Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 45
XLIV: Last Resort


Notas iniciais do capítulo

É, eu voltei. Com a vida em destroços, eu sei, o que não me exime da culpa de estar atualizando essa história tão devagar.
Devagar e sempre, como dizem, e vou atualizando aqui.
Já falei que estamos na reta final? Até porque depois das revelações do último capítulo, parece que as coisas estão começando a convergir...
[assim espero]
Aproveito para agradecer aos leitores que tem me deixado mensagens de carinho nos comentários. Obrigado. De verdade. Faço isso por vocês mais do que por mim a essa altura.
Aos que leem mas não se manifestaram, gostaria de saber o que estão achando da história até aqui, e qual sua expectativa para a conclusão dessa jornada, que deve vir em poucos capítulos.

No mais, como o objetivo de todos você que chegaram até aqui é de ler essa fanfic, não irei me estender muito mais...



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— Você outra vez?

Himiko encarou o detetive a adentrar o recinto, procurando no dono daquela voz carregada algum sinal de irritação, mas não foi capaz de encontrar nada além de um sorriso, um que lhe parecia sincero. Um palpite corajoso, a julgar pela sua aparência destoante em comparação ao último encontro entre os dois; as pálpebras do homem, inchadas e escurecidas assemelhando-se a pequenos pacotes de chá sob seus olhos, contrastavam com a barba bem-feita e o traje perfeitamente alinhado.

— Olá, Looker — respondeu ela, sem ter se recomposto totalmente com a discussão que acabara de ter com seu Gardevoir. — Como estão as coisas?

— Eu pensei ter pedido a você não entrar em confusão…

— Me desculpe, mas eu não tive intenção dessa vez… quem me conhece sabe que eu tenho uma má sorte para essas coisas.

— Sem prreocupação. — Ele cortou o lamento da garota, virando-se para ela após trancar a porta pelo lado de dentro com o mesmo cadeado que a prendia antes. — Você se incomoda se nós conversarmos um pouco?

Himiko limitou-se em assentir, sabendo que a resposta já havia sido dada pelo tilintar do metal do cadeado contra a porta. Deslizando para o lado, abriu espaço para que Looker sentasse ao seu lado, o que o fez mantendo uma distância considerável entre eles.

— Conte-me, o que aconteceu?

— Você diz, na cabine?

— Não, antes. O que levou você para… entrar no quarto dela?

— É uma longa história…

— Eu não estou com pressa. Fale sobre hoje… algo fora do usual?

Himiko não demorou a se soltar, logo sendo envolvida pelo jeito carismático de Looker a lhe fazer falar. Quando ela se deu conta, havia falado não apenas sobre a ferroada que recebera na perna, mas também todas as suas suposições ao se deparar com Rejane esmurrando a porta da cabine e de como ela tomara a iniciativa de arromba-la já esperando encontrar por Larissa para então confrontá-la.

— Eu vejo… — Looker decidiu por interrompê-la naquele momento. — Seus pokémon, como reagiram?

— Ah, a Lombre deve estar em choque até agora, ela nunca tinha superado ter sido abandonada, então imagina descobrir todos esses podres dela assim, desse jeito…

Os pensamentos da treinadora encontraram um vácuo quando tentava falar sobre Futa. Não sabia exatamente quando terminara sua própria iniciativa para começar a dele, pelo que temia comentar algo que não fosse revelar demais sobre o acontecido.

Pensar sobre isso na presença do detetive, contudo, era uma péssima ideia.

— Algo te incomoda?

— Não é isso… é que eu estava pensando outra vez na discussão e…

— É uma coisa com o Gardevoir, não é?

Himiko parou de imediato ao ser confrontada tão diretamente. Encarou-o, imaginando se ele já sabia de antemão ou se era capaz de ler os pensamentos dela tal como Futa o faria.

— Posso tomar uma suposição… — continuou ele. — Ele te colocou nessa, não foi?

— É, isso mesmo… — ela confessou. — Você percebe rápido as coisas.

— Esse é o meu trabalho. Mas depois do que ele fez na delegacia no dia em que você foi presa, eu imaginei isso quando te vi aqui.

— Acho que faz algum sentido…

— Então… — Looker retomou a palavra, em um tom mais sério dessa vez, quebrando o silêncio que estava prestes a se formar. — Se eu puder te dar um só conselho, eu pediria para você dar um descanso. Esfriar.

— Como disse?

— Não sei como vocês dizem aqui… O que eu tento dizer é ir para casa, ficar longe do problema.

— Até você?

— As coisas são muito piores do que pareciam. Eu pensava que Diego e Ravena eram os líderes, mas só eram ferramentas descartáveis. Os ginásios eram só um iceberg em um oceano de maldade.

A treinadora limitou-se a observar, ignorando o mau uso das palavras pelo estrangeiro e focando-se na mensagem, sem acreditar que até ele tentava podá-la.

— Você é uma grande garota, não posso te impedir se você não quiser, mas pense com cuidado e veja que não vale o risco. Você é esperta o bastante para isso.

Ela respirava fundo, medindo cada palavra que ouvira. Ele não falava mais como um investigador de polícia, mas como um colega, alguém que se importava com ela.

Looker, aproveitando o impacto deixado pelas últimas palavras, levantou-se e destrancou a porta, saindo sem fazer cerimônia. Ela, no entanto, levou vários minutos para fazer o mesmo, com o conselho a martelar em sua cabeça. Sabia muito bem que os ginásios fechados eram um motivo de tirar os treinadores de suas jornadas; de fato, não encontrara nenhum pelas rotas desde que saíra de Mauville pela primeira vez, naquele dia junto com Wally, exceção feita aos que estavam nos centros pokémon.

Não tardou a perguntar-se a respeito de April. Teria ela também parado sua jornada? Himiko sabia que sua irmã não poderia sair de Hoenn por conta própria, não podendo deixar o continente sozinha sendo menor de idade. Mas, considerando a completa ausência de pistas a seu respeito até então, não descartava totalmente a possibilidade.

Acabou deixando para pensar nisso depois de vasculhar a ilha de Mossdeep, na qual acabara de chegar. Teria tempo de sobra depois de desembarcar, pelo que poderia se alimentar e descansar no centro pokémon até lá. Talvez tivesse sorte e a encontrasse por lá, apesar de que, no fundo de sua alma, soubesse que era impossível.

Ela acabou por fazer duas paradas no navio antes de desembarcar; a primeira delas, na cabine então ocupada por Larissa, encontrou o ambiente completamente vazio, à exceção de Rejane, a qual se mostrava fora de combate, adormecida. Himiko pensava se estava assim depois de se entregar às lágrimas por descobrir a verdade sobre sua antiga treinadora, ou se fora colocada para dormir por algum dos outros; Nolan em particular. Era bem provável que o fantasma tivesse usado de seus poderes para fazê-la adormecer. Sem pensar muito, a treinadora a chamou de volta para a pokébola e saiu de lá, deixando o local e as lembranças para trás.

A outra parada era para recolher seus pertences na cabine oposta, pelo outro corredor; o local, já esvaziado pelos jornalistas para quem ela dera a entrevista no início da manhã, continha somente a mochila dela, exatamente como ela havia deixado, com um pequeno cartão sobre o objeto, colocado lá por algum deles com um simples “obrigado” escrito a caneta.

Nenhum desses dois acontecimentos foi capaz de manter o humor da treinadora controlado por mais do que alguns minutos, não quando uma desagradável surpresa lhe esperava no centro pokémon de Mossdeep.

— Sinto muito — dizia a recepcionista —, mas sua licença está bloqueada.

— Como disse?

— Senhorita Himiko, sua certificação como treinadora foi suspensa, não temos como admiti-la para o uso do centro.

— Isso não faz sentido! — A jovem esbravejou, indignada. — Eu estava hoje de manhã na unidade de Lilycove e estava tudo correto com o cadastro.

— Sim, isso consta no seu registro. Imagino que o bloqueio tenha sido realizado hoje pela manhã.

— E porque a minha licença poderia ter sido bloqueada assim?

— Eu não posso te responder, não tenho acesso a seus dados pessoais. Você pode verificar isso com quem emitiu o seu registro, no seu caso é diretamente com o professor Birch.

Ela levou alguns segundos para digerir a informação, e foi quando percebeu como e por quê a licença havia sido bloqueada.

Aquele filho da p…

— Tudo bem, vou ver isso com ele. — Himiko bufou. — Posso pelo menos me sentar?

— Claro, fique à vontade! Se precisar de um telefone, eles ficam no outro corredor.

Um resmungo quase inaudível foi a tentativa da treinadora de agradecer pelo atendimento. A recepcionista havia sido bem prestativa e não tinha culpa, mas era inevitável que Himiko descontasse parte da raiva nela, em especial na ausência de Brendan, que certamente era o grande culpado por isso. Ou talvez fosse de fato culpa dela em ter fugido dele, na tarde anterior.

O bloqueio no cadastro era talvez um meio grosseiro, porém eficaz de interromper uma jornada, em especial com os ginásios fechados e a ausência de treinadores em viagem. Com a principal fonte de renda de um treinador agora ausente, e tendo que pagar por hospedagem e pelos cuidados com os pokémon, mesmo a quantia razoável que ela carregava em sua mochila não duraria por muito tempo.

Ela passou alguns minutos por ali, estudando sua situação enquanto observava o pequeno fluxo de treinadores a ir e vir entre as acomodações e o refeitório; a julgar pelo horário de funcionamento achatado deste último, percebeu que os poucos jovens que transitavam pelo saguão eram provavelmente todos os ocupantes do centro. April não era um deles, como já nem se decepcionava mais quando percebia.

Resignada, levantou-se, indo em direção às cabines telefônicas. Iria ligar para o professor Birch, constatar o óbvio motivo pelo qual sua licença não era mais válida, e então obter as coordenadas de Littleroot para voltar para casa com auxílio de um teletransporte. Era a única opção viável, em especial quando podia dividir todas as pessoas que encontrava em dois grupos: as que pediam para ela ficar longe dos problemas, e as que eram os problemas. Talvez um sinal de que o primeiro deles estava certo.

Passando por uma das janelas, contudo, teve sua atenção roubada pela paisagem externa. Uma das torres metálicas ao fundo lhe parecia estranhamente familiar; pertencia ao instituto de pesquisas espaciais de Hoenn, no qual se passara o último de seus sonhos.

Quando ela se deu conta de si, já estava do lado de fora do centro pokémon, rumando com vontade em direção ao local. Julgava que não havia absolutamente nada a perder com a visita, dando uma chance para vasculhar o que fosse a lhe incomodar daquela vez. Não porque acreditasse que fosse possível encontrar April por lá, mas com o intuito de adiar o retorno para Littleroot, tentando evitar o confronto já programado que teria com sua mãe e com Brendan.

Não fora uma caminhada longa, talvez uns quinze ou vinte minutos e já se aproximava do instituto, até o momento em que uma pequena reunião de adultos lhe chamou a atenção, em especial por ela ter reconhecido um deles. Aquele rapaz de aparência séria e cabelos loiro-acinzentados só poderia ser Steven, apesar de que sua fisionomia destoava ligeiramente do que ela se recordava. Talvez fosse pela postura confiante, em um completo oposto do que encontrara quando o viu pela última vez, ou então o terno desta vez em aparência impecável e não coberto de pó e lama.

Ela segurou o passo enquanto afastada do grupo, aguardando para ver se seria reconhecida quando passasse por eles; tinha algumas coisas que gostaria de conversar a respeito com ele se tivesse uma oportunidade, e esta se construía com o grupo se dispersando também em direção ao instituto.

— Steven!

O grito de Himiko não dera resultado, e não foi pelo homem não a ter escutado. Um dos outros engravatados virou-se para ver de onde viera a voz, mas não aquele que ela chamava. Sentindo que havia sido ignorada, decidiu que não iria insistir, permitindo que os passos apressados do homem se perdessem na distância.

Pois, apesar de não esperar por uma recepção calorosa dele depois da última vez em que se viram, não imaginava que ele poderia ser tão frio ao ponto de nem mesmo olhar para ela. Supunha, por algum motivo, que algo naquela reunião improvisada fosse um catalisador para o aparente mau humor dele, não muito diferente do que já havia presenciado.

Mas não seria isso a lhe fazer dar meia volta, não quando esse encontro nada tinha a ver com seu próprio objetivo de visitar o instituto. Imaginava que seria outra viagem perdida, como todas as que havia feito até então, mas sabia que não poderia se perdoar se nem mesmo tentasse.

Quando finalmente chegou ao local, passou primeiro por um portão metálico, entreaberto, seguindo depois por vários metros até a entrada do prédio de fato, uma construção espaçosa apesar de seus aparentes três, no máximo quatro andares. Adentrou o recinto através das portas de vidro, encontrando um saguão decorado em tons de azul a se misturar com os diversos elementos metálicos, sem se impressionar com os modelos de foguetes em exposição na antessala. Ao menos não lhe chamava mais a atenção que a completa ausência de vida naquele cômodo; sendo o local tão protegido quanto lhe parecera, era de se esperar que alguém tentasse lhe questionar por sua visita. Talvez fosse mais sensato procurar alguém para pedir informações.

Ou, como imediatamente pensou, procurar alguém.

Tentou lembrar-se outra vez do sonho, de suas memórias vagas e desconexas. Haveria de ter algum sentido nelas, mas apenas se recordava de subir uma escada ao final de um corredor, deparando-se com April no instante em que chegava ao piso superior. Mas, mesmo no sonho, não era por ela que procurava, mas por alguma outra coisa naquele prédio. Só não se recordava do quê.

Himiko decidiu atravessar o saguão, seguindo para a direita na primeira bifurcação ao localizar uma placa na parede que lhe ajudaria a se guiar por aqueles longos corredores. Notou que o prédio se dividia em setores, inclusive alguns subterrâneos. Os setores A e B ficavam no piso térreo, com os outros se espalhando pelos outros andares.

Então, como que em um estalo, recordou-se do que procurava em seu sonho. D-16.

Observou outra vez o painel. O setor D se encontrava um andar acima, pelo qual o acesso se dava pelas escadas ao final do corredor em que estava. Chegando lá, bastaria localizar a sala 16, o que não lhe parecia uma tarefa difícil, não quando notava que o corredor em que estava, do setor B, tinha todas as portas numeradas em ordem crescente. O único desafio era em não ser interrompida no percurso.

Dito isso, seguiu silenciosamente pelo espaço, observando as tantas salas pelas quais passava. Quarenta e oito portas, sem contar as que levavam aos banheiros. Todas fechadas, apesar de ouvir ruídos ocasionais a denunciar que várias delas deveriam estar em funcionamento. Afinal, o instituto era primordialmente um centro de pesquisas.

Chegando às escadas, tornou a se recordar do sonho, nele, ela levava uma pokébola em sua mão, como se soubesse que havia perigo no andar superior. Tratou de fazer o mesmo enquanto galgava os degraus, segurando a esfera de Ikazuchi. O Manectric era, no estado em que se encontrava, o pokémon mais confiável que ela tinha em condições de batalhar caso se fizesse necessário.

Mas, para sua surpresa, encontrou outro corredor vazio no pavimento superior. O setor D, ao contrário de seu sonho, estava tão deserto quanto o resto do prédio, o que não necessariamente era um bom sinal. Ao contrário do que vira no andar de baixo, contudo, algumas das portas estavam abertas; Himiko espiou por uma delas, especificamente a D-3, encontrando dezenas de caixas de papelão ordenadas em prateleiras, em um cômodo muito menor do que ela imaginava, uma sala de talvez uns dois metros de largura por três de comprimento.

Talvez o setor D não passasse de um depósito, afinal.

Decidiu então por ignorar o que via, rumando diretamente para a sala 16, sem saber o que lhe aguardaria por lá, ou por quê seria tão importante ao ponto de ter sido guiada para lá por seu sonho. Deparou-se com a porta trancada, pelo que imaginou se não seria o final da linha. Para quem queria apenas satisfazer uma curiosidade, já havia ido longe demais.

Quando já havia dado as costas para retornar pelo caminho por onde chegara, contudo, foi surpreendida por um ruído agudo e contínuo.

Um alarme.

— Merda!

A voz não era de Himiko, partindo de alguém atrás dela; virou-se para olhar, encontrando uma nuvem de poeira e fuligem em algum ponto entre as salas 30 e 40. Julgando pelo ruído que se seguira uma fração de segundo depois do alarme, uma das paredes havia sido destruída.

A fonte da confusão se revelava quando a poeira começou a baixar. Um pokémon rochoso de porte considerável se situava no corredor, seu corpo coberto por uma carapaça ferrosa, placas metálicas com um tom ligeiramente avermelhado, ou talvez uma ilusão pelo reflexo difuso da luz contra as paredes amareladas do local e os resquícios da destruição causada por aquele Aggron. A criatura, do alto de seus mais de dois metros de altura, encarava a única forma viva estranha a ele no corredor, obviamente Himiko.

A treinadora, presa em um momento de indecisão, não sabia se lutava ou se corria, sabendo que nenhuma das duas opções era a ideal. Decidiu-se pela primeira, atirando a pokébola ao seu lado para liberar o Manectric.

Nada aconteceu.

Ela abaixou-se, recolhendo o objeto. Não havia nenhum defeito. Mas não conseguia liberar seu pokémon do enclausuramento.

Será que é por causa da licença?

Antes que pudesse pensar na resposta, notou um projétil a atingir a parede ao seu lado, distante não mais que dois metros de sua cabeça. O estampido partindo de algum lugar próximo ao pokémon metálico não deixava dúvida de que era um disparo de arma de fogo, uma certeza consolidada pelo orifício de quase um centímetro de diâmetro deixado na parede.

— Não perca seu tempo! — O homem ao lado do Aggron bradou; o mesmo rapaz de cabelos loiro-acinzentados com que se deparara ao longe quando vinha em direção ao instituto. Não era Steven, apesar de parecer-se muito com ele quando observado de longe. Talvez fosse seu objetivo ser confundido com este, a julgar pelo modo com que se portava. — O alarme possui um bloqueador de pokébolas.

Ao considerar a pistola que o homem segurava, apontando-a na direção de Himiko, ela tinha certeza de que dessa vez havia ido longe demais.

— Agora aproxime-se, devagar, ou eu vou ter que atirar para valer.

Sem ter outra opção, ela obedeceu, tendo a mente bombardeada por pensamentos naquela curta caminhada. Não conseguia entender sua falta de sorte, sempre se metendo em encrencas independentemente das decisões erradas que tomava. Incrivelmente, não sentia medo, como se já estivesse se acostumado a entrar em situações de perigo iminente. A tensão persistia, mas já não se importava mais a respeito de como as coisas iriam terminar.

O que mais a irritava, contudo, era perceber como havia confundido aquele homem com Steven. Ao se aproximar, percebia o quão diferente ele era do original, uma imitação fraca demais para enganar qualquer pessoa sensata. Himiko havia encontrado o verdadeiro Steven por apenas duas vezes, sendo uma delas em uma caverna escura na qual não podia discernir sua fisionomia, mas mesmo aquele primeiro encontro seria o suficiente para notar que não era a mesma pessoa.

— Certo — dizia o farsante, ao mesmo tempo em que o Aggron a pegava pelo braço e a segurava contra seu corpo metálico. — Você colabora comigo e nós dois saímos vivos daqui. Tente alguma besteira, e ele te esmaga. Entendeu?

— Sim. — Himiko cuspiu as palavras para fora.

— O que você estava tentando fazer aqui? — O homem perguntou, arrombando uma das portas próximas com um chute.

— Nada.

— Sem gracinhas, menina. Prefere conversar comigo ou com o Aggron?

Em resposta à insinuação, o pokémon metálico pressionou os braços contra ela, apertando-a entre as placas de seu corpo. Ela sabia que a criatura poderia destroçá-la sem qualquer esforço.

— Eu não sei, vim aqui por acaso… — ela falava, temendo pelas consequências. — Eu tinha que vir aqui pegar uma coisa…

— Aonde?

— Sala 16.

Ela sentiu o aperto do Aggron afrouxar, mas não foi o suficiente para se sentir aliviada; no momento seguinte estava sendo carregada por ele, que a segurava pelo abdome com apenas uma das mãos. Himiko sabia que a sala narrada em seu sonho seria a próxima a ser arrombada, o que acabaria por satisfazer a sua curiosidade, ainda que fosse a última coisa que faria em vida.

— Por que você destruiu aquela parede? — A garota atreveu-se a perguntar.

— Cale a boca!

Mais um chute do homem, e mais uma porta destruída. Elas não haviam sido feitas para resistir a arrombamentos, ela percebeu. Inclinou a cabeça o quanto pôde, em uma tentativa de ver o conteúdo daquela sala, mas a posição em que o Aggron parara não lhe dera um ângulo de visão capaz de observar o interior do cômodo.

Ao menos foi capaz de perceber o brilho nos olhos do farsante, que guardou sua arma de volta no cinto e entrou, trazendo uma caixa plástica alguns segundos depois.

— Quem te mandou aqui? — Ele perguntou e, notando a surpresa na fisionomia da garota ao ser questionada, acrescentou. — Não me faça repetir a pergunta!

Infelizmente para Himiko, ela não tinha como responder com sinceridade. Havia entrado naquela enrascada por causa de um sonho, um maldito sonho como outros que haviam lhe colocado em outras enrascadas, e também de sua própria burrice ao querer bisbilhotar. Ela sabia, no entanto, que o homem não se convenceria com uma resposta honesta dela, pela qual ele tomaria como uma mentira.

— Foi o Steven — blefou. — Digo, o verdadeiro.

O farsante apenas suspirou, largando o pacote avermelhado que tinha em mãos sobre o chão, sem qualquer cuidado. O pacote era apenas uma grande caixa de arquivo de documentos, presumidamente cheia de papéis e nada mais. Sobre uma das superfícies do recipiente plástico na cor vermelha, notou uma inscrição feita em caneta permanente: α 1-7

— Se ele fosse tão esperto quanto diz, teria vindo pessoalmente — zombou o homem. — O bom é que isso facilita as coisas.

— O que você quer com isso? — Himiko tornou a questionar, dessa vez sem obter nenhuma reação dele.

Não que fosse necessário, não quando ele trouxera um segundo pacote, este ligeiramente maior e na cor amarela. A inscrição α 3-7 lhe saltava aos olhos, indicando se tratarem de partes de um mesmo arquivo, e evidenciando a impossibilidade de ele sair dali com sete volumes daquele tamanho, mesmo que tivesse a ajuda do Aggron para isso.

Uma explicação possível era que o homem planejava destruir cada um daqueles arquivos. A menos que houvesse outro plano envolvendo algum pokémon não revelado, uma ideia frustrada pelo alarme que persistia ativo, considerando o que ele falava sobre o bloqueio do uso de pokébolas como verdadeiro.

A menos que ele contasse que o alarme parasse de soar, o que ocorreu enquanto o homem entrava na sala para buscar o sexto pacote.

Ele voltava de mãos vazias, a tempo de sentir o ar ficar pesado e frio, uma sensação que coincidiu com o momento em que Himiko se viu livre do Aggron, encolhendo-se ao cair no chão por conta dos ferimentos anteriores em ambas as pernas lhe causarem um leve incômodo causado pelo impacto com o piso.

Ela olhou para trás, vendo que o pokémon metálico havia se distanciado rapidamente, sendo atirado para trás com velocidade; o Aggron já estava além dos destroços que ele mesmo criara quando da destruição de uma das paredes, sendo carregado por uma força invisível.

Antes que Himiko pudesse se levantar, ela foi também vitimada por força semelhante, entretanto, sendo levada em direção a uma das paredes laterais. Era uma sensação estranha, apesar de lhe parecer familiar. Sentia o concreto tocando suas costas, mas não o impacto que deveria ter tido a julgar pela velocidade com que fora atirada para o lado. Sentia como se estivesse presa à parede, como um adesivo recém colado.

Somente então entendeu que se tratava de telecinesia, tal como a que Futa usou para imobilizá-la uma vez próximo a um lago; curiosamente, apenas uma ou duas horas antes do sonho que a colocara naquela situação. Mas, comparando este fato com o anterior, sentia que a força a lhe imobilizar era em muito superior à do Gardevoir.

Um ruído vinha da direção das escadas, um atrito metálico sinalizando que um pokémon se aproximava vindo do piso inferior. Em resposta, o homem atirou uma pokébola, com o provável intuito de se defender do invasor. O objeto jamais chegou a ser ativado, tendo sua trajetória interrompida no ar; o falso Steven, assustado, tremia, sabendo que estava em apuros.

A fonte de seus problemas se revelou como um pokémon de coloração azulada, com seus quatro braços dispostos em formato de cruz; flutuando próximo à escada. E estava acompanhado pelo verdadeiro Steven.


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Notas finais do capítulo

Encrenca, outra vez? Aposto que nem estão mais surpresos...

Notas do In-game:
Tecnicamente, nenhuma. De fato, no jogo há uma invasão do centro espacial pelo time de vilões, mas é só uma situação descartável completamente diferente dessa. E uma batalha em dupla na qual eu tive que carregar o NPC nas costas. Não é como se eu estivesse oito níveis acima do adversário, então felizmente deu tudo certo...

Status do time:
Pokémon: 6
Futakosei (Gardevoir) Lv. 71; Bold, Synchronize.
Ikazuchi (Manectric), Lv.71, Serious, Lightning Rod
Nagrev (Charizard), Lv.71, Naive, Blaze
Rejane (Lombre), Lv.70, Bold, Swift Swim
Nolan (Gengar), Lv.71, Docile, Levitate
? (Swampert), Lv.70, Relaxed, Torrent

Mortes: 9 +0 = 9



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