Pintura escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 1
Pintura - Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

E mais uma Nalu saindo do armazenamento do meu notebook.



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Lá estava ele, dormindo quieto sobre o leito. Os roncos eram baixos e de caráter infantil e inofensivo. Nem parecia Natsu Dragneel, pensou Lucy risonha. Ela esperou muito por aquele dia, afinal, há tempos queria se vingar do companheiro. Certa vez, enquanto Lucy estava em casa, dormindo, Natsu a visitou, invadindo a residência da garota — como geralmente fazia —, e, pondo spray de chantili em uma das mãos dela, provocou cócegas na menina, fazendo Lucy lambuzar o próprio rosto com o doce. Obviamente, Lucy bateu em Natsu depois do episódio, mas a gargalhada dele ainda estava entalada dentro da garganta de Lucy, entranhada em sua mente.

Hoje, enquanto Natsu dormia, ela iria se vingar.

Abriu a bolsa que trazia consigo. Nela, tinta nanquim e pincel. Lucy tomou o copo com o líquido preto, bem como o pincel de madeira. Olhou uma última vez para Natsu. O rosto tranquilo que certa vez Lucy havia chamado de “fofo” estava ali, diante dela. Era incrível como Natsu conseguia, dormindo, parecer tão diferente do que era quando acordado.

Ainda achando bonito o rosto do amigo, Lucy destampou o copo e sorriu vitoriosa.

— Finalmente, Natsu... Hoje você não me escapa. — Ela molhou a ponta do pincel na tinta. — Eu esperei tanto por esse dia, tanto. Espero que goste de ter o rosto sujo, se bem que você é você, não é?

Ela subiu furtivamente na cama, aproximando-se de Natsu com extremo cuidado para não fazer qualquer movimento brusco. Sabia que, como Dragon Slayer, os sentidos de Natsu eram assustadoramente apurados. Ainda que dormindo, Natsu não poderia ser subestimado.

Estava à altura do tórax do rapaz. Lucy, que, glorificantemente, não fez notar a própria presença, sentiu-se em êxtase; a vingança estava ali, tão próxima, a poucos centímetros. No rosto de Natsu.

— Muito bem... — Ela preparou o pincel úmido. — Acho que vou desenhar um...

Lucy congelou na hora. No segundo em que havia avançado o joelho direito sobre a cama de Natsu, sentiu algum pequenino e felpudo roçar em sua perna. Lucy espiou de lado e suspirou tensa.

Era Happy.

O Exceed dormia bem ao lado de Natsu, exatamente no espaço deixado entre o braço esquerdo e o abdômen do Dragon Slayer. Lucy, agora mais que nunca, deveria ser discreta, uma vez que o lugar onde apoiaria o joelho para se postar diante do rosto de Natsu estava ocupado pelo gatinho azul.

“Droga, Happy, como eu não te notei?” resmungou Lucy em pensamentos. “Bom... Já que você está aqui também...”.

O pincel deslizou rápido sobre a pelugem da cabeça do Exceed. Lucy desenhou uma barbicha malfeita além de escrever o nome do gato sobre a testa dele. A garota achou a obra boa; seria o rascunho do que estaria por vir.

“Somos só você e eu agora, Natsu... Hum, vejamos, que tal eu fazer um...”

Aquelas interrupções estavam, realmente, irritando Lucy Heartfilia. Primeiro Happy, agora o próprio Natsu. O que mais deixou Lucy estática, ao ponto de a garota prender a própria respiração, foi as mãos sonambúlicas do rapaz escaparem — Lucy não sabia como — para as nádegas dela, apalpando-as de leve. Além de ter o rosto vermelho de vergonha, o olhar de Lucy sustentava incredulidade e raiva.

“Mas por que algo desse tipo sempre acontece comigo?”

Temendo que Natsu acordasse e visse, antes do tempo desejado, uma garota sobre ele, Lucy foi obrigada a aguardar as mãos dele se afastarem. Agora, à altura do rosto de Natsu, Lucy ergueu o pincel. O momento havia chegado, tinha que ser.

Desenhou um bigode fino e encurvado, grossas sobrancelhas e, acreditando que o deixaria mais bonitinho, um par de corações nas bochechas. Estava feito. Restava agora acordar Natsu e surpreendê-lo com a recente maquiagem.

Lucy estufou o peito, orgulhosa, mas antes de pigarrear, foi abordada por uma voz fina e confusa:

— Lucy, o que você tá fazendo em cima do Natsu? — Happy havia acordado naquele instante. Lucy cambaleou sobre o tórax do Dragon Slayer e quase caiu da cama. Os movimentos fizeram Natsu se espreguiçar lentamente, despertando com os olhos semicerrados.

Então, Natsu notou que Lucy estava ali com ele.

— Hum? Lucy? — Ele bocejou. — O que você... Happy!

De relance, o Dragon Slayer viu o Exceed, as pinturas que nele haviam, o rosto risonho de Happy, que ora mirava Lucy, ora Natsu.

— Happy, por que você... Do que você está rindo...? — Natsu parou, olhou para Happy outra vez, depois para Lucy, para o pincel nas mãos dela, depois para o espelho mais próximo. Quando viu o próprio rosto terrivelmente maquiado com nanquim, Natsu fechou a feição, cruzando os braços. Lucy, vendo o comportamento do colega, riu dele.

— Você está muito elegante, Natsu. — Ela riu, subindo à cama, ficando frente a frente com ele. — Vai a algum lugar?

— Engraçadinha... — Natsu bufou.

— Natsu! — Happy exibiu o próprio rosto. — Eu tenho barba e você não... Ei, Lucy, será que a Charle vai gostar mais de mim assim? Estou mais maduro, não?

A maga olhou-o piedosa, imaginando a reação de Charle ao ser galanteada outra vez por Happy.

— Happy, eu não acho que...

— Aye! Vou tirar uma foto agora mesmo! Só um segundo!

E desceu voando da cama, deixando a sós uma maga risonha e um Dragon Slayer emburrado. Lucy, voltando-se novamente para Natsu, conteve a própria risada, perguntando:

— O que foi, Natsu?

— Minha cara...

— O que tem?

— Tá suja...

— A minha também já esteve, lembra? — Lucy olhou-o consciente da própria razão. — Você invadiu a minha casa e pôs chantili em mim!

— Não, você pôs, Lucy! — corrigiu Natsu.

— Seu idiota! Você encheu a minha mão de chantili e me fez cócegas só pra que eu me sujasse! A culpa foi sua! Toda sua!

— Mas foi diferente! — justificou Natsu.

— Diferente? Por quê?

— Porque eu gostava de chantili, oras!

— E eu? — Gesticulou, estupefata. — Ainda mais no rosto! E eu estava dormindo e...

— Eu também! — Natsu revirou os olhos. — Do que você tá reclamando, então?

— Mas foi exatamente por isso! — Lucy levantou as mãos à cabeça. Decerto discutir com Natsu era pedir uma tremenda dor de cabeça; ele era tão incompreensível. — Você começou!

— Isso é vingança, Lucy!

— E daí?

— Vingança é feio! Você sabe!

— Eu não ouvi isso... — Riu sem graça. — Não acredito que estou recebendo lição de moral de você... Realmente não acredito...

Ficaram de braços cruzados, os rostos virados, evitando se olhar. Entrementes, Happy, após tirar dezenas de autofotografias, observou quieto a discussão entre Natsu e Lucy. A câmera posicionada.

— Você vai me limpar? — perguntou, por meio de um resmungo, Natsu após um longo tempo sem falar ou sequer olhar para o rosto de Lucy.

— Te limpar? Por quê?

— Porque quando você se sujou eu te limpei, não limpei, Lucy?

Era verdade. Lucy lembrou-se bem de Natsu tendo todo o cuidado de usar uma toalha úmida para limpar o rosto dela após o incidente com o chantili. Foi algo bem inesperado para Lucy, que, por conhecer tão bem Natsu, jamais o imaginaria fazendo tal coisa, e ele foi muito bem, tão bem que Lucy só precisou lavar o rosto para tirar a oleosidade da pele. Era estranho, porque, mesmo sendo alvo de uma brincadeira infantil de Natsu Dragneel, mesmo chutando o rosto dele de imediato e ficando com raiva, Lucy sentiu-se, também, fascinada. A forma tão zelosa, tão madura como ele agiu fez Lucy perceber que não importaria o tempo que eles se conhecessem; Natsu sempre seria capaz de surpreendê-la.

Um pouco envergonhada, ela se virou para Natsu, que não estava mais de cara feia para ela; estava brando.

— Tá, espera aqui. — Lucy se levantou da cama, voltando poucos minutos depois com um pano úmido. — Olha, eu não encontrei a sua toalha de jeito nenhum. Espero que não se importe se eu...

— Tudo bem, eu quase não uso toalha mesmo — falou sincero. Lucy arregalou os olhos na hora, surpresa.

Pouco a pouco, a tinta preta deixava o rosto de Natsu. Os movimentos de Lucy eram suaves, agradáveis ao tato. O rapaz ficou relaxado, apreciando a limpeza que a amiga lhe dava. Lucy, por sua vez, desejava com todo o ser que Natsu não estivesse olhando para o rosto dela naquele instante. Vê-la corada na certa seria constrangedor.

— Pronto — disse ao terminar de limpar o rosto de Natsu. — Está novo em folha.

— Assim eu fico melhor, não?

Quando Lucy retomou o pincel, Natsu parou de falar, observando atento o objeto na mão da garota.

— Lucy, o que você...?

— Eu me esqueci da foto. — Ela sorriu para ele, que franziu a testa. — Posso de pintar de novo? Queria uma recordação.

— Recordação?

— É. Recordação.

— Pra que, Lucy?

— Foi divertido, não foi? Bom, eu acho que foi...

— Hum... — Natsu ainda não parecia convencido.

— E — continuou Lucy — além do mais, você mesmo disse: “É sempre mais divertido quando estamos juntos”. Lembra?

Natsu tentou rebater, mas não conseguiu. Convencido por Lucy, ele concordou com a cabeça, fazendo a loira sorrir.

— Ótimo, então me deixe ver...

Estudando o rosto do amigo, olhos nos olhos dele, faces próximas, feições em expectativa, respirações se cruzando, Lucy deparou-se bem perto de Natsu. Na mão direita, o pincel umedecido.

Por um instante, o pincel estava em segundo plano nos pensamentos de Lucy. O clima tão embaraçoso e, ao mesmo tempo, tão prazeroso entre eles fê-la pensar por que era tão bom estar com Natsu Dragneel. E Lucy, que já havia perdido todas as ideias a respeito da nova maquiagem facial do companheiro, desnorteou-se ante ao rosto dele.

— Lucy, você tá demorando...

A maga sorriu com a pergunta de ar infantil do garoto.

— Natsu...

Um flash. O brilho repentino vindo da câmera fotográfica os havia despertado do transe. Surpreendidos, viraram-se ao mesmo tempo para o corredor estreito. Happy, ao lado da máquina, abafava uma risada.

— Eu sabia... — Pondo a pata na boca, evitada gargalhar. — Vocês se gosssssssssstam... Eu tirei a foto, vou mostrar pra todo mundo da guilda!

— Happy! — Natsu e Lucy berraram ao mesmo tempo, mas o Exceed já havia voado janela afora com a câmera.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler!

Até mais o/