Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 17
XVI: Present


Notas iniciais do capítulo

Antes de dizer que estou de volta, devo aos 0 leitores que estão em dia um pedido de desculpas. (Caso eu esteja errado nesse número, por favor, se manifeste).
Problemas surgiram no mês de dezembro, alguns relacionados à fic, outros à minha vida pessoal mesmo; o fato foi que abandonei todo e qualquer projeto por falta de tempo e disposição, inclusive minha página no facebook e seus tantos seguidores que não vem ao caso agora.

Caso nenhum contratempo venha a ocorrer novamente, voltarei a respeitar o prazo de duas semanas por atualização.

E no mais, não tenho muito o que dizer nessa nova etapa da fic. Postando sem betagem mesmo, para não atrasar ainda mais...
Boa leitura!



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O sol se mantinha a pino no instante em que Himiko saiu do ginásio, radiante após a vitória contra Darlan. As expectativas que construía pareciam finalmente tomar forma, mesmo que tivesse dado um discreto passo em relação a seus objetivos.

Ela estava decidida a seguir viagem, após ter feito tudo o que julgava necessário na ilha em que se situava Dewford. Desse modo, a jovem rumou diretamente ao porto, tomando o primeiro barco que estivesse para partir, principalmente depois da premiação em dinheiro recebida por derrotar o líder do ginásio equilibrar novamente suas economias, as quais se encontravam reduzidas até então.

Talvez ela tivesse uma pista de quem encontraria na viagem se tivesse olhado com calma a sua passagem antes de embarcar; ela definitivamente teria procurado outro destino se tivesse prestado mais atenção naquele detalhe. Mas nada poderia estragar a sua sensação de felicidade naquele momento.

Nem mesmo ele.

Quando finalmente embarcava com destino a Slateport, encontrou a pessoa que menos desejava ver naquele momento. O garoto gesticulou para ela do convés no exato instante que ela adentrou o navio.

— Oi, Brendan. — respondeu ela, em um tom neutro. Era o melhor que conseguia fazer, mesmo naquelas condições; a euforia da vitória sobrepondo-se até mesmo ao desejo de fugir dali o quanto antes.

— Himiko, é você mesmo? — o rapaz olhou, sem acreditar no sorriso que ela levava no rosto. — Você está radiante, parece até outra pessoa.

— Eu... sinto meio que a mesma coisa. — Ela sentiu-se desconcertada com a expressão alegre do jovem, o que a desmontou. Não chegou a relaxar, mas percebeu que não poderia ser tão ruim.

— Como assim?

— Não sei dizer, eu não estava conseguindo me controlar, sabe? Estava deixando meus problemas tomarem conta de mim…

— Tudo bem… Olha. temos a viagem inteira pra conversar, você pode se abrir comigo se quiser…

— Crook!

Um Pokémon de corpo marrom se aproximava de Brendan, apoiando-se na cintura do garoto. Destacava-se em sua cabeça uma grande folha, além dos punhos desenvolvidos e corpo esguio. Ele aparentava tremer, como se estivesse com medo de alguma coisa, sentimento compartilhado por Himiko.

Ele me parece familiar…

— Calma, Sam, está tudo bem.

A expressão da jovem mudou no instante em que ela conseguiu ligar os pontos. Pois aquele Pokémon era o único dentre os que Brendan treinava que ela conhecia, justamente aquele que havia causado a morte do Hoppip da garota na véspera. E que, assim como Futa, o qual foi libertado naquele instante por sua treinadora para que a ajudasse a se controlar, havia evoluído naquele meio tempo.

— Se controle, Himiko! — o Kirlia disse, telepaticamente. — Ele não está bem, tenho certeza que está com medo de você.

— Oh, seu Ralts evoluiu… — Brendan mudou o assunto, percebendo o clima que estava prestes a se formar. — Posso fazer umas anotações a respeito?

Se a intenção do rapaz era apenas evitar que o clima entre eles ficasse pesado, conseguira com certo louvor. Himiko não havia se esquecido de que foi Brendan quem havia capturado Futa, com a intenção de fazer estudos juntamente com seu pai no laboratório; fora por interferência dela, ao salvar o Prof. Birch de um ataque de Pidgeys, que a jovem havia acabado treinando o Pokémon psíquico.

— Como eu imaginei, o desenvolvimento dele é diferente de um Ralts comum. — Brendan comentava, enquanto segurava seu PokéNav. Aparentemente, falando consigo mesmo, visto a falta de conhecimento técnico de quem o acompanhava. — A pelagem é mais escura, vejo que ele herdou algumas características da espécie paterna… Com licença, posso? — o rapaz apontou para o braço do Pokémon, cujos dedos pontudos pareciam terminar em garras.

Himiko apenas observava, tão sem-graça quanto seu Pokémon.

— Isso é estranho… — comentou Futa.

— Papai vai adorar saber das novidades… — Brendan estava bastante animado. — E você, Himiko, tome muito cuidado com ele. Não sabemos como ele vai se desenvolver daqui em diante, não confie só nas informações da Pokédex.

— Pode deixar. — respondeu ela.

— A propósito, tenho muitas novidades para te contar, venha!

Os dois treinadores, com seus respectivos Pokémon, foram até a proa do navio, aonde o fluxo de pessoas era um pouco menor, desatando a conversar pelas horas de viagem que se seguiriam.

— Meu pai recebeu uma ligação hoje de manhã do Professor Elm… Não sei bem dos detalhes, mas seu Sentret está muito bem com ele.

Himiko levou alguns segundos para se tocar do que ele estava falando. Diversas coisas haviam acontecido naquele meio tempo, de modo que a garota havia se esquecido completamente daquele Pokémon doente que capturara em seu primeiro dia de jornada.

— Bom saber…

— Pelo que ouvi da conversa, ele sofreu algum tipo de variação genética pelo ambiente; Elm e uns outros colegas estão estudando justamente essas variáveis para ver se chegam a uma conclusão e…

— Brendan… — ela o interrompeu. — Eu sei que você gosta do seu trabalho e tal, mas dá para falar de um jeito que eu entenda?

— Ah, desculpa, eu me empolgo… — ele se desconcertou, enquanto coçava a cabeça, sem graça. — O seu Sentret é um Pokémon diferente dos outros, ainda estão tentando entender como e por que isso acontece.

— Obrigada…

Os dois riram, enquanto a conversa logo se direcionou para outros assuntos, mais amenos. Ninguém que houvesse presenciado as discussões que tiveram na véspera diria que eram as mesmas pessoas. Eles chegariam em Slateport apenas durante a noite, porém nem mesmo perceberam o tempo correr durante as horas que se passaram.

Tanto que quando o navio atracou no porto, já com a lua timidamente brilhando no céu, cada um dos quatro se sentia com a alma lavada, encaminhando-se calmamente até o Centro Pokémon, aonde passariam a noite.

— Eu não sei você, Himiko, — Brendan se dirigiu à garota, calmamente, enquanto se dirigiam ao albergue anexo ao centro. — mas amanhã vou partir antes de amanhecer. — Ele fez uma pausa, como se procurasse pelas palavras. — Então… se cuida, tá?

— Você também. — ela corava. — Se eu soubesse que você era uma companhia tão boa, talvez não tivesse te evitado antes…

— Deixa pra lá. Eu também pensei coisas de você que eu não devia e…

— Melhor não falarmos sobre isso.

— É, tem razão. Acho que eu vou dormir. Amanhã vai ser um longo dia. Você devia ir também, Himiko!

— Eu ainda estou sem sono, não quero te atrapalhar…

— Ainda assim, não demore… Boa noite!

Brendan logo retirou-se aos aposentos; Himiko, contudo, não estava disposta a se deitar ainda. Encontrava-se ainda inquieta com algumas coisas; sabendo que não conseguiria relaxar enquanto encontrasse uma solução, decidiu por ir atrás dos esclarecimentos que precisava.

Procurou então um local isolado, aonde pudesse ter certa privacidade; era uma tarefa delicada, considerando que não poderia sair da área do Centro Pokémon ou poderia ficar presa para o lado de fora quando ele fechasse suas portas. Ainda assim, conseguiu um local aonde poderia ficar relativamente sozinha com dois de seus Pokémon.

Futa parecia preparado para o que iria acontecer, além de compreender imediatamente o motivo pelo qual fora liberado. Ele logo segurou a mão da treinadora, preparado para traduzir o que o arredio Igglybuff teria a dizer.

— Tem algo errado com você, não tem? — perguntou a jovem

— Eu… eu estou com medo. — o Pokémon tremia.

— Tudo bem, amigo. Eu estou aqui, quero te ajudar…

— Não…

— Ora, vamos…

— Himiko… — Futa interrompeu. — Acho que isso não vai dar certo.

— Eu só quero ajudar, Futa, porque não daria certo?

Alguns segundos se passaram em um silêncio perturbador; a garota não entendia o motivo para que o Igglybuff se fechasse tanto dentro de sua timidez. O Kirlia, que tinha a resposta para o conflito, não se sentia à vontade para explicar o que acontecia. Em um súbito de coragem do Pokémon balão, contudo, a situação se fez mais clara.

— Eu tenho medo de você!

Se a treinadora não já estivesse sentada, ela possivelmente cairia para trás com a declaração. Ela levou alguns segundos para compreender que havia dado diversos motivos para que ele se tivesse esse medo; resultado do que acontecera naqueles dias.

— Eu… eu queria estar seguro, queria me proteger… Mas você é má, faz a gente se machucar… eu não gosto de você!

A reação da jovem foi de choque, apesar de que ela não o culpava. O dia fora longo o suficiente para que ela pudesse repensar todas as suas atitudes, de modo que ela não podia fazer nada senão aceitar que estava errada. E no caso de um bebê como o Igglybuff, era sensato de pensar que ele seria mais transparente em seus sentimentos do que os demais.

— Eu te entendo, você tem todo o direito de não confiar em mim. Mas o que quer que eu faça?

— Eu… eu quero ir embora.

— Eu não posso fazer isso com você. É apenas um bebê…

— Não importa. Eu…

Himiko, por impulso, chamou o Pokémon de volta para seu encapsulamento, enquanto levava as mãos ao rosto, sem reação.

Eu sou uma idiota mesmo… devia ter imaginado que era isso…

— Não se crucifique, Himiko…

— Me deixe um pouco sozinha, Futa!

A ordem soara mais como uma súplica. Futa decidiu relutantemente por respeitá-la, voltando para sua pokébola por conta própria. Nesse meio tempo, Himiko continuou pensativa, procurando um meio de reverter a situação. Ou pelo menos aliviar o clima chato que perdurava até ali.

Os minutos se passaram lentamente; ela não chegara a nenhuma decisão viável para seu dilema. Pensou em diversas possibilidades, inclusive a de liberá-lo na cidade, algo que considerava mais cruel do que tudo que ela fizera de ruim até então. Pensou em ir até Brendan, na esperança de que ele aceitasse cuidar do Igglybuff, mas o rapaz já se encontrava dormindo; ela decidiu por não incomodá-lo. Desistiu de pensar a respeito ao encarar os lençóis em seguida; qualquer decisão que viesse a tomar poderia esperar até a manhã do dia seguinte. E ela também merecia uma noite de sono, afinal.

— — —

A manhã começou não muito diferente do que a noite anterior terminara, talvez até um pouco mais pesada, visto a dificuldade de Himiko para dormir apesar do cansaço. As preocupações logo viriam a perturbá-la novamente ao terminar de se alimentar, coisa que fizera parcamente no dia anterior. Brendan, como alertara na véspera, partiu muito antes de ela acordar, frustrando o plano que ela concebera antes de dormir.

Ela permanecia sem uma solução para a questão do Igglybuff, lembrando-se do que ouvira nos últimos dias. Por um lado, a treinadora sabia que não poderia ficar com o Pokémon naquelas condições; por outro, não tinha coragem de abandoná-lo.

Ela tentava deixar isso de lado, acreditando que a solução poderia aparecer magicamente; repassando os acontecimentos do dia anterior, lembrou-se da longa conversa que teve com Brendan e de como as coisas estavam indo bem no laboratório.

Como eu não pensei nisso antes?

Himiko correu até o videofone disponível no centro. O PokéNav poderia ser um sistema mais moderno e sem custos adicionais pelas ligações, mas não era compatível com o sistema tradicional, de chamadas pagas, que era a única opção que ela tinha para falar com uma pessoa em específico.

— Bom dia, Birch falando… Oh, é você, Himiko! Como vai?

— Bom dia. Vamos bem. — respondeu ela — Não estou incomodando?

— Claro que não! Aliás, estava querendo mesmo falar com você, tenho notícias do Sentret!

— Eu me encontrei com Brendan ontem, ele me adiantou algumas coisas…

— Pode ter certeza, ele está sendo muito bem tratado. Uma pena que ele não consiga se adaptar ao ecossistema daqui de Hoenn, mas está se recuperando bem sob os cuidados do Arthur… Elm. — completou ele, ao ver a surpresa da garota. — É o costume de chamar pelo nome, intimidade tem disso…

— Bom saber… mas não foi por isso que eu te liguei. Eu queria um conselho seu.

— Mas é claro! Diga!

— Eu capturei um Igglybuff faz três dias, mas ele tem ficado meio arredio comigo, parece que não gostou de mim… Não quero ter que levar ele comigo se ele não quiser, mas também não posso abandoná-lo, ele é só um bebê…

— Himiko, as vezes é assim mesmo, nem sempre os Pokémon confiam nos seus treinadores, em especial no início. Você tem que mostrar a ele que pode confiar sem medo; isso as vezes leva tempo…

— Eu sei, mas… não acho que seja o caso.

— Bem… — ele analisava a treinadora pela tela do videofone. — talvez o problema esteja com você e não com ele… Você deve ter percebido com o Ralts, quanto mais novos são os Pokémon, mas influenciáveis eles são. Eles percebem quando um treinador realmente gosta dele; pela sua expressão você não está assim com muita vontade de treiná-lo…

Himiko culpava-se, não pelo sentimento revelado, mas por ser tão transparente com ele.

— Eu tenho uma ideia. — continuou o professor. — Você pode mandar ele pra cá pro laboratório, ele vai poder conviver com outros Pokémon e vai continuar sendo protegido…

O sorriso da treinadora, tão sincero quanto o resto de seus sentimentos, denunciava seu alívio; ela imediatamente concordou com a proposta, colocando a pokébola em um dispositivo anexo ao videofone. Não era lá muito barato mandar um Pokémon para outro lugar por esse meio, mas Himiko considerou que seria um valor muito bem gasto.

O fato de ela sequer tentar se despedir do Pokémon antes de enviá-lo não passou despercebido ao professor Birch.

— Himiko, eu não vou te julgar, mas me responde uma coisa: era o Igglybuff que não gostava de você, ou você que não gostava dele?

A treinadora não teve coragem o suficiente para responder, encerrando a chamada sem emitir outra palavra; sua expressão denunciava os seus reais sentimentos mais do que as palavras poderiam fazer e, principalmente, mais do que ela poderia admitir.

Em uma tentativa de distrair-se novamente, Himiko decidiu seguir viagem o mais cedo possível; só o que ela precisava era pegar sua mochila no quarto e sair. Mas até mesmo nisso haveria algum contratempo.

Apesar de confiar nas pessoas que frequentavam o Centro Pokémon, Himiko tinha o hábito de conferir seus pertences antes de partir, com o duplo propósito de verificar se não esquecera-se de nada e ao mesmo tempo confirmar que seus pertences (em especial a Pokédex) continuavam ali. A surpresa se deu quando ela percebeu que suas roupas não estavam na mesma arrumação que ela sempre mantinha. Um claro sinal de que alguém havia aberto a mochila.

O desespero se materializou tão rápido quanto era de se esperar; no instante seguinte os pertences da treinadora eram virados ao chão por ela, que procurava por cada um de seus objetos, com medo que algum deles tivesse sido levado por algum oportunista.

Suas suspeitas foram infundadas, contudo; cada um de seus pertences continuava ali. A Pokédex, o PokéNav, as mudas de roupa. O bolso com o dinheiro sequer havia sido tocado.

Himiko, porém, não estava aliviada. A mochila havia sim sido mexida. O número de pokébolas que ela levava poderia ter continuado o mesmo, porém uma delas havia sido inicializada.

Em outras palavras, alguém trocara uma de suas pokébolas vazias por uma que já havia sido utilizada, algo que poderia passar batido durante um momento de pressa. Como quando ela fosse usá-la. Algo que poderia ter graves consequências, dependendo do Pokémon que estivesse contido lá.

Curiosamente, nada mais havia sido mexido em sua mochila. A treinadora não sabia como reagir a isso, e talvez por esse motivo simplesmente não o tenha feito. Acabou por apenas colocar aquela pokébola em um bolso separado antes de partir.

Talvez venha a ser útil, pensou ela.

Mas não queria correr o risco de estar enganada.


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Notas finais do capítulo

Surpresa, surpresa!
Os dois se dando bem? Quem diria! Como eu já devo ter dito, meus personagens tem vida própria, muitas das vezes não me obedecem...
Mas vejamos pelo lado bom, a história está fluindo, dessa vez podemos esperar por coisas boas nessa jornada. Podemos?

Notas do in-game:
Não se assustem com essa pokébola extra. Estou seguindo as regras do Nuzlocke à risca. Quando esse mistério se resolver eu explico qualquer detalhe a respeito dela.
Ah, e vou voltar com os nicknames na descrição abaixo. Não são os mesmos que usei no in-game (quem notou o stealth edit sabe), mas deixarei assim para clarear a mente de quem se importa.

Status do time:
Pokémon: 3
Futa (Kirlia) Lv. 23; Bold, Synchronize.
Monk (Bellsprout) Lv. 22; Bold, Chlorophyll
Nuri (Swellow), Lv.25; Mild, Guts



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