Ainda existe amor? escrita por MandyIt17


Capítulo 4
Capítulo 4 - Possessivo




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Estevão e Maria olharam-se por alguns minutos. Ele permaneceu parado na mesma posição, perplexo, sem voz e assustado. Os convidados se entreolharam, procurando entender o que estava acontecendo. Ana Rosa procurou em Daniela uma resposta para a atitude do noivo, mas recebeu da tia a mesma expressão confusa que estampava os rostos das demais pessoas que observavam a cena. Passando as mãos pelos braços de Estevão, tentava chamar sua atenção.

Ana Rosa: Meu amor, o que houve? - Deslizando as mãos sobre a manga do smoking que Estevão vestia. - Estevão, você está me escutando? - Levando a mão direita até o rosto do homem.

Estevão: Meu Deus... - Balançando a cabeça enquanto passava as mãos pelos cabelos. - Não pode ser. - Disse com uma voz ofegante.

Ana Rosa: Do que você está falando? - Perguntou com sinceridade. - Não estou entendo a sua atitude, Estevão! - Disse indignada. - Não brique comigo! Ai meu Deus, estão todos nos olhando, que vergonha... - Colocando uma das mãos no rosto.

Estevão: O que você disse, Ana Rosa? - Voltando-se para a mulher.

Ana Rosa: Desisto! - Estarrecida, levantou a saia do vestido com força. - Quando você quiser levar à sério o nosso relacionamento me procure novamente. - Saindo por entre os convidados, sendo seguida por Daniela.

Alba espantou-se com a situação, não somente ela como também Carmem. Caminhando até o sobrinho, procurou averiguar as razões do comportamento

Alba: Estevão, você está bem? - Tocando no ombro do sobrinho. - O que aconteceu aqui?

Estevão: Maria, tia. - Seu olhar estava tão perdido quanto ele. - Maria voltou!

Alba: Você ficou maluco?! - Esboçando uma expressão de surpresa extrema. - Maria está presa em Aruba. - Pronunciando a frase de maneira baixíssima. - Ela nunca sairá daquele lugar, foi condenada à prisão perpétua!

Estevão: Olhe para porta do salão, ela está lá acompanhada por um homem... - Atônito, voltou seu olhar novamente para aquele ponto do salão constatando a verdade, Maria realmente havia regressado.

No mesmo instante, Alba dirigiu toda a atenção para a porta principal, deparando-se com a mulher de vermelho, parada e de braços dados com Fernando. No mesmo instante, a senhora San Romãn arregalou os olhos, os esfregou uma e mil vezes, mas a imagem da mulher permaneceu inalterada.

Estrela e Heitor deixaram imediatamente o hotel. Assim que ouviram o pai pronunciar a palavra "noiva", se enfureceram e correram até o carro para fugir daquele local o mais rápido possível. Somente a ideia de ter Ana Rosa como madrasta os deixava transtornados.

A festa logo voltou ao normal. A orquestra continuou a tocar. E aquele momento embaraçoso foi esquecido por um instante. O recepcionista, responsável por indicar as mesas aos convidados, acompanhou Maria e Fernando até o local que estava reservado para os dois. Uma das melhores mesas, posicionada bem em frente a da Família San Romãn. A presença da mulher já havia sido percebida por todos aqueles que se diziam seus amigos no passado. Fabíola ao vê-la tão bem e bonita remoeu-se de raiva e ódio. Em sua concepção, Maria era a causa de todos os males que haviam se passado em sua pobre e infeliz vida.

Carmem parou por um instante. Sorriu feliz. Seus olhos marejaram rapidamente, não conseguiu evitar a emoção do reencontro. Desejou gritar que sua amiga havia voltado, abraçá-la tão forte e profundamente para transmitir toda a alegria que transbordava de sua alma. A tia mais nova de Estevão nutria uma amizade e um carinho grandes por Maria. Desde que ela havia sido condenada, Carmem e Padre Belizário, amigo de anos da família, conseguiram na justiça uma permissão para que a mulher recebesse todo o mês uma remessa de caixas com o material necessário para que ela produzisse objetos e joias de prata, ofício que aprendeu ao lado de Gardênia na prisão. Sem dúvida, esta foi a maior prova que Carmem poderia ter dado para dizer que acreditava na inocência de sua amiga, que a ajudaria a recomeçar sua vida. Ao vê-la ali, linda e elegante, respirou fundo e uma grande satisfação tomou conta de si. Sentiu-se bem.

— Mesa de Fernando e Maria -

Já na mesa dos recém chegados, uma conversa tímida começou a se desenrolar. Fernando percebeu o alvoroço que se instalou no recinto após o comunicado de Estevão. Discretamente comentou o ocorrido com Maria.

Fernando: Pelo visto chegamos bem na hora de um comunicado. - Inclinando-se próximo ao ouvido de Maria. - Alguma coisa aconteceu entre eles, você não acha? Todos estavam bastante agitados.

Maria: Pessoas desse meio são assim mesmo. - Após tomar um gole de vinho respondeu a pergunta de Fernando. - Em festas como estas não podem faltar momentos de frisson. É típico de famílias milionárias como a San Romãn. Elas precisam disso para se manter como assunto regular nas colunas sociais. Não estou surpresa e você também não deveria... - Disse com um tom seco.

Fernando: Frequentemente esqueço o fato de que as pessoas do meu meio são capazes de fazer qualquer coisa para se tornar o centro das atenções. O caso é que eu nasci numa família reservada e discreta que fazia questão de manter-se fora dos holofotes das colunas sociais. Meu pai não gostava que sua vida privada virasse notícia. - Explicou Fernando.

Maria: Desculpe a imprudência do meu comentário e se te ofendi de alguma forma. - Ficou verdadeiramente sem graça ao perceber sua falta de cuidado na avaliação que fez. - Eu deveria considerar que nem todas as famílias são como os San Romãn... - Era perceptível o tom amargo de sua voz.

Fernando: Você fala dos San Romãn com tanta familiaridade, como se já os conhecesse há muito tempo. - Apoiou os cotovelos na mesa enquanto olhava para Maria.

Maria: Sim, sua impressão é verdadeira. - Consentindo com a cabeça. - Os conheço. Na verdade, sou uma amiga de longa data dos San Romãn, dos Rivero e dos Mendizábal. Foram pessoas muito importante no meu passado.

Fernando: Seu passado... - Fez uma pausa enquanto procurava um novo rumo para aquela conversa. - Tenho muito interesse em conhecê-lo. Espero que um dia eu consiga conquistar sua confiança e me torne digno de escutar a sua história, Maria. - Seu olhar percorreu todo o rosto da mulher. Com facilidade, Fernando se perdeu nos olhos verdes penetrantes dela.

Maria: Como eu disse no bilhete que te escrevi, espero que num futuro breve eu possa contar todos os detalhes do meu passado. Por enquanto, peço que respeite o meu silêncio e seja paciente. - Completou a frase e sorriu gentilmente para ele.

Fernando: Eu sei ser um homem paciente. - Respondeu com um sorriso escancarado nos lábios. - O que acha de me acompanhar até a mesa dos San Romãn? - Levantou-se e estendeu a mão direita à Maria.

Maria: Eu acho uma excelente ideia. - Depositou na mesa a echarpe e sua bolsa. Aquele convite era tudo o que ela precisava escutar.

Na mesa dos San Romãn todos estavam apreensivos. Não podiam se comunicar diretamente sobre o assunto, pois Ângelo ainda se encontrava ao lado das tias; ele fora o único que permaneceu depois do anúncio de seu pai. Tentavam disfarçar um desconforto que era totalmente aparente em seus rostos. A evidência do desconforto deixou o filho mais novo de Estevão intrigado. "Isso nunca havia acontecido", pensou o rapaz, mas preferiu permanecer em silêncio observando todos ao seu redor.

Depois de caminharem alguns passos, Maria e Fernando chegaram até a mesa da família San Romãn. Estevão não retirou os olhos dela um minuto desde o momento em que a viu entrar no salão. Percebeu, enquanto ela estava sentada com seu acompanhante, os sorrisos que distribuía ao senhor Navarro, e isso o incomodou demasiadamente. Mesmo que não quisesse reconhecer, uma raiva crescia dentro de si ao ver Fernando paquerando descaradamente sua ex-esposa.

Com um sonoro e irônico "boa noite", o qual foi percebido imediatamente por Fernando, Maria saudou todos ali, os amigos e os inimigos. De pronto, as atenções voltaram-se para o rosto e o porte triunfante da mulher. Tão elegante e sedutora com seu olhar marcante e o trejeito dos lábios. Ângelo levantou-se e caminhou até ela, beijou a face de suas mãos, educado e gentil como era de sua personalidade. Os demais olhavam-se seriamente não pronunciando uma só palavra, nem ao menos Estevão, que também a olhava atemorizado e confuso. Uma expressão incerta preenchia seu rosto.

— Mesa da Família San Romãn -

Maria: Boa noite meus amigos, quanto tempo. - Olhando para todos. - Receio que estão surpresos em me ver, não?

Ângelo: Bem, acho que não seria uma impertinência se me apresentasse sem ser mediado por alguém. - Olhou para todos e decidiu cortar o silêncio que preencheu a atmosfera do lugar. -Já que se trata de uma amiga da família, me dou esse direito. - Levantou-se. - Boa noite senhora. Me chamo Ângelo. É um grande prazer conhecê-la. - Beijando suas mãos.

Maria: Boa noite, meu jovem. - Sorriu com sinceridade. - Posso dizer o mesmo a seu respeito, não se encontram pessoas tão educadas como você, hoje em dia.

Ângelo: Boa noite, senhor Navarro. - Cumprimentando Fernando com um aperto de mão. - Devo parabenizá-lo, o seu hotel é o mais elegante e opulento de toda a capital mexicana.

Fernando: Obrigado, Ângelo. - Retribuindo o aperto de mão. - Tão jovem e já sabe apreciar as belas e boas coisas da vida. É um prazer te conhecer.

Estevão desabotoou o paletó, apoiou o cotovelo na mesa e em seguida lançou um olhar sério e penetrante sobre o homem que encarava Maria com deslumbre.

Fernando: Já que todos estão aqui, gostaria de dizer que me sinto imensamente honrado por ter em meu hotel uma das famílias mais importantes desse país. - Recolocando as mãos de Maria em seu braço.

Estevão passou as mãos pelo queixo. Pensativo, procurava ainda assimilar tudo o que estava acontecendo. Dois minutos foram o bastante para que ele entendesse e aceitasse que Maria realmente estava ali e que o melhor era encarar a situação de frente. Levantou, passou as mãos novamente pelo smoking e se pôs a falar com Fernando.

Estevão: Senhor Navarro, o prazer é todo nosso de poder desfrutar de tão boas instalações como são as do seu hotel. - Erguendo umas das mãos na direção de Fernando. - Como já deve ter sido informado por seus empregados, durante 95 anos as festas de aniversário da empresa de nossa família são comemoradas nesse lugar. O que me deixa imensamente surpreso é saber de sua amizade com Maria, uma pessoa conhecida por todos nós - Voltando-se para os amigos. - e que por muito tempo esteve fora do país... - Engolindo a saliva. - por motivos bastante particulares, creio - Olhando para mulher com sarcasmo.

Maria: Sim... - Encarando o homem com pesar. - Estive por muito tempo fora do México, precisava me reestruturar. Nada melhor do que novos ares para nos ajudar a superar as decepções da vida, não concorda meu querido Estevão?

Fernando: Maria é uma mulher fantástica! - Acariciando as mãos da mulher. - Tenho aprendido lições valiosas, senhor San Romãn. Assim que chegamos, ela comentou comigo que já os conhecia, o que me deixou bem mais à vontade. Até porque passei muitos anos em Miami, não tenho amizades com muitas famílias deste país.

Ângelo: Já que a senhora é uma amiga do passado, por que não senta conosco e nos faz companhia? - Voltando-se com um olhar sugestivo para Maria.

Maria: Prefiro não incomodar, Ângelo. - Tocando nos ombros do rapaz- Seria um prazer jantar ao lado de meus queridos amigos - Olhando para todos. - porém, já temos uma mesa reservada. Quem sabe em uma outra oportunidade...

Ângelo: Está bem. Desfrutem da festa, então. Creio que falo em nome de meus dois irmãos mais velhos quando digo que foi uma satisfação conhecê-la, senhora - Beijando as mãos de Maria novamente.

Ao ouvir aquilo, Maria ficou pensativa. Como assim irmãos mais velhos? No mesmo instante, Alba olhou para Estevão que se virou para ela demonstrando nervosismo e apreensão. A qualquer momento a verdade poderia ser revelada. Uma conversa simples e inocente se tornava perigosa demais àquela altura.

Maria: Irmãos? - Indagou com curiosidade.

Ângelo: Sim... - Assentindo de forma inocente. - Estrela e Heitor, meus irmãos. Por acaso não chegou a conhecê-los quando ainda eram pequenos?

Então Ângelo era filho de Estevão? Questionou-se, Maria. No momento direcionou seu olhar ao ex-marido, o observava com uma expressão cheia de indagações. Ele imediatamente remexeu-se na cadeira, mostrando com aquela atitude seu desconforto e tensão.

Maria: Sim. - Respondeu cautelosamente. - Cheguei a conhecer seus irmãos quando pequenos. Mas não me recordo de você... - Decidiu arriscar o comentário. Queria saber mais detalhes da história que Estevão havia contado aos filhos.

Ângelo: Sou o caçula da família. - Explicando enquanto sua feição aparentava tristeza. - Nem ao menos cheguei a conhecer minha mãe, ela morreu quando ainda erámos muito pequenos. Na verdade, eu ainda era um bebê. Conviver com esta perda foi difícil, tanto para mim como para meus irmãos.

— Pensamento de Maria On -

Morta?! Então os meus filhos pensam que estou morta? Não pode ser, meu Deus!

— Pensamento de Maria Off -

Maria: Lamento por sua mãe, Ângelo. - passando as mãos pelo rosto do rapaz - Eu conheço bem a dor que se sente diante da perda de um ente querido, das pessoas que amamos - olhando para ele emocionada - Chega ser apavorante ter que nos separar de quem já ganhou morada em nosso coração. - O choque daquela revelação não fez com que ela perdesse sua humanidade.

Alba: Ângelo! - Levantou aborrecida. - Não incomode mais à Maria. Ela e Fernando precisam aproveitar a noite. - Trazendo o rapaz para junto a ela.

Fernando: Senhora San Romãn, seu sobrinho é um rapaz bastante educado e gentil, não está nos causando incômodo algum. - Percebeu a irritação na voz de Alba.

Neste mesmo instante, Carmem levantou-se emocionada. Seus olhos expressavam incredulidade e felicidade ao mesmo tempo. Todos olharam para ela, inclusive Alba, que tentou impedi-la de chegar até Maria, algo que foi inútil, pois Carmem nunca foi submissa aos desejos da irmã. A ex - esposa de Estevão permaneceu parada observando a mulher que vinha em sua direção, sobre passos tímidos e com lágrimas que transbordavam dos seus olhos.

Já parada em frente à amiga, Carmem a abraçou sem receios. Ora, pra quê tê-los? A mulher sempre acreditou na inocência de Maria. Na época em que ela foi presa, a tia de Estevão tentou alertá-lo sobre a escolha perigosa que ele faria ao abandoná-la naquele lugar. Para Carmem nunca se deveria renunciar a um amor verdadeiro.

Carmem: De verdade é você? - Estendendo os braços na direção de Maria. - Quantos anos se passaram deste o dia em que lhe vi pela última vez... - A abraçou forte.

Maria: Um par de longos anos... - Acariciando o rosto da mulher. - Foram os mais difíceis, mas mesmo estando longe você permaneceu presente de alguma forma. Desde minha chegada na cidade tenho tentado organizar meus horários, não pense que lhe esqueci, ainda precisamos conversar senhora Carmela - Esboçando um sorriso sincero, tão característico de Maria. - Acredito que esta não é a ocasião mais adequada para isso, mas entrarei em contato com você em breve. - Levando seus lábios ao um dos ouvidos da mulher.

Carmem: Aguardarei ansiosa - Sorriu. - Agora, aproveite a festa ao lado de seu... - A mulher fez uma pausa enquanto percorria o corpo de Fernando, examinando o homem da cabeça aos pés.-  AMIGO - Piscando para Maria e soltando uma gargalhada logo após.

Maria: Tentarei aproveitar, se o meu amigo me deixar, é claro. - Riu discretamente ao escutar a insinuação da amiga. - Eu estou sentindo falta de uma pessoa...- Fez sua voz soar mais alta. - Daniela não veio com você, Demétrio?

Estevão: Maria, a senhora Riveiro se retirou da festa. - Fazendo um sinal para que o advogado se calasse e prosseguiu falando - Ana Rosa, minha noiva, não estava se sentindo muito bem e precisava ser acompanhada por alguém até em casa. Elas não retornarão mais à festa. Não se preocupe ou se incomode, divirta-se com seu amigo e tenha um excelente jantar. - Sendo ríspido.

Maria: Sinto muito por sua noiva. - Pondo-se de frente para Estevão - Estimo melhoras à ela. - Virou as costas para o homem e se pôs a falar com os demais amigos - Como eu sei que teremos outras oportunidades para conversar, os deixo com a grande esperança de um novo reencontro. Felicidades, Estevão! - Voltou seu olhar novamente para o ex marido - Parabéns pelos 95 anos das empresas San Romãn.

Maria envolveu suas mãos nos braços de Fernando e afastou-se ousadamente enquanto era observada por sete pares de olhos que a acompanharam até o momento em que sentou em sua mesa.

Assim que sentaram-se uma conversa longa e descontraída surgiu novamente entre ambos. Sorrisos eram esboçados sem receios ou medidas. Maria se sentia bem ao lado daquele homem, que embora conhecesse a tão pouco tempo, conseguia despertar e trazer à tona àquela jovem sensível e alegre que ela havia deixado no passado, há vinte anos para ser mais exata.

A todo o momento Estevão passava as mãos pelos cabelos e não conseguiu conter a respiração forte e ofegante. Nem ao menos chegou a prestar atenção nos comentários que circulavam em sua mesa. Seus olhos repousaram fixamente em Maria e nas risadas que ela trocava insistentemente com o senhor Navarro.

Fernando estava determinado a transformar àquela noite em um momento inesquecível, que marcasse a vida de ambos. Como ele queria que isso fosse verdade, que realmente existisse algo entre os dois. Que esse jantar não fosse apenas uma retribuição de Maria pelo grande favor que Fernando havia lhe feito, mas que se tornasse mais um momento da história deles, que pudesse ser relembrado em frente a uma lareira na companhia da pessoa amada. Mesmo diante da possibilidade de ser rejeitado, o homem convidou Maria para dançar. Quem sabe esse não seria um primeiro passo para conseguir o que tanto desejava.

— Mesa de Fernando e Maria -

Fernando: Será que a mulher mais bonita e elegante da festa me daria a honra da próxima dança? - Levantando-se e se pondo em frente à Maria.

Maria: Fernando... - Tentando fazer o homem desistir da ideia. - O salão está repleto de belas e jovens mulheres, você pode chamar qualquer uma para dançar, não me incomodarei, fique à vontade.

Fernando: Nenhuma delas me importa, Maria. - Agachando-se próximo à mulher. - Meu único desejo esta noite é que você me dê a oportunidade de lhe mostrar que não sou nenhum lobo mal. Minhas intenções são as melhores, pode acreditar. Não tenha receios ao meu lado.

Maria: Não seja tolo. - Olhando para os lados e percebendo que algumas pessoas observavam a cena entre os dois - Eu nunca disse que você é um lobo mal. Digamos que eu não sou uma das melhores dançarinas dessa cidade. Não quero pisar no seu pé -  Rindo de forma contida.

Fernando: Posso te contar um segredo? - Aproximando-se cautelosamente.

Maria: Qual? - Sorriu curiosa.

Fernando: Eu também não sei dançar. Que tal aprendermos juntos? Assim se algo de errado acontecer podemos rir juntos da situação, sem medo de passar vergonha.

Maria: Está bem. - Assentiu sorrindo. - Talvez dançar não seja uma má ideia. - Levantou com cuidado segurando a saia do vestido.

Antes que Maria pudesse dá um passo à frente, o homem a trouxe delicadamente para perto de si, fazendo com que seus rostos ficassem bem próximos. Se olharam por alguns minutos sem pronunciar uma palavra. Até que Fernando enlaçou suas mãos às dela.

Fernando: Deixa que eu conduzo você até a pista de dança. - sussurrando próximo ao ouvido de Maria.

De cabeça baixa, Maria foi conduzida até o centro salão pelo homem Ela sorriu sutilmente ao sentir as mãos do homem em sua cintura. Segurando-o pelos ombros, arriscou alguns passos. A música romântica e sedutora os conduzia pelo salão. Maria fechou os olhos e se deixou levar pela letra da canção que conseguiu arrebatá-la. Ao abri-los novamente, deparou-se com Fernando que a olhava deslumbrado como um bobo apaixonado.

Violinos e pianos unidos davam as notas da canção, em um tom envolvente.

The Way You Look Tonight - Michael Bublé

Você é amável com seu sorriso tão quente

E seu rosto tão suave

Não existe nada pra mim a não ser amar você

Apenas do jeito que você está essa noite ♫

Do outro do salão, Estevão remoía-se de ciúmes ao assistir a cena. Ver Maria tão envolvida e feliz nos braços de outro homem, o causava uma sensação que nem ele mesmo sabia explicar. Furioso, ele batia os pés contra o chão na tentativa de espalhar para todo o seu corpo, a raiva que tomava conta de si. Possessivo tal como costumava ser no passado.

— Salão de Dança -

Maria: Você disse que não sabia dançar... - Abrindo os olhos. - Me enganou mais uma vez. - Sorriu sem jeito ao olhar para Fernando.

Fernando: E eu não sei... - Não conseguiu segurar a gargalhada - A música é tão envolvente que nos fez até esquecer o mundo ao nosso redor. Estou gostando tanto de passar essa noite ao seu lado. Sabe, - Depositou um beijo de uma das mãos de Maria. - não me arrependo nenhum um pouco de ter enfrentado àquela chuva na noite em que encontrei você na estrada, a decisão que tomei me fez conhecer a mulher mais incrível do mundo... - Aproximando seu rosto ainda mais do dela.

Maria: A música já acabou a algum tempo e ainda estarmos parados no meio do salão. - Desviou o rosto para o lado ao perceber a intenção de Fernando. Não queria ser beijada. - Somos os únicos aqui. - Olhando para os lados. - Não gosto de ser o centro das atenções. Vamos voltar para a mesa - Separando-se de Fernando e voltando para a mesa.

Assim que chegaram à mesa, encontraram Teodoro sentado. Um problema de última hora obrigou o funcionário a interromper o chefe que ficou visivelmente furioso ao ser incomodado.

— Mesa de Fernando e Maria -

Fernando: O que você está fazendo aqui, Teodoro? - O indagou surpreso e furioso. - Eu disse que não queria ser incomodado sobre hipótese alguma. - Puxando a cadeira para que Maria se sentasse.

Teodoro: Sinto muito, Fernandinho... - Respirando fundo. - Mas deu um problema lá na administração e você terá que me acompanhar. Acredito que sua dama de vermelho não se importará de ficar sozinha por alguns minutos.

Maria: Primeiro, eu não sou nenhuma dama de vermelho! - Furiosa com a petulância do homem. - Segundo, pode ir tranquilo resolver os seus problemas, Fernando. - Aconselhou seu acompanhante. - Essas coisas acontecem e é bem melhor resolvê-las do que adiá-las.

Fernando: Mas Maria... - O homem não queria pôr em risco o que havia conquistado naquele encontro. Sentia que estava quase alcançando o coração daquela mulher.

Maria: Não insista... - Tomando um gole de água. - Não quero que tenha problemas, eu vou ficar bem.

Fernando: Está bem... - Respirou pesado e deu-se por vencido. - Mas vou com uma condição... não saia desta mesa! Não posso perder você novamente.

Maria: Pra onde eu iria, Fernando? - Sorrindo. - O lugar está cercado por empregados seus. E além do mais, você já sabe onde moro, não poderia me esconder por muito tempo - Rindo.

Fernando: Eu confio em você. - Colocando as mãos no bolso da calça. - Prometo não demorar.

30 minutos haviam se passado e, ao que tudo indicava, Fernando não cumpriria com a promessa que havia feito à sua acompanhante. Tomando sua bolsa nas mãos, Maria retirou-se do salão principal e caminhou até a varanda do hotel.

Com um olhar penetrante, Estevão acompanhou os passos da mulher. Sem ser percebido por seus amigos e tias, levantou-se discretamente e seguiu o mesmo percurso de Maria.

Ela já estava na varanda quando avistou o jardim florido que fazia parte das paisagem externa do hotel. Desceu as escadas que davam acesso a ele e assim que adentrou o lugar sentou em um dos bancos que ficava abaixo de uma árvore. Fechou seus olhos e por um momento relembrou o que havia acontecido ali há 25 anos.

— Flash Back On -

Jardim do Hotel Rizin - 25 anos atrás

Estevão estava decidido que aquela era a noite ideal para declarar seu amor por Maria. Um mês havia se passado desde o dia em que se encontraram pela primeira vez, quando Maria foi entrevistada por ele para o cargo de secretária. O dono das empresas San Romãn não podia mais esconder seus sentimentos, ansiava desesperadamente por um amor correspondido e uma vida inteira ao lado dela.

Em datas como aquela todos os funcionários da empresa eram convidados para celebrar o sucesso e o triunfo dos San Romãn. Maria estava lá e Estevão não se importou em roubá-la da companhia dos amigos. Todos se surpreenderam com a atitude do chefe, inclusive sua secretária. Ele a tomou pelas mãos e ofereceu uma taça de vinho branco. Caminharam pelo salão e quando se deram conta estavam no jardim do hotel, parados, um frente ao outro.

A mulher estava tão perto dele. Apenas alguns centímetros separavam seus lábios. Estevão pôde sentir o perfume doce de Maria, fechou os olhos e deixou-se envolver sem que ela percebesse. Precisava daquela mulher ao seu lado e estava disposto a enfrentar o mundo para tornar esse sonho uma realidade.

Estevão: Maria... - Tomando as mãos da mulher enquanto retirava a taça de vinho. - Espere um pouco - Olhando ela profundamente.

Maria: O que aconteceu? - Pensou que seu coração fosse sair pela boca ao sentir as mãos daquele homem sobre as suas.

— Pensamento de Maria On -

Eu daria tudo pra ter a oportunidade de beijar teus lábios.

— Pensamento de Maria off -

Estevão: Maria... - Ajoelhou-se devagar. - Mesmo correndo o risco de você me achar um homem antiquado... - Riu envergonhado. - Essa foi a forma mais bonita que eu encontrei de declarar o meu amor por você.

Maria: Estevão! - Maria exclamou o nome dele e logo em seguida calou-se, não sabia como responder àquela revelação. Nem nos seus melhores sonhos poderia imaginar que um homem como Estevão poderia se apaixonar por ela.

Estevão: Eu sei. Eu também fiquei bastante surpreso quando descobri esse amor. No dia em que nos conhecêssemos eu fiquei extremamente impactado com a mulher que se apresentou a mim. Uma mulher tão gentil, doce e lindamente sensual. Nunca mais eu fui o mesmo depois daquele encontro. - Acariciou docilmente as mãos de Maria. - Desde então, sonho contigo todas as noites e hoje tenho certeza que não posso passar nem mais um dia sem te ter ao meu lado... - Respirou fundo. - Aceita ser minha namorada?

Maria: Sim! - Respondeu emocionada. - Aceito! Eu também estou apaixonada por você. E esse sentimento tem sido o motivo do meu sorriso. - Levantou Estevão e levou as mãos dele junto ao seu busto, próximo ao lado esquerdo do peito. - Está sentindo? Está vendo o que acontece quando você está perto? Quando estamos juntos? Isso é o que acontece... meu coração pula de felicidade.

Estevão: Maria, preciso de você - Acariciava o rosto dela. - Preciso sentir o gosto do teu beijo. Eu te amo - Disse enquanto passava o dedo indicador pelos lábios da mulher.

O homem agarrou Maria pela cintura e ela delicadamente rodeou o pescoço dele com as mãos. Os corpos se uniram instantaneamente quando as bocas encontraram o encaixe perfeito. O beijo foi intenso, sexy e romântico. Maria sentia cada parte do seu corpo estremecer. Pela primeira vez na vida, ponderou que valeria a pena se arriscar se entregando ao amor daquele homem.

Estevão: Maria... - Com o rosto encostado ao dela. - você é incrível! Te amo - Depositando um beijo curto nos lábios da namorada.

Maria: Eu te amo! - Maria olhava para Estevão com fascínio - Não posso acreditar que isso está acontecendo. É um sonho, você e eu...

— Flash Back Off -

Assim que aquela lembrança se apagou da mente, algumas lágrimas escorreram por seu rosto. Maria não entendeu o porquê de seu coração insistir em relembrar os momento que ela tanto procurava esquecer. Sentiu-se culpada. Ela havia prometido a si mesma que nunca mais pensaria em Estevão. Porém, não resistiu ao entrar naquele lugar.

De costas, sentiu que alguém se aproximava. Alguns passos soavam ao tocarem as folhas secas que cobriam a grama do jardim. Agora, com as mãos trêmulas e o coração acelerado, conseguiu se dá conta plenamente do significado daquele encontro. Começou a alisar o vestido com as mãos, mordeu os lábios e tentou se acalmar. Teria que ser forte e se mostrar o mais triunfante e segura de si, caso contrário, seria uma presa fácil nas mãos do homem que mais amou em sua vida.

Estevão: Relembrando o passado? - Dando dois passos em direção à Maria.

Ao ouvir aquela voz novamente, se sentiu indefesa. Respirou fundo e virou seu rosto na direção de Estevão. Seus olhos se encontraram como na primeira vez que se viram. Por um breve momento a mulher permaneceu em silêncio. Apoiando as mãos sobre as pernas, levantou-se e caminhou para a saída do jardim. Contudo, foi detida por Estevão que a agarrou violentamente pelo braço direito, puxando a mulher para perto de si, enquanto a devorava com um olhar que era um misto de ódio e desejo.

Estevão: Não vai responder à minha pergunta? - O olhar do homem percorria toda a extensão do rosto de Maria, principalmente a parte dos lábios.

Continua


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