Perdição escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
Único




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“Amar é destruir. E ser amado é ser destruído”

Cidade dos Ossos – Instrumentos Mortais

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Marina, para onde quer que eu olhe, tudo o que eu vejo é você. Tudo o que eu sinto é você. E não existe um momento da minha vida que não seja dedicado a pensar nos nossos dias, todos tão cheios de incertezas, como o brilho cinzento que eu capto nos seus olhos. E que me fazem perder-me dentro deles para todo e todo o sempre.

(Como um dia chuvoso)

Mas ainda que tudo para nós seja incerto, eu sei que não existe um sentimento mais forte do que esse que eu tenho por você. Nem tão puro, nem tão lindo e nem tão perfeito.

E no entanto agora, enquanto refaço os nossos passos olhando para trás, eu vejo como o amor possui uma faceta cruel. Como destrói com ares de tempestade tudo o que se coloca em seu caminho.

(Como o seu ar)

Mas não o trocaria por nenhuma outra sensação.

Ainda que meu corpo se despedaçasse e que a minha vida se findasse, é ao seu lado que eu sempre quero estar. Porque eu não consigo pensar em outro momento que não seja contigo, Marina. Todos eles parecem vazios de emoções, isentos de cor, tristes em meio aos ruídos da cidade grande, quando o seu silêncio sempre foi a melhor companhia, mesmo quando seus olhos, afiados como navalhas me encaravam. Mesmo quando eu sabia que você é a única pessoa que poderia facilmente me destruir.

E eu te amo, Marina. Como eu te amo.

Quando fecho os olhos, é o seu sorriso que eu enxergo. Em sua plenitude, no seu jeito marrento de ser. Você sempre foi tão persuasiva, tão cheia de si. E não há nenhum momento que tenhamos passado juntos que me remeta ao arrependimento.

E na minha vida só existe uma palavra, uma pessoa, um pronome.

Você, você, você.

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Pássaros criados em gaiolas acreditam que voar é doença.

Alejandro Jodorowsky

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Com toda a certeza do mundo eu posso dizer que a tempestade sempre se forma quando estou contigo. E eu sinto, a cada vez que te toco, não importa quantas vezes já o tenha feito, os impulsos elétricos percorrerem meu corpo.

E eu sabia, Marina, que você era a luz dos meus dias, assim como sabia que era a minha danação.

Você não é um pássaro pronto para ser enjaulado e no entanto é a sua doença que te mantém aprisionada. Eu vejo, dia após dia, você definhar, porque espíritos livres devem permanecer soltos, e você certamente é um.

Às vezes eu te pego com aquele olhar.

Distante, frio, vazio. Como se imaginasse um mundo completamente diferente por trás das janelas que te aprisionam nessa realidade tão triste.

Marina, eu quero ser luz para os seus dias como você é para os meus. E mesmo que eu sinta que essa realidade que vivemos não será eterna, e que um dia terei que voltar para a minha, eu jamais quero me distanciar de você.

Sei que suas asas estão quebradas, mas acharemos uma forma de consertá-las.

E você vai voar, Marina, eu juro que vai. Porque esse mundo todo pertence a você. A mais ninguém.

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Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.

Machado de Assis – Dom Casmurro

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Basta eu te olhar e você já me ganha, Marina.

Sempre que tento evitar os teus olhos, já estou preso por eles. Um tolo, achando que conseguirei escapar. Mas não sou forte, e os seus olhos, cinzentos como a chuva, trazem os ares de tempestade até mim.

Você me olha daquele jeito afiado, e eu sei, Marina, que não há nada no mundo que eu deseje mais do que estar com você. E não há nada que você não me peça que eu não mova mundos para realizar.

Não existe olhar como o seu. Forte, imponente, preciso. Como os olhos de um predador, como os olhos de ressaca, que tragam tudo para o seu interior, sem dar-me a chance de escapar deles de maneira alguma.

Você me traga para o fundo do oceano, me tira o ar, e tudo o que eu enxergo são seus olhos. O seu desejo de viver que, de tão grande, passou a ser meu.

E nas suas águas cinzentas, Marina, eu só quero me afogar.

Quero que sua tempestade me envolva, mesmo que o mar me afogue. Mesmo que isso seja a razão da minha destruição.

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E o teu olhar me diz tantas coisas

Tantas coisas loucas que quando chega perto

A minha alma não me deixa mentir

Esse teu olhar é pouco pra mim

É um ponto sem fim

Esse teu olhar, numa boa

É o tudo, dentro de mim

Eu juro – Armandinho

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E não importa quantas vezes eu te olhe, Marina, ou quantas vezes te toque, ou quantas vezes você sorria para mim. A sensação sempre parece nova, diferente de tudo o que já senti. E quando não estamos juntos e fecho os olhos, ainda sinto seus dedos passearem pelos meus cabelos, o som da sua voz me envolver como o cântico dos anjos, mas, ah, você nunca foi um.

Anjos não possuem malícia e você sempre foi toda ela, não foi?

E no entanto, mesmo que, desde o primeiro instante, tenha possuído o poder para me destruir, eu escolhi te amar.

Dentro dos seus olhos, desaguei como um rio afluente que cai sobre as águas infinitas do oceano. Do teu sorriso eu recebi o calor que aquece meu corpo nos dias mais frios. E no seu ar de tempestade eu encontrei a coragem para enfrentar qualquer coisa, Marina.

Qualquer coisa.

E se hoje sou capaz de ser o que sou e sou capaz de deixar o passado para trás e, um dia serei capaz de encarar o futuro – mas não agora, porque o agora é você – a única razão é uma.

Uma palavra, uma pessoa, um pronome.

Você, você, você.

Eu sempre me perco em você, Marina. Na razão dos seus olhos cinzentos, na curva ensolarada dos seus lábios e no seu ar de tempestade.

Mas não existe um momento em que não queira estar ao seu lado.

Porque você é tudo pra mim. Meu mundo, minha existência, a minha razão de viver. Então não me deixe, Marina, porque não sei caminhar sem você.

Não leve as respostas de mim e, por favor, não me deixe morrer. Então talvez assim eu possa encarar o futuro. Um futuro onde existem duas palavras, dois nomes, dois pronomes:

Eu e você.


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Notas finais do capítulo

Eu, basicamente, não sei de onde essa ideia surgiu. Eu li Marina tem mais ou menos uns dois anos, e eu simplesmente me apaixonei pela obra. Sou aficionada por tudo o que é escrito por Zafón graças a uma amiga que me apresentou os livros dele, haha.

Enfim.

Eu achei que tinha que escrever algo assim, e eu realmente gostei do resultado, embora quisesse que ela tivesse ficado mais longa. Eu poderia ter descrito mais detalhes, ter feito mais coisas, mas achei que ia ficar muito cansativo e que assim estava bom.

A principio tive um pouco de dificuldade de entrar na cabeça do Drai, mesmo que eu já tenha escrito outras coisas com ele.

No mais, espero que apreciem a leitura. Agradecimentos à Taty M., que sei que não vai ler a fic, mas eu roubei a estrutura de uma fic dela, encaixando frases no contexto, como se fosse uma songfic, mas com frases.

É isso. Se gostarem comentem! Pode ser que eu volte a dar as caras por aqui com um Crossover.



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