fala.

— O contrato é nosso - falei tentando pegar meu queixo do chão.


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Notas finais do capítulo

Obs: Assim como a Jas minha dominância em espanhol é quase nula então caso haja algum erro, por favor me desculpem.
Comenteeeeeeeeem por favor



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