Juntos escrita por Dracule Mihawk
Notas iniciais do capítulo
Como shipper, eu precisava, e muito, escrever sobre EreMika. Depois de Levi x Petra, é meu ship preferido de SnK.
Espero que goste.
— Ei, Jean! Eu já te falei, não? Eu não quero...
— Quer sim, Connie! — insistiu Jean, cochichando com o outro, enquanto, juntos, espionavam por entre as árvores duas pessoas de sua turma de cadetes. — E vai ficar aqui, sim, também! Não posso ficar vendo isso tudo sozinho e...
— Então não veja! — ralhou Connie Springer. — Muito mais aceitável do que ficar vendo e ainda por cima me forçar a ver também... E veja! Eles não estão fazendo nada.
Jean Kirschtein olhou estupefato para o companheiro.
— “Nada”? Você disse que eles “não estão fazendo nada”? Connie, olhe direito! Eles... Eles estão... de mãos dadas! Isso é inaceitável!
— Você está exagerando — falou Connie, cansado de estar há horas lidando com o desapontamento amoroso do amigo. — As mãos estão só um pouco encostadas; nada alarmante.
Os dois rapazes estavam espiando de longe uma conversa particular entre Eren Jaeger e Mikasa Ackerman, a paixão à primeira vista de Jean desde o início do treinamento do 104º Corpo de Cadetes. O casal estava junto e assentado sobre um cercadinho simples e bem ajeitado de madeira. Jean, que passava por perto, parou de imediato para espionar; Connie também teve a infelicidade de estar por perto, mas este por sua vez foi abordado e forçado por Jean a acompanhá-lo na vigilância. Há um pouco mais de duas horas estavam ali, escondidos. Connie se perguntava que tanto de conversa era aquela entre Eren e Mikasa, e como Jean conseguia se manter ali espiando toda aquela monotonia.
Talvez Connie devesse agradecer por algo de diferente ter ocorrido, ou suspirar e olhar piedoso para o rosto desesperado de Jean; estava em dúvida. O que tinha certeza naquele momento era de que, finalmente, as mãos de Eren e de Mikasa estavam unidas.
— Aquele maldito aproveitador! — Jean amaldiçoou Eren. — Deveria ser eu! Ele... Ei, Connie! O Eren tá se aproveitando da inocência da Mikasa!
O outro suspirou tedioso.
— Você fala com se a Mikasa fosse uma garota besta idiotamente apaixonada. A Mikasa que eu conheço é tudo menos isso.
— Eu vou até lá! — falou Jean decidido. — Eu preciso acertar as contas com aquele babaca e...
— Ei, Jean!
Impetuosamente, Connie se lançou sobre Jean, impedindo-o de prosseguir. No chão, os dois rapazes lutavam; um para se libertar e surrar o rival Eren, outro para impedir o companheiro de cometer uma burrice.
— Você está louco, Jean?! — perguntou Connie em voz alterada. — Ficou maluco? Quer atacar o Eren na frente da Mikasa? Você sabe o que acontece quando alguém vai pra cima do Eren, não sabe?
— Dane-se tudo, eu preciso...
— Ela não vai te achar legal, seu imbecil!, vai te dar uma surra!
— Posso apanhar depois, mas eu tenho que acabar com a safadeza do Eren agora e...
— Nem a Annie, que sabe artes marciais, conseguiu aguentar a Mikasa direito, imagine você, seu idiota! Desista dessa estupidez!
Afastados dali, no cercadinho, Mikasa olhou curiosa para trás.
— Eren, você está ouvindo? Parecem vozes.
Eren ignorou-a.
— Deve ser só algum animal nas árvores, Mikasa. Deixe pra lá.
— Eu poderia ter jurado que ouvi as vozes do Jean e do Connie naquela direção...
— Pra que eles iriam nos espionar, hem? — Eren encarou-a tranquilo. — Não faz sentido; estamos só conversando, e mesmo que estivéssemos fazendo outra coisa — Mikasa arregalou os olhos na hora —, é problema nosso, né?
— É. É, sim.
A vista do sol vespertino era belíssima, ainda mais atrelada à sensação gostosa causada pela brisa fresca. Ao Norte, a Muralha Rose. Eren ainda podia se lembrar do que havia acontecido uma semana antes, quando, na forma Titã, conseguiu bloquear o rombo feito no muro de Trost pelo Titã Colossal. Saber que ele foi crucial para a reconquista de um território da humanidade animava-o, mesmo recordando que, dias depois de seu feito histórico, foi tratado como um monstro por muitos e surrado em público pelo próprio Cabo Levi, seu atual superior na Tropa de Exploração. O que importava para ele era a vitória, a vitória sobre Eles, a tão outrora inatingível esperança de um futuro fora das muralhas que, pouco a pouco, tornava-se palpável. Sorriu sem querer, pensando em tudo aquilo.
— Amanhã, Mikasa — falou com satisfeita empolgação. — Amanhã será nosso primeiro dia como legítimos membros da Tropa de Exploração. O meu sonho... Eu finalmente consegui. Agora resta esmagá-los, passar por todos eles, exterminá-los! Eu quero ir lá fora e trucidar os Titãs! Eu sei que posso! E vou fazer...
— Eren, por pelo menos uma vez você poderia evitar falar nisso? — interrompeu-o Mikasa.
Eren olhou-a atônito.
— É o meu sonho, Mikasa! — defendeu-se. — Eu quero viver fora das muralhas, ir e explorar o mundo lá fora! Você não?
— Sim, mas...
— Então pronto, Mikasa! Só tem um jeito, não é? Destruir os Titãs, é isso que devemos fazer!
— Só estou dizendo que você é muito precipitado — contestou. — Muitas vezes age sem pensar e acaba se dando mal.
— O que está querendo dizer, Mikasa?
— Que eu preciso ir com você, Eren. É isso.
— Não entendi. Você também quis ir para a Tropa de Exploração; é lógico que você vai comi...
— ... Não assim, Eren — falou como se estivesse ensinando a uma criança. — Eu preciso estar com você, preciso te proteger.
Eren abaixou a cabeça, rindo sem graça.
— Eu já te falei antes, Mikasa. Eu não sou seu irmão mais novo, e muito menos uma criança. Você não precisa ficar me protegendo e... Não, me deixe terminar de falar! — Eren suspirou pesadamente, reflexivo. Olhou do chão gramíneo para o rosto em expectativa de Mikasa Ackerman.
Continuou:
— Eu acho muito legal, às vezes, esse seu desejo de me proteger. Digo, às vezes é bom, mas, outras vezes, não. Mikasa, eu também preciso aprender a andar com as minhas pernas. Eu preciso saber o que fazer sozinho, entende? Haverá lutas que serão minhas e somente minhas.
Mikasa virou o rosto para frente, para o sol poente. O tempo de quietude dela incomodou Eren um pouco, que esperava que Mikasa dissesse algo imediatamente.
— Ei, Mika...
— Eu só não quero perder minha família de novo, também já te disse isso — falou baixo, ainda com o olhar distante.
Eren, calado, observava Mikasa com certa surpresa e atenção. O rosto sereno e bonito, os cabelos negros, os lábios grossos e um pouco rosados, o corpo atlético e ainda assim feminino; olhou-a por completo e teve a sensação de conhecê-la e nunca tê-la visto antes, pelo menos não direito. Ali, ao lado dele, com a mão sobre a dele, era Mikasa Ackerman, irmã de criação.
“Não” pensou Eren. “Era Mikasa, só Mikasa”. Para ele, esta informação era suficiente.
— Mikasa.
Ela tornou a olhá-lo e, surpresa, sentiu-o pegar-lhe pela mão ternamente. O silêncio dela, diferente de antes, não o incomodou, antes, estimulou-o a prosseguir.
— Eu não vou morrer. Eu tenho que sobreviver, eu tenho que ficar vivo... Eu preciso. Pela minha mãe, pelo pessoal, por todo mundo. E por você.
Vê-lo dizer aquilo e sorrir quase imediatamente foi indescritível para Mikasa Ackerman. Eren Jaeger, a pessoa que a tinha ensinado como viver, que a tinha protegido, que a tinha aquecido com o cachecol vermelho. Como explicar tudo o que passava em sua mente naquele instante, ela não sabia. Só tinha a plena convicção de que, não importava quão durona e fria ela pudesse ser, na presença de Eren, ela era uma garota normal, gentil e, acima de tudo, sentimental.
— Obrigada, Eren.
— Vamos ficar juntos, como sempre ficamos. E que venha a Tropa de Exploração e inúmeras jornadas fora das muralhas. — Eren disse descontraído.
— É, você tem razã...
Mikasa desconcertou-se quando Eren repousou a própria cabeça no colo dela. Boquiaberta, sem reação e sem qualquer força nas pernas, tremia de leve. Eren percebeu a confusão que havia causado no corpo da garota, sentiu o tremor nas coxas dela, e sorriu consigo.
— O dia está bem bonito, não é? Sabe, Mikasa, lembra até um pouco nossa casa, não é?
Foi quando a mente de Mikasa retornou a órbita e a moça percebeu que deveria dizer alguma coisa.
— Sim, parece aquele dia de Ano Novo de 845.
— É — Eren sussurrou bocejante; os olhos semicerrados à frente. — È igualzinho...
O tempo passou sem que nenhum dos dois dissesse nada. Mikasa olhou para baixo e, quieta, viu Eren adormecido em seu colo. Parecia uma criança, o que, pensou Mikasa, era até irônico, uma vez que o rapaz mesmo disse que não o era.
Ela perdeu todo o interesse pelo sol crepuscular, atenta ao mais ínfimo detalhe do rosto do irmão de criação. Mikasa esboçou um sorriso introvertido e quase imperceptível, os olhos ternos em Eren. Tomou coragem e, com a mão direita, alisou-lhe os cabelos tímida e carinhosamente.
— Este mundo é tão cruel... — os dedos de Mikasa deslizavam suave pela cabeleira do rapaz. — E tão lindo.
Em meio às árvores, impotente, Jean gaguejou ao ver tudo aquilo; era demais para ele. Virou-se abrupto e murmurou:
— Vamos, Connie, eu não quero... Connie? Cadê você?
Depois de ter sido imobilizado e convencido a permanecer escondido por Connie, Jean voltou a assistir tão atentamente ao desenrolar da conversa entre Eren e Mikasa que sequer percebeu que tinha sido abandonado ali pelo até então companheiro de espionagem. Agora, sozinho, Jean falou desgostoso:
— Maldito Connie, me deixou aqui.
Levantou-se, olhou uma última vez para Mikasa — que tinha Eren adormecido em seu colo —, fugiu com o olhar e saiu silencioso em busca de Connie Springer.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Obrigado por ler!
Até mais o/