Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 28
XXVII: Recover


Notas iniciais do capítulo

Primeiro de tudo, eu avisei que iria sumir do Nyah por um tempo. Isso não me faz me sentir menos culpado.
Deixando claro, meu TCC foi um sucesso. Recebi nota máxima da banca, o que me faz pensar que valeu a pena ter aberto mão do meu lazer por conta dele.

O problema começa quando eu realizei a defesa ainda em 30/11, exatamente um mês atrás. E de lá pra cá, entre o burnout por ter escrito cinquenta e duas páginas de conteúdo técnico, a preguiça eterna e o bloqueio criativo, levei todo esse tempo para escrever um capítulo decente. E o pior é que não posso usar a desculpa da falta de tempo pelo menos na primeira quinzena, já que procrastinei mesmo e não tenho medo de admitir.
Claro que a época do natal me roubou tempo também, visto eu estar envolvido com o comércio por questões de trabalho, e claro que minha vida vira de pernas pro ar nessa época.

Desculpas a parte, espero e desejo que eu consiga retomar o ritmo agora, quando a história está chegando em sua etapa mais importante. Podem me matar se eu não atualizar dentro do prazo que eu estipulei, podem vir brigar comigo no inbox, que seja. Eu vou merecer.

E como eu sei que não estão aqui pra me ver chorar, não vou me alongar mais. Espero apenas não ter perdido a mão para a história.



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Já era dia quando Himiko se deu conta de si novamente. Imediatamente percebeu estar presa a uma maca; seus braços estavam contidos, impedindo que ela se debatesse derrubando o frasco de soro pendurado ao seu lado; este estava ligado ao seu pulso esquerdo, possivelmente por conta do outro estar coberto por um grande curativo, o qual cobria quase toda a extensão do braço, até próximo ao cotovelo.

Fora isso, no entanto, não havia nada que justificasse o fato de ela estar em uma maca e não em seu quarto. Sentiu fraqueza ao tentar se mexer, incapaz de se levantar por conta da contenção, mas não compreendia como havia chegado àquele ponto.

A resposta chegou segundos depois, quando entreouviu a discussão que ocorria do lado de fora da sala.

— Eu me recuso a atender! — exclamou provavelmente o médico que lhe atendera na véspera. Himiko não tinha certeza se era ele, porém reconheceu a voz.

— Seja razoável, Greg! — uma voz feminina desconhecida respondeu. — Ela teria morrido se…

— Me parece que é exatamente o que ela estava querendo. Não vou mais atrapalhar.

— Não diga essas coisas, Greg!

— Digo, e digo mais: eu passei seis anos da minha vida estudando pra cuidar de Pokémon, não desses treinadores ingratos que não sabem o que querem. Primeiro os esporos e agora isso? Pra mim já deu!

A treinadora chocou-se com o fim da conversa, já que o médico provavelmente se afastava; encontrava-se agora sem mais entender o que acontecia.

Foi talvez um minuto depois que uma enfermeira entrou na ala em que a jovem estava alojada; Himiko teve certeza de ser ela quem estava discutindo do lado de fora ao ouvir o bom-dia em um tom emburrado dado por ela, mesmo que tenha se limitado a isso; à exceção das ordens pontuais como “sente-se” ou “abra a boca e estenda a língua para fora” após ter soltado a garota da contenção, não trocou palavra com ela. Podia estar com raiva, como denotava sua expressão, mas continuava fazendo seu trabalho como mandava o protocolo.

— Está liberada. Pode se levantar e sair. — disse a outra, tentando sem sucesso colocar um tom mais neutro na voz.

— Afinal, o que aconteceu? — perguntou Himiko.

— Achei que você já sabia. Seu Pokémon quase lhe matou ontem.

A jovem, já de pé, pulou para trás com o susto, empurrando a maca com um estrondo acidental. A enfermeira, contudo, sorriu discretamente, como se já esperasse por aquela reação antes de continuar.

— Não sei por que a surpresa. Não era para a segurança dele que colocamos seu Pokémon em isolamento. Mais um segundo ou dois e você não estaria aqui pra ouvir isso.

A mente da garota, contudo, continuava ecoando a frase anterior. Futa jamais faria algo contra ela, não quando ele estava naquele estado justamente por ter salvado a vida dela.

— Como ele está agora?

— Bem… depois de drenar quase toda a sua energia ele começou a se recuperar. Ele estava com boa saúde, seu sistema regenerativo logo voltou a funcionar como deveria. Logo deve receber alta. — A enfermeira então baixou a voz antes de continuar. — E se eu fosse você, partiria assim que possível.

— Hã?

— Digamos que os outros não estão muito felizes com a bagunça dessa noite…

A treinadora não se atreveu a perguntar a que ela se referia por “bagunça”, sem se lembrar de muitos detalhes desde que entrara em contato com Futa. Considerando o que ouvira, contudo, já esperava pelo pior, levando em conta também sua usual falta de sorte. Não que ela tivesse vontade de descobrir; feliz em saber que seu Pokémon finalmente estava bem, também tinha seus motivos para sair dali o quanto antes, não somente do centro como da cidade de Verdanturf.

Pois cada minuto que perdia ali poderia ser mais bem aproveitado em Petalburg, atrás de Norman ou já procurando por April.

Seguindo então o conselho da enfermeira, retirou-se sem olhar para os lados. Não quis ver o estado em que ficara a ala de isolamento, tampouco olhar para a cara dos outros que trabalhavam no centro. Ignorava até as vozes que ouvia dos outros cômodos, talvez em maior quantidade do que esperava escutar.

Ao passar de volta pelo saguão, contudo, distraiu-se com o cheiro de comida que exalava. O almoço estava prestes a ser servido e, para alguém que não se alimentava decentemente pelas últimas vinte e quatro horas, lhe parecia o paraíso.

Porém, mesmo a fome não era o suficiente para lhe acalmar. O centro lhe parecia muito mais ruidoso do que de costume, por mais que não se encontrasse tão cheio; ouvia mais conversas do que era esperado, sem prestar atenção em nenhuma, tão preocupada em devorar a comida pouco suculenta em seu prato, esperando recobrar as forças para que pudesse seguir viagem assim que Futa fosse liberado, pensando em quanto tempo seria o “logo” dito pela enfermeira.

Antes que isso acontecesse, porém depois de se sentir satisfeita, acabou por rumar ao seu quarto, encontrando outra vez a Lombre, naquele momento adormecida sobre o tapete felpudo no canto do cômodo. Sua presença era algo que lhe daria mais o que pensar enquanto rumava para o vestiário, desejando por um banho tanto quanto havia desejado por aquele prato de comida minutos antes.

Ela não sabia o que iria fazer com o Pokémon, entretanto. Levá-lo consigo talvez fosse uma opção, afinal, apesar de que não estava nos planos dela continuar em viagem. Talvez até o fosse, dependendo das informações que pudesse conseguir com seu pai, mas Himiko esperava que Petalburg pudesse ser sua parada final. Sem desejar ser um estorvo para a Lombre, capturando-a para manter sua companhia por um único dia de viagem, mas ao mesmo tempo se vendo incapaz de negar sua presença após toda a ajuda dada por ela, a treinadora via-se em um dilema de difícil solução.

Não era a única coisa que lhe afligia antes do banho. Principalmente porque não podia ignorar o grande curativo em seu braço direito, intocado pela enfermeira. Não conseguiu perceber nenhuma dor ou incômodo, bem como não havia sangue ou qualquer outra mancha que pudesse denunciar um ferimento mais sério. Arriscando-se a remover lentamente as bandagens, surpreendeu-se positivamente ao encontrar três longos arranhões percorrendo o comprimento de seu braço. E nada mais, exceto pela sensibilidade do local.

Respirando aliviada pelo excesso de cuidado de quem havia cuidado de seus ferimentos, Himiko terminou de se despir, já imaginando a ducha fria lhe atingindo a cabeça. Ela somente não contava ter abandonado suas preocupações um pouco cedo demais.

Pois os arranhões em seu braço não eram o único ferimento em seu corpo, tampouco o mais feio.

Ao tirar o top que usava por baixo da blusa, a garota encontrou uma mancha escura em seu tórax, medindo talvez uns dez centímetros de comprimento por uns três de largura, situada na região entre os seios, estendendo-se até pouco abaixo do esterno. Não sentia dor ao tocá-lo, percebendo o toque normalmente apesar da aparência morta daquela região. Não tendo exatamente o que fazer a respeito, continuou com o plano original de tomar um banho, e somente um tempo depois, já com a água fria lhe batendo sobre a cabeça, percebeu que a área ferida coincidia com o local em que Futa fora atingido pelo ferrão. Uma semelhança grande demais para ser tratada como mera coincidência.

Pensou ser talvez uma consequência do tal vínculo que tinham, algo pelo qual seu Pokémon possivelmente saberia explicar melhor do que ela, algo que pediria uma longa conversa com ele assim que fosse possível.

E pensar que essa não seria a maior surpresa que estava reservada para ela naquela tarde.

Pois quando Himiko se dirigiu de volta para o quarto após o banho, pensando em como se ocuparia até que Futa recebesse alta, foi recepcionada por uma voz que ouvira em uma única oportunidade, em um momento do qual não gostava de se lembrar.

— E aí, tá melhor agora?

A garota paralisou-se, tamanho o susto. O quarto continuava no mesmo estado em que deixara, perfeitamente arrumado e com a Lombre ao canto, sobre o tapete. A diferença era o fato de ela estar acordada e encarando-a enquanto perguntava:

— O que foi, o Persian comeu tua língua?

A primeira reação de Himiko foi beliscar-se, pensando estar em mais um de seus sonhos. Percebendo estar acordada, tratou de pensar a respeito da situação em que se encontrava. Não que não estivesse acostumada a conversar com algum Pokémon, mas somente conseguia fazê-lo através dos poderes de Futa. E era fato que ele não estava por ali, tanto quanto provavelmente ainda se encontrava inconsciente.

— Eu… eu não sei, estou confusa… — respondeu a garota, timidamente.

— Me fala, o que tu tá sentindo?

Himiko olhava para os lados, tentando se certificar de que Futa realmente não estava escondido lhe pregando uma peça antes de continuar.

— Não sei. Quer dizer, eu não devia estar entendendo o que você diz.

— Hein? — o Pokémon balançou a cabeça rapidamente. — Conta isso aí direito.

— Como eu posso explicar… Eu só consigo compreender a linguagem Pokémon quando estou com o Futa do meu lado…

— Eu é que não estou entendendo. — retrucou a Lombre. — Quer dizer que você realmente conversa com os Pokémon?

— Sim e não. Quer dizer, ele não está aqui pra me ajudar, então eu não sei como isso está acontecendo…

— Então é por isso que… — a Lombre fez um silêncio, como quem pensava se deveria continuar a falar. — Não, deixa pra lá…

— Pode falar! Eu quero entender, talvez isso ajude.

— É que eu te machuquei ontem. Eu tava tentando explicar que não sei como usar os esporos, mas você insistiu tanto e parecia tão irritada que eu tive que tentar. Digo, depois do que aconteceu na caverna eu imaginava que você podia entender alguma coisa, mas…

O Pokémon se calou, bem como a jovem não se atreveu a falar. As coisas já não estavam em seu melhor estado sem que Himiko se atolasse em culpa. Podia não se lembrar tão bem, mas tinha certeza de as coisas estavam definitivamente fora de controle para que ela desejasse ser atacada com os esporos, sabendo que a maior parcela de culpa pelo acontecido era de sua própria culpa.

Por outro lado, após ter visto as coisas do ponto de vista de Futa, os fatos que se sucederam passavam a fazer o mínimo de sentido. Se ela podia pensar daquela forma, a consciência dele havia se alojado no corpo dela imediatamente após o ataque; isso talvez explicasse como ela havia compreendido a fala de seus pokémon naquela ocasião.

Mas por que não conseguia fazê-lo no momento seguinte, quando estava enfim no centro pokémon? E por que tornava a compreendê-los agora, com Futa recuperado e de volta ao seu corpo?

Talvez seja melhor não pensar nisso, afinal…

— Qual o seu nome? — perguntou a treinadora.

— É Rejane. — respondeu ela. — O teu é Himiko, não é?

— Sim.

— Eu escutei lhe chamarem assim…

As duas voltaram a ficar em silêncio, sem saber como lidar com a situação. Não dava pra esconder que o clima estava pesado, o que as impedia de ter uma conversa mais amigável. Não que estivessem chateadas uma com a outra, pelo contrário. Mas a tensão era palpável de qualquer forma, como se qualquer palavra dita pudesse desencadear lembranças ruins…

— Vem cá, o que que tá pegando?

A pergunta súbita de Rejane fez com que a jovem levasse um susto. E tanto o fez que ela não conseguiu dar uma resposta satisfatória, ou mesmo alguma, de modo que o pokémon continuou após notar a expressão confusa da garota.

— Antes tu não querias me ver nem que fosse uma Miltank voando, me largou falando sozinha, agora tá aqui me olhando com essa cara de besta… qual é a tua?

A treinadora levou mais um tempo para assimilar a pergunta, surpreendendo-se mais com os modos da Lombre do que com o questionamento em si.

— Eu não sei, esses dias estão sendo bem complicados, eu não tou muito bem…

— Então bota isso pra fora.

— Eu… não acho que seja…

— Qual é, vai ficar nessa agora? — o Pokémon se levantou, impondo-se frente à treinadora, a qual se encontrava sentada na cama. — Por isso que tu ficas assim pra baixo, quer guardar todos os problemas pra si. Anda, me conta logo isso!

Sentindo-se talvez intimidada, Himiko cedeu e começou a falar. Contou desde o acontecido em Mauville, de como Nuri e Monk haviam morrido por um erro dela; falou também de como decidira vir até Verdanturf e de seus medos, visto como as coisas não paravam de dar errado, incluindo a quase morte de Futa.

— Tá, e por que que tu tá nessa?

— Bem, eu estou indo atrás das insígnias pra…

— Não tou falando disso! Por que você continua assim tão pra baixo?

Himiko não teve outra reação se não um riso forçado, um riso sarcástico que acabava por acentuar sua irritação:

— Olha pra mim! Olha pra minha cara e diz que eu não estou perdendo o controle!

— Não, tu não estás. Me escuta, é esse teu jeito pessimista que faz com que se sinta pior!

— Pior do que ver seus amigos morrerem na sua frente?

— Peste!¹ — Rejane não se conteve. — O que tá feito não tem mais volta, mas bota uma coisa na tua cabeça, ficar chorando e achando que tudo vai continuar dando errado só faz você e todo mundo do seu lado ficarem mal!

Himiko até abriu a boca, em uma ameaça de resposta, mas logo mudou de ideia. Sentindo-se acuada, achou por bem calar-se frente à agressividade do Pokémon a sua frente. Tanto era verdade que até mesmo a Lombre parecia desconfortável, como se tivesse pegado pesado demais com a garota.

— Não tou dizendo pra você esquecer deles, mas céus, não dá pra ficar só chorando e se mutilando pelo que já aconteceu. Tenta imaginar o que eles pensariam de você se pudessem lhe ver agora!

Mais uma vez sem resposta, a treinadora apenas suspirou, baixando a cabeça. Não estava desconfortável por estar levando uma bronca de um Pokémon, não tanto quanto por perceber que, no fundo, a Lombre tinha razão. Era bem verdade que estava passando por momentos ruins, mas o que havia feito até então para superá-los?

Com uma lágrima escorrendo por seu rosto, tornou a pensar em seus planos futuros e no que planejava fazer dali em diante. Faltava tão pouco para que as coisas se alinhassem e começassem a se resolver, afinal. Logo estaria de volta a Petalburg, pronta para colocar um ponto final em seus problemas.

— Vamos fazer do seu jeito então. — bufou ela, mais por conta da respiração pesada do que por irritação. — O que quer que eu faça?

— Vai fazer alguma coisa de útil! Vai treinar, fazer compras, sei lá, alguma coisa. Só não fica aí sentada.

— Não agora. Estou esperando…

O barulho de batidas na porta interrompeu a resposta da garota, poupando-a da justificativa.

— Com licença. — um funcionário do centro entreabriu a porta. — Himiko?

— Sim, sou eu.

— Só pra avisar que seu Pokémon já recebeu alta e está descansando na pokébola. Já pode pegá-la na recepção.

— Ah, obrigada.

Se por um lado ela tinha perdido a desculpa que daria para Rejane, por outro não teria mais motivo para ficar por ali. Com Futa recuperado, ela podia enfim seguir viagem. E, estando ainda no início da tarde, podia imaginar se conseguiria ou não chegar a Petalburg no mesmo dia.

— Então, eu já vou indo. — a treinadora levantou-se.

— Vem cá, tu tá ficando doida? — Rejane tornou a levantar o tom de voz. — Acha que eu vou deixar você sair assim?

— Não era você que estava dizendo pra eu ir…

— Anda, me dá uma pokébola aí. Não vou deixar tu ires sozinha pra fazer mais besteira!

Himiko teve um calafrio, percebendo então o detalhe do qual havia se esquecido. A treinadora já imaginava que a outra iria querer seguir viagem com ela, mas não pôde deixar de se surpreender com a maneira incisiva com que fez o pedido.

E, depois daquela conversa e de tudo o que passaram, não era como se houvesse outra opção.

— — —

Menos de meia hora havia se passado e Himiko já se encontrava cercada de árvores, adentrando a densa floresta ao sul de Verdanturf enquanto consultava a tela do Pokénav. Com Futa em boas condições, apesar de adormecido em sua pokébola, a jovem não tinha motivo para não seguir viagem imediatamente. Com um olho no mapa e o outro na vegetação espessa que lhe dificultava os passos, ela chegava à conclusão de que não alcançaria Petalburg naquela noite como planejara.

Pois aquele caminho era pouco explorado por um bom motivo.

Não apenas as árvores cresciam próximas umas às outras, dando-lhe pouco espaço para caminhar, como também o terreno íngreme a obrigava a redobrar os cuidados. Um único passo em falso seria o suficiente para que se visse atirada para frente por conta do declive acentuado, e sua cabeça acabaria por encontrar um tronco robusto.

Talvez, se nada mais lhe atrapalhasse, imaginava que chegaria ao amanhecer caso seguisse sem descansar. Sendo essa possibilidade improvável, traçou uma nova previsão para o final da manhã seguinte.

— Ei, Himiko, não está se esquecendo de nada não?

A treinadora fingiu não ouvir seu Pokémon que a acompanhava. Temendo que algo pudesse tornar a viagem ainda mais complicada, ela decidiu que Nagrev seria sua companhia naquele trecho. O Charmeleon via naquele momento uma oportunidade de conversar com ela; infelizmente para a garota, o tema escolhido por ele para o diálogo era um do qual ela não tinha a menor vontade de retomar.

— Você ainda tá me devendo uma explicação! — bufou ele.

— Eu não estou te entendendo. — mentiu ela. — E não quero acordar o Futa agora, ele acabou de sair do centro.

— Não precisa mentir pra mim, eu sei que você não precisa dele! Ontem mesmo você estava pedindo minha ajuda com ele desmaiado.

— Acontece que ontem… — Himiko respondeu de súbito, parando assim que percebeu que se entregara, dando a ele a prova de que precisava a respeito de sua farsa.

— Tá vendo só, você não serve nem pra mentir…

— Tá bom, eu não sei mentir mesmo, pronto, falei. Mas não sei como ou porque estou entendendo vocês sem ele do lado.

— Hmph. Não mude de assunto. — resmungou ele. — O que infernos aconteceu com o Nuri?

— Não quero ter de falar nisso de novo.

— Pera aí, de novo? Quer dizer que você já contou pra alguém e não pros seus parceiros de time? E eu achando que podia confiar em você, francamente…

A treinadora parou de andar, virando-se para o Charmeleon e notando sua cara emburrada, antes que ele desviasse o olhar, virando o rosto para o lado e cuspindo uma pequena chama para cima, demonstrando sua indignação.

— Aargh! Tá bom, você venceu. — Himiko, igualmente chateada, pegou as pokebolas de Kazu e Rejane, liberando-os. Faria o mesmo com Gérson, caso houvesse espaço, mas imaginava que ele pouco se importaria com o teor da conversa de qualquer forma.

— Nagrev? Ikazuchi? — a Lombre esganiçou. — Vocês por aqui?

— Rejane? — o Charmeleon perguntou, igualmente surpreso.

— Pera, vocês se conhecem?

— Ih, Miko, senta que lá vem história… — O Manectric explicava, antes de ser interrompido.

— Deixe ela falar primeiro, Kazu. — Nagrev apontou para a treinadora. — E sem esconder nada!

E pela segunda vez naquela tarde, Himiko se viu obrigada a narrar tudo o que acontecera desde que visitara o ginásio de Mauville, mas desta vez não o fez sem ser interrompida.

— Essa história tá muito mal contada… — Kazu comentou.

— Que foi, eu não iria mentir pra vocês!

— Não tou falando de você, Miko, tou falando desse cara que invadiu o ginásio. Digo, não seria muito mais prático entrar pela porta da frente?

— E por que ele faria isso?

— Pensa comigo. O que levaria alguém a subir no telhado do ginásio e abrir um buraco pra entrar?

— De que outra maneira ele entraria sem ser visto? — respondeu outra vez a treinadora.

— Bem, ele se atrapalhou ao ver que vocês estavam na arena, ou não teria caído…

— Aonde tu queres chegar com isso? — perguntou Rejane.

— É fácil, ele não queria matar ninguém, só queria entrar no ginásio pra pegar alguma coisa lá dentro.

— Mas isso não faz o menor sentido! — Himiko exclamou.

— Ela tem razão nessa, Ikazuchi. — Rejane completou. — Se tivesse algo tão valioso no ginásio, a menina lá não teria fugido tão rápido.

— Talvez, mas continua seguindo meu raciocínio. Não é muito estranho que isso tenha acontecido quando todo mundo sabia que o líder não aparecia por lá havia um tempo?

— Wally comentou a mesma coisa comigo… — Himiko complementou.

— Então! Meu palpite é que ele pensou que o ginásio estava vazio e entrou pelo telhado pra tentar roubar alguma coisa. E pelo jeito evasivo que você falou que a outra treinadora lá estava, aposto que ela sabe muito bem do que se trata!

— Pensando por esse lado… isso é mais um motivo pra pensar que não é da minha conta.

— Mas afinal, por que infernos você tentou salvar o cara? — Nagrev perguntou.

Himiko teve um calafrio ao ouvir a pergunta, percebendo que não comentara nada com eles a respeito do pesadelo que teve. E se não sabiam a respeito deste, tampouco sabiam da existência de April e de como ela era a motivação de sua viagem. Como logo se lembrou, Kazu e Nagrev estavam em recuperação no centro Pokémon naquela oportunidade.

— Por um momento eu pensei que fosse alguém que eu conheço. — resumiu ela, que não estava disposta a entrar no mérito naquele momento. Aliás, nunca esteve, nem mesmo quando acabou o fazendo, comentando sobre ela com Futa e os outros que a acompanhavam na ocasião.

Os três Pokémon ali presentes possivelmente perceberam isso pela expressão dela, lhe agraciando com o silêncio, sem insistir no assunto, talvez percebendo que ela não aguentaria.

— É, eu sei, eu tou chateado também com tudo isso, mas não com você, Miko. Eles não mereciam isso, e eu tenho certeza que você não correria esse risco sem…

— Desculpa interromper o momento afetivo de vocês, mas eu escutei alguma coisa! — Rejane anunciou.

Himiko olhou para o lado que a Lombre apontou bem em tempo de ver a bola de pelos que vinha em sua direção, mas não conseguiu desviar dela. A criatura atingiu seu ombro, estendendo seus braços imediatamente em direção à mochila que a jovem carregava, não sem ser recepcionado por um ataque elétrico, cortesia do atento Kazu, deixando o adversário fora de combate e levando-o ao chão.

A treinadora olhou para baixo, reconhecendo o Pokémon caído como um Mankey. Ele possuía um tamanho reduzido para sua espécie, algo em torno de quarenta centímetros de altura, bem como os braços e pernas incomumente finos.

Foi só então que notou que o ataque de Kazu não o deixara desacordado, mas sim morto; o Pokémon permanecia imóvel, de modo que nem mesmo sua respiração podia ser detectada.

— Não precisava ter usado um choque tão forte, Kazu!

— Mas eu não usei, Miko!

— Ele já estava fraco e desnutrido. — Rejane explicou. — Possivelmente já estava prestes a morrer de qualquer forma…

A treinadora tornou a olhar para seu Pokénav. Com a conversa que vinha tendo com sua equipe, acabou descuidando-se do localizador, que poderia ter alertado com certa antecedência da presença da espécie selvagem cuja identificação acabava de se apagar. Um ponto fraco do equipamento era que ele não reconhecia as diferentes espécies, apenas alertando de sua localização. E naquele momento, apenas três Pokémon apareciam no mapa em um raio de um quilômetro, justamente os que lhe acompanhavam em viagem.

— Os Mankey não vivem em colônias? — perguntou Nagrev. — Onde estão os outros?

Himiko olhou mais uma vez para a tela, não notando qualquer alteração. Por via das dúvidas, reiniciou a pesquisa, reduzindo a área de alcance para quinhentos metros.

E quando o fez, engoliu em seco.


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Notas finais do capítulo

(¹ Pela primeira vez estou usando uma nota real da história. Acho que devo uma explicação quanto a aquele parágrafo. Lombre é um pokémon planta que vive perto de lagos, então é de se supor que a peste, uma doença trazida por insetos e que mata por condições semelhantes ao envenenamento, traga duas das coisas que pokémon como ela odeiam. Se a Rejane fosse uma humana, tenho certeza que a palavra que ela usaria naquela situação seria um bom palavrão, especificamente car***o.)

— — —

Aliás, finalmente posso comentar a respeito dessa capa linda. Eu estava com ela pronta desde o final de julho, apenas esperando pela oportunidade de colocar ela ali. E teria dado mais certo se eu não tivesse atrasado tanto a postagem dos capítulos nesse segundo semestre...
Creio que essa vai ser a versão definitiva, apesar de um pequeno spoiler, gigante em comparação ao capítulo passado (quer dizer, considerando que a fanfic é um Nuzlocke, o fato de ver que um Ralts chegou a evoluir para Gardevoir e as diferenças na aparência dele já são um spoiler imenso)

No mais, entramos na reta decisiva da fic. Falta pouco agora, então se preparem para essa montanha-russa que está vindo.

Notas do in-game:
Primeiro: Rejane já estava no time desde muito tempo antes. Ela foi capturada na Rota 114 no jogo (aquela perto da Meteor Falls). Como não fui pra lá na fic, tive de adaptar.
Segundo, realmente gastei todo o meu dinheiro pela insígnia. Especificamente, no Game Corner, pelo TM de Ice Beam. Sem ele, duvido que tivesse passado pelo ginásio sem mortes.
Ah, esse percurso narrado neste capítulo e no próximo é tão mais fácil no jogo, apesar de mais longo... Himiko não teria tempo pra isso, por isso está pegando uma rota que nem existe no jogo...

E não, não citarei o deserto, deixei ele de lado exceto por duas capturas (dentro e fora da Mirage Tower) que não vão dar as caras na fanfic, então nem criem expectativas.

Status do time:
Pokémon: 5
Futakosei (Gardevoir) Lv. 42; Bold, Synchronize.
Ikazuchi (Manectric), Lv.42, Serious, Lightning Rod
Nagrev (Charmeleon), Lv.41, Naive, Blaze
Gérson (Gyarados), Lv.42, Brave, Intimidate
Rejane (Lombre), Lv.39, Bold, Swift Swim

Mortes: 6 +0 = 6



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