Mundo medonho escrita por Helen


Capítulo 6
O mago.




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Agatha estava brincando com alguns sistemas. As aulas que havia tido com Detetive mostraram-se efetivas rapidamente. A garota já era capaz de invadir sistemas, "plantar" vírus, e entrar em contas de vários tipos. O mundo antes desconhecido estava sendo desbravado e se abria diante de seus olhos. Enquanto continuava a treinar novos códigos de programação, Agatha começa a pensar na possibilidade de ter medo. Desde os onze anos não sente mais o receio na mente, mas pensava “e se eu ainda tivesse?”. Minutos depois concluiu que se pudesse ter a capacidade de ter medo, seu maior medo seria o de ficar louca.

Deixou os pensamentos de lado e se concentrou no mais novo arquivo que havia encontrado. Infelizmente, ela ainda não sabia como se descobria remetentes ou destinatários. O arquivo era uma gravação de voz. As organizações envolvidas na guerra comunicavam entre si através de gravações, para ser mais complicada a compreensão da mensagem (por exemplo, é mais fácil ler um texto digital do que compreender o que uma voz diz), e também por ser mais prático. Era o meio mais útil e veloz. Normalmente, os arquivos eram nomeados em línguas difíceis ou não muito conhecidas, como japonês, basco e zulu, e para dificultar ainda mais a compreensão, eram anagramas. Apenas alguém que fosse especialista em idiomas (conhecidos como Tradutores) poderia dizer qual era o nome de cada arquivo de gravação. Porém, esse recurso era utilizado apenas em casos onde não era possível entender a tese central em que a gravação estava baseada, o que era incomum.

"Huh... espero que isto esteja gravando. Se der erro novamente, eu quebro o rosto do cara que me vendeu esse gravador!"

— Um ótimo começo para uma gravação. — disse Agatha.

"Enfim. Ignore isso. Rafe Nº23 falando."

Agatha ignorou um pouco as informações iniciais, já que se resumiam a uma apresentação básica. Como não tinha a capacidade de acelerar a mensagem, deixou que o rapaz continuasse falando por algum tempo. Por precaução, começou a anotar o que considerava importante, em uma nota.

"Fico feliz em te dizer que seu projeto anda dando muito certo. Quero dizer, já é eficaz na maioria dos cobaias. Mas preciso relatar que eles ficaram muito debilitados. Alguns tiveram partes do corpo apodrecidas rapidamente, e outros acabaram loucos. (grito alto no fundo) É... você acabou de ouvir um deles."

A caligrafia de Agatha foi interrompida por um risco, devido ao susto que ela tomou com o grito.

"Aliás, tive que matar alguns Medrosos que serviam de empregados por eles estarem com medo de exercer suas funções por causa de suas cobaias, doutor. Oh, e nossa melhor cobaia teve um plano maravilhoso. Vou esperar que retorne para dizê-lo. É só. Câmbio."

O arquivo se fechou sozinho. Calmamente a moça colocou o computador em modo hibernar e procurou Detetive. Ao vê-lo, estendeu o braço com a nota onde havia escrito, e ele a agradeceu, batendo levemente na ponta de sua cabeça.

Agora, vamos nos deter em Ronald. Logicamente, ele não está interrogando ninguém no momento. Ísis é alguém muito rígida em relação a interrogatórios, e prefere que sejam feitos por si mesma.

Ronald ganhou uma sala escondida nas paredes. Era quadrada, com paredes laranja fosco e uma lâmpada branca e suave. Havia uma plataforma colada à três das quatro paredes, e nela estavam um ventilador, papéis acompanhados de canetas, fones de ouvido para captar melhor as falas dos interrogados, e um pequeno notebook. Além disso, contava com armários de ferro (que serviam para arquivar) nos dois cantos inferiores, os quais terminavam de ocupar o espaço. De frente para a cadeira com rodinhas que ficava de frente para a parte do meio da mesa, estava a janela de vidro. Perto do teto da mesma, estavam as persianas, acanhadas. Nas laterais na janela, estavam alguns botões e alavancas que modificavam a sala.

Ele não podia estar mais feliz. Examinava com meticulosidade cada parte do lugar, e perguntava ao colega que havia lhe apresentado o quarto como tudo funcionava. Por sorte, ele era paciente para ouvir todas as teorias e responder todas as perguntas de Ronald, o que agradou muito o rapaz, o fazendo se sentir em casa. “Se Agatha estivesse por aqui” pensou ele “ela já teria me mandado calar a boca pra conseguir pensar em alguma resposta."

Um Medroso iria ser levado até a sala. Seria a primeira vez que Ronald estaria trabalhando de verdade. Puxando as persianas para esconder o rosto, logo se ajeitou na cadeira e colocou os fones no pescoço. Preparou a caneta e o papel (já que os preferia, ao invés do computador) e apertou o botão que jogava a camada de papel de parede em frente à janela para disfarce. Logo todos já acabaram de fazer o mesmo processo. O silêncio reinava, e quando a equipe inteira estava completamente escondida nas paredes, a porta se abriu e lá surgiu o Medroso, acompanhado de Ísis.

O Medroso usava um uniforme branco que parecia um pijama, e tinha um aspecto frio e morto. Agarrado em sua cabeça, estava uma criatura com estrutura semelhante à uma criança de três anos. Sua pele era escura como carvão. Seu corpo era magrelo e seus braços e pernas quase esqueléticos. O que mais chamava a atenção era seus olhos: grandes e totalmente brancos, e com uma peculiaridade: não piscavam. Ele estava preso por uma fita especial.

— Por favor, eu gostaria de saber o seu nome. — começou Ísis.

— Adler. Precisa de sobrenome? — a voz do Medroso era rouca, como se ele não bebesse algo líquido havia uma boa quantia de horas.

— Não. Qual é a categoria do Medo?

— Psico-físico: Social, nível 8. Subdivisão: Medo do abandono.

O Medo soltou uma curta risada ao ouvir sua própria descrição.

— Quais foram as ideias que ele implantou em você?

— Nenhuma.

— Não precisa mentir. Não tem ninguém aqui além de mim.

"Mentirosa." pensou Ronald.

— Não minta pra eles. — o Medo tentou acariciar o homem mas ele segurou a mão da criatura

Um longo minuto de silêncio se estendeu, e Adler tratou de quebrá-lo.

— Ele tenta implantar a ideia de que sem os medos a humanidade é psicótica. A ideia de que nos atrasamos ainda mais fazendo isso. A ideia de que nos tornamos selvagens.

— Obtém bons resultados, ela?

— Quase.

— Bom, terminei o aquecimento. Agora, vamos para o que eu realmente quero descobrir. — Ísis aproximou um pouco a cadeira. — Ontem, descobrimos que uma caixa inteira contendo os seus relatórios foi furtada. Não há rastros do ladrão, mas deduziram que você deveria saber de alguma coisa.

— Como quer que eu saiba de algo sobre os meus relatórios se nem sei para onde eles vão depois que eu os escrevo?

— É apenas uma dedução. — Ísis deixou que o tempo implantasse um ponto final e começasse um novo parágrafo, antes de continuar. — Você já tentou fugir?

— Já pensei, mas nunca consegui.

— Até onde chegou em suas fugas?

— Até a porta.

— Por acaso já viu o que tinha lá fora?

— Um corredor enorme e várias portas além da minha.

— Ouviu alguma coisa no decorrer da tarde passada?

— Passos apressados. Mas isso é bem comum. Vocês não gostam de ficar perto das nossas salas.

— O Medo já saiu da sala?

— Às v--

Antes que Alder pudesse terminar a frase, o Medo atacou seus olhos.

— Não diga pra eles! Não diga pra eles!

O homem lutava contra a criatura, que era mais forte do que aparentava. Tinha uma força militar, de alguém que já passou por muita coisa. Por milímetros o olho de Adler não era arrancado pelos longos e pontudos dedos da criatura. Adler gritava de medo, mesclado com raiva. Tinha sido enfraquecido por causa do frio, e por isso quase não podia conter o Medo.

Ísis suspirou e disse no comunicador para que ninguém saísse das salas, e continuassem quietos. Ela pegou um celular que estava escondido em um compartimento secreto da mesa e ligou para alguém, pedindo calmamente por ajuda. Pouco tempo depois de acabar a ligação, alguém bateu na porta. Ísis a abriu e um homem entrou. Ele era alto, usava uma blusa branca e por cima um colete de couro preto. Calças jeans escuras cobriam as longas pernas e por fim, duas botas pretas protegiam seus pés.

Float in spatium. — ele ergueu o braço e apontou a mão em direção ao Medo. — Oblivisci gravitatis. Ad me veniet.

O Medo começou a flutuar, se soltando da fita especial, e se aproximando do homem. A criatura se debatia de todas as formas, tentando fugir, mas nada funcionava. Adler encarou o homem. Parecia reconhecê-lo de algum lugar.

— Você é Devit?

— Sim. — o homem pegou o Medo pelo pescoço e segurou as mãos dele por algum tempo, até conseguir conter a criatura com uma mão só. — Fico impressionado por sua sobrevivência a essa criatura. — ele pegou uma corda do bolso, e então amarrou os membros inferiores, e quando terminou, os amarrou aos braços, o deixando indefeso. — Espero que consiga se livrar dela, um dia.

Devit entregou o Medo nas mãos de Adler. Naquele momento, enquanto Devit começava a sair, Ronald colocou aqueles dois em sua lista mental de "Pessoas Misteriosas". As pessoas que estavam nessa lista eram as que tinham despertado profundo interesse em Ronald. Não era um interesse doentio, mas saudável e que se desenrolaria naturalmente. Para entender melhor, Ronald colocava nessa lista o nome das pessoas que adoraria conhecer, rezando para que a sorte apontasse para elas. Sempre havia dado certo. Agatha era uma dessas pessoas.

Quando o interrogatório por fim terminou, Ronald saiu do departamento de interrogação, se dirigindo até os "campos de concentração", onde focava em descobrir um pouco mais sobre o Medo de Adler, ou melhor, sobre o que ele tentava fazer, que queria que ninguém descobrisse.


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