Le voisin d'à côté! - O vizinho ao lado escrita por Hamal, Rosenrot


Capítulo 2
Capítulo 2 - A falta que você me faz


Notas iniciais do capítulo

Olá, aqui esta mais um capítulo, quero informar que o terceiro e ultimo já esta escrito e betado, ainda não postamos pois a arte está sendo feita com muito amor e carinho *-*

ps: A imagem desse capitulo é uma montagem de nossa aurotia com imagens encontradas no google.

beijos.



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Passaram-se os meses. O inverno naquele fim de ano fora frio e rigoroso, como há muito não se via por aquelas bandas. A falta que Camus fazia na vida de Afrodite se assemelhava à falta que faz os raios quentes e aconchegantes do sol em uma manhã fria e nublada. Camus fora embora e era como se tivesse levado consigo o calor que aquecia o coração do jovem sueco, que passava quase o tempo todo sozinho em seu Templo, onde quase ninguém se atrevia a subir, por não querer vencer o desafio extenuante dos imensos e ingrimes degraus de pedra, ou por temer o jardim mortífero que circundava o Templo de Peixes. Afrodite só via os outros colegas quando descia para treinar na arena do Santuário, mas mesmo assim não trocava muitas palavras com eles, além de amenidades e assuntos triviais.

A rotina do futuro cavaleiro de Peixes não mudara muito desde que o amigo partira para a Sibéria. Levantava muito cedo, pois também cedo ia se deitar, já que não havia com quem conversar nem durante nem após o jantar. Seu tutor, já muito idoso, fora morar na vila, nos arredores do Santuário.

Com quinze anos e muito inteligente, tanto que aos poucos se tornava o cavaleiro mais estrategista dos doze guardiões das casas zodiacais, Afrodite já aprendera tudo que precisava, tando da língua grega, a qual agora era fluente, quanto dos pergaminhos sagrados da armadura que correspondia à sua constelação protetora. Só lhe faltava ainda um período de treinamento nas terras geladas da Groelândia, para onde ficou acordado por ordens de Shion, que iria assim que completasse dezoito anos, já que partiria sozinho.

O começo de mais um ano não fora algo que o empolgou tanto quanto nos anos anteriores, quando ele e Camus subiam até o ponto mais alto do Santuário, perto da estátua sagrada da deusa Atena, para ver os fogos que anunciavam o início do ano novo. Sem o amigo para lhe fazer companhia, Afrodite ceou sozinho, um prato típico sueco que ele mesmo preparou para si, tomou suco de uva e foi dormir, vendo a saraivada de fogos, que iluminaram por longos minutos os céus de Atenas, pela janela de seu quarto. Sem o vizinho do lado, era como se o ano novo de novo nada tivesse!

Na primeira semana de fevereiro e quase no fim do inverno, o clima frio já não incomodava tanto, porém a saudade que sentia do aquariano, não... Essa o incomodava cada vez mais! No dia do aniversário de Camus, Afrodite ficou todo melancólico. Lembrou-se que sempre costumavam fazer um bolo, uma pizza gigante e passavam a noite jogando conversa fora, até caírem duros de sono e cansaço.

A semana passou e em uma tarde de clima muito agradável Afrodite voltava da vila, onde fora visitar seu tutor, quando encontrou Aiolia de Leão e Marin de Águia no caminho que fazia de volta ao Santuário. Sorriu ao olhar para eles, que caminhavam em trages civis e de mãos dadas. Os garotos costumavam dizer que Aiolia sentia algo especial por Marin ainda quando eram crianças. E não é que estavam certos!

— Olá, Aiolia, oi Marin! — disse Afrodite todo sorridente. Não se aproximou muito, pois sabia que os outros tinham certo receio de seu cosmo venenoso.

— Oi, Afrodite! — respondeu Aiolia com um sorriso — Veio comprar um presente também?

— Presente? — perguntou o sueco confuso — N-Não... Por que compraria um presente? Se tiver alguma festa eu não fui convidado! — começou a rir.

— Não, seu bobo! Porque hoje é Dia dos Namorados! — disse o leonino puxando a amazona pela cintura e a abraçando. Marin deu graças a Atena por estar de máscara, pois com certeza estaria corada de vergonha — Conhece a minha namorada? — continuou o grego todo empolgado com um sorriso enorme no rosto.

— Ah... sim... é mesmo! Tinha me esquecido! — respondeu sem graça — E sim, eu conheço a Marin, Aiolia! Então resolveram assumir! Fico feliz por vocês! E, Marin... vê se doma esse Leão briguento! — disse o pisciano piscando para ela.

— Pode deixar! — respondeu a amazona pegando na mão do grego — Vamos, Aiolia? Ou perderemos a sessão!

— Ah, claro! Até qualquer hora, Afrodite! Bom ver você! — disse acenando para ele e seguindo caminho com Marin em direção à vila, onde iriam ao cinema.

Afrodite acenou para eles e seguiu para o Santuário. — "Puxa, é mesmo! Hoje é Dia dos Namorados! Ah, também que diferença faz? Não tenho namorada!" — pensou, rindo de si mesmo e logo chegou na primeira casa zodiacal.

Como era de costume, sempre que um cavaleiro cruzava uma casa guardada por outro era preciso pedir autorização para prosseguir. Sendo assim, Afrodite ascendeu seu cosmo para avisar a Mu que estava ali, pedindo passagem. Logo o ariano aparecera na frente do templo com um sorriso, porém parecia um pouco ansioso.

— Oi, Afrodite! Que bom que está aqui! — disse indo até ele. Mu sempre demonstrou não temer o cosmo nocivo do colega e parou bem próximo a ele lhe entregando um papel — Leia e me fale o que você acha!

— Ah é? Está bem! Hummm... — começou a ler o que parecia um cartão romântico, já que o papel era vermelho e a tinta da caneta tinha cheiro de incenso de sândalo — ... é um cartão de Dia dos Namorados?

— EXATO! Eu achei que pudesse estar... sei lá, fantasiando! Que talvez fosse só alguem que me considera um amigo bom e querido, mas... Puxa! Se mandou justamente nessa data! Nesse papel e com esse perfuminho gostoso!

— Sim, Mu! — Afrodite riu do entusiasmo do lemuriano — Tudo indica que quem te mandou esse cartão gosta muito de você! Mas, não assinou! Ou seja... é um admirador secreto!

— Humm... nem tão secreto assim! Eu já desconfio de alguém! Mas, já que ele quer manter segredo não posso te contar! Pode passar, Afrodite! Feliz Dia dos Namorados! — disse Mu, logo correndo para dentro de sua casa. Talvez para responder o cartão o quanto antes.

Afrodite riu da euforia do colega e seguiu subindo. Quando passou por Touro encontrou com Aldebaran na porta encomendando flores para um dos servos e lhe escrevendo um endereço de entrega em um bilhetinho.

Em Gêmeos, passou direto, pois sabia que Saga havia saido em missão com Aiolos. Aqueles dois sempre estava juntos e hoje, nesse dia especial, não seria diferente. Agora Afrodite tinha idade suficiente para entender que o beijo que vira quando criança era um beijo de amor, de namorados.

Seguiu cabisbaixo até Câncer, onde pediu passagem e viu Máscara da Morte todo arrumadinho, dentro de uma calça social e uma camisa branca lhe fazendo sinal para passar. Bem diferente dos trapos que costumava usar. Nas mãos tinha um cartão em formato de coração na cor vermelha e parecia ansioso.

Inacreditavelmente, quem também tinha um cartão entre os dedos era Shaka de Virgem! — "Puxa, até o buda recebeu um cartão de Dia dos Namorados!" — pensou estarrecido enquanto subia as escadarias de Virgem e viu Shaka na frente de seu Templo abrindo um envelope vermelho. De dentro dele o loiro tirara um papelzinho lilás e em segundos seu rosto mudou de cor! Parecia que a medida que ia lendo ia corando de vergonha, ou seria de satisfação?

— Com licença, Shaka! — disse o sueco passando por ele.

— Pode passar, Peixes! — respondeu o virginiano tentando esconder seu rubor baixando a cabeça e deixando os cabelos dourados cobrirem seu rosto. Porém, mesmo com todo esse esforço Afrodite ainda conseguiu ver um sorrisinho maroto se desenhar no canto dos lábios do cavaleiro mais próximo de deus!

Seguiu seu caminho, porém agora bem mais sério! Havia achado graça no olhar apaixonado de Aiolia, na ansiedade eufórica de Mu, na concentração de Touro, na elegância tão rara de Máscara da Morte e por fim... — “Puxa vida! Até o Shaka recebeu um cartão de Dia dos Namorados! O Shaka!” — pensou, erguendo uma sobrancelha consternado enquanto subia, passava por Libra e seguia para Escorpião.

Na oitava casa acendeu seu cosmo para se anunciar, mas não obteve uma resposta de imediato. Diante do silêncio aparente, começou a atravessar o Templo e quando estava quase perto da saída, ouviu a voz do dono da casa lhe chamar num tom baixo e sorrateiro.

— Psiu... ei... Afrodite! Espera ai! — disse Milo aparecendo por detrás de um dos pilares.

Peixes olhou para trás num sobressalto e viu o escorpiano se aproximando um tanto quanto nervoso.

— Afrodite... quebra uma pra mim, cara? — disse Milo colocando uma mão sobre o ombro do pisciano.

— Quebrar o que, Milo?

— Eu estou com uma visita! Se é que me entende! — falou o grego dando um soquinho na barriga do outro enquanto exibia um sorrisinho safado no belo rosto — Mas... acontece que esqueci que hoje é Dia dos Namorados! Quer dizer, eu lembrei, justamente por isso estou com visita! Mas... esqueci de comprar um presente!

— Ah... sei... por que será que não estou surpreso, Milo? — disse o sueco rindo do colega — E eu tenho cara de shopping?

— Oras! Acontece! Enfim... será que não pode fazer ai um buquê de rosas? Quebra meu galho, vai?

— Sinto muito, Milo... mas ainda não controlo totalmente meu cosmo! Seria arriscado demais! Não quer matar sua visita e acabar com seu dia especial, não é? Vou ficar te devendo essa. Sinto muito! — respondeu com um sorriso sentido.

— Poxa... tudo bem então! Vou dar o meu jeito! Feliz Dia dos Namorados! Aproveite! — disse o escorpiano dando um tapinha nas costas do sueco e lhe lançando um sorriso sacana. Logo voltou para dentro de seu Templo.

Passou por Sagitário apressadamente e quando chegou a Capricórnio se anunciou, já vendo Shura se aproximando lhe dando passagem. O espanhol, deferente dos demais, não estava vestido para sair ou tinha um cartão em cores quentes nas mãos, tampouco mandava flores para alguém — “Ah, pelo menos alguém nesse Santuário que também não tem uma namorada para comemorar esse dia!” — pensou o sueco com uma estranha sensação de alívio. Chegou perto do capricorniano e lhe cumprimentou com um sorriso.

— Boa tarde, Shura!

— Boa tarde, Afrodite! Ora, essa, chegando a hora de sair e você está voltando para casa? – disse o espanhol com um semblante alegre no rosto moreno.

— Ah... eu já sai! Fui visitar meu tutor no vilarejo.

— Está feia a coisa, heim! – disse Shura rindo – Pleno Dia dos Namorados e você vai visitar seu professor velhote?

— Ora, mas o que é que tem? – respondeu o pisciano franzindo a sobrancelha. Gostava muito de seu tutor e não lhe agradou nada ouvir o cavaleiro falando daquela maneira dele.

— Ora digo eu! Logo o cavaleiro mais belo dos santos de Atena não tem uma namorada? Ou namorado! – brincou o outro cruzando os braços.

— Ah, que está falando? Você também não tem! – respondeu Afrodite completamente corado.

— E quem disse que não?

— Ué, você tem? – cruzou os braços encarando os olhos provocativos do outro.

— Mas é claro, meu caro! Ninguém passa o Dia dos Namorados sozinho! Só que meu encontro é a noite. Até porque, Dia dos Namorados se comemora à noite! – respondeu o capricorniano dando um sorrisinho maroto para o colega.

Afrodite agora olhava para ele incrédulo! Realmente parecia que somente ele iria passar o tal Dia dos Namorados sozinho mesmo. De repente todos ali tinham alguem para amar, ou passear juntos de mãos dadas, para mandar flores, ou cartãozinho perfumado, para jantar junto à luz de velas, ver um filme abraçadinho... Todos, menos ele.

— Está certo, Shura. Aproveite bem sua noite especial, então! Eu vou indo! – disse dando um sorriso tristonho para o colega e seguiu seu caminho.

Os degraus entre Capricórnio e Aquário nunca lhe pareceram tão grandes e cansativos. Não que não gostasse de testemunhar a felicidade dos amigos, mas tinha que admitir que os invejava. Logo ele, que era tão alegre e carinhoso. A verdade é que Afrodite tinha tanta necessidade de toque e companhia, quanto suas lindas e letais rosas têm de água e luz para viver! Sentia falta do calor, do riso, da voz, do cheiro de alguém perto de si. Na verdade sentia falta de Camus! Do calor, do riso, da voz e do cheiro de Camus.

Foi pensando no amigo que passou pela casa de Aquário cabisbaixo. Antes de cruzar o Templo totalmente se sentou aos pés de uma das colunas e ficou ali por um tempo, recordando da infância alegre e divertira que vivera ao lado dele. Como se visse um filme passar diante de seus olhos azuis, Afrodite vivenciava ele e o amigo correndo ali, entre aquelas colunas, com dicionários de grego debaixo dos bracinhos, ou brincando de esconde-esconde, carregando pipas coloridas de longas caudas de fitas de papel de seda, que Saga e Aiolos faziam para eles. Lembrou-se também, já mais velhos, das conversas que tinham até altas horas da noite, sentados nas escadarias enquanto olhavam as constelações no céu a procura das suas e das dos colegas. Camus de fato era parte de si e estava sofrendo muito a falta dessa parte que lhe fora arrancada. Como estaria o amigo essas horas? O que estaria fazendo?

Quando se deu conta já era noite! Ficara um bom tempo ali no Templo do amigo francês perdido em imagens e lembranças nostálgicas. Passara o Dia dos Namorados visitando o professor aposentado, depois testemunhando a alegria dos colegas e agora passaria a noite melancólico e sozinho se lembrando do passado? Não! Pelo menos alguma coisa de bom ele teria que tirar desse dia em que se celebrava o amor e a amizade! Por isso, se levantou de supetão, decidido a dividir esse dia com a única pessoa por quem ele nutria um sentimento digno de ser celebrado! Seu vizinho e melhor amigo, Camus!

Subiu as escadarias até Peixes feito um relâmpago. Entrou na pequena biblioteca, pegou um bloco de papel de folhas coloridas, uma caneta, correu para o quarto, se deitou de bruços na cama e num misto de ansiedade e nervosismo arrancou uma folha de papel branca. Iria escrever uma carta para Camus no Dia dos Namorados! Que fosse apenas para ter a ilusão de que não seria o único ali a passar esse dia sozinho ou simplesmente porque sentia muita falta do amigo de fato.

Após quase meia hora olhando para o papel em branco, riscou uma primeira linha

Querido Camus.”

Não gostou. Achou intimo demais. Amassou a folha e jogou sobre a cama. Começou de novo.

Prezado Camus.” Novamente ficou descontente. Formal demais. Deu o mesmo destino para a folha a arrancando do bloco, amassando e jogando sobre a cama.

Foi só depois de inúmeras tentativas e mutas bolas de papel amassado que Afrodite finalmente conseguiu escrever uma carta simples e singela em papel branco.

Camus.

Como estão as coisas ai na Sibéria?

Como disse que faria, estou lhe escrevendo essa carta, porém nunca havia escrito uma carta antes! Portanto, se estiver esquisita não ria. Talvez nas próximas eu esteja mais acostumado.

Bom, hoje é Dias dos Namorados! E o que tem a ver isso com você? Nada! Apenas senti vontade de falar com você e dividir o que vi no Santuário hoje.

Aiolia e Marin estão namorando. Milo, Shura e Máscara da Morte tiveram até encontros! Milo esqueceu do presente e me pediu para fazer um buque de rosas para ele. Claro que não fiz ou ele ia ficar na mão em pleno Dia dos namorados! Acredita que até o Shaka recebeu um cartão de amor? Pois é! Imagino a cara que você está fazendo ao ler isso! Mu também recebeu um cartão! Suspeito, não acha? Aldebaran mandou flores para alguém e por falar em flores, toda a vila estava enfeitada com elas! Sei porque fui visitar meu tutor. Sim ele passa bem, apesar da idade.

E você, meu amigo? Como está indo o treinamento? Shion disse que em dois anos devo ir treinar na Groelândia. Mas vou te escrever de lá!

Bom... acho que é isso! Feliz Dia dos Namorados! Espero que tenha aproveitado! Me conte depois como foi! (Estou rindo aqui imaginando você, tímido do jeito que é, convidando alguém para sair.)

Saudades

Afrodite.

Ps.: Estou cuidando do seu Templo. Ontem matei três baratas lá! Também deixei umas rosas em cima da mesa da sua biblioteca.

Quando terminou de escrever, Afrodite releu a carta e começou a rir.

— Só eu mesmo para escrever uma carta de Dia dos Namorados para um amigo! — disse para si mesmo e logo desceu da cama às pressas para terminar a carta.

Tinha tantas coisas a dizer, mas estranhamente nada lhe vinha à cabeça nessa hora. Pegou o endereço que Camus lhe dera antes de partir, escreveu no envelope, dobrou a carta a colocando dentro dele e fechou. Sorriu novamente quando olhou para ela. No dia seguinte a colocaria no correio logo pela manhã.

Com uma estranha sensação de felicidade, colocou a carta sobre a penteadeira de seu quarto, tomou um banho, jantou e foi dormir. Tinha um sorriso no rosto. Afinal, não passara o dia dos namorados sozinho. A carta de Camus fora sua companhia.

Afrodite passou os primeiros meses, desde que mandara a carta, sofrendo de ansiedade. Cada dia poderia ser o dia em que uma carta de Camus chegaria ao Santuário. Concluía seus afazeres sempre na espectativa de um dia ser surpreendido pela resposta do amigo. Porém, os meses completaram doze, um ano se passou e as tão esperadas palavras escritas do francês não vieram.

Era novamente Dia dos Namorados e novamente Afrodite subia as doze casas sozinho, observando o alvoroço de cartões em tom vermelho e formato de coração, colegas vestidos em trages civis e entregadores de flores perambulando pelas doze casas.

Já tinha deixado de esperar a carta resposta de Camus a muito tempo porém toda aquela alegria e empolgação dos colegas o fizeram se sentir solitário e melancólico.

Quando chegou em seu Templo, Afrodite só pensava em uma pessoa. A única pessoa a quem pôde chamar de amigo e com quem certamente dividiria suas alegrias e angústias. Pegou seu bloco de papel colorido, sentou-se à escrivaninha de sua pequena biblioteca e deu início a segunda carta de Camus. Dessa vez teve bem menos trabalho para começar. Só duas bolas de papel jaziam jogadas no chão.

Querido Camus,

Como estão as coisas ai na Sibéria?

Estou lhe escrevendo essa carta, pois hoje é Dias dos Namorados. E o que tem a ver isso com você novamente? Nada! Mas tenho certeza que se estivesse aqui poderíamos sair, passear na vila e eu não teria que passar o dia sozinho, a menos que você também arrumasse alguém para dividir esse dia. Acredita que o Shaka está namorando o Mu? Não sei como o Mu, que é tão legal, suporta aquele loiro.

Me perdoe se estou parecendo melancólico e ríspido demais... Mas é que sinto muito sua falta. Até das suas broncas eu sinto falta! É muito difícil lidar com sua ausência. Porém, escrever para você me trás alívio. Assim tenho a ilusão de que está mais perto.

Falando nisso, Camus, por que não respondeu minha carta? Imagino que deva ser difícil o acesso ao correio ai onde está, mas por favor, responda. Nem que sejam só duas linhas. Sinto muitas saudades de você, meu amigo. Penso muito em você e gostaria de saber se está bem.

Como está o treinamento? Fez amigos ai? Deve estar morrendo de saudades de sua biblioteca, né? Não se preocupe. Estou cuidando bem dela para quando você voltar. Após treinar muito e aprender a controlar meu cosmo com mais segurança, consegui finalmente criar rosas sem nenhum veneno, porém só vermelhas. Deixei um vaso com elas em cima da sua escrivaninha.

Feliz Dia dos Namorados.

Saudades.

Afrodite.

Ps.: Não encontrei mais baratas no seu Templo, mas outro dia achei um rato. Ah, agora você tem um gato!

Dobrou o papel branco, colocou dentro de um envelope, arrancou uma pétala de uma rosa vermelha linda que enfeitava um vaso na escrivaninha e colocou dentro do envelope. Lacrou e nem esperou o dia terminar, foi ele mesmo levar a carta no correio da vila. Podia ser estranho e até fantasioso, mas agora Afrodite tinha a gostosa sensação de que compartilhara seu Dia dos Namorados com alguém.

Mais um outono ameno e fresco se passou, dando boas vindas a outro inverno frio e seco na Grécia. Mais um aniversário do amigo comemorado sozinho e de novo nenhuma resposta. Afrodite passara novamente um ano esperando uma carta de Camus. A essa altura já questionava a amizade deles. Teria se enfraquecido com a distância? Teria sofrido dos males do tempo que quase tudo apaga?

O “quase” era o que mantinha Afrodite ainda visitando o Templo de Aquário para tirar o pó dos livros, para deixar rosas perfumadas pela casa em homenagem o espectro da presença do francês que residia forte e nostálgica entre as paredes de pedra e para alimentar e brincar com o gato caçador de ratos intrusos.

Na semana seguinte ao aniversário de Camus, seria o Dia dos Namorados. Afrodite dessa vez resolvera não passá-lo sozinho e aceitou o convite de um rapaz que morava na vila, ao lado da casa de seu tutor. Já conversavam a um bom tempo. Toda vez que Afrodite ia visitar o professor, acabava cruzando com o ruivo alto de cabelos selvagens até os ombros e intrigantes olhos verdes. O convite para um lanche e um passeio na praia nada tinha a ver com o Dia dos Namorados, só caíra coincidentemente no mesmo dia.

Dessa vez, enquanto todos recebiam cartões vermelhos, flores e visitas, Afrodite caminhava de mãos dadas com o vizinho de seu tutor pela orla. Já controlava seu cosmo com maestria e por isso não corria o risco de envenenar quem o tocava. Essa foi a sorte do ruivo do vilarejo, que entre um sorrisinho sedutor e outro conseguiu cair nas graças do pisciano e não foi rejeitado quando tomou a boca dele num beijo quente e demorado que acompanhava o por do sol em sincronia.

No entanto, enquanto Afrodite beijava o rapaz, com os olhos semicerrados observava o rosto dele, principalmente os cabelos vermelhos em tons de cobre e as minúsculas sardas nas bochechas e no nariz. Perdido em sensações diversas e desejos íntimos, o pisciano se pegou pensando em Camus e nesse momento era o amigo francês quem ele beijava. Não à toa o beijo se tornava cada vez mais intenso e o sueco passava a explorar a boca do outro com lascívia e desejo. De repente, quando o rapaz da vila lhe disse algo sussurrado no ouvido, Afrodite foi desperto do transe em que mergulhara. Como se a voz ainda não familiar do outro não fosse condizente com sua imaginação e com o devaneio que estava vivenciando. Imediatamente se separou dele, deu uma desculpa qualquer e voltou para o Santuário, subindo as escadarias como um raio!

Confuso e aturdido, o pisciano se deixou cair em sua cama. Com os olhos pregados no teto do quarto, tudo que ele conseguia pensar era em Camus. Por que o amigo não lhe respondia as cartas? Teria sofrido algo? Vivo ele estava, pois mesmo longe e fraco, podia sentir seu cosmo ativo, então por que não lhe respondia? O teria esquecido?

Camus era tão vivo na lembrança e no coração de Afrodite, que ao beijar aquele rapaz e se pegar pensando no vizinho francês, ele decidiu não mais se enganar. Ainda era Dia dos Namorados, então Afrodite se levantou, caminhou até a biblioteca, pegou seu bloco de papel, mas dessa vez destacou dele uma folha vermelha! Sentou-se na escrivaninha e à meia luz escreveu uma carta para a pessoa de quem ele mais gostava. As primeiras linhas saíram tremulas e exitantes.

Querido Camus.

Como você está? Como vão os treinamentos?

Esperei a sua carta, mas de novo ela não veio. Fico pesando se estou te incomodando lhe escrevendo tantas vezes, mas eu sinto muito sua falta! Agora não só da sua presença, mas também de uma resposta sua! Por que não me responde? Por favor, me responda ao menos uma vez, nem que seja pra dizer que não vai me responder.

Hoje é Dia dos Namorados e eu estou escrevendo essa carta não porque todos estão comemorando, com cartões ou flores, mas porque quem eu mais queria que passasse esse dia comigo era você.

Não me importo com flores, cartões, jantares e cinema. Trocaria tudo isso para ter você comigo de novo, sua companhia, suas risadas que me faziam sentir especial e presenteado, já que eram tão raras! Sua presença é algo que me é mais vital que o próprio ar que respiro e eu estou definhando sem você. Tudo que faço, faço com muito empenho. Os treinamentos, as leituras, mas no fundo, me dedicar somente a isso foi a maneira mais fácil que encontrei de viver longe de você sem enlouquecer.

Camus, preciso te contar uma coisa. Sai com um garoto da vila. Mas não foi como achei que fosse. Passeamos na praia e antes de vir embora nos beijamos. Foi bom. Porém, eu acho que não vou conseguir ficar com ele. Não era com ele que eu queria estar. Sabe, durante o beijo eu pensei em outra pessoa e sai correndo. Sim, eu sei que foi um papel ridículo. Só não achei justo ficar com ele pensando em outra pessoa.

Não sei quando vai receber essa carta e nem se vai responder, mas mesmo assim precisava te dizer que você é muito importante para mim e que o que dizem sobre o tempo, que ele cura as feridas, ameniza a saudade e dor da ausência é mentira.

Saudades.

Afrodite.

Ps.: De repente limpar os seus livros, andar pelo seu Templo e brincar com o seu gato se tornaram atividades penosas para mim. Mas sua casa continua impecável.

Quando terminou a carta, Afrodite chorava. Não sabia bem o por quê, mas dessa vez não se sentia mais aliviado como das outras vezes em que escrevera pra o amigo. Impelido pela confusão de sentimentos que o tomavam naquele momento, o pisciano colocou o pepel vermelho dentro de um envelope, lacrou e foi para o quarto. Antes de dormir, colocou a carta debaixo de seu travesseiro e como se as palavras embalassem seus sonhos, Afrodite dormiu um sono inquieto e ansioso.

De manhã, ao se levantar, pegou a carta e passou longos minutos a observando.

— Para que vou mandar se ele não vai responder? — disse melancólico.

Porém, mesmo que seus palavras e seus sentimentos fossem jogados ao vento, resignado o sueco se levantou e antes de iniciar sua rotina de treinamentos e leituras, foi até a vila e colocou a carta no correio.

Dois meses se passaram e chegou o momento em que Afrodite teria que partir para a Groelândia. Na véspera de sua viagem, visitou seu tutor, despediu-se do rapaz ruivo da vila, que agora era apenas um bom amigo, arrumou o Templo de Aquário uma última vez e entregou o gato de Camus para que Mu cuidasse no período em que estivesse fora.

Na sua partida, seu coração era um misto de alegria e tristeza. Alegria por estar indo enfrentar um treinamento em terras geladas que, apesar de árduo e perigoso, o tornaria mais forte e definitivamente o cavaleiro defensor da casa de Peixes. Triste porque se distanciaria ainda mais de Camus, pois mesmo o décimo primeiro Templo estando vazio, a presença do seu guardião se fazia ainda forte. Do alto de seu jardim de rosas, Afrodite podia olhar para baixo e ver a casa de Aquário. Devaneava imaginando o francês ali, mesmo que em momentos seguintes sua imagem fosse desfeita tão rápido como um castelo de areia sucumbe ás ondas do mar.

Durante a viagem, Afrodite permaneceu calado e quando chegou em seu lugar de destino sentiu-se ainda mais sozinho. Passaria um ano vivendo em uma casa simples, localizada na parte mais fria da ilha e seu treinamento consistia na leitura do diário de Rugonis, o qual ensinava a manipular os venenos mais poderosos do planeta e treinar seus golpes para que fossem letais e indefensáveis. A cada dia teria que tomar uma dose de veneno até que se tornasse totalmente imune a eles e o frio da Groelândia o ajudaria a diminuir seu metabolismo e suportar as doses.

Assim, o tempo passou e o treinamento de Afrodite realmente não fora nada fácil. Por muitas vezes achou que não fosse suportar, que fosse morrer sozinho naquela casa, devido às dores e paralisias constantes que sofria. Foi em um dia desses, muito frio por sinal, que o pisciano, encolhido em um dos sofás da sala, começou a chorar. Tinha tomado uma dose de veneno muito forte e seu corpo todo parecia queimar por dentro. Tanto que tinha ficado seminu em pleno deserto de gelo. Seus dedos estavam atrofiados e suas mãos tremulas. Porém não era pela dor que Afrodite chorava e sim pela saudade!

Ali, em meio aquele torpor angustiante, a única coisa em que ele conseguia pensar era nos cabelos vermelhos de Camus de Aquário. Fechando os olhos ele ouvia o riso terno do cavaleiro, a voz rouca e acolhedora, os passos ecoando no Templo, os cabelos ao vento, os olhos avelãs que o olhavam com ternura e amizade. Afrodite amava Camus desde sua tenra idade, mas só com o passar dos anos, o amadurecimento, a ausência sofrida dele e, por fim, a morte lhe rondando como uma ave de rapina é que o jovem cavaleiro de Peixes percebera que era amor, puro e sincero, o que sentia de fato por seu vizinho da casa de baixo.

Temendo morrer ali, sem dizer o que sentia pelo francês de longos cabelos ruivos, Afrodite se levantou do sofá e ainda que trôpego caminhou a duras penas até a mesa da cozinha. Pegou um papel branco de pão todo amassado do jeito que conseguiu. Não tinha noção de tempo ali, mas sabia que o ano virara a poucos meses. Contou fazendo risquinhos na madeira da mesa com uma faca. Em suas contas, estava na segunda semana de fevereiro e sendo assim, no limiar do Dia dos Namorados. Como fizera todos esses anos, apoiou o papel na mesa, pegou um lápis carcomido pelo tempo e respirando com certa dificuldade e tendo espasmos horrorosos, abriu seu coração ao amigo, naquela que seria sua carta mais entusiástica.

“Amado Camus,

Estou te escrevendo da Groelândia. Por isso não sei quando vou conseguir colocar essa carta no correio, mas sei que, como todas as outras, a estou escrevendo próximo do Dia dos Namorados. Hoje eu sei que sempre lhe escrevi nessa data, porque sempre quis passar esse dia com você, receber e te dar um cartão, flores e sair para o cinema ou um jantar a dois. Hoje eu sei que sempre desejei ser seu namorado. Sempre desejei pegar na sua mão, beijar os seus lábios, dormir ao seu lado e acordar abraçado a você, sentindo o calor que só eu sei que você possui.

Pode me chamar de louco. Pode achar que te enganei todos esses anos, o tratando como meu amigo. Mas antes eu enganei a mim mesmo! Eu tentei procurar em outros braços o que eu só sentia quando estava perto de você. Mas para mim é impossível! E sinceramente, eu não quero nenhum outro. Me perdoe se estou sendo indelicado, se estou te deixando desconfortável, mas estou me sentindo tão mal... estou com tanta dor e... pensar em você me trás alívio e amar você me dá forças! Quero muito revê-lo, nem que seja para que me diga que não me quer e que seremos apenas amigos.

Camus, não espero que me responda essa carta, como não respondeu também todas as outras, mas te peço que não fique com raiva de mim. Eu não podia mais esperar um dia sequer pra lhe dizer o quanto eu te amo, Camus. O meu treinamento aqui é muito difícil. Estou sozinho a meses, isolado num deserto de gelo, no limiar da vida e da morte. Não sinto meus dedos e o veneno deixa minhas juntas rígidas, por isso me desculpe pela letra feia e tremida, mas quando estou muito mal, penso em você, me recordo do seu rosto, do seu cheiro e são essas recordações que me fazem resistir, além da esperança de vê-lo novamente que me mantem firme e vivo. Sei que também está isolado ai, não está? Será que sente minha falta como eu sinto a sua, Camus? Será que sente como se o ar lhe faltasse e que só conseguisse voltar a respirar quando estivéssemos juntos? Pois é exatamente o que eu sinto.

Por favor, não entenda essa minha confissão como uma cobrança. Não espero que me retribua. Não mais. Não exijo nada de você. Ficarei feliz em apenas estar perto... em apenas poder olhar para você, ouvir sua voz e testemunhar sua felicidade. Entenda que meu amor é incondicional, Camus, ele é meu, é minha companhia.

Novamente me perdoe se coloquei você em uma situação constrangedora. Eu apenas não posso mais viver sem dividir isso com você. Não posso pensar em sucumbir ao treinamento sem antes ter confessado o meu amor.

Queria muito escrever mais, pois enquanto converso com você não penso na dor e não sinto os espasmos, mas o papel está acabando e também as minhas forças. Preciso me deitar antes que o fogo da lareira apague e a casa fiquei fria demais.

Com muito amor,

Afrodite.

Ps.: Eu te amo.

Uma gota de sangue grossa e espessa escorreu do nariz de Afrodite, percorreu seus lábios e pingou no papel da carta. Do lado onde a declaração de amor pós-escrita fora feita em letras tremidas. O pisciano tentou limpar mas só borrou mais o papel amassado. Mesmo assim, em seguida o dobrou com cuidado e o guardou dentro do diário do antigo cavaleiro de Peixes.

Afrodite ficou muito mal nos próximos meses que se seguiram. A ultima dose de um veneno raro que injetara nas veias lhe daria o poder de manipular qualquer planta da Terra, mas seu preço foi alto. O pisciano passou quase três meses totalmente paralisado, mexendo apenas os braços, sangrando pelo nariz e com dores terríveis. Porém ao elevar seu cosmo e despertar finalmente o sétimo sentido, Peixes conseguiu se tornar imune a mais aquele veneno e curar seu corpo. Assim, em pouco mais de um mês, o cavaleiro já recuperara os movimentos e na primeira oportunidade foi até a cidade mais próxima e colocou a carta que escrevera a Camus no correio. Antes pensou muito se deveria fazer isso ou não. Porém, o que teria a perder se não o fizesse? Impelido pela emoção, parte intrínseca de si, selou a carta e seu destino. Se Camus ia aceitá-lo ou não, se ia responder ou não só o tempo iria dizer.

Quando voltou ao Santuário, no fim do inverno grego, já era quase mês de fevereiro. Ficara quase um ano na Groelândia e Camus ainda não tinha voltado. Vasculhou sua biblioteca, os papéis e livros que foram deixados para si em sua ausência. Nenhuma carta de Camus estava no monte. Era como se tudo que vivera tivesse sido um sonho e como se o amor que confessara, através de letras tortas e respingos de sangue tivesse sido congelado em uma parede de gelo eterno e deixado em hibernação.

Logo seria Dia dos Namorados novamente e não teria o que escrever para Camus, já que, diante da quietude angustiante dele só restava a Afrodite esperar por sua volta, já tendo uma resposta que não viera em forma de uma carta, mas através do silêncio.


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Notas finais do capítulo

Prontinho mais cap saindo do forno. Gostaram? Sim...Não... triste né? mas o desfecho não vai demorara ser postado.
Lembrando que os comentarios são MUITO importante para nós... pois nos ajuda a vermos se estamos agradando, onde erramos, oq ue podemos melhorar..enfim.. deixe seu comentario.. não custa nada é rapidinho... e assim estimulam nós autoras a escrevermos cada vez mais e com mais carinho.

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