Mundo medonho escrita por Helen


Capítulo 20
Os Vectorines.




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Os Scrupulum sobem a enorme escadaria de concreto, e um representante deles toca a campainha. Guardas os observam pelo canto do olho, os ameaçando sem palavras. A malta teme se dispersar, e fica quieta e unida. Uma das empregadas abre as portas e os guia pelo grande salão. Todos os integrantes da malta, Medos e Medrosos, admiram aquele cenário magnífico, digno de filme. Enquanto isso, do lado de fora, Devit, Loch e Ronald espionam a chegada da malta, escondidos num baú para guardar itens de jardinagem, que ficava ali perto.

— Otsugua vai me dar um sinal, e daí a gente entra e se vira lá dentro. — disse Devit.

— Como assim "a gente se vira lá dentro"? — perguntou Loch. — Nem plano você tem?

— É isso aí. Sem planos. Improviso.

O familiar som espectral de Otsugua interrompeu a conversa, e Devit acompanhou a alma se movendo, algo que só ele conseguia ver. Percebendo que o guarda mais próximo fora possuído pelo seu companheiro, levantou a tampa do baú, parando por alguns momentos para ter certeza. Quando viu que os olhos do guarda estavam completamente brancos, disse para Loch e Ronald se apressarem. Devit guiou os dois, e Otsugua abriu a porta pra eles. Por sorte, os outros guardas não estranharam a movimentação — na verdade, nem olharam para ela — e os três puderam entrar no palácio.

— Meio fácil. — disse Ronald. — Tem alguma coisa estranha.

— Ou somos complexos demais para esse palácio. — riu Devit.

Uma sensação sutil dominava a mente de Ronald. Alguma coisa estava errada. O Medo que o havia transformado em Medroso na explosão do campo de concentração dos Intrépidos, ou melhor, o que havia restado dele, pulsava dentro da cabeça do rapaz, como se quisesse avisá-lo de alguma coisa. A voz inaudível da criatura parecia desesperada, arrependida de todo o mal que tinha feito para o rapaz. Tentava gritar, pedindo perdão e avisando de um mal próximo.

— É sério, eu sinto que tem alguma coisa muito errada. Juro. A gente precisa sair daqui. — Ronald começou a se sentir tonto.

Loch analisou a situação do rapaz com os olhos e então mandou que ele se sentasse. Ronald não conseguiu entender tudo o que ele dizia. Apenas entendeu algumas palavras como: "paranoia", "fique", "resolveremos". O rapaz sentiu mais nada além da sua aterrissagem no sofá branco. Apagou depois daquilo.

...

Agatha entrou com os Scrupulum na sala que a empregada os guiou. Estranhou o fato de que a ela era humana, com a pele escura como carvão e olhos e cabelos brancos. Mesmo assim, tentou ignorar aquilo e entrou na sala sem dizer palavra. Usava a capa de Hugo, já que o mesmo se encontrava ausente em um duelo qualquer que havia arranjado de repente. Ela tinha um cheiro agradável, de lavanda. Agatha, vendo o comportamento nervoso de todos os Medrosos, não parava de pensar que, apesar de sua omissão como dependente do Medo, Hugo ainda era o mais autônomo de todos os Medrosos dali.

Todos os integrantes da malta fizeram uma reverência ao Rei Medonho e seus dois conselheiros quando eles entraram, e então todos sentaram-se nas cadeiras. Começaram a reunião. Alguns Medrosos explicaram o motivo de terem vindo até ali. Quando o Rei ouviu, começou a rir.

— Isso era óbvio, pessoal. — disse ele. — Eu já sabia disso. Mas sabem por que eu ainda deixei vocês virem até aqui falar isso a mim? Quero que vocês ouçam minha resposta à transformação de Medos em medos: Nunca! — ele abriu um sorriso enorme, e saltou da cadeira abrindo os braços. Seus olhos soltaram uma luz forte. Os cabelos negros pareceram saltar. — Prendam esses traidores, os joguem em qualquer lugar seguro e sujo! — ele apontou para os Scrupulum, rindo com escárnio.

Os guardas obedeceram, e começaram a prender todos. Quem conseguia fugir dos guardas era pego pelas empregadas. Todos os Scrupulum que estavam no Palácio começaram a ser arrastados até o porão. Porém, Agatha, em sua inteligência, aproveitou que o guarda que a carregava era o último da fila e deu uma cabeçada nele, atordoando-o por tempo suficiente para fugir. Ela entra em uma biblioteca com a luz apagada, e acaba batendo de costas em uma prateleira encostada na parede. Todos os livros da estante caem de forma silenciosa, menos um.

Agatha puxa o último livro por desencargo de consciência e quando o faz, ele não desce por completo, se revelando na verdade uma alavanca. A prateleira se move um pouco para a esquerda, e Agatha entra numa sala pouco iluminada, mas segura o suficiente para despistar os guardas, pelo menos por enquanto. Para não deixar nenhuma suspeita, Agatha sai da passagem e derruba outras prateleiras com livros, para esconder seu paradeiro. Aí, volta para a fenda e fecha a passagem manualmente.

...

Otsugua sente a movimentação de alguém, enquanto anda ao lado de Devit, procurando a sala onde os Scrupulum estão. Tenta dizer algo ao companheiro, mas nada além de um latim confuso sai.

— Otsugua? — pergunta Devit. — Quid factitatum est?

"Motus", escreve Otsugua, num tapete felpudo qualquer por ali.

— Movimento? Aonde?

A alma começa a mexer em objetos aleatórios, guiando Devit. Loch acaba esquecendo da existência dos dois, e continua procurando pelo paradeiro da sala dos Scrupulum. Otsugua leva Devit até a biblioteca. Agatha acaba de fechar a fenda, mas na escuridão Devit não a reconhece. Sem medo, o homem passa pela biblioteca e descobre a alavanca, e abre a fenda novamente, deixando que Otsugua feche o caminho. Acendendo um isqueiro, Devit se vê diante de um corredor. Passa por ele sem medo e chega até a sala final, onde Agatha mexe em alguns papéis. Devit reconhece a cabeleira azul da moça.

— Agatha!

Ela quase morre de susto. Se vira para trás de repente, e então reconhece o homem.

— O mago... né?

— Sim, o mago. — Devit sorri. — O que está fazendo aqui?

— Ah, é mesmo. Você não sabe o que aconteceu comigo desde o caos da cidade. — a moça suspirou. — Houveram contratempos e acabei me tornando aliada dos Scrupulum. Detetive e Diana também se tornaram aliados, mas estão em outro lugar. Viajei com a malta e cheguei até aqui, na Sociedade Medonha. Acabei tendo que ir numa reunião com o Rei Medonho, só que ele nos tachou como traidores porque os Scrupulum queriam tornar os Medos em sentimentos comuns. Os guardas levaram os integrantes, mas consegui escapar. Enquanto fugia, achei essa passagem e aqui estou eu. E tu?

— Os Intrépidos receberam a denúncia de um Medo de que os Scrupulum estariam vindo pra cá, então seguimos seus rastros e chegamos até aqui. Loch, Ronald e eu estávamos procurando a sala onde os Scrupulum estavam, só que Ronald desmaiou no processo e Otsugua me disse que havia sentido uma movimentação por aqui, e eu acabei seguindo ele. Loch deve estar vagando sozinho por esse lugar.

— Entendo. Aliás, onde está Adler?

— Num duelo com o segundo melhor dos Scrupulum.

Aquele imbecil... — sussurra Agatha.

— Disse alguma coisa?

— Não, nada.

— Mas olha o que temos aqui. — Devit analisa a sala.

O lugar não é muito grande. Era mal iluminado pela luz de vários monitores, que gravam a praça principal da Sociedade, a entrada do palácio, a sala de reunião e o porão (mas este último está com falhas). Na mesa colada com a parede, há vários papéis espalhados como se alguém tivesse procurado desesperadamente por algo ali antes de sair. Entre os papéis, há vários rascunhos sobre bioquímica, transfusão de sangue de Medos para humanos, entre algumas pesquisas sobre a pele e a coloração dos olhos (incluindo uma folha apenas para heterocromia). A letra é horrenda e difícil de ler.

Dois tablets emergem diante das várias folhas, ambos abertos em páginas da internet falando sobre química. Agatha fecha as páginas e começa a procurar o motivo de tanta pesquisa, entre os arquivos. Acaba encontrando uma pasta com o nome "Searching clues" com arquivos de áudio de oito anos atrás.

"Vigésimo quinto dia consecutivo de pesquisa. Acabei tendo que invadir um hospital pra conseguir mais cobaias, e de todas as quatrocentas pessoas presentes lá, só consegui tirar umas três. Desculpe-me, não falharei assim de novo."

— Isso é a voz de um Medo. — confirmou Devit. — Deduzo que seja um Físico, porque a forma como fala é lenta, e ele não dá sinais de autoridade.

— Tem apenas mais dois depois desse. Acha que essa irregularidade nas gravações é proposital? — perguntou Agatha.

— É provável que ele tenha mandado relatórios escritos por e-mail para quem quer que ele esteja trabalhando. Alguma coisa pode ter acontecido com o computador e ele tenha tido que gravar.

— Próximo.

"Quinquagésimo dia consecutivo de pesquisa. Duas cobaias morreram. Só uma sobreviveu à transfusão. Quando testei, pude ativar o Surto sem precisar transformá-lo num Medroso por métodos convencionais. Normalmente, os Surtos podem ser identificados pelas pupilas dilatadas, eletrostática no cabelo, comunicação confusa, delírios, confusão na memória, ataques de emoções e falta de controle dos membros, não é? Mas este Surto é especial. Há apenas dois sinais que eu consegui ver na cobaia, e um deles é novo: A eletrostática no cabelo e uma luz vinda dos olhos."

— Há uma ordem nisso. O primeiro foi no 25º dia, o segundo, no 50º. Talvez o relatório fosse feito de vinte e cinco em vinte e cinco dias.

— Ok. Mas... Essa descrição não te lembra alguém?

—... Eletrostática no cabelo, uma luz vinda dos olhos...

— O Rei Medonho! — disseram os dois ao mesmo tempo.

— Não tinha prestado atenção no detalhe dos cabelos, mas a luz não tem como negar! — disse Agatha.

— Veja esse último áudio, ele pode ter a resposta que a gente precisa.

"Septuagésimo quinto dia consecutivo de pesquisa. Todos os sinais que antes relatei sumiram de repente. A cobaia morreu. Iremos parar com a pesquisa por enquanto."

Uma grande decepção caiu sobre os dois. Se a cobaia havia morrido, então não era o rei. Agatha se sentou numa cadeira empoeirada e ficou encarando o tablet. Foi então que percebeu a existência do outro tablet. Procurando por todos os arquivos possíveis, acabou encontrando alguns caracteres estranhos.

— Ei, Devit. — ela mostrou as abas pro homem. — Sabe o que significa isso?

— Não faço a mín... espera, acho que já vi esse nome em algum lugar. — ele apontou para o 'A1Z26'. —... Mas eu não lembro o que é.

— Anote em algum lugar: 7 - 1 - 12 - 24 - 25, pra caso lembrar o que significa A1Z26, consiga fazer o que for pra fazer.

Depois de olhar em mais arquivos, Agatha achou um áudio daquele mesmo ano.

"Sir, lembra-se da última cobaia? Ela estava escondida em um quarto. Os sintomas se mostram totalmente em harmonia. A pele está igual a de um Medo. Os olhos brilham quando está em surto, e os cabelos ficaram pontudos. Tentou escrever uma carta, mas impedimos que fosse enviada. Não achei que o papel fosse perigo, então o guardei por aqui mesmo... Ah, sir, tem notícias de Adlet, o Medo da Dupla Personalidade? Faz muito tempo que ele saiu do laboratório pra se tornar um aliado daquela malta chamada 'Scrupulum'. Soube que se tornou Medo de alguém importante... Tenho trabalho a fazer, então tchau. Vê se não estraga tudo."

— Com certeza esse é outro Medo. — disse Devit. — Além de não começar com o número de dias de pesquisa, ele grava como se estivesse mandando uma mensagem pra um amigo qualquer. Chuto que seja um Psicológico.

— Eu acho que já vi esse Adlet. — Agatha lembrou-se da reunião. — Se é um Medo da Dupla Personalidade, então deve ao menos mostrar duas faces. Do lado do Rei, na reunião, havia um Medo que parecia metade Psicológico e metade Físico.

— Já sabemos que esse Medo deve ter se infiltrado nos Scrupulum, em alguém importante. Você, que estava entre eles, percebeu algo incomum?

— ...Hugo! — exclamou ela. — É o único líder do grupo que veio para Sociedade e não veio pro palácio. Disseram que ele estava perturbado e queria sair.

— Adlet teve que abandoná-lo para prosseguir com o plano. Isso está começando a fazer sentido, mas falta muita coisa. Enquanto eu procuro essa carta que a cobaia deixou, fique analisando os arquivos e veja o que consegue entender.

Agatha obedeceu Devit e logo ambos começavam a trabalhar por conta própria. A sala se tornou uma pequena confusão de sons de papel e vozes. Para amenizar aqueles sons não tão harmoniosos, a moça procurou uma música instrumental qualquer no outro tablet, e deixou rolando enquanto trabalhavam. Otsugua fez nada, tirando as vezes em que ajudava Devit em limpar papéis.

Os áudios que Agatha encontrou dali em diante eram variados e de anos aleatórios. Vários Medos protagonizaram as gravações, o que deixava tudo mais interessante e misterioso. Todos falavam um pouco sobre os experimentos e principalmente sobre a cobaia sobrevivente, mas seu nome nunca era dito. Pelos áudios, diários e e-mails, Agatha acabou descobrindo que o Medo da Dupla Personalidade era capaz de assumir duas faces completamente diferentes, e assim enganar qualquer um com facilidade. Nos áudios, o mesmo disse que havia "tomado posse" de Hugo, aproveitando-se da omissão que o homem tinha. Também tinha sido responsável por vazar informações acerca da vinda dos Scrupulum para os Intrépidos, terminando por trazer as duas organizações para a Sociedade Medonha. O motivo não é dito. Agatha descobriu também que havia, na verdade, dois Medos Superiores. Um deles era o "Loch" da Sociedade Medonha, e o outro, o responsável pelo Grito.

Nos áudios havia também informações sobre o Rei Medonho. A ilustre figura havia surgido cinco anos depois do Grito, e nunca havia saído da Sociedade.  Possuía um inseparável companheiro que era o Medo da Morte (Psico-físico, nível 10. Medo Superior "Loch"). Ambos guiavam boa parte dos Medos. O nome do rei é César, mas todos preferiam chamá-lo apenas de "Rei Medonho".

“Já ouvi esse nome, "César"...” Agatha pensou enquanto encarava a tela do tablet. “Bom, é muito provável que o Rei seja a cobaia. Se Devit achar a carta e nela houver uma assinatura, poderemos resolver isso. Agora, o problema é o que eu farei pra salvar os Scrupulum...”

— Ei, "A Gata", achei a carta. — o homem deu uma risadinha.

— Foi o único e pior trocadilho com o meu nome que já ouvi em toda a minha vida. — ela sorriu. — Agora, a carta, D' Vitor.

— Credo. Você é pior do que eu. — ele se sentou numa cadeira próxima, sorrindo.

A primeira linha da carta assustou um pouco Devit.

"Prezado Loch."

— Ele queria falar com os Intrépidos? — perguntou o homem.

— Se você ler a carta, vai saber. — disse Agatha.

— Ok, ok...

"Temo que não foi avisado do grande perigo que corre ao senhor e à sua organização. Por isso, escrevo essa carta com o intuito de lhe informar. Infelizmente, não tenho certeza se ela chegará em suas mãos a tempo."

"Desde o Grito, há um grande mal-entendido sobre seu significado. Ele não foi uma manifestação com intenções vingativas. A organização dos Intrépidos cometeu um grande equívoco ao considerar o Grito como um sinal de guerra. Na verdade, este acontecimento foi um choro."

"Nesse momento, mr. Loch, tenho a certeza de que está confuso e crendo que estou mentindo. Não o culpo por isso. Mas se tomar coragem (de verdade) e ouvir novamente o grito — tenho a certeza de que ele foi gravado, pelo menos em parte — perceberá que falo a verdade. Foi assustador pelo fato de ser alto e de autor desconhecido."

"Aí você me pergunta: Por que Medrosos começaram a se formar depois dele?"

"Isso é simples. Pode soar muito orgulhoso de minha parte, e até mesmo parecer que sou louco e paranoico, mas eu preciso dizer. Todo o ocorrido até agora era um plano medonho. Desde a materialização até o Grito, e até os dias atuais. Tudo foi um plano muito bem articulado pelos Medos psicológicos. Enquanto os Psico-Físicos botavam ordem, os Físicos faziam o trabalho sujo. (Lembra-se que, no início, todos os Medrosos carregavam apenas Medos Físicos?)"

"Se isso chegar em suas mãos, mr. Loch, pelo amor de Deus, mande Devit ir à Ilha Medonha. Peça para que ele ordene ao Otsugua que destrua aquele farol. Você me achará nos escombros dele, mas não se preocupe, estarei feliz quando tudo desabar."

"No farol estão todos os planos que os Medos articularam. Lá está o coração dos Medos, o qual não é o Medo Superior. Ele apenas serviu para o Grito, nada além."

"Daqui a algum tempo, eu já vou ter perdido a sanidade de tanto ser usado como cobaia pelos Medos. Escrevo isso por desencargo de consciência, e também como um pedido de desculpas. Fui fraco, sei disso. Também fui covarde e egoísta. Interrompi a intrepidez da minha própria filha num dos meus Surtos. Graças a isso ela nem deve saber que eu existo."

"Então, mr. Loch, se eu ainda sou digno, mesmo sendo um quase louco, que desperdiçou a vida estudando Medos usando próprios humanos como cobaias, e logo depois sofrendo a reviravolta de se tornar cobaia dos Medos, peço que realize esse meu último pedido em sanidade. Não sei o que os Medos farão comigo, ou para onde me levarão. Independente disso..."

"...Destrua aquele farol, por favor. Não por mim. Pela humanidade."

"Um de seus mais imbecis colegas,

César Vectorine."

— César... — Agatha se levantou. —... Vectorine?

— Algum problema, Agatha? — Devit se preocupou com a reação da moça.

Ela olhou para as paredes, como se estivesse tomando um choque de memórias.

César, o homem que impediu que eu me tornasse intrépida. César, o cobaia dos Medos. César, o Rei Medonho. César Vectorine... Por que ele tem meu sobrenome?” pensou Agatha.

De repente, a moça teve uma visão. Uma lembrança que não havia alcançado, nem quando havia andando pelas suas memórias. Nela...

...Um homem de cabelo escuro e desarrumado desenhava em uma folha, que estava numa mesa diagonal. Usava uma camisa de gola branca, e óculos. Agatha, mais nova, ficou ao seu lado, tentando ver o que ele desenhava.

— O que é isso? — perguntou ela.

— Uma criaturinha irritante. Mas vamos nos livrar dela. — respondeu o homem. — Vou me informar o máximo possível para que ela não irrite a humanidade.

— Então o senhor vai ser tipo um herói? — ela sorriu.

— É... talvez. — ele sorriu para a menina, e desarrumou os cabelos dela.

— Um dia eu vou ver seu nome num cartaz bem grandão? Tipo, "Pai de Agatha Vectorine, grande doutor César Vectorine salva o mundo em três dias!"?

— Haha, não exagere.

Ele a colocou no colo, e mostrou o desenho do Medo de Gato, que havia feito.

— Que fofo. — disse ela.

— É fofo, mas se tocar sua cabeça, já era. — ele olhou para a filha e riu com a reação assustada dela. — Tudo bem, eu protejo você. — abraçou-a depois de dizer isso.

A memória acabou ali.

— Agatha?... — Devit se levantou da cadeira, se aproximando lentamente da garota, que estava estática, olhando pro chão. Quando chegou perto dela, ouviu soluços.

— Eu...  eu tinha esquecido até do meu pai. — disse ela, enquanto as lágrimas caíam no chão.


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