Uma lição para Usopp escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 1
Uma lição para Usopp - Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Esta é a primeira história de One Piece que escrevo. Cara, ó o gelo na barriga que sinto neste momento... :S

Espero que goste!



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Ilha de East Brown, Grand Line, Novo Mundo.

— A Marinha! A Marinha! A Marinha está vindo! A Marinha está vindo! — Os gritos desesperados de Usopp pelo navio chamaram a atenção de toda a tripulação. Luffy, que pescava na proa do Sunny — mais precisamente na enorme cabeça de leão — quase caiu na água; Zoro, que exercitava os braços com alteres pesadíssimos e, ao mesmo tempo, tirava uma bela soneca, acordou ainda zonzo; Chopper deixou cair todos os livros, assim como Franky o piano que trazia para Brook; Robin, que bebia uma xícara de café à cobertura da embarcação, levantou os olhos, um pouco surpresa com a informação.

O pior caso foi o de Nami. Às pressas para manobrar o Thousand Sunny, a navegadora esqueceu-se de que há poucos instantes estava tomando banho. Ela gritou de vergonha; Sanji — que viera apressado da cozinha no mesmo momento —, de alegria.

— Nami-san! — E desmaiou devido à alarmante hemorragia nasal.

Luffy tomou a frente da tripulação, com Zoro e Franky imediatamente a postos. Usopp subiu ao mastro mais alto com o intuito de ter maior visibilidade. Chopper, na forma Heavy Point, e Brook postados, respectivamente, a estibordo e bombordo, completavam a defesa do navio. Nami fugira para o quarto para se vestir; Sanji ainda estava desmaiado; Robin ainda bebia café.

— Ei, Usopp, onde está a maldita Marinha? — perguntou Franky impaciente.

Não houve resposta.

— Ei, Usopp! — rosnou Franky.

Tiros. Dezenas de tiros puderam ser ouvidas à distância. Pelo que parecia, eram marinheiros suficientes para lotar dois galeões.

— Merda. Desde quando a Marinha envia tantos homens assim para uma ilha tão pequena como East Brown? — murmurou Zoro, desembainhando as três espadas.

— Alguém avisou a eles que estaríamos aqui! É a única explicação! — resmungou Franky.

Nami, já vestida, cruzou às pressas a cobertura do navio para se juntar aos companheiros. Nas mãos a Sorcery Clima-Tact.

— Onde eles estão? Eu ouvi os tiros! — ela falou ofegante.

— Eu não vejo nada daqui, Luffy! — gritou Chopper.

— Nem daqui, Luffy. Será que eles foram embora? — perguntou Brook.

Luffy coçou a cabeça, fungou e, virando-se para Nami, perguntou de forma idiota:

— Ei, Nami. Será que eles foram embora?

— E eu que vou saber?! Cheguei agora, Luffy! — ela berrou para o capitão.

— Ah, é.

Robin finalmente terminou a bebida e, tranquilamente, atravessou a cobertura do navio. Um sorriso discreto nos lábios como de costume.

— Ei, Robin! Cuidado! Eles estão atirando! — gritou Chopper desesperadamente.

Mas Robin apenas balançou a cabeça.

— Não estão, não, Chopper. E tenho certeza de que não há marinheiro algum.

A confusão foi geral. Todos com expressões de espanto nos rostos.

— O quê? — indagou Luffy; os olhos arregalados. — Mas o Usopp disse que...

O capitão parou de falar quando Robin, com um risinho, apontou para o elevado mastro. As velas estendidas não impediam a todos de verem um atirador ajoelhado sobre a cúpula de vigia abafando a boca para conter a forte risada.

— O Narigudo-kun nos enganou, pelo visto.

— Feliz Dia da mentira, pessoal! — E Usopp tornou a cair nas gargalhadas. — Ai, vocês tinham que ver as caras de vocês... Foi tão engraçado!

— Usopp! Você mentiu para gente! — berrou Luffy irritadíssimo antes de, miraculosamente, cair na gargalhada também. — Genial!

— Luffy! Pare de rir, seu idiota! — repreendeu Nami. — Usopp! Você não deveria mentir desse jeito!

— Mas e os tiros? Eu ouvi o barulho dos disparos! — Franky questionou.

Usopp, ainda rindo, tirou do próprio cinto um objeto retangular e apresentou-o, erguendo-o.

— Isso é um imitador de sons — disse. — Eu mesmo inventei! Legal, não é?

— Incrível! — Luffy arregalou os olhos, brilhantemente impressionados, e a boca. — Usopp, posso experimentar depois?

Nami se irritou.

— Não, ninguém vai disparar ou fingir disparar mais nada! Usopp, desça aqui agora!

Não houve bronca que fizesse o atirador dos Chapéus de Palha para com as enganações ao longo do dia. Chopper foi a maior vítima, por ser inocente demais para duvidar do companheiro. Depois foi Sanji, que, assim que se recuperou da hemorragia, tornou a desmaiar — Usopp havia lhe dito que Nami e Robin estavam tomando banho juntas e esperavam por ele — devido a uma segunda perda de sangue.

Desta forma, Usopp terminou o dia irritando a todos os amigos, inclusive Luffy e Robin, o que era dificílimo de ser feito.

* * *

Exausto, Usopp foi o primeiro a ir dormir. Ele dirigiu-se aos quartos aos risos solitários e indubitavelmente satisfeitos; sentia-se realizado. Como era divertido enganar as pessoas, ele pensava. Mesmo que tivesse perdido o costume de mentir frequentemente durante os dois anos que ficou longe dos amigos, um dia separado apenas para brincar com eles não faria mal, ah, era certo que não.

Usopp não poderia estar mais errado.

Esperaram-no adormecer para se reunirem na cozinha. Todos os demais tripulantes do Thousand Sunny estavam ali a pedido de Nami, que, na mesa de centro, dava início ao encontro.

— Ei, Nami, anda logo — Luffy abriu a boca num bocejo pobríssimo em educação. — Eu quero dormir...

— Cale a boca, Luffy! — repreendeu Sanji, socando a cabeça do capitão. — A Nami-san quer falar! — Virou-se apaixonadamente para a jovem e, suspirando, pediu para que ela falasse.

— Obrigada, Sanji-kun — agradeceu Nami. — Bem, todos sabem por que estamos aqui, não é?

— Não, eu não sei — respondeu Luffy. — Posso ir dormir agora, Nami?

Sanji socou-o pela segunda vez.

— Usopp — comentou Zoro, tomando um gole do copo de rum. — E as mentiras dele.

— É verdade — resmungou Chopper, tentando parecer mais irritado e menos fofo. — O Usopp perdeu os limites hoje.

— Ele era assim antes? — perguntou Brook. — Ou era pior?

— Você nem imagina, Brook — murmurou Nami. — Mas hoje ele se superou! Definitivamente se superou! Eu saí pelada no meio do navio só por causa dele! Argh!

— E eu nem pude ver sua calcinha, Nami-san — disse Brook. — Até porque você não estava de calcinha, yohohohohoho!

— Nami... — chamou Luffy dengoso. — E agora, posso ir dormir?

— A Nami deseja se vingar do Narigudo-kun — falou Robin, contemplando os pensamentos da outra. — Estamos aqui para discutirmos a melhor forma.

— Robin-swan! Sempre tão inteligente! Sempre tão linda! — Sanji suspirou apaixonado.

— Hum? Vingança? — Os ouvidos de Luffy se atinaram. — Contra o Usopp?

— Isso parece divertido. — Franky sorriu. — Bem divertido.

Zoro terminou de beber e, aproximando-se dos outros, comentou:

— Seria bom dar uma lição no Usopp, mas como pretendem fazer isso?

— Aquele Usopp, Hunf! — resmungou Chopper. — O Sanji quase morreu hoje. Perdeu muito sangue!

Por alguma razão, aquelas palavras fizeram Nami pensar. Olhou para o pequenino rosto irritado de Chopper e, depois, para a expressão estupidamente apaixonada de Sanji.

— Marinha... Tsc. Não acredito que caí numa mentira esfarrapada dessas — reclamou Franky.

— Usopp quase nos mata do coração... — resmungou Chopper.

— Eu não, yohohohohohoho! — Riu Brook. — Eu já morri! Yohohohohoho.

De repente, Nami teve uma ideia.

— É isso! Já sei! — exclamou.

— Conte-nos o seu plano, Nami — pediu Robin.

— É... Porque eu quero dormir... — murmurou Luffy.

— Vou contar. — A navegadora estava extremamente entusiasmada com a recente ideia. — Chopper, Sanji-kun. Venham! Vou precisar de vocês dois.

* * *

Usopp tarde no dia seguinte. Estranhou, assim que se levantou da cama, a ausência do aroma gostoso da comida de Sanji, dos berros de “bom-dia” de Luffy, das imediatas broncas de Nami... O que estaria acontecendo, afinal?

Curioso, deixou o camarote, saindo ainda de pijamas. Chegando à cobertura ele, finalmente, teve uma visão mais panorâmica do navio pirata...

Não havia ninguém a bordo.

— Hã? Pessoal? — chamou. — Luffy? Zoro? Alguém aí?

Os passos eram vagarosos e tímidos. Usopp não esperava que o resto do grupo saísse em uma aventura e o deixassem. Houve um que de irritação quando ele tornou a chamar os amigos.

— Nami? Sanji? Franky?... Olha, eu sei que vocês estão aí — mentiu. — Apareçam!

Contudo apenas a própria voz lhe veio aos ouvidos. Qualquer outro som remetia-se às quebras de ondas e das gaivotas.

— Robin? Chopper? Brook? — de raivoso para apreensivo ele chamava pelos companheiros, porém não obtinha quaisquer respostas e isso o incomodava.

— Se isso for uma brincadeira, podem parar imediatamente e...

Um eco. O disparo de um canhão rasgou o ar e espantou diversas aves da amurada do Sunny. Mesmo longe dali o ruído foi ensurdecedor, tamanha a intensidade que Usopp quase caiu assustado. Os olhos arregalados, o coração disparando no peito, a boca aberta...

— O que foi isso? Foi na cidade, mas o que...

— Usopp!

O rapaz se virou imediatamente, atendendo ao chamado. Era Nami, que subia pela rampa do navio seguida por Robin e Brook.

— Nami! Pessoal! É muito bom ver...

Usopp calou-se na hora, vendo nitidamente os olhos chorosos da navegadora. As roupas dela estavam sujas e empoeiradas. Robin e Brook não estavam em melhor situação.

— O-o que aconteceu? O que houve? — ele perguntou aturdido.

— Usopp... Ah, Usopp! — E Nami se jogou nos braços do amigo, chorando muito no ombro dele. Sem saber o que fazer, Usopp levou as mãos às costas da garota, tentando acalentá-la.

— Nami... O que...?

— Mataram... Eles mataram...

— Pelo amor de Deus, Nami, mataram quem? — Usopp se assustou. Em poucos segundos estava quase tão desesperado quanto à ruiva.

— O Sanji-kun... — Foi Robin quem deu a notícia. Serena, mas visivelmente abatida, ela respondeu. — A Marinha apareceu de repente e... O mataram.

Usopp parou, absorvendo cada uma daquelas palavras. Olhou para Nami, para Robin e, por último, para o silencioso Brook. Depois, caiu na risada.

— A Marinha? Ah, por favor. — Sacudiu a mão, desdenhando da cena e das palavras como um todo. — Eu vim com essa ontem. Vocês não tinham uma história melhor, não?

— É verdade, Usopp — Nami gemeu, erguendo o rosto tristonho para o do atirador. — É verdade... O Sanji-kun...

— Usopp — pronunciou-se Brook —, estávamos indo comprar comida e itens para as dispensas quando fomos abordados por pelotões da Marinha. Estávamos cercados; não havia escapatória, mas...

— O Sanji-kun conseguiu abrir uma brecha — continuou Robin. — Para, logo em seguida, ser baleado... Chopper tentou socorrê-lo, mas não foi possível.

— Robin. — O moreno ainda ria soluçante. — Os outros tudo bem, mas você contando mentiras? Até parece que... FRANKY!

Vendo o mecânico da tripulação, Franky, o ciborgue, subir penosamente a rampa, foi que Usopp temeu que as palavras de Nami e dos demais fossem verdadeiras.

— F-Franky... — perguntou Usopp gaguejando. — O que houve com a s-sua perna?

A expressão de Franky transbordava desprazer. O corpo de metal estava parcialmente destruído, a perna esquerda do ciborgue tinha sido arrancada, a parte orgânica do rosto do mecânico estava sangrando.

— Usopp!... Dormindo até tarde, é?

— Franky... Não me diga que... — Usopp olhou novamente para Nami, Robin e Brook, antes de tornar a encarar Franky. — Não me diga que o Sanji está...

— Nas costas... — Franky abaixou a cabeça, caindo sentado sobre a cobertura do navio. Cobriu o rosto com as mãos gigantescas. — Um soldadinho desses conseguiu baleá-lo nas costas... Nem acredito.

— Parem... Isso não tem graça nenhuma, ouviram? Não tem graça ne...

Por fim, Chopper, na forma Walk Point, subiu no navio, trazendo o corpo de Sanji nas costas. Zoro e Luffy vieram em seguida tão apressados quanto podiam.

— Ai, meu Deus! Sanji! — Usopp correu em direção ao loiro, mas foi barrado por Zoro. — Ei, Zoro! Saia da frente! Saia!

— Cale-se, Usopp — murmurou Luffy, que, ao lado do corpo de Sanji, não quis olhar para o companheiro. — Agora.

Usopp tremeu, não conseguia pensar em nada, falar nada. Os rostos abatidos, revoltados, dos companheiros eram como fortes tapas na face dele. Por sobre os ombros de Zoro ele pôde ver Chopper, inutilmente, tentando reanimar o cozinheiro; era algo deprimente de ser contemplado.

— Não adianta... — Chopper balançou a cabeça negativamente. — Ele não...

Usopp conseguiu de desvencilhar de Zoro e, agachou-se ao lado de onde Chopper deitara o corpo de Sanji. Quando o atirador pôs o ouvido sobre o peito do cozinheiro, quase desmaiou.

O coração de Sanji não batia.

A confrontação com a verdade nunca tinha sido tão dolorosa. Os outros diziam a verdade, e Sanji estava morto.

— Não... — Usopp sentiu os olhos marejarem, a boca se abrir numa mistura de incredulidade e pesar. — Sanji...

— A-a culpa foi toda sua, Usopp! — disparou Nami, chorando. — T-toda sua! Se você não tivesse ficado no navio... Se tivesse protegido o Sanji-kun...

— Nami... Eu...

— Você é um covarde, Usopp! Um covarde!

A voz de Nami repetidas vezes, tonitruante, bombardeava os ouvidos e ecoava na mente de Usopp, dilacerando-o por dentro. Sentia culpa, muita culpa. E se ele tivesse acordado mais cedo? E se não tivesse se cansado devido às brincadeiras com os amigos...?

As brincadeiras.

Tudo era muito complicado de se pensar, de agir; Usopp sentia-se inerte ante aos acontecimentos. Sanji estava morto, era apenas o que conseguia se concentrar. Deixou o corpo cair ao lado do de Sanji e, fingindo não ouvir os prantos de Nami e dos demais, fechou os olhos, chorando silenciosamente.

Só depois de vários minutos em silêncio e olhos obrigatoriamente fechados, resolveu abri-los para encarar os rostos absortos em tristeza e desaprovação à atitude covarde de Usopp.

Foi então que percebeu que o navio havia levantado âncora e, naquele instante, estava dentro de um nevoeiro.

— Pessoal? — Todos haviam desaparecido. O Thousand Sunny estava em absoluto silêncio. — Cadê vocês?

A única resposta que Usopp obteve foi o ruído do vento contra a estrutura do navio.

— Pessoal? P-pesso-ARGH!

Braços mais fortes que os dele envolveram-no. Usopp, num súbito, virou o rosto para o lado e viu quem era seu captor.

Era Sanji.

— Sanji! — Usopp arregalou os olhos e, assustado, abriu a boca o máximo que conseguiu. — O que houve com você?

O rosto do cozinheiro estava vermelho como sangue, os olhos arregalados, a boca aberta. Sanji babava como um animal.

— Sanji... — ele disse, apertando Usopp contra si. — Sanji quer comer cérebro... Cérebro...

— Ai, meu Deus! Sanji! Você virou um zumbi! Você virou um zumbi!

— Cérebro... Sanji quer comer cérebro... Cérebro...

Com muita dificuldade, Usopp conseguiu se desvencilhar de Sanji e correu para longe, para a amurada de Sunny. Aos passos lentos e mãos estendidas, Sanji dirigia-se até Usopp como um verdadeiro morto-vivo.

Para o atirador dos Chapéus de Palha aquele era o fim do homem mais bravo dos mares, do Rei dos Atiradores, do Grande Capitão Usopp. Era o fim, um triste fim.

— E-eu vou pular... Não se aproxime Sanji... — Usopp tremia até os dentes. Sentia que, caso não pulasse na água naquele instante, desmaiaria de pavor. — Eu estou avisando... Eu vou... ARGH! ME SOLTA!

Os braços de Sanji, pela segunda vez, conseguiram envolver Usopp, enlaçando-o e imobilizando-o por completo. A língua do atirador parecia pela boca, assim como os globos oculares; estava muito aterrorizado.

Usopp sentia as entranhas doerem, os músculos amolecerem, a consciência, pouco a pouco, deixando-o.

— Cérebro... Sanji quer comer cérebro...

— É o fim... Adeus, Sunny, adeus, pessoal. Vou morrer...

A pele de Usopp arrepiou-se, os sentidos confundiram-se; o hálito de Sanji, tão próximo de seu rosto, causava-lhe náuseas. Ouviu as últimas palavras do zumbi Sanji, trêmulo.

— Feliz Dia da mentira atrasado, Usopp.

Não fosse o pavoroso destino que estava imaginado para si, Usopp teria aberto os olhos antes. A frase dita por Sanji, aquelas simples seis palavras, demorou a ser completamente processada na mente do atirador do bando. Usopp pensava, pensava e pensava se ouvira alguma bobagem ou besteira da própria cabeça ante a morte iminente.

Contudo quando abriu os olhos, viu o rosto de Sanji completamente normal, sem a expressão cadavérica e animalesca. Viu também o navio sair do nevoeiro e, próximos de Sanji, todos os outros membros da tripulação do Chapéu de Palha; alguns às gargalhadas, outros apenas sorriam.

— Vocês... — Usopp olhou rosto por rosto, constatando a veracidade que os próprios olhos tentavam lhe exibir. — Como vocês...? Vocês tinham sumido, o Sanji estava morto, daí ele virou um zumbi e quis comer meu cérebro e... Afinal, o que diabos eu estou dizendo? O que diabos aconteceu aqui?

— Isso é vingança, Usopp. — Por mais sério que tentasse parecer, era impossível para Chopper não demonstrar um resquício de fofura.

— Tinha que ver a sua cara, narigudo! — Franky pôs a mão no peito, rindo o mais alto que conseguia.

— Franky... M-mas a sua perna... Ela foi...

— Arrancada? — desdenhou o ciborgue. — Francamente, Usopp. Você não sabe a diferença entre arranca e desmontar? Droga, ainda bem que eu entrei para essa tripulação. Nem consigo imaginar ter você como mecânico.

— Desmontada? — O queixo de Usopp quase caiu. — Isso quer dizer...

— Que nós armamos para você, Usopp. — Zoro estava sorrindo quase imperceptivelmente, satisfeito. — O tempo todo.

— Mas o coração do Sanji? Eu ouvi! Ele tinha parado!

— Isso fui eu também — disse Chopper. — Ontem, quando estava cuidando da hemorragia do Sanji, usei a receita infalível da Dra. Kureha. Ela faz com que o paciente tenha parada cardíaca por alguns minutos...

— E isso aí é remédio?! — exclamou Usopp.

—... Depois, quando o organismo entra em estado de reestabelecimento, há multiplicação de hemácias e, consequentemente, muito sangue é bombeado dentro do corpo. Entendeu?

— Não!

— A aparência “zumbi” do Sanji, Usopp — explicou Chopper. — Ele só precisou fingir ser um morto-vivo.

As risadas dos Chapéus de Palha pareciam refletir o quão idiota Usopp tinha sido.

— A ideia foi toda minha. — Divertia-se Nami. — A morte do Sanji-kun, a perna do Franky, tudo. Até usei meu Mirage Tempo para criar o nevoeiro.

— Você tinha que ver a sua cara, Usopp! — Luffy fez uma careta de espanto. Imitando a voz de Usopp, prosseguiu: — Ai, meu Deus! Sanji! Você virou um zumbi! Você virou um zumbi!

— Foi engraçado, Narigudo-kun. — Robin deu uma risadinha.

— Superengraçado, yohohohohoho! — gargalhou Brook. — Eu quase morri de rir... Se bem que eu já morri mesmo, yohohohohoho!

— Espero que tenha aprendido a lição, Usopp. — Nami cruzou os braços, vitoriosa. — Cuidado com suas mentiras.

Então tinha sido isso, pensou Usopp. Os amigos haviam planejado uma forma de darem uma lição a ele e às suas brincadeiras. Envergonhou-se e repensou a respeito do que fizera no dia anterior, das diversas mentiras que contara. Pensou também nos companheiros e em como eles deveriam ter estado preocupados, quando não chateados. Sem graça, Usopp falou:

— Me desculpem. Eu não vou mais mentir para vocês. Eu, Usopp, o homem mais bravo dos cinco mares, prometo a vocês.

Nami sorriu e foi a primeira a abraçar Usopp, seguida por todos os demais Mugiwara.

— Você é o melhor, Usopp — disse a navegadora.

— Ei, Nami-san. — Em meio ao abraço coletivo, Sanji perguntou a uma das amadas: — Quando você chorou por mim, era verdade, não era?

Nami riu e disse ao cozinheiro:

— Feliz Dia da mentira atrasado, Sanji-kun. — Caiu, em seguida, na gargalhada. Os outros riram também, principalmente com a expressão de desapontamento de Sanji.

— Nami! — gritou Luffy. — Posso ir dormir agora?

E todos riram novamente.

* * *

Alguns dias se passaram.

Usopp estava na amurada do Thousand Sunny, vendo o céu. Era uma tarde agradabilíssima, com o sol se pondo ao horizonte alaranjado. Chopper estava ali perto, na cobertura, amolando bisturis.

— Ei, Chopper — chamou Usopp.

— O que foi, Usopp? — perguntou Chopper, virando-se para o amigo.

— Esse céu está bem bonito, não acha?

— Sim! Está lindo!

Usopp pigarreou, estufou o peito e disse:

— Você sabia que em uma tarde muito igual a essa, há alguns anos, eu derrotei uma tripulação inteira de piratas procurados? Sabe, eu e meus oito mil seguidores.

Chopper arregalou os olhos, impressionado.

— Isso é sério, Usopp?

— Ora, Chopper. Mas é claro que é.

Continuavam a conversar. Nico Robin, que mais afastada, lia e, simultaneamente, prestava atenção ao diálogo, sorriu.

— Algumas coisas nunca mudam — disse para si mesma antes de voltar os olhos azulados para o livro.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler!

Até mais o/