Era para ser você escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 20
Andrew Johnson


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaaaaaaaaaaaa esse é um capítulo extra em agradecimentos a todos que fazem meu dia melhor com seus comentarios fofos ♥
Não esqueçam de ajudar na enquente do novo personagem lá no grupo do face:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/616878/chapter/20

Depois de cansar dos livros de colorir, Jack e eu resolvemos assistir a um filme, e por ser convidado o deixei escolher.

 Sua escolha foi a de um filme chamado “Super Gato”. Um filme de animação em que os gatos tinham superpoderes e eram super-heróis, porque, segundo ele, Thor se sentiria mais a vontade. Apesar de querer rir, concordei, e procurei no YouTube para assistir.

O resultado disso? Jack havia dormindo nos primeiros 40 minutos no meu ombro, assim como Thor que se empoleirou aos seus pés e tirou um cochilo.

A inocência da criança de oito anos era incrível, pois Jack perguntou se podia dar o lanche que levaria para a escola no dia seguinte para Thor, porque assim talvez ele confiasse nele também. Assegurei que não seria necessário. Com um pouco de manha, carinhos (e muita comida de gato), Thor deixou Jack chegar perto sem arranhá-lo. E algum tempo depois se aproximou de mansinho como se dissesse: confio em você humano e o usou como cama para dormir.

Era triste ver o medo que Thor sentia perto de crianças, meu coração murchava um pouco ao pensar, mas o fato de ele ter aceitado Jack tão mais rápido do que me aceitou era um grande alivio, pois levou uma eternidade para que ele parasse de fugir de mim.

Esfreguei os olhos e, com cuidado para não acordar nenhum dos dois, peguei meu celular da mesinha de centro. O silêncio era tão grande que se eu não me mexesse logo provavelmente dormiria. Poderia pegar um livro no quarto e ler, mas dificilmente faria isso sem acordar Jack, o que consequentemente deixaria Thor mal humorado por ser acordado também. Só me restava manter a mente ligada usando meu celular, o que para ser sincera não era tortura alguma.

Liguei os dados móveis do celular e acessei a internet e quase que instantaneamente entrei no Facebook, e no Instagram.  Minha timelineestava quase sem novidades, mas isso não me impediu de passar os olhos para cima e para baixo até Julyan chegar.

Nem o barulho do punho de Julyan batendo na porta, ou o fato de eu ter colocado seu rosto numa almofada como apoio fez Jack acordar. Quando comentei isso baixinho com Julyan ela riu e murmurou que ele tinha o sono mais duro que uma pedra.

Depois de persuadi-la para não acordá-lo, a convenci a tomar um café. Na verdade eu gostava da companhia dela na empresa, e fora não era diferente.

— Eu de verdade juro que vou recompensar você, – ela disse soprando a fumaça de sua xícara. – Basta me dizer quando e eu farei.

— Julyan! – sorri balançando a cabeça. Estava claro para mim, que ela não recebia ajuda frequentemente, pois não sabia lidar com um favor. Na verdade ir buscar Jack sequer tinha sido um favor. – Você não conta muito com as pessoas não é?

Ela deu de ombros como vi Jack fazer algumas horas atrás.

 – Sim.

— Está tudo bem! – assegurei outra vez. – Na verdade foi você quem me fez um favor, seria uma tarde terrivelmente entediante se não fosse por Jack.

Julyan sorriu.

— Aposto que ele contou algumas histórias.

— Ele contou. E usou uma rica variedade de detalhes.  Ele é uma criança muito meiga.

Nós duas olhamos para o sofá onde ele dormia, e ela franziu a testa.

— Eu não entendo – murmurou mais para si do que para mim. - Como a bombinha simplesmente sumiu? Eu sempre me certifico que ela esteja com ele não importa aonde ele vá.

 – Certo – assenti mordendo o lábio. – Sobre isso...

— O que? – incentivou com o semblante preocupado.

— Will acha que tem alguém implicando com ele, e que talvez a tenham escondido.

— Mas que porra você está falando? – Levantei minhas sobrancelhas. Pela primeira vez desde que nos conhecíamos, Julyan tinha soltado um palavrão. Quando percebeu minha reação quase cuspiu o café rindo.

— Ah, qual é? Não me olhe com essa cara. Eu sou mãe solteira e na maior parte do tempo não posso sair soltando palavrões como se fossem palavras doces.

— Mãe solteira?

Ela assentiu balançando a cabeça, com um olhar que dizia que aquela pergunta já havia se tornado frequente. Apontando para sofá respondeu:

— Jack.

Ergui minhas sobrancelhas novamente.

— Jack?

Sua resposta dessa vez foi me dar um olhar duh.

— Você parecia tão tenaz – lamentou brincando. – Agora só repete o que digo.

Fiz uma careta batendo em seu braço.

— Desculpe é que eu só estou surpresa... Você me disse que era tia dele.

— Por que é mais fácil de explicar - mais um olhar duh, alguns suspiros. – Não é exatamente normal derramar a história da sua vida para uma louca que agride o chefe.

Dessa vez quem quase cuspiu o café fui eu.

— Ai, essa doeu! Foi legítima defesa, você sabe, e não desvie de assunto.

Ela suspirou desanimada como se estivesse seriamente pensando em fazer isso.

— Jack é filho da minha melhor amiga. Ela morreu quando ele tinha dois anos, e a guarda dele ficou comigo – diante do meu olhar surpreso seus olhos rolaram. – Ah não, se continuar me olhando assim, eu não irei contar mais nada.

Tratei de colocar meu queixo no devido lugar e disse: - Continue.

— Seu nome era Katrina. Como o furacão, e certamente ela fazia o nome ter significado – começou tomando um enorme gole de cafeína. – Ela tinha uma mãe drogada, e mal sabia quem era o pai... Nós costumávamos fingir que ambas éramos filhas da minha mãe. Contudo, quando no dia da nossa formatura do ensino médio isso se tornou realidade, nenhuma de nós estava preparada. Katrina encontrou a mãe caída no chão do banheiro... Ela estava morta há algumas horas.  Overdose de drogas, o legista informou com uma voz nasalada e pouco pessoal. Não foi surpresa, mas não é o tipo de coisa que alguém quer que aconteça.

 Julyan ficou em silêncio por alguns segundos encarando sua xícara, e percebi que eu não era a única que tinha esqueletos no armário em relação à família.

— Ela não tinha nenhum parente, na verdade tinha, mas todos deram um passo para trás e a lançaram para a própria sorte. Você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com Jack, certo? – indagou me olhando. Seus olhos estavam marejados. – Isso fez com que o laço que ela tinha com a nossa família apenas aumentasse, então não foi nem um pouco difícil para os meus pais tomarem a decisão de adotá-la. Quando Katrina morreu em um acidente de carro, foi mais do mesmo. Jack era nosso, tanto quanto ela foi. Nós não iríamos abandoná-lo.

Sorvi o restante do meu café, queimando a língua no processo. Saltei na minha cadeira, quase derrubando a xícara do balcão.

— Mas que merda colossal! Eu preciso de sorvete, você quer sorvete?

— Definitivamente essa foi a melhor reação que tive até agora – Julyan riu. – Ninguém nunca usou as palavras merda colossal e sorvete na mesma frase.

Abri a porta do congelador e joguei o cabelo para cima do ombro.

— Só eu sou incrível assim! – pisquei.

— E modesta. Terrivelmente modesta. 

— Obrigada.

Julyan rolou os olhos tomando mais um pouco do seu café.

— Quanto amor próprio.

— Não... – a interrompi. – Quero dizer, por me contar e confiar em mim.

Seus olhos umedeceram.

— Não me faça ficar toda emotiva, ou vai ter sérios problemas para fazer com que eu me controle.

Balancei a cabeça pegando o sorvete e colheres na gaveta do armário.

— Se prefere assim – empurrei o sorvete para ela juntamente com uma das colheres. – Mas eu, no entanto, acho difícil que vá algum dia vê-la em prantos.

— Sério? – ela zombou enfiando a colher no sorvete. – Que diabos pareço para você?

— Rainha das trevas, completamente isenta de sentimentos – afirmei na minha melhor cara séria.

Ela pensou sobre isso por um instante.

— Gosto do título, a partir de hoje vou me auto intitular “Rainha das trevas”. A razão para contar o que contei foi porque você dificilmente agiria como os outros. Sei que é estranho de entender, mas eu estava certa, sua reação definitivamente não foi parecida com a de ninguém.

— Se continuar me dizendo coisas assim, certamente quem vai ter problemas para se controlar serei eu.

— Ótimo. Tantas pessoas para ser amiga, e encontrei alguém pior que eu.

Bufei.

 – Vou me abster de comentários por enquanto.

— Jack precisou ser transferido da sua antiga escola porque alguns colegas implicavam com ele pelo fato dele não ter pai.

— O pai dele...

— Estava com Katrina no carro. Era ele quem estava dirigindo.

Conforme atacávamos o sorvete, Julyan e eu fomos mudando o assunto. Primeiro continuamos a falar de Katrina e Jack, em seguida mudamos para Will e sua livraria, para depois, por algum motivo, Mabuchi.

— Como você não sabe quem é Andrew? – Julyan exigiu incrédula.

Pisquei confusa.

 – Você acreditaria que antes de trabalhar para Mabuchi, eu sequer fazia ideia da empresa.

— Você não conhecia a empresa?

— Não. Então eu tenho um desculpa.

— Sim... Mas agora você é secretária dele Jas!

Suspirei.

 – Apenas diga quem é ele. Estudo para ser design – me defendi. – Pergunte-me qualquer coisa sobre organização e harmonia de cores que eu posso responder, quanto a isso... Bem, você já está careta de saber. As empresas Mabuchi...  Eu não fazia ideia que elas existiam.

— Vou ter que lidar com isso – ela deu de ombros. – Andrew Johnson é nada menos que...

— Espera – praticamente gritei num sobressalto. – Por que sinto que conheço esse nome? Oh meu Deus Andrew Johnson é parente de Marco Johnson?

Julyan me deu um novo olhar duh. – Nós temos muita coisa para falar.

 

Uma única palavra gentil pode aquecer três meses de inverno.” -

Provérbio japonês


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Era para ser você" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.