Kristin Lang conheceu John Winchester logo após este ter ficado viúvo, aos 28 anos. O irmão mais velho de Kristin era o juiz que deveria decidir se John manteria a guarda dos filhos. Kristin fora ao Fórum de Topeka falar com o irmão e se deparara com o rapaz de olhos tristes que mudaria sua vida para sempre.

As circunstâncias da morte de Mary Winchester suscitaram todo tipo de especulações e a imprensa local acompanhava o caso com estardalhaço. Para muitos, John havia assassinado a esposa e incendiado a casa para apagar as provas. Mas, muitos outros, principalmente aqueles que tinham contato pessoal com ele ou o ouviam falar com emoção, acreditavam na sua inocência e na sinceridade de seu pesar e de seu amor pela esposa recém-falecida. O jovem John lembrava Sam: era impossível conhecê-lo e não gostar dele.

Kristin, 10 anos mais velha que John, se interessou pelo belo jovem e se comoveu com a história de amor trágica do jovem pai.

Viúva há 5 anos, ainda muito bonita, com um nome tradicional e uma enorme fortuna, atraía um grande número de pretendentes. Mas sabia que mesmo aqueles que realmente gostavam dela, tinham perfeita consciência que grande parte do interesse vinha de seu status social e da fortuna familiar.

Kristin era extremamente inteligente, astuta e perspicaz, mas era freqüentemente subestimada por ser bonita e rica. A morte da filha e a batalha pelo neto mostraram a ela própria do que era capaz.

Percebia também que John era diferente. Que, para ele, o amor viria sempre antes do dinheiro. Que se ele se aproximasse dela, seria por amor. Começara a fantasiar sobre o amor imortal de John e Mary. E, sem se dar conta, começou a ver ela própria no lugar de Mary. Até que viu o que estava óbvio para todos: que estava apaixonada por John Winchester.

Sempre fora cortejada e endeusada, nunca precisara se esforçar para ser vista como mulher. Com John, não conseguia passar da categoria de boa amiga. Mas estava disposta a esperar que o luto passasse. Garantir que John conservasse a guarda dos filhos era parte importante de sua estratégia. Ganhar o amor dos filhos dele era outra parte importante. Mas também estava difícil ganhar a simpatia do garotinho louro, sempre emburrado.

Com o menor não haveria problema, Sam era ainda um bebezinho. Quando vinha à sua propriedade em Topeka brincava com Jason e Kai. Havia muitas fotos dos três bebês juntos.

Também nunca tinha sido antes confrontada com sua verdadeira idade. A sua proximidade com o rapaz 10 anos mais jovem era vista com desconfiança e olhares de reprovação. Principalmente do irmão mais velho, Clark, e sua esposa, Chloe. A cascavel nunca gostara da extroversão de Kristin. De seu gosto por festas, de sua alegria, de sua beleza, de sua força. Primeiro, cobrava atitudes de eterna viúva. Depois, parecia que queria vê-la enterrada junto com a filha.

Apenas seu irmão caçula, Tom, deu força a Kristin, para que lutasse por seu amor. Foi Tom quem propôs que convidasse John para um jantar com toda a família.

No dia marcado, duas horas antes da hora marcada, Clark telefona. Chloe estava indisposta e não poderiam participar. Não foi surpresa para Kristin.

A surpresa seria outra. Mais que surpresa, perplexidade. John toca a campainha e seu irmão se apressa em abrir a porta. Ela vê de longe os dois conversando na porta, com John ainda na soleira e o irmão de costas para ela. Ela levanta sorridente e se dirige para eles. Vê então claramente quando John puxa uma faca que trazia nas costas e a crava no peito de Tom.

O choque paralisa Kristin e faz com que os fatos seguintes fiquem confusos para ela. O que era aquela horrível fumaça negra que saiu em jato da boca do irmão moribundo? John empunhando firmemente a faca com os olhos vidrados, olhando com ódio o corpo caído de Tom. John, com o smoking sujo do sangue de Tom e ainda empunhando a faca que o matara, vindo em sua direção. Falava coisas sem sentido, havia enlouquecido. Dizia que Tom havia sido possuído por um demônio, o Demônio de Olhos Amarelos.

Kristin desmaia.

Quando acorda horas depois em seu quarto por um minuto acredita que foi tudo um pesadelo. Até ver manchas de sangue em seu vestido. O mesmo que vestira para receber John para o jantar em família. Não fora um pesadelo. Era real. Kristin grita e começa a chorar.

Naquele exato momento, começa a mudar por dentro. Naquele momento, começa o processo que transforma a alegre e ousada Kristin na mulher precocemente envelhecida que 20 anos depois abre a porta para mais uma vez receber John Winchester em sua casa: a severa e religiosa Sra. Lang.

– Há quanto tempo, John.

– Muito tempo, Kristin.