Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 36
XXXV: First Impression


Notas iniciais do capítulo

Vou ser sincero: cansei de pedir desculpas.
Acreditei seriamente que iria me dedicar a corrigir uns capítulos antigos. Na verdade, acabei mexendo em apenas um deles, me entediei e não toquei mais naquele monte de palavras mal polidas.
Frustrado, tive um monte de problemas de ordem pessoal (outra vez) e, juntando tudo isso, foram quase dois meses sem sequer pensar em cuidar da fic.

Que seja, pelo menos serviu de hiato pra eu ter novas ideias, já que nem tudo no roteiro está escrito em pedra. *se enterra pelo trocadilho ruim*

E aproveitei a oportunidade para fazer algo diferente dessa vez. Vamos ver se eu cheguei aonde eu realmente queria com as mudanças que fiz no jeito de narrar esse capítulo (não se preocupem, no próximo volta tudo ao normal)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/616704/chapter/36

Melancolia.

Era impossível resumir em uma única palavra como Himiko se sentia após ter sido golpeada verbalmente por Steven, mas era a que mais se aproximava. A notícia da morte de Rochard Stone doía, mas a apatia sentida pela jovem ia muito além, não se resumindo ao luto. O modo grosseiro com que o rapaz lhe tratara antes de partir não lhe fazia nenhum favor nesse quesito.

Dito isso, a visão da garota jogada aos pés da maior árvore daquele trecho de planície não causou tanta surpresa a Futa. Desde sua evolução para Gardevoir ele pouco tivera oportunidade de conversar com a treinadora, por inúmeros motivos fora de seu controle, mas podia perceber o quanto ela sofrera nos últimos dias mesmo sem ter tido o contato que desejava.

Por conta dessa angústia, conseguira romper pela segunda vez seu enclausuramento, feliz em poder finalmente vê-la apesar do estado depressivo em que ela se encontrava. Futa não havia tido tal privilégio na oportunidade anterior; na ocasião, viu-se em uma sala escura cercado por três Arcanine raivosos e, apesar da desvantagem numérica, talvez pudesse ter saído vitorioso não fosse o treinador que surgiu em seguida, capaz de detê-lo ao lhe atingir com um dardo tranquilizante.

Não fora necessário mais do que um minuto para que o Gardevoir conseguisse se colocar a par da situação atual, descobrindo tudo o que ocorrera durante sua relativa ausência. Não apenas os pensamentos de Himiko fluíam escancarados, tal como uma torneira aberta jorra água em um fluxo constante, como o próprio pokémon percebeu não ter a dificuldade habitual em penetrar as camadas superficiais das memórias da garota.

Era uma sensação estranha; os pensamentos negativos da treinadora não mais lhe machucavam como antes. Não era capaz de apontar a razão pela qual isso acontecia, mas podia supor que fosse um efeito da evolução. Isso, ou a potencialização do vínculo entre treinadora e pokémon, ocorrida quando de seu alojamento na consciência dela. De qualquer forma, Futa se via imune aos danos físicos até então causados por conta da negatividade que Himiko despejava em forma de lágrimas.

Inclusive, culpava-se de certa forma por essa neutralidade. Ver a jovem naquele estado deveria de lhe incomodar, mas o que o deixava desconfortável era justamente a ausência de reação de sua parte para com ela. Motivo o bastante para se questionar, incapaz de encontrar sua própria empatia por maior que fosse a preocupação para com a garota.

Foi tal o motivo que o levou a sentar-se ao lado dela, tocando levemente o pulso da treinadora a fim de sinalizar sua presença de forma sutil:

— Vai melhorar. — Futa afirmou. — Dói, mas uma hora passa.

Himiko não respondeu. Estava inerte demais, presa no fundo de suas emoções mais pesadas para tomar ciência do que ocorria a sua volta. Sentia a presença do Gardevoir ali, mas o contato físico era insuficiente para lhe tirar daquele torpor.

E assim ambos ficaram. Ele, em respeito à dor da treinadora, limitou-se a se manter presente sem dizer uma única palavra, apenas aguardando pela melhora nas condições psicológicas que somente o tempo poderia lhe trazer. Minutos, horas; não lhe importava.

E tudo se resolveria sem contratempos não fosse a chegada de um terceiro elemento que os impediria de ficar em paz sob aquela árvore.

— Ei, monstrengo!

Futa relutou em virar-se em direção a quem lhe provocava. A voz, rouca e crepitante, denunciava características desagradáveis de seu dono, uma criatura a qual teve a certeza de que não ficaria feliz em ver.

— Dá licença que eu quero subir! E leva a madame aí também!

Não restava opção a ele exceto obedecer ao desconhecido. Não quando via aquele inseto de grande porte que se colocava a sua frente. Tinha praticamente a mesma altura de Futa; suas escamas ocres brilhando ao refletir os raios solares já incomodavam o suficiente ao pokémon psíquico, que tratou de mover Himiko para longe com sua telecinesia ao mesmo tempo que ele próprio se afastava silenciosamente, intimidado.

E tudo teria corrido sem transtorno não fosse o susto causado pelo pokémon besouro a Futa quando aquele se chocou violentamente contra o tronco da árvore, agarrando-se a esta com sua mandíbula; em um sobressalto, tornou brusco o que seria o pouso suave da treinadora, fazendo com que ela atingisse o chão em um baque suavizado pela grama, porém suficiente para a despertar de seu transe.

— Ei, Futa, o que pensa que está fazendo? — Himiko perguntou, a voz falhando, porém com um claro tom de irritação.

— Estou salvando nossas vidas, olha lá…

Se a garota se surpreendeu ao ver o Pinsir pendurado ao tronco da árvore sob a qual estava um minuto atrás, não demonstrou. Apesar da surpresa inicial, continuava atordoada pelos fatos recentes, insistindo em segurar aquele cubo em material plástico que recebera de Steven, uma lembrança física que carregava todo o peso da conversa entre ambos mais cedo.

O mesmo não podia ser dito do Gardevoir, ao menos não no momento em que o besouro se reaproximava, frustrado.

— Desculpa aí, monstrengo! Eu devia saber que não ia ter seiva lá… igual às outras.

— Tá, que seja… — Futa não se mostrava nem um pouco disposto a estender aquela conversa, desconfortável com a presença do inseto.

— Sem querer ser abusado… — continuou ele, ignorando o modo com que era tratado. — É sua treinadora aí, não? Será que ela tem como me arrumar um pouco de comida?

O pokémon psíquico teve um calafrio. Tinha um mau pressentimento em relação ao Pinsir, porém sabia que não era uma boa ideia confrontá-lo, por mais que o outro se mostrasse enfraquecido. Em especial pois não havia qualquer motivo para fazê-lo. Por mais que sua intuição lhe dissesse que, cedo ou tarde, aquele pokémon lhe causaria problemas.

— Não sei se percebeu, mas não é um bom momento… — respondeu ele. — Ela não está bem, está de luto pela morte de um amigo…

— É, deu pra perceber. Mas estou sem comer tem três dias, tenta entender meu lado…

— Eu sei como é, mas desculpa, não vou incomodá-la com algo tão pequeno…

— Não tem problema, eu espero ela melhorar pra você pedir…

Vários sentimentos passavam pela mente de Futa, poucos deles amigáveis. A cada segundo que passava, o medo que tinha do artrópode dava lugar ao asco. Até mesmo cogitou incomodar Himiko, impedido por sua moral de ele mesmo pegar um pacote de ração da mochila dela; estava disposto a fazê-lo se fosse o suficiente para afastar aquele Pinsir. Tudo levava a crer, contudo, que ocorreria o oposto.

Havia outra saída, outro meio pouco ético de contornar a situação, apesar de um com o qual se sentia menos desconfortável em tentar. Já o havia feito em outra oportunidade, de forma inconsciente. E, por mais que as condições de Himiko fossem em muito semelhantes àquela ocasião, não gostava de pensar que era errado direcionar os pensamentos dela daquele modo.

Era, indiretamente, um meio de controlá-la, uma capacidade limitada às próprias vontades e comportamento dela. Futa iria pensar através da mente da treinadora, de tal modo a convencê-la de que ela mesma havia tido a ideia. Funcionara quando a levou para um local seguro, de volta para Mauville logo após ela se mostrar enfraquecida ao revelar seus traumas mais profundos. Haveria de funcionar também para dar um pouco de ração ao Pinsir e imediatamente se afastar dele.

Seria o tipo de atitude que ela provavelmente tomaria se estivesse em plena consciência, o que o fez se sentir menos mal ao influenciá-la daquele modo.

— Você tá com fome, não é? — Himiko perguntou, sem realmente pensar no que dizia. — Toma aí, e me deixa em paz! Vamos, Futa!

Ela atirou um pequeno pacote com ração na direção do Pinsir, logo virando as costas e andando em direção ao norte. Exatamente conforme as instruções de Futa. Sucesso.

E a paz se fez na caminhada pelo mato que crescia descontroladamente por ali. Com o senso de direção debilitado, caminhavam com dificuldade, atentos aos lugares onde pisavam. O Gardevoir tinha sua atenção redobrada, frustrado ao se ver incapaz de identificar muito mais que o mato permitia, temendo ser surpreendido durante o percurso.

Os minutos se arrastavam tão lentamente quanto a dupla; o desconforto aumentava em proporção semelhante ao calor, a medida que o sol ganhava altura no céu. Mas nem tudo estava sob controle, como Futa logo percebeu ao sentir alguma coisa se aproximando, definitivamente seguindo a trilha que abriam por entre a vegetação.

Seu plano havia fracassado.

— Esperem aí!

Ele tremeu ao ouvir o grito crepitante do Pinsir. O retorno do inseto lhe incomodava, não somente por sua capacidade de intimidá-lo. Como se já não lhe bastasse o trauma por ter sido atacado de forma quase mortal por outro pokémon do mesmo tipo…

— Eu voltei pra agradecer — continuou ele, em uma reverência tão respeitosa quanto amedrontadora, consequência do par de chifres por um breve momento apontados em direção à dupla.

— Não foi nada… — desconversou Futa, imaginando se haveria outro meio de afastar aquele Pinsir.

— Para onde estão indo, que mal eu pergunte?

— Fortree — respondeu a garota, para a surpresa de ambos os pokémon.

— Você entende o que eu digo? — questionou o inseto, surpreso, ao que ela gesticulou em afirmação. — Então me permita retribuir o favor, eu vou lhe acompanhar até lá!

Futa respirou fundo. Não gostou nem um pouco da ideia.

— Eu não vejo problema — comentou Himiko, em um tom de voz que denunciava certa indiferença. — Mas não espere que eu vá lhe proteger ou algo do tipo.

— Obrigado! — respondeu ele, notando que a jovem já retomara sua caminhada.

A presença do outro pokémon, contudo, pouco influenciou. Não era qualquer incômodo para o Gardevoir viajar em silêncio ao lado de sua treinadora, mas o mesmo não podia ser dito após o Pinsir se juntar a eles.

— Desculpa ter te assustado mais cedo — comentou o artrópode, visando arrancar algumas palavras de Futa. — Força do hábito.

— Hã? — Ele gemeu em resposta, pego de surpresa. — Ah, tudo bem.

— Você é sempre assim calado?

— Cabeça cheia. Não é fácil tomar conta dela.

Ele era sincero quando afirmava estar cheio de preocupações, porém omitia que não era somente o estado de Himiko que o incomodava. Algo naquele pokémon o deixava inquieto, tal como sentira por outras vezes; em todas as situações houveram problemas imediatamente após ignorar aqueles calafrios. Havia sido assim em Rustboro, ao ver o então líder do ginásio tentar matá-los. Também em Mauville, pouco antes da treinadora ter sofrido por uma alucinação até então inexplicada. Do mesmo modo fora em Verdanturf, ao negociarem por uma insígnia roubada e por pouco não morrerem no processo.

Algo de grave iria acontecer pela presença daquele pokémon. Ele sabia.

— Eu nem me apresentei… — o Pinsir tentou outra vez iniciar uma conversa. — Nicholas.

— Futakosei. Mas prefiro que me chame apenas por Futa.

— Certo, pode me chamar de Nick.

E na falta de uma resposta por parte do Gardevoir, mais silêncio. Minutos que viravam horas naquela caminhada enfadonha, sem qualquer contratempo ou mesmo aparição de algum outro pokémon que os pudessem distrair. As tentativas de Nick de quebrar o gelo continuavam a esbarrar nas respostas monossilábicas de Futa, ao ponto que o inseto logo desistiu. Tentara por duas vezes iniciar um diálogo com Himiko em seguida, ambas completamente ignoradas. Não estivesse tão tenso, o pokémon psíquico teria achado graça da situação, sabendo que até mesmo ele seria incapaz de ter uma conversa despreocupada com a garota nas condições que ela estava.

Foi apenas no final da tarde que a vegetação dera uma trégua. Cobriram uma distância bem menor do que imaginavam serem capazes, pouco mais da metade do trajeto entre Mauville e Fortree. Por mais que o restante do percurso fosse mais fácil de vencer, seria impossível chegar ao destino sem serem impedidos pela escuridão.

Desse modo, mudaram parcialmente seu objetivo, agora procurando algum lugar aonde pudessem passar a noite sem precisarem temer pelas condições climáticas. Se houvesse algum meio de se proteger também da presença de outros pokémon, tanto melhor; não que imaginassem serem importunados durante a noite, sem ter encontrado sinal de vida pelas últimas horas.

Um luxo que duvidavam serem capazes de obter, pelo menos quando se considerava o quanto o local era inexplorado.

De fato, levaram mais de vinte minutos para encontrar uma gruta, aparentemente pouco profunda, por entre uma formação rochosa afastada do caminho inicial. Um local pouco convidativo, mas seguro o suficiente para que seu ocupante pudesse descansar sem preocupações.

E este já se fazia presente, ao fundo da caverna, em um sono pesado.

Foi impossível não se assustar com a presença daquele pokémon, não apenas por seu grande tamanho como também pelos rosnados que emitia durante sua hibernação.

— O que…

— Ssh! — Futa interrompeu, impedindo que Himiko fizesse mais ruído que o necessário. — Vamos embora!

Sair daquele covil não era tão trivial quanto fora entrar nele; fazê-lo sem acordar o feroz pokémon castanho se mostraria um grande desafio. As trocas de olhares entre o trio foram o único meio possível de comunicação, mostrando-se eficaz para que pudessem retornar sem serem atacados.

Nick, no entanto, não escondeu sua frustração ao retornar para a estaca zero.

— Sem querer se meter, mas era só um Ursaring.

— Eu sei — respondeu Futa —, um pokémon de quase dois metros de altura e que detesta ser acordado.

— Isso tudo é medo? Eu dava conta dele, sozinho!

— Não duvido, mas a gente faz as coisas de outro jeito.

— Eu ouvi direito? Você tá me dizendo que não gosta de batalhas?

— Sim, e vou além. Já tive muitos amigos mortos nessa história de batalhar por impulso.

— Brincadeira…

— Ei, vocês dois! — Himiko gritou, interrompendo a discussão entre os pokémon. — Vamos andando!

O Pinsir resmungou em resposta, resignando-se, não sem fazer questão de mostrar seu descontentamento.

— Ninguém tá te obrigando a vir com a gente! — Provocou Futa. — Se não concorda, pode voltar lá com o Ursaring.

— Se fosse por sua causa eu já tinha me mandado daqui, monstrengo! Eu estou devendo um favor é pra ela, e não vou embora até cumprir minha parte no trato!

— Então vê se para de reclamar, ora bolas! — E apressou-se, dando as costas para Nick com o intuito de alcançar a treinadora.

Por outra vez mergulharam no silêncio; com um significado completamente diferente, contudo. Ambos os pokémon seguiram por longos minutos trocando olhares carregados de ressentimento. Futa teimava que sim, haveriam de encontrar um abrigo em boas condições, de preferência sem um pokémon tão violento tê-lo ocupado antes. Nick, por outro lado, considerava aquela atitude um grande desperdício, duvidando da capacidade de encontrarem local melhor que a gruta que ficara para trás.

Já era possível ver algumas estrelas no céu escurecido quando o Pinsir se viu obrigado a dar o braço a torcer.

Podiam claramente ver uma cabana não muito ao longe; as luzes apagadas dando uma pista da ausência de vida dentro dela. A medida que se aproximavam, podiam notar outros detalhes, suficientes para que suspeitassem que tivesse sido abandonada. O vidro da janela trincado; uma fina camada de lodo sobre os degraus de madeira que davam acesso à porta, entreaberta; a grossa camada de poeira, visível mesmo a certa distância.

Tudo parecia perfeito demais, a ponto de Futa desconfiar que havia algo de errado. Com um gesto, ele pediu para ir na frente, duvidando do que via. Podia ser uma armadilha, tal como acontecera da última vez que encontraram uma casa de forma tão conveniente. Avançando com cautela, acabou descobrindo que não havia nada com o que se preocupar. Literalmente.

A cabana estava completamente vazia. Não havia nada, utensílios, móveis, nem mesmo um banheiro; o lado de dentro da construção consistia tão somente em um piso de material avermelhado e nas quatro paredes em alvenaria sustentando a cobertura de telhas. Em cada uma das laterais da casa havia uma janela, suas posições assimétricas entre si davam um ar mais suave, evitando a sensação de enclausuramento.

Além delas, somente a porta de entrada quebrava a uniformidade do ambiente; sua fechadura, parcialmente destruída, impedia que a passagem fosse fechada.

— Me parece seguro o bastante. — Himiko assentiu. — Acho que podemos passar a noite aqui.

Futa discordava, mas não argumentou. Talvez o fizesse caso a presença de Nick não o incomodasse tanto. Era o primeiro dentre os seus companheiros de viagem que lhe causava tanto desconforto. Nem mesmo Gérson, o Gyarados rude e antissocial que fora dado à Himiko por Brendan, causava tantos calafrios ao Gardevoir.

Tratou de não ficar pensando nisso, procurando outras lembranças para se distrair. Acreditando que sua treinadora já havia notado o quanto o clima entre os dois pokémon estava tenso, sabia não ser uma boa ideia abordar o assunto com ela.

Os três, sentados sobre o chão gelado, alimentavam-se por mais uma vez antes de se recolherem para o merecido descanso. O silêncio foi, como já esperado, o companheiro deles, os olhares vagando entre si e o lado de fora do abrigo até o momento em que as embalagens vazias retornaram para a mochila da garota.

— Boa noite — bocejou ela. — Vocês dois, descansem também, vamos continuar amanhã cedo.

Poucos minutos se passaram, mas Futa era o único dentre eles incapaz de relaxar. Himiko havia se recolhido a um dos cantos, não necessariamente confortável, mas prestes a se entregar ao sono. Nick já o havia feito, na extremidade oposta. O Gardevoir, contudo, sentou-se ao centro da cabana, em um ponto aonde poderia visualizar tanto o pokémon inseto quanto o lado de fora da cabana, a porta mantida escancarada para que não ficasse se chocando contra o batente, evitando o ruído seco causado pelo impacto.

Estava em certa vantagem nesse ponto; sua mente não precisava de descanso tão frequente. Vantagens de sua característica amorfa, como a experiência lhe provara ao se alojar na consciência de Himiko após ter sido machucado pela ferroada daquele Beedrill; ter seu corpo terrivelmente danificado não lhe causou tantos danos por conta desse mecanismo que utilizou para se proteger. A estrutura física que carregava consigo era mais um veículo para a circulação da linfa psíquica, que era a fonte primordial de seus poderes enquanto pokémon.

E com sua capacidade mental em plena atividade, poderia facilmente manter guarda por aquela noite, caso algum outro pokémon se aproximasse deles. Era também uma oportunidade de ficar de olho em Nicholas; temia que o Pinsir estivesse esperando por um momento de distração de Futa para causar algum mal a Himiko.

Mas sua preocupação se mostrou infundada através dos grunhidos do pokémon inseto, ressonando em um sono profundo.

Aquela noite, contudo, guardava uma incômoda surpresa, a qual se mostrou pela criatura monocromática que se posicionou ao horizonte, distante do esconderijo do trio, porém perfeitamente alinhado ao portal que os separava do lado de fora.

O pokémon possuía uma pelagem completamente alva, em perfeito contraste com o negro de suas extremidades. Suas garras retraídas mal eram visíveis àquela distância, contudo não se podia dizer o mesmo das duas lâminas que eram o chifre e a cauda, ambos apontando em direção ao pokémon psíquico.

E não precisava ver os olhos vermelhos do Absol, imperceptíveis devido ao espaço longínquo entre eles, para saber que o pokémon de pelagem branca o encarava.

Em um sobressalto, levantou-se, percebendo ter sido enganado por sua própria mente. Não havia ninguém nas redondezas além deles próprios, o que não o impedia de manter-se em alerta. Era de conhecimento comum que a visão de um Absol representava perigo. Um presságio de problemas tanto quanto os calafrios que tivera por todo o dia.

— Futa? — Exclamou Himiko, sentada nos degraus de acesso que faziam parte da fronteira entre a cabana e seu exterior. — O que houve?

— Eu pensei ter visto algo… deve ter sido um pesadelo — desconversou ele. — Desculpe-me se te assustei.

E tornou a sentar-se na mesma posição, sabendo que nada podia fazer. Pois tinha certeza de que o mau agouro prenunciado pelo pokémon que vira se materializava na presença de Nick, sentado ao lado da garota naqueles degraus.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não sei vocês, mas eu, Kurono, adorei essa experiência de mudar o POV. Acho que ficou claro o motivo; do contrário eu não conseguiria construir a narrativa sem deixar tudo muito arrastado pela melancolia (e eu acho que não agradaria a vocês também)


Notas do in-game:
Grind, grind, grind. A rota mais chata do jogo.
p.s> eu queria um Tropius. Mas não deu...

Status do time:
Pokémon: 4(?)
Futakosei (Gardevoir) Lv. 52; Bold, Synchronize.
Ikazuchi (Manectric), Lv.52, Serious, Lightning Rod
Nagrev (Charizard), Lv.53, Naive, Blaze
Rejane (Lombre), Lv.51, Bold, Swift Swim

Mortes: 7 +0 = 7



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um mês de desespero" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.