Era para ser você escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 48
Se permita




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Difícil saber qual das duas opções era a loucura maior, Mabuchi querendo ir a uma festa comigo ou eu querendo aceitar seu convite.

— Não sei se seria uma boa ideia, estou esperando notícias sobre minha avó – declinei, com meu medo falando mais alto. Mas, ao fazer isso, as palavras de Valentina vibraram em minha mente.

 

Nunca pensei em conhecer Chicago e, já que estou aqui, que mal há em sair um pouco?

 

Mabuchi assentiu e, por um segundo, pareceu envergonhado.

— Tem razão! – riu, mas não havia traços de humor em sua risada. Decepção, talvez, mas não humor. – Acho que a ideia me empolgou além do que eu esperava.

O elevador chegou e mais uma entramos na grande gaiola prateada em silêncio. Grandes pausas estavam começando a se tornar algo cada vez mais característico entre nós dois. Tentando ser o mais discreta possível, enviei uma mensagem para Mer e Julyan no nosso grupo do WhatsApp.

 

“Mabuchi me convidou para uma festa!”

 

Segundos se passaram e nenhuma resposta chegou. Enviei o mesmo conteúdo para Chase e meu corpo relaxou quando o celular vibrou anunciando uma resposta.

 

Chase: E você VAI né?

Eu: ??????

Chase: Como assim “?????”?

Eu: Ele é o meu chefe.

Chase: E também o cara por quem você sente atração. Você mesma disse.

Eu: É complicado.

Chase: Você quem está complicando.

 

Bloqueei a tela e apertei o celular. Chase tinha razão, eu estava complicando o que já era complicado. O celular vibrou novamente e li sua mensagem rolando os olhos.

 

Chase: Responda ou eu vou te ligar.

 

Ignorei e, meia batida depois, o telefone tocou.

— Alô? – atendi, rindo. – Sem sermão, Chase! – já fui logo avisando.

— Ele não está te pedindo em casamento! – Chase resmungou e ao fundo ouvi um barulho de descarga.

— Você está usando o banheiro enquanto fala comigo? – gemi debochando. – Pelo amor de Deus!

— Comi algo estragado hoje pela manhã e desde então o banheiro tem sido meu fiel companheiro.

Gemi mais alto.

— Muitos detalhes! Tomou um chá? Eu conheço um comprimido que...

— Isso não é importante! – desviou, rindo. – Não foi para falar da minha dor de estômago que te liguei.

— Não há nada mais para se focar – as portas abriram e, sem olhar para o lado, saí de dentro do elevador.

— Pare de sabotar a si mesma, Jasmim, é só uma festa. Caso tudo dê errado, eu deixo você acertar um soco em cheio no meu nariz.

Dei risada e esperei Mabuchi abrir a porta, já que estava sem a minha chave.

— Eu vou te lembrar disso mais tarde, caso tudo saia do meu controle – avisei baixinho, para que Mabuchi não me ouvisse.

— Tenho certeza disso – Chase debochou. – Podemos sair para beber e você pode me antagonizar sobre isso durante uma hora inteira, se assim desejar.

— Qualquer desculpa é válida para você encher a cara?

— Absolutamente – sua risada aqueceu meus ouvidos e me fez sorrir também.

Suspirei. O sentimento de querer algo e não dever querer tal coisa era enlouquecedor. Lembrei-me outra vez da breve conversa com Valentina e senti o meu controle sobre decisões ruir. Esperava não me arrepender. Ele era meu chefe e essa era uma verdade que eu não podia ignorar, mas, de acordo com os meus sentimentos loucos, isso não importava.

— Você venceu! – cedi, calando minha conversa interior antes que ficasse louca.

— Continue dizendo isso a si mesma, mas nós dois sabemos que você estava doida para aceitar.

Desliguei o celular com um meio sorriso no rosto. Não fiquei surpresa com Mabuchi me encarando e sim com o olhar nublado em seus olhos.

 

Será que ele ficou com ciúmes por ter me escutado falando com Chase? Ou será que foi pela falta de educação minha, por ter atendido ao celular dentro do elevador?

 

— Conhece algum pub por aqui? – minha voz saiu baixa e esperei que ele notasse em como eu estava me sentindo vulnerável ao fazer aquela pergunta, supondo que seu convite ainda estava de pé.

Era loucura e errado. Mas Chase estava certo, eu precisava parar de negar meus sentimentos.

Mabuchi não respondeu de imediato e, antes que ele mudasse de ideia, antecipei-me indo até o telefone no bidê.

— Talvez a gente devesse ligar na recepção e pedir uma indicação. – A vontade de ficar mais tempo perto dele tinha tomado conta de mim. Além do mais, eu estava adorando a possibilidade de conhecer uma faceta dele que ninguém conhecia.

 

***

 

Sherlock Pub foi o lugar escolhido. Era um lugar bonito e animado, mas eu sem dúvida gostava mais do Skulls. Luzes multicoloridas piscavam e a música vibrava alta e dançante. Mabuchi e eu andamos pela multidão de corpos mexendo conforme a música, até chegarmos ao bar. Eu ri ao olhar para as pessoas e perceber a formalidade das nossas roupas, principalmente as de Mabuchi que, mesmo sem terno, ainda parecia um empresário.

— Por que está rindo? – ele indagou, aproximando-se para que pudesse ser ouvido através da música alta. Senti seu hálito fazer cócegas em meu ouvido e gentilmente me afastei.

Apontei com a mão para as nossas roupas, depois para as das pessoas dançando e ri. Mabuchi deu de ombros sem se incomodar. Alguns minutos se passaram até que fossemos atendidos e, durante esse tempo, nenhum de nós falou. Não que realmente fôssemos conseguir manter uma conversa com aquela música alta. A ideia de estarmos ali já era insana demais. Deveríamos voltar.

— O que querem beber? – o barman perguntou. Seu cabelo era uma louca mistura de cores. Rosa, verde limão e azul. Eu gostei, mas provavelmente nunca teria coragem de fazer algo assim.

Mabuchi pediu uísque e eu cerveja.

— Uísque? – foi a minha vez de me aproximar para falar. – Aposto que é o que toma sempre – balancei a cabeça. – Ele vai querer cerveja também – eu disse para o barman, com um meio sorriso.

Mabuchi encarou-me com um olhar surpreso e meu sorriso aumentou por ter provocado isso nele. Uma nova música começou e eu agucei os ouvidos para ouvi-la melhor. Falava sobre ser uma nova pessoa, dar chances ao destino e se deixar surpreender.

“Se permita um pouco essa noite”! – cantarolei a melodia, olhando para ele.

Dei um gole na cerveja e balancei o corpo fitando a pista de dança.

— Você quer dançar? – Mabuchi deixou seus olhos escorregarem pelo meu corpo com um olhar quente.

Balancei a cabeça, negando.

— Se permita um pouco essa noite – ele repetiu no meu ouvido, guiando-me para a pista.

 

***

 

Uma música nova iniciou e depois outra, e mais uma e mais uma. E nós dois continuamos na pista de dança, completamente desengonçados, no nosso próprio ritmo, apenas olhando um para o outro. Vez ou outra, também sorríamos, fazendo algum comentário aleatório – para isso tínhamos que nos aproximar ainda mais e esses eram os meus momentos favoritos. Nossas cervejas acabaram, mas, só em pensar em enfrentar a longa fila do bar para tomar outra, ficar sóbria não parecia uma opção ruim.

A música de Ed Sheeran começou a tocar e sua voz lenta e doce era como mel nos meus ouvidos. Olhei interrogativamente para Mabuchi, que balançou a cabeça dizendo que queria continuar.

Senti sua respiração acariciar meu rosto, quando se aproximou, e suas mãos na minha cintura quando me puxou para mais perto. Ficamos assim, olhando olho no olho por toda a música. Minha cabeça estava girando, meu coração batendo tão forte que temi que pudesse pular para fora do meu peito.

Quando a música acabou nós não nos mexemos. Seguimos nos encarando e eu podia ver que, assim como eu, ele também não queria se mexer.

— Acabe logo com isso – murmurei e, apesar da música alta, quando seus lábios tocaram os meus, eu sabia que ele tinha entendido exatamente o que eu queria dizer.

Bem ali, sob as luzes coloridas, ao som de uma música eletrônica que eu nunca tinha ouvido antes, no meio de dezenas de pessoas desconhecidas, ele me beijou e meu Deus, eu não queria que ele parasse. Nunca.

 

Não pare, por favor, não pare...


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