Era para ser você escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 5
Longe de problemas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Depois que Mabuchi saiu, eu me joguei contra a cadeira e respirei. Eu tinha acabado de me safar? Realmente?

Esfreguei os olhos e deixei que o riso histérico pudesse sair, com isso fora do meu sistema nervoso, eu liguei meu computador.

Ele precisava de senha.

Esbugalhei meu olho direito, pensando no que já sabia sobre a empresa. Segurança era importante. Não só o contrato de valor exorbitante me mostrava isso, logo na minha primeira entrevista foi salientada a importância disso. Portanto era quase obvio o porquê da senha.

Olhei para o telefone na minha mesa. Mesmo o telefone conseguia ser elegante e caro. Ao lado dele, uma folha de papel branca comum tinha algumas coisas rabiscadas. Peguei a folha na mão e li. Eram números de telefone. O primeiro foi o que mais me chamou atenção.

Assistência técnica.

Mais abaixo números como o da recepção, e até mesmo o da sala de café.

Disquei o numero da assistência técnica, decidindo guardar aquela folha, não sabia quem tinha rabiscado aquilo, mas certamente seria útil, e eu era grata.

O último número me fez fazer uma careta.

Sala do Sr. Mabuchi.

***

Com o problema da senha resolvido, organizei a agenda de compromissos do meu chefe.

Parecia estranho chamar alguém tão jovem de senhor, porém era assim que as poucas pessoas com quem eu conversei se referiam á ele. Eu tinha meu próprio apelido.

Bastardo arrogante.

O apelido caia bem, uma pena que eu nunca pudesse dizê-lo em voz alta sem perder o emprego.

Perder mais uma vez o emprego, fez meu estomago revirar. Eu não podia me dar ao luxo de fazer isso.

Em menos de dois meses me formaria. Eu precisava do dinheiro que este emprego renderia.

Ser escolhida para fazer intercâmbio em Nova York não vou mentir foi uma surpresa. Das grandes. Dei meu sangue e suor no meu projeto, mas estudantes do Brasil inteiro fizeram o mesmo. Eu, entretanto tinha feito um dos melhores, e tinha garantido o meu lugar. O intercambio bancava todo e qualquer custo por 12 meses. Por um ano inteiro não precisei me preocupar com dinheiro, comida, ou quaisquer outros custos, mas claro um dia tudo isso acabou, mas mesmo depois de exceder esse tempo eu não queria ir embora. Mesmo quando tudo começou a dar errado. Quando o intercambio acabou restavam apenas cinco meses de faculdade, se eu voltasse para o Brasil eu teria que regredir em alguns módulos, porque as aulas funcionam diferentes aqui, e não queria isso. Eu não queria voltar para casa. Não por ter uma família desestruturada ou qualquer coisa do gênero me esperando lá. Nada disso. Era que era hora de encontrar meu lugar. Mesmo que meu lugar estivesse em uma faculdade em Nova York longe de tudo que eu já conheci.

 Nada na minha vida tem sido comum desde o dia em que nasci. Antes disso na verdade. Minha mãe fugiu no dia do seu casamento com um inglês – meu pai – chamado Carter Sinclair, que conseguiu sua passagem para o Brasil em uma mesa de jogo assim como o personagem de Leonardo Dicaprio em Titanic.

Sendo assim porque eu seguiria o lado fácil agora?

—--

Algumas horas se passaram e como prometido não houve nenhum sinal de qualquer bastardo arrogante pela empresa. Eu não tinha nada mais além de olhar para a tela do meu computador, então verifiquei a agenda que eu tinha detalhadamente organizado três vezes.

Reuniões.

Viagens.

Jantares de negócio.

Passeio com Ellie.

Cheguei mais perto da tela do computador, mordendo o lábio.

Ellie. Será que tinha sido ela que o fez correr tão rápido?

Ocorreu-me que eu ainda não tinha pesquisado nada sobre o homem para quem estava trabalhando, e isso me fez digitar novamente o nome da empresa na barra de pesquisa do Google. Se eu tivesse feito isso antes, muita confusão teria sido poupada. Esfreguei uma mão na outra e sorri. Algumas bofetadas teriam sido poupadas.

Em uma velocidade impressionante o Google ofereceu-me respostas. Por algum motivo estranho eu cliquei direito para as fotos. A maior parte delas era de um senhor mais velho com traços orientais. O pai, eu supus pela semelhança. O mesmo homem da sala de reunião.

Yamato Mabuchi. Antigo presidente da empresa.

Gregory M. assim como o pai tinha uma postura rígida nas fotos, seus olhos afiados observavam tudo, como se todos os detalhes fossem importantes. Levou alguns minutos para encontrar, mas o que pareceu uma eternidade depois finalmente achei uma foto de ambos juntos parecendo descontraídos. Gregory estava rindo ao lado do pai, que ria com a cabeça jogada para trás. Perguntei-me que piada os dois estavam compartilhando. Era difícil imaginar bastardo arrogante sorrindo. Girei o mouse para cima, para as primeiras fotos novamente, e abri o link de uma noticia aleatória.

Era de um site sensacionalista. O tipo de site que fazia meu pai rolar os olhos. Para ele noticia de verdade ainda era entregue pelos jornais.

Afastando um cacho do rosto comecei a lê-la.

Depois da crise sofrida há quatro anos, as Empresas Mabuchi Empreendimentos e publicidade começam a se recuperar do golpe sofrido após Marco Johnson falsificar e superfaturar contratos tomando assim posse de grande parte das ações das Empresas.

 Marco Johnson braço direito do então presidente Yamato Mabuchi se aproveitou da confiança...

A partir daí se seguiu informações de como Gregory – bastardo arrogante – assumiu a presidência e conseguiu colocar a empresa nos eixos. Filiais foram vendidas, e muitas pessoas foram demitidas. A noticia era curta, e pouco detalhista, mas mesmo uma reportagem curta pode mostrar o tamanho da sujeira que Marco Johnson enfiou a empresa.

Ele era amigo da família a anos, e mesmo assim traiu todos por ganância?

Mais horas se passaram e como eu não tinha mais ordens a seguir tudo que fiz foi olhar para o elevador até meu horário de sair. Quando isso aconteceu eu bati meu cartão de ponto e fui embora.

 Enquanto esperava o metro refleti a pilha de trabalhos da faculdade que me esperava tão logo eu chegasse em casa. Eu tinha um projeto para entregar até o fim de semana que estava me deixando louca, mas eu disse a mim mesma que lidaria com ele depois que chegasse em casa, calçasse meu tênis confortável e corresse um pouco.

Correr me ajudava a pensar, e me dava ideias. Eu precisava de boas ideias para agradar o cliente que havia pedido o projeto. Ou o agradaria ou faria com que ele engolisse meu projeto se ele o rejeitasse mais uma vez.

A faculdade concedia aos alunos quase formados pequenos projetos aqui e ali, não pagava muito, mas era dinheiro, e eu não estava em condições de recusar nem esmola. Entretanto remodelar um escritório estava se tornando mais estressante do que construir o próprio escritório, não era o projeto em si que era estressante era a pessoa que o queria que tirava a minha paciência. Era um advogado que achava que podia mandar no mundo por ter sido criado em berço. O pior tipo.

Já dentro do metro deixei minha mente divagar para o que aconteceria amanhã quando voltasse para a empresa. Eu não queria perder o emprego – não eu não podia perder meu emprego. Lembrei-me do meu antigo chefe e de como foi difícil conseguir outro emprego depois do que aconteceu no hotel.

Amanhã eu provaria que podia ser uma boa secretaria, e principalmente não agrediria ninguém.

****

Thor miou como um cortador de grama quando abri a porta do meu minúsculo apartamento.

 Inclinei-me e o peguei do chão.

— Olá meu peludo – ele se esfregou no meu pescoço e me contou como foi seu dia em miados mal-humorados.

Depois de alimenta-los, e fazer um pouco de carinho nele troquei minhas roupas, calcei um tênis de corrida e saí novamente para fora.


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