Mundo medonho escrita por Helen


Capítulo 4
A Medusa e o Malabarista de Chapéus.




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Agatha não ganhou recepção quando entrou na sala. Todas as pessoas do Departamento de Computação estavam usando seus computadores e artigos tecnológicos em suas mesas, tão ocupados mesmo não demonstrando com ações. A moça não quis incomodá-los, e procurou entre as mesas alguma com seu nome. Não demorou a achar uma em que estava seu nome (escrito errado).

Sua escrivaninha era colada com pequenas divisórias de plástico, que a dividiam de outras várias pessoas que trabalhavam na mesma categoria. Era possível ver a ponta da cabeça de seus companheiros, mas além disso, apenas as paredes de plástico. Ela se sentou na cadeira de frente para a escrivaninha onde estava um computador, ligou a máquina e com paciência esperou o aparelho estar pronto. Enquanto isso, leu as poucas instruções e dicas que estavam rabiscadas numa nota colada na pequena divisória. Suspirou ao ler tudo. Agatha não fazia ideia de qual seria seu trabalho.

O computador ligou por completo e ela digitou a senha que estava escrita no verso da nota. De repente, várias abas se abriram, e vários códigos de computação apareceram. Se Agatha tivesse capacidade de ter medo, ela teria entrado em pânico naquele exato momento. Porém, seu cérebro apenas reagiu com confusão.

— Uh... como é que eu faço isso...

— Ah, uma Newbie.

Agatha se virou para quem havia acabado de falar. Teve que mover o olhar para cima graças a altura dele. Seus olhos vermelhos a receberam bem, e os cabelos loiros iluminaram os olhos da menina. Usava uma camisa comum branca e uma calça folgada. Se apresentou como Detetive.

— Você tem cara de ser hacker. — ele piscou os olhos. — Se não der certo, eu vejo outra coisa. So... Você pode ser três tipos de pessoas. Temos o Chapéu Branco, — ele tirou um chapéu de só-Deus-sabe-onde — que é o good guy, ético, regrado, vulgo watch dog das empresas. Temos o Chapéu Cinza, — ele "descolou" o chapéu cinza do branco — que é o cara que é bonzinho mas nem sempre. E por fim temos o conhecido Chapéu Negro, — descolou outro chapéu — que é o que conhecemos por cracker, o indivíduo que se acha o independente e poderoso e invade sites, rouba contas e destrói algumas programações. — Detetive começou a fazer malabarismo com os três chapéus. — Choose your path! — ele virou o rosto pra Agatha.

Ela encara os três chapéus, fecha os olhos e se desafia a pegar um. Abrindo-os, viu que sua mão havia segurado o cinza, e os outros dois estavam na mão de Detetive.

— Chapéu cinza. — disse ela, feliz com seu destino.

Nice! A sorte escolheu o equilíbrio dessa vez. — o homem juntou os chapéus novamente e os jogou pra alguém no meio das divisórias, agradecendo. — Eu lhe mostrarei o básico do básico, e se você quiser, pode aprimorar. Quando você estiver veterana no básico, eu vou te ensinar o complexo. Isso vai requerer tempo. Ready?

— Sim, senhor.

O homem pediu para que Agatha se afastasse, enquanto pegava uma cadeira ali perto. Depois se sentou e começou a “aula”. Ao pousar o olhar na tela, rapidamente ficou sério. O choque de personalidade repentino fez com que Agatha ficasse olhando fixamente para o rosto de Detetive, com a mente vazia.

— Você tá bem? — ele se virou para ela, com uma expressão levemente preocupada.

— Hã? — Agatha "acordou".

— Por acaso, esse negócio de sua mente desligar é algo comum?

— Sei lá. Acho que só quando eu levo um choque nela, talvez.

Okay. Vai precisar vencer isso, já que provavelmente você vai se deparar com muitas coisas chocantes. Loch sugeriu que eu te colocasse na categoria "Outiva", que são as pessoas que cuidam de gravações mandadas por e-mail, essas coisas. É um setor com importância mediana, e se encaixa perfeitamente em alguém com o perfil de Chapéu Cinza, já que requer obediência, mas se você agir um pouco por conta própria está alright.

— Parece legal.

— E é. Só que pra começar você vai ter que aprender um monte de coisas teóricas e meio chatinhas.

— Fazem a mesma coisa na escola. Não faz diferença.

— Heh, true, true. — ele sorriu.

Detetive começou a ensinar Agatha sobre o mundo que ela havia de descobrir. Já que estou aqui não para ensinar ao leitor sobre as profissões citadas, mas sim para entretê-lo com minha história, não narrarei essa parte. Deixando Agatha e Detetive de lado, foquemos nossa amável e desejada atenção em Ronald, e como ele está se saindo.

...

Ronald se encontra em uma sala com apenas uma mesa em seu centro acompanhada de duas cadeiras em lados opostos, recebendo luz de uma luminária, a qual clareia suavemente a sala. Nas paredes há janelas, onde estão algumas pessoas trabalhando com computadores, encobertas por persianas. Elas estão bem ocupadas, e reagem a nada que Ronald faça. Passado algum tempo, ele fica entediado e se senta em uma das cadeiras, esperando que alguém note sua existência ali.

— Me pergunto quanto tempo já se passou. — ele suspirou em sua inércia.

— Vinte minutos e cinquenta segundos, senhor. — uma das pessoas nas paredes disse, quase de um jeito robótico.

— Ué. — Ronald deduziu rapidamente como funcionava aquele lugar. — Quantas patas tem um rato?

— Quatro, senhor. — a mesma pessoa respondeu.

— Qual seria seu nome, se eu perguntasse?

— Carol.

— Onde você estava na noite de 18 de maio de 1987?

— Nascendo.

— Você tem trinta anos, então?

Ela não respondeu.

— Só funciona quando eu utilizo um advérbio de interrogação. — Ronald fechou os punhos, os levantou um pouco e os sacudiu em sinal de comemoração. — Eu sabia que teria que usar isso um dia. Meu instinto não falha.

Algo como uma risada contida chegou aos ouvidos de Ronald, junto com alguns sussurros inaudíveis.

— Onde você se esconde, pessoa sussurrante?

— Atrás.

De propósito, o rapaz se virou lentamente, com uma expressão engraçada no rosto. Aquilo fez a risada presa irromper e soar na sala inteira. Era a risada de uma mulher.

— Tu é idiota? — uma outra voz sussurrou, dando um tapa nas costas da primeira. — Vai estragar todo o treinamento do rapaz.

— Desculpa... Mas admita, ele faz qualquer um rir. — disse a risonha.

— Você foi a única que riu.

— Mentira. Olha o Wesley... Ele tá que nem eu!

Outro tapa.

— Se aquieta aí. Vai estragar tudo.

— Por que ela está estragaria tudo? — Ronald sorriu de leve.

A mulher que havia agredido a primeira se virou para Ronald. Ela suspirou, ludibriada pelo próprio desafio.

— Estragaria porque acabou de revelar o nome de um dos ajudantes sem ser através de uma pergunta, está falando por conta própria e também pelo motivo de ela ser idiota.

— Mas por que ela estaria estragando tudo, sendo que eu ainda estou nas regras, fazendo perguntas para descobrir informações?

—... Ele venceu.

— Viu só? Foi de propósito. — a primeira mulher abriu um largo sorriso de orgulho.

— Cala a boca.

A segunda saiu daquele quarto e fechou a porta atrás de si com força. Deixada de lado, a primeira mulher suspirou, com certo arrependimento. Todos os que estavam nos quartos começaram a sair.

— Por que ela saiu com tanto ódio? — perguntou Ronald. Mesmo sabendo que o "jogo" havia acabado, ele continuou falando através de perguntas.

— Ela odeia quando as coisas não vão no mesmo ritmo que ela deseja.

— Quando ela volta?

— Talvez daqui a uns trinta minutos.

— Alguém irá vir aqui me acudir?

— Talvez. Apenas me disseram para te testar nesse jogo.

— Aliás, por que me testaram nesse jogo?

— Certas vezes aparecem pessoas incapazes de aguentar um interrogatório sem rir, ou fazer um sem desviar o foco. — ela sorriu amarelo, pois sabia que estava incluída nesse grupo.

— Os que receberam perguntas estão aqui por que tem essa incapacidade?

— Sim, senhor.

— E é assim que treinam pessoas simultaneamente?

— Sim, é.

— Que genial! Estou louco para trabalhar aqui. Oh, inclusive, uma última pergunta.

— Diga, senhor.

— Qual é o seu nome e por que me chamam de senhor?

— Meu nome é Diana. Te chamam de senhor porque não sabemos seu nome.

— E qual é o nome daquela que acabou de sair?

— O nome dela é Ísis, ela é a líder daqui. Chega de perguntas, né?

— Sim. Huh... você pode me mostrar o lugar? — perguntar é viciante.

— É só isso.

— Que? Sério?

— É. Todo o Departamento de Informação se resume a essa sala colada com outras. Quando há um interrogatório, puxamos um pano que esconde as salas e as luzes e analisamos cada movimento e palavra do indivíduo interrogado. Eles sempre acham que é só uma sala quase vazia e sem graça.

— Isso é tão legal. Então somos como uma sociedade secreta nas paredes?

— Pode se dizer que sim...

Diana se levantou da cadeira onde estava, e abriu as cortinas, revelando sua aparência física. Ela tinha a pele parda, belos olhos de cor violeta e cabelos cor de avelã. Usava uma camisa laranja claro com mangas curtas, junto com uma saia vermelho escurecido. Com braço direito ela segurou o cotovelo esquerdo, com certa timidez.

— É a primeira vez que vejo alguém com olhos assim, ao vivo. — Ronald admirava os olhos violeta. — Deve ser por isso que não consegue ser alguém que interroga. Você seria uma ótima medusa, sem querer ofender.

— Você elogia de um jeito estranho. — ela sorriu enquanto franzia a testa.

A "medusa" de Ronald saiu do quarto e andou por alguns poucos corredores até chegar na sala principal. Ela se sentou na cadeira oposta a de Ronald, e por nenhum motivo ambos ficaram se encarando como gladiadores que vão se enfrentar. Quando perceberam, começaram a rir.

— Espero que Ísis tenha paciência com você, rapaz. — Diana saiu da sala, deixando Ronald sozinho.

Logo ele ouviu o som de uma porta se abrindo na parede. Era Ísis. Ela era alta, tinha olhos verdes e cabelos azuis celeste amarrados em um pequeno e fino rabo de cavalo. Usava uma blusa laranja escurecida e uma saia plissada de um tom vermelho que chegava a doer nos olhos.

— É melhor que você valha o tanto que Meireles disse. Vou te ensinar o básico e você aprimora com a experiência. Tá?

— Tá.

E com um sorriso de ambos os lados em concordância, Ronald começou a entrar no impressionante mundo que era a habilidade de fazer os outros falarem.


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Notas finais do capítulo

Newbie: Novato(a)
So..: Então...
Good guy: cara bonzinho
Watch dog: cão de guarda
"Choose your path": Escolha seu caminho.
Nice!: Ótimo!
Ready?: Pronta?
Alright: Tudo bem.
True: Verdade.



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