Gone escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 2
Capítulo 01 - Novos Ares




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Um carro estava parado em frente à casa dos Brooks, no banco da frente, atrás do volante, o pai de Michael esperava. A porta da frente estava aberta e sua mãe e sua irmã Heather, com um bebê nos braços, estavam paradas na porta.

– Michael, seja mais rápido! – Exclamou ela.

– Eu já estou indo! – Gritou ele, do andar de cima.

– Tem certeza de que não quer ir? – Perguntou a mãe.

– Não, Joseph não está em casa e eu estou sozinha com essa coisinha linda a tarde inteira.

– Deixe-me vê-lo novamente.

Heather inclinou-se com a criança, que estava dormindo.

Cecilia passou de leve sua mão sobre a cabecinha dele.

– Três meses passam tão rápido – Disse ela.

– Nem me diga, daqui a pouco ele vai falar as primeiras palavras, queria que o Michael estivesse aqui para ouvir, ele foi tão atencioso com o bebê durante esses três meses.

Neste momento, Michael desceu as escadas correndo, com uma última mala nas mãos.

– Estou pronto.

– Tchau Michael – Disse Heather, com os olhos lacrimejando.

Ele sorriu.

– Não seja boba – Disse – Eu só vou ficar lá por dez anos.

Ela também sorriu, chorando.

– Não brinque assim comigo.

– Eu venho nas férias, não se preocupe, eu não perderia o crescimento do meu sobrinho por nada nesse mundo.

– Temos que ir – Falou a mãe – Seu voo parte em duas horas.

Ele saiu da casa e caminhou pela passarela de pedra. O dia estava quente, então ele agradeceu pelo ar condicionado estar ligado quando entrou no carro, no banco de trás.

– Quando eu e seu pai voltarmos, eu dou uma passada lá na sua casa, ok? – Avisou Cecilia.

– Tudo bem.

– Tchau querida.

A mãe andou apressada e entrou no carro. Michael e o pai dele abriram as janelas.

– Tchau Heather – Disseram eles.

– Tchau! – Respondeu ela.

Michael olhou para o outro lado da janela e, parada no portão de sua casa, em frente à dele, estava Victoria. Ao vê-la, ele sorriu. Ela sorriu de volta e acenou. Ele também.

Era o adeus definitivo.

***

O aeroporto da cidade vizinha, Winston, era belíssimo. A grande porta dupla era automática e o interior era imenso, além de ter um clima agradável. O piso era feito de uma cerâmica preta que refletia tudo a sua volta, como vidro. Havia alguns bancos de algo que parecia metal distribuídos ao longo do saguão, com grandes plantas dispostas dentro de grandes vasos perto deles.

Michael estava arrastando uma grande mala com rodas e levava sua mochila nas costas, enquanto seu pai arrastava outra.

Eles caminharam até uma atendente e fizeram o check-in. Em seguida, foram orientados a se dirigir até o portão de embarque.

Ao chegar lá, Michael estremeceu, sabia que quando passasse por ali viajaria várias horas até a Inglaterra e moraria sozinho. Na verdade, não sozinho, mas longe da sua família. Solitário.

– Chegamos – Disse o pai.

Ele olhou para sua mãe, estava emocionada, iria chorar a qualquer momento. Ele também.

– Chegou a hora – Falou ela, sorrindo para disfarçar as lágrimas.

Michael a abraçou e ela caiu em prantos, assim como ele.

– Eu não quero ficar longe de vocês – Disse ele, chorando.

– Não pense assim, querido, pense que você está indo para se tornar um médico e depois voltar... Você é o meu orgulho.

O abraço acabou e ele respirou fundo e enxugou as lágrimas. Em seguida, abraçou seu pai.

– Tome cuidado, filho – Disse ele. Não demonstrava que iria chorar, mas Michael sabia que ele estava arrasado por dentro. Seu pai não era o tipo de homem que mostrava seus sentimentos.

Ele pegou sua mala e ajeitou a mochila no ombro.

– Está na hora.

A mãe abraçou o pai e chorou mais ainda. Michael acenou.

– Tchau.

Os dois acenaram de volta, a mãe não dizia nada, estava em prantos.

– Tchau, Mike – O pai disse, também emocionado.

Michael virou as costas e arrastou suas duas malas para dentro do portão de embarque. Foi embora.

***

Algumas horas depois, ele estava sentado na poltrona confortável do avião, ao lado de uma senhora. Os fones estavam no ouvido e a música era alta. Eles acabara de abrir os olhos e via uma aeromoça conversando com os passageiros do outro lado da sua poltrona.

Ela se virou para falar com ele e Michael pausou a música com o botão no fone.

– Estamos prestes a aterrissar, você precisa tirar seus fones e guardar o celular – Disse a mulher.

– Tudo bem – Ele concordou, dando um leve sorriso.

***

Minutos depois, ele havia saído do avião e já tinha trocado seus dólares por euros. Agora ele estava parado em frente ao aeroporto, com suas duas malas no chão e a mochila nas costas. Havia várias taxis parados na frente do aeroporto, então ele se aproximou de um e o motorista se ofereceu para colocar as malas no porta-malas. Ele o ajudou, mas levou a mochila consigo.

Quando os dois entraram no carro, o taxista na frente e Michael atrás, o homem perguntou:

– Para onde?

– Universidade de Londres – Respondeu o garoto.

– Ah, um universitário – Disse o taxista, bem humorado – Aposto que é dos EUA.

– Sou sim.

– Meu primo viaja bastante pra lá, é uma lugar legal.

– É mesmo.

***

Alguns minutos mais tarde, depois de apreciar a vista clássica e um pouco morta de Londres, eles chegaram à universidade. Era imensa, parecia um castelo, e ficava bem distante da rua, separada por um imenso gramado. Havia vários alunos e pais de alunos do lado de fora da faculdade. Era o dia de conhecer os alojamentos. Infelizmente ele estava sozinho.

O motorista do taxi colocou as malas ao lado dele e entrou no carro. Buzinou e foi embora.

Michael pegou suas duas malas e arrastou ao longo da estrada de pedra que levava ao pátio da universidade. Olhava as pessoas ao redor, todas felizes. Talvez algum daqueles fosse seu colega de quarto.

***

Depois de passar por todas o processo de confirmação da matrícula, ele saiu de um auditório onde elas estavam sendo realizadas. Estava com a chave do seu dormitório. Quarto 115 na ala 5.

O movimento de alunos ali era grande, pessoas passando para lá e para cá. Ele via algumas placas indicando, até chegar a uma que indicava o local da ala 5, seguindo o corredor à direita.

Ele seguiu e subiu as escadas. Chegou à ala 5. Aquele andar estava tão cheio quanto o de baixo. Algumas portas estavam abertas, com pessoas lá dentro. Colegas de quarto se conhecendo.

Michael ficava atento aos números na porta. Estava no 107. Os quartos com números ímpares ficavam ao lado esquerdo. Ele passou pelo 107, 109, 111, 113 e finalmente chegou ao 115, que estava com a porta semiaberta. Ele abriu e era um corredor, com uma porta e no fim, uma sala. Ele podia ver uma sombra que vinha do cômodo. Quando chegou até lá, encontrou um garoto loiro, com um notebook sobre uma das três camas. Estava conversando com alguém por chamada de vídeo.

– Tenho que ir, meu colega de quarto chegou – Disse ele, ao ver Michael. Fechou o notebook – E aí, você é o Michael ou o Jason? – Perguntou ele.

– Michael, mas como você sabe?

– Tenho meus contatos...

– Assustador.

– Brincadeira, tem um papel colado atrás da porta com os nossos nomes.

Ele saiu do quarto e caminhou até a porta, realmente havia um papel com três nomes e outros avisos. O dele mesmo, Jason Lutz e Kevin Higgs.

– Então você é o Kevin – Concluiu Michael, voltando para o quarto.

– Isso mesmo.

– O que você vai cursar?

– Medicina, e você?

– Eu também.

– Que legal... Mas falando sobre a nossa nova casa, já tomei a liberdade de escolher a minha cama... Não gosto de beliche.

– Ainda bem que eu cheguei antes do outro garoto, não quero ficar em cima.

Michael sentou-se na parte de baixo da beliche e colocou suas malas em cima da cama.

– Vamos olhar o resto da casa – Disse Kevin.

Michael o acompanhou até a sala, onde havia uma TV não muito moderna e um sofá verde musgo. Havia também um tapete marrom no chão.

– É, aparentemente os decoradores não eram muito competentes – Brincou Kevin, se referindo ao estranho sofá.

Havia mais dois cômodos, um deles tinha porta e o outro não, era apenas uma passagem. Michael podia ver de longe que era a cozinha. Ele foi até lá.

– Aí e a cozinha e aqui é o banheiro – O colega de quarto apontou para a porta.

– Achei que seria menor – Comentou Michael – Saí no lucro.

– Você é americano, não é?

– Sim.

– Percebi pelo seu sotaque... É de New York, California, Florida...?

– Ohio, uma cidade bem pequena.

– Eu sou de Windsor.

Neste momento, eles ouviram alguém batendo na porta. Michael colocou a cabeça no corredor e viu outro garoto chegar.

– Ele chegou.

Kevin levantou-se do sofá e caminhou até o corredor.

– Jason, não é?

– É – Respondeu o garoto.

– Eu sou Kevin e ele é o Michael.

Michael sorriu e deu um oi com a mão, acenando. Aqueles eram seus colegas de quarto, que se tornariam seus melhores amigos em pouco tempo. Ele nunca teve tanta certeza de que havia feito a coisa certa em se mudar para a Inglaterra.


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